Pensata: Lagartixa

Por Tony Bellotto

Não sou dos foliões mais animados. Já dei minhas voltas no salão do clube Recreativo de Assis, os braços estendidos aos céus, os cabelos – outrora bastos e encaracolados – salpicados de confete, cantando: “A estrela dalva, no céu desponta…”. Já molhei os pés na avenida, como alguém que não sabe nadar, uma vez na Vai-Vai, em São Paulo, outra na Mangueira, no Rio. Sim, eu vi a Mangueira entrar, se me permitem o trocadilho infame. Vi também o chão deslocar-se até minha cabeça, vitimado por inalações exageradas de lança perfume (exagero do chão, não meu).

Teve um carnaval em que me embrenhei pelas dantescas antesalas do inferno conhecidas como camarotes de cervejarias famosas. Lembro de ver o Millôr Fernandes cochilando no sofá de um desses camarotes enquanto o sol raiava lá fora. Grande Millôr. Quem sabe, sabe. Com tantas mulheres gostosas saltitando daqui pra lá e eu me lembro logo do Millôr roncando no sofá como um Cérbero extenuado. Se dependesse de mim, o carnaval seria tão popular quanto o dia internacional da meditação transcendental. Sabe que dia é esse? Nem eu.

Esse último carnaval passei em retiro espiritual – e etílico – numa casa de campo. Estava mais preocupado com a repercussão da nota que anunciava que Charles Gavin, baterista dos Titãs – minha banda -, decidira deixar o grupo por “motivos pessoais”. Existe alegação mais impessoal do que “motivos pessoais”? Bem, pelo que sei, o querido Charlão deixou a banda porque é difícil envelhecer num grupo de rock. O Jethro Tull, uma banda inglesa dos anos setenta, tem um disco chamado Too Old to Rock and Roll, Too Young To Die (muito velho pro rock, muito jovem pra morrer, numa tradução apressada). O título, irônico, expressa um conflito imperioso para um roqueiro. Como envelhecer – ok, amadurecer, se você prefere um eufemismo – numa banda de rock, se o rock é, acima de tudo, a celebração máxima da juventude e da irresponsabilidade?

Qualquer roqueiro que se preze, qual Hamlet, já passou por esse questionamento fundamental: to be or not to be? Imagine Elvis Presley, gordo e inchado, com um crânio nas mãos, proferindo a frase de Shakespeare num banheiro cheio de espelhos na suíte de um hotel em Las Vegas. Isso é rock’n roll.

Os Rolling Stones estão aí pra provar que toda a regra tem várias exceções. E olha que eles já perderam um baixista, Bill Wyman, que decidiu – como o Charles – se afastar da banda por estar cansado da estrada e de todo o desgaste proporcionado por excursões intermináveis, paradoxalmente cansativas e divertidésimas. Eu, do alto de meus quase cinquenta irresponsáveis anos, prefiro pensar como Keith Richards – o guitarrista dos Stones – que, ao observar a platéia em êxtase ensandecido enquanto ele dedilha as três notas que compõe o imortal riff (frase de guitarra) de Satisfaction, conclui: e ainda me pagam pra isso!

Nós, os Titãs remanescentes – Eu, Paulo Miklos, Branco Mello e Sérgio Britto – continuaremos a poluir sonoramente os céus brasileiros com nossa música. Sinto-me, apesar de tudo, ainda muito jovem para me aposentar. E àqueles que imaginam – ou comemoram – que a cada perda ou impasse nos enfraquecemos, um segredo: as adversidades nos fortalecem. Como uma lagartixa, quando nos decepam um membro, ele renasce com força e vigor renovados.

Dúvidas e impasses rondam a Curuzu

O Paissandu descartou finalmente o meio-campista Adônis, o zagueiro André Rancharia e o meia Bruno Agnelo. Adônis passou cerca de três meses na Curuzu e não conseguiu fazer sua transferência para o clube. André Rancharia foi contratado dias antes do anúncio do acerto entre o clube e o técnico Luiz Carlos Barbieri. E Bruno foi trazido pela empresa do ex-capitão da Seleção Cafu, como moeda de troca.

