Entre a cruz e a espada

POR GERSON NOGUEIRA

A entrevista do presidente do Remo ao caderno Bola de ontem abriu novas frentes de preocupação quanto ao futuro de sua gestão – e às consequências para a vida do clube. Um dos pontos mais espantosos foi a admissão de que não foi ouvido nem cheirado sobre a contratação da “legião de reforços” na gestão de Josué Teixeira. Em plena vigência do regime presidencialista, é inadmissível que um mandatário se omita a esse ponto, deixando de tomar as providências que o poder lhe confere.

É grave também a informação de que Josué tinha autonomia até para definir os salários dos contratados, mais ou menos como funcionam os gerentes de futebol na Europa. O problema é que o técnico adquiriu uma gama de influência que, em situação normal, não pode ser considerada benéfica à condução de um elenco. Corre o clube riscos imensos de vir a ser prejudicado em situações desse tipo.

No caso do Remo, a escolha dos titulares pode ter sido diretamente influenciada pelos interesses e acordos fechados nas contratações. Por coincidência, todos os ditos reforços ganharam prioridade na escalação assim que o Campeonato Brasileiro começou, acarretando prejuízos técnicos irrecuperáveis.

A inobservância desses problemas configura um pecado grave em qualquer administração. Aliás, há um princípio penal chamado “condescendência criminosa” para definir o comportamento de administradores que protegem ou silenciam sobre atos ilícitos.

Outro aspecto que suscita reflexão diz respeito ao contrato firmado com o técnico Josué Teixeira. Segundo o presidente remista, não havia vinculação com a pessoa física, mas com uma empresa, o que não elimina as responsabilidades trabalhistas, visto que o profissional era publicamente reconhecido como um funcionário do clube.

O presidente menciona também irregularidades que teriam sido praticadas por gestões passadas. Aí surge uma questão óbvia: se as ilicitudes estão provadas, por que não são denunciadas formalmente? A omissão de gestores é pecado punido com rigor e merecedor de posicionamento enérgico por parte do Conselho Deliberativo.

Em tempo: o benemérito Ronaldo Passarinho, sócio proprietário do clube desde 1952 e um dos mais devotados dirigentes da história azulina, cobra até hoje informações sobre a gestão Zeca Pirão. Apresentou questionamento em agosto de 2015, sem merecer qualquer resposta por parte de Codir, Confins e Condel.

Ronaldo solicitou a prestação de contas do primeiro semestre de 2015, período no qual foram vendidos camarotes, camisas da promoção 33 e cadeiras para o projeto do “novo Baenão”, que resultaria depois no desmanche do estádio. Espera até hoje por uma resposta dos Conselhos. Por que a verdade e a transparência são sempre tão difíceis de encontrar dentro dos arraiais leoninos?

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Leão precisa pontuar para não deixar o G4

Com 16 pontos, o Remo está na 4ª colocação do grupo A da Série C, imprensado entre o Salgueiro (três pontos à frente) e a dois pontos de Salgueiro, Botafogo-PB e Cuiabá, seu adversário desta noite. Para permanecer na parte de cima, precisa vencer ou empatar.

O retrospecto recente é favorável às pretensões remistas. Os últimos jogos fora de casa terminaram em empates – contra o Sampaio Corrêa, em São Luís, e diante do Fortaleza, na capital cearense.

Léo Goiano, invicto no comando da equipe, ainda tenta dar ordenamento tático e padrão de jogo ao time. As maiores dificuldades têm a ver com fundamentos básicos. É notório, por exemplo, que os jogadores não conseguem executar jogadas simples porque erram passes curtos.

O rendimento de alas e volantes também precisa ser corrigido. O primeiro combate à frente da defesa tem se mostrado deficiente, tanto com Ilaílson quanto com João Paulo, que volta a atuar hoje. Nos lados, nem Léo Rosa, nem Jaquinha rendem o que já apresentaram ao longo da temporada. As atuações de ambos têm representado sérios riscos à equipe.

Por conhecer os jogadores, Léo Goiano tem insistido com ambos, mas o bom senso já recomenda a busca de alternativas. O elenco não tem variedade tão grande de opções, mas a improvisação de Jayme e Jefferson poderia ser observada.

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Cálculos e projeções na pauta alviceleste

O Papão já assimilou o golpe da derrota em casa para o Ceará e parte para tentar a recuperação frente ao Santa Cruz, amanhã, na Arena Pernambuco, penúltimo compromisso pelo chamado primeiro turno da Série B.

Neste momento, as contas ainda permitem visualizar boas perspectivas. A quatro pontos do 10º colocado (Paraná Clube), o time depende de suas próprias forças para voltar à primeira página da classificação.

Precisa, porém, mostrar consistência para entrar de novo na briga por posições melhores. A maneira desleixada com que encarou o Ceará compromete qualquer prognóstico otimista.

(Coluna publicada no Bola desta segunda-feira, 31)

Papão mantém planos de fechar 1º turno entre os 10 primeiros

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Ainda acreditando que é possível encerrar a primeira fase da Série B entre os 10 primeiros colocados, o técnico Marquinhos Santos e sua comissão técnica fazem contas e planos para tirar o Paissandu das proximidades da zona de rebaixamento – está em 16º lugar, com 20 pontos. A derrota para o Ceará na sexta-feira, em Belém, tornou a caminhada mais difícil, mas o Papão ainda depende de duas vitórias para atingir essa meta no turno.

O próximo adversário é o Santa Cruz, nesta terça-feira, em Pernambuco. A equipe é treinada por Givanildo Oliveira e tem 23 pontos, ocupando a 13ª colocação. Será um confronto direto pelo 13º lugar, pois, em caso de um triunfo sobre o Coral pernambucano, o Papão assumiria a posição, visto que ficaria em vantagem no número de vitórias – 6 contra 5. (Foto: Fernando Torres/Ascom) 

Mandante sem poder

POR GERSON NOGUEIRA

O Papão foi um mandante que não soube exercer o poder do mando. Não resistiu aos conhecimentos de seu ex-técnico Marcelo Chamusca e perdeu para o Ceará, na sexta à noite, no Mangueirão. Em partida previsivelmente difícil, o time paraense errou muito tanto no aspecto individual quanto no coletivo e, em resumo, não conseguiu jogar.

Ao final, o técnico Marquinhos Santos considerou que vários atletas importantes não renderam o suficiente. Meia verdade apenas. O time todo foi mal e isso teve a ver com os méritos do adversário, que assumiu um posicionamento correto desde os primeiros movimentos.

Enquanto o Papão saía de seu campo com tentativas precipitadas e baixíssimo aproveitamento de seus laterais, principalmente Ayrton, o adversário se encolhia e segurava os alas, dando plena liberdade aos homens de meio, principalmente Richardson e Ricardinho.

O primeiro gol aconteceu quando o equilíbrio ainda era marcante. Aos 13 minutos, Ricardinho recebeu pela direita e cruzou com perfeição. Elton disputou pelo alto com Ayrton e escorou no canto direito de Emerson. O erro de colocação dos zagueiros prenunciava problemas maiores.

Sem pressa depois de abrir vantagem, o Ceará tratou de valorizar a posse de bola e praticamente não investiu mais em busca do segundo gol. Talvez esperasse uma reação alviceleste, que não veio ao longo dos primeiros 45 minutos. E por um motivo simples: o time não sabia como reagir. O meio-campo não criava e o ataque inexistia.

Depois do intervalo, Magno entrou em substituição a Rodrigo Andrade. Foi uma mexida interessante, pois o ataque passou finalmente a ter um jogador capaz de surpreender a última linha defensiva do Ceará. Logo de cara, Rodrigo chutou forte e provocou rebote do goleiro. Na sequência, Magno cruzou e a bola passou à frente de Marcão.

Mas, aos 16’, Magno recebeu passe rasteiro de Peri e tocou na saída do goleiro Everson, empatando o jogo. Dois outros lances ainda se ofereceram ao ataque paraense nos minutos seguintes, mas sem o necessário aproveitamento. O mais claro deles com Rodrigo, que bateu à esquerda com extremo perigo.

Na estratégia de esperar o Papão para sair com rapidez, o Ceará teve paciência para explorar a vulnerabilidade do lado direito da zaga bicolor e chegou à vitória aos 33’. Romário recebeu junto à área e enfiou na medida para Artur bater rasteiro e cruzado, vencendo Emerson.

Apesar da pálida evolução no 2º tempo, o Papão foi um arremedo de time. Permitiu que o Ceará ditasse o ritmo e não criou situações capazes de inquietar o adversário. Comportou-se como se não fosse o mandante.

A nova derrota não põe o time no Z4, mas estraga os planos de fechar o turno entre os 10 primeiros colocados e reacende o sinal de alerta quanto aos riscos concretos de rebaixamento.

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Trapalhadas que conspiram contra o futebol

Toda a celeuma gerada pela anulação do pênalti marcado contra o Flamengo, quarta-feira, na Vila Belmiro, deveria servir para que CBF e clubes rediscutissem a sério o papel da arbitragem no Brasil. Infelizmente, o comportamento inadequado tanto do árbitro (ao consultar o 4º árbitro) quanto do Santos (ao acusar sem provas) vai gerar apenas mais uma polêmica vazia, sem relevância para o futuro das competições no país.

Esdrúxula pela maneira como foi construída, a situação revela critérios desiguais por parte dos árbitros. As críticas derivam do fato de que nenhum pênalti duvidoso ou inexistente havia sido desmarcado antes. A decisão foi tomada em situação que envolvia diretamente o Flamengo, reabrindo velhas cismas quanto ao suposto protecionismo ao clube.

Para evitar injustiças, a interferência externa na arbitragem deve ser definitivamente proibida ou, então, estendida a todos os jogos. O papel da emissora de TV que paga o evento também precisa ser bem explicado. É improvável que a Globo tenha avisado o árbitro, mas também é difícil crer que o 4º árbitro tenha visto um lance rápido a 50 metros de distância, tendo ainda vários jogadores à sua frente, atrapalhando a visão.

O fato é que, nesse festival de lambanças, só quem sai manchada é a credibilidade da instituição futebol, cuja simplicidade de regras é agredida pela ação irresponsável de alguns. Nem 300 entrevistas de árbitros sobre o ocorrido, tentando explicar e até justificar o ato de Leandro Pedro Vuaden, serão capazes de consertar as coisas.

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Bola na Torre

Guilherme Guerreiro comanda a atração, que começa às 21h, na RBATV. Participações de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. Esperamos vocês.

(Coluna publicada no Bola deste domingo, 30)