Já o atacante Tiago Potiguar e o lateral-esquerdo Álvaro, que o presidente Luiz Omar Pinheiro anunciou como contratados juntos ao Potiguar de Currais Novos, estão praticamente descartados. O preço da transferência teria aumentado porque os dois passaram a ser empresariados por Túlio Maravilha. 

Um outro impasse diz respeito ao meia Fabrício, cuja liberação pelo Boa Vista continua travada. Surgiu agora a informação, através da própria diretoria, que a questão envolve a quantia de R$ 40 mil, valor estabelecido pelo empresário do jogador para liberá-lo.

Gangues semeiam barbárie e insanidade

Mais uma vítima da insanidade nos estádios de futebol. O Hospital São Vicente de Paula, em S. Pauo, informou que o torcedor do Palmeiras Rafael Vinícius Moura, 26 anos, que perdeu a mão vitimado por uma bomba caseira durante confronto com torcedores do São Paulo no final da noite de domingo, em Jundiaí (SP), tem saúde estável e está consciente. A confusão de ontem deixou uma pessoa morta e 12 feridas na rodovia dos Bandeirantes. Segundo o hospital, o torcedor palmeirense Alex Furlan Santana, 29 anos, morreu após ser baleado na cabeça. Outros três torcedores do Palmeiras também foram baleados no confronto, mas nenhum deles corre risco de morrer.
 
Segundo a Polícia Rodoviária Estadual, cerca de 200 torcedores do Palmeiras e do São Paulo que tomavam o rumo do interior se encontraram na rodovia dos Bandeirantes, em um local próximo a um posto de gasolina, por volta das 23h30 de domingo. O confronto interditou a rodovia dos Bandeirantes por cerca de 20 minutos, à altura do km 58, até a chegada da polícia.

Barbárie pura, por conta dos atos aloprados de gangues que se travestem de torcedores para levar violência e horror aos estádios. Essa gente, digo sempre, é inimiga do futebol. Torcedor de verdade não precisa se “organizar” para torcer. Quem faz isso não pertence a torcidas, mas ao crime organizado.

Coluna: O Papão jogou a toalha?

Na entrevista do Luiz Carlos Barbieri à TV RBA, depois do jogo com o Cametá, ficou claro o desconforto do técnico em relação à diretoria do Paissandu. A não ser que estivesse delirando, Barbieri disse que precisava de apoio nos momentos difíceis. Disse, ainda, que na hora dos maus resultados com a torcida fungando no cangote “ninguém aparece” nos vestiários. O recado foi claro.
Direto e claro, sem escamotear o fato de que a equipe voltou a jogar mal, tropeçando no Cametá e merecendo plenamente os apupos do torcedor, o treinador reafirmou que tem o grupo sob controle e que confia no potencial dos jogadores que indicou para o elenco. Mas, obviamente, precisa sentir segurança para que o trabalho possa ser desempenhado com tranqüilidade.
Pela reação dos torcedores, indignados com a fraca produção do time, ficou a impressão de que o torcedor não terá tanta paciência para aturar novos tropeços depois da sequência de quatro empates – jogos contra o Remo, Potiguar, Águia e Cametá. Nesse aspecto, Barbieri parece ter se apressado a alertar que está sozinho e que os problemas não envolvem seu grupo de jogadores. E se existem problemas, como ele sugeriu, só podem envolver a relação entre dirigentes e comissão técnica.
Estaria a diretoria do Paissandu jogando a toalha no primeiro turno, conformada com a baixa produção apresentada até aqui e se guardando para o returno? Se for esse o caso, talvez a intenção de reagir na segunda metade do campeonato não seja confiada ao mesmo comandante, o que explica o posicionamento de Barbieri.
De qualquer maneira, com a bola rolando, o time não deu motivos para o torcedor se sentir tranqüilo. O primeiro tempo foi patético, com erros infantis de posicionamento e incontáveis chutões dos zagueiros Leandro Camilo e Paulão em direção a área adversária. Moisés, o mais efetivo do time, era obrigado a voltar até o meio-campo, desempenhando o papel de meia que não se molda às suas características.
O time só melhorou no segundo tempo, já com Zé Augusto e Eanes em campo, mas ainda assim ficou exposto a sustos seguidos – como no gol legítimo de Rodrigo que o árbitro anulou. Claro que a ausência de Sandro é um ponto a considerar, pela capacidade de liderança e organização que o volante tem. No entanto, parece óbvio que o Paissandu não pode depender de apenas um jogador se quiser mesmo chegar ao tricampeonato.
 
 
O sábado à noite teve um surpreendente espetáculo de futebol no Baenão. O horário era o menos indicado, mas a torcida compareceu e viu Remo e S. Raimundo se apresentarem muito bem. O primeiro tempo já foi interessante, com ampla movimentação e jogadas de qualidade, mas foi na etapa final que a partida ficou eletrizante. A partir dos 10 minutos, os ataques se sucediam em alta velocidade, com chances de lado a lado. O desequilíbrio foi estabelecido por Samir, que substituiu Gian e comandou a busca remista pela vitória. Acabou recompensado, com méritos, marcando os dois gols que desempataram a partida.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda, 22)

A pequena façanha botafoguense

Peço licença aos amigos do blog que torcem por outros times, mas é obrigatório fazer esse registro, pois a vitória alvinegra foi suada, sofrida e justa. Se o Vasco teve mais técnica – a partir de jogadores habilidosos, como Carlos Alberto e Dodô -, o Botafogo teve alma e disposição. Marcou o tempo todo, não esmoreceu nunca, correu e se entregou à luta como no jogo do meio da semana diante do Flamengo.

Times limitados como o atual do Botafogo precisam de transpiração para vencer. Pode não parecer muita coisa para os outros, mas é importante (e histórico) para um clube tão sujeito a chuvas e trovoadas chegar à sua quinta decisão estadual consecutiva. Para completar, sob a direção segura de Joel, o “rei do Rio”, esse modestíssimo Botafogo derrotou em menos de uma semana os campeões brasileiros das séries A e B.

Tribuna do torcedor

Por Miguel Gaia (miguelelea@hotmail.com)

Sobre a venda do Evandro Almeida, o Clube do Remo tem uma boa oportunidade, como uma empresa, de gerar um grande empreendimento. Todo e qualquer empresário gostaria de ter um local no centro de Belém para desenvolver seus empreendimentos onde há maior fluxo de pessoas com maior poder aquisitivo, haja vista os shoppings e um maior número de grandes prédios construídos. O Clube do Remo é o único que não o quer. Como em uma cooperativa, os que se dizem remistas de verdade e o Clube do Remo poderiam estabelecer uma empresa e construir no local da sede ou do estádio um grande complexo de prédios residenciais e shoppings. Por isso, qualquer empresa de engenharia gostaria de ter estas áreas. O Remo tem a parte mais valorosa que é o terreno, os bancos financiam e o público compra. Depois, em Benfica, o Remo poderia reconstruir o seu antigo CT. Bastaria isso, porque nós podemos ver que diversos clubes não têm estádio próprio: o Flamengo, o Vasco (a torcida não cabe), o Fluminense, o Botafogo (Engenhão é cedido), o Corínthians, o Santos (inseguro, não cabe sua torcida), Cruzeiro, Atlético Mineiro, Goiás etc. Então, os verdadeiros remistas e o Remo não deveriam perder esta oportunidade de um empreendimento em cooperativa.

Papão passa aperto em empate com o Cametá

Alexandre Fávaro foi a principal figura do jogo entre Paissandu e Cametá, 0 a 0, nesta tarde de domingo, na Curuzu. O guardião bicolor defendeu pelo menos quatro bolas importantíssimas, que poderiam ter determinado a vitória dos visitantes, que foram superiores no primeiro tempo e mais organizados em campo. Sem seu principal jogador, o volante Sandro, o Paissandu encontrou muita dificuldade para fazer a transição entre defesa e ataque, com um meio-campo atrapalhado e essencialmente marcador. 

No Cametá, Paulinho Pitbull, Everton e Wilson levaram sempre ampla vantagem na meia-cancha, recuperando as bolas nas tentativas de ataque do Paissandu e partindo em velocidade. Na frente, Torrô apareceu por duas vezes em condições de marcar, mas Fávaro fez excelentes intervenções. No Paissandu, sem receber qualquer lançamento aproveitável, Moisés tinha que se desdobrar para tentar lançar bolas para a dupla Enilton e Didi, mas o desentrosamento dificultava as tentativas de ambos frente à firme zaga cametaense, liderada por João Gomes.

Depois do intervalo, empurrado pela pequena torcida presente, o Paissandu voltou mais disposto e foi à frente na base da valentia. Com isso, pelo menos equilibrou as ações e fez o Cametá recuar para se resguardar. Com Eanes substituindo a Zeziel, que tinha sido o mais acionado jogador da equipe na primeira etapa, o Paissandu buscava chegar através de cruzamentos para Didi e Zé Augusto, que substituíra Enilton. Aos 13 minutos, o Cametá chegou ao gol em lance que envolveu o zagueiro Rodrigo e o goleiro Alexandre Fávaro. O árbitro assinalou falta inexistente e desmarcou o gol, gerando muitas reclamações por parte dos cametaenses.

Logo depois, o Paissandu chegou perigosamente em cabeceio de Didi defendido pelo goleiro Alencar Baú. O jogo era bastante movimentado a essa altura e o Cametá tentava contragolpes. Em lance rápido de Tetê, Torrô quase marcou aos 26. Em seguida, Brida invadiu a área, chutou cruzado e o goleiro do Cametá conseguiu evitar o gol. O último lance de perigo da partida foi aos 44 minutos, quando um arremate do lateral Souza quase surpreendeu Fávaro.

A torcida do Paissandu, insatisfeita com a baixa produção do time, protestou no final da partida, pedindo a saída do técnico Luiz Carlos Barbieri. O resultado classificou matematicamente o Paissandu à semifinal do campeonato, com 10 pontos, e deixa o Cametá ainda na briga para se garantir. A renda foi de R$ 44.350,00, para um público pagante de 3.251 torcedores (credenciados: 720; público total: 3.971 torcedores). (Fotos 1 e 3: MÁRIO QUADROS; foto 2: MARCO SANTOS/Bola)

Adeus a um velho combatente

O escriba noticia, com pesar, a morte de Neuton Miranda, 61 anos, por infarto fulminante, na noite deste sábado (20), em Belterra, oeste do Estado. Ao mesmo tempo, como amigo, se alia e solidariza com os familiares de um grande cidadão, personagem importante na vida pública paraense desde os anos 70. Neuton foi um dos fundadores do Partido Comunista do Brasil (PC do B) no Pará, onde combateu corajosamente a ditadura militar. Chegou a ser preso, junto com a esposa, por suas ideias. Trabalhava atualmente como superintendente regional do Patrimônio da União (SPU). Também era presidente estadual do PC do B e membro do comitê central do partido. Viajou a Belterra a serviço e sofreu o infarto momentos antes de dormir. A assessoria do partido informa que o corpo de Neuton será velado neste domingo (21), na capela da Beneficente Portuguesa, em Belém, e amanhã, na Assembleia Legislativa.