Políticos bolsonaristas pagaram para impulsionar denúncias falsas sobre Marajó

Por Amanda Audi, Danilo Queiroz, Mariama Correia – Agência Pública

Políticos bolsonaristas pagaram para impulsionar postagens com denúncias falsas sobre um suposto esquema de exploração infantil no Arquipélago do Marajó (PA). O tema viralizou nas redes depois da apresentação da cantora Aymeê Rocha, que denunciou abusos contra crianças na região em um reality show gospel, no dia 15 de fevereiro. 

Famosos e influenciadores passaram a compartilhar o vídeo da apresentação e conteúdos falsos ou descontextualizados, que trazem desinformação sobre a região. A “Ilha de Marajó” se tornou o assunto mais pesquisado no Google no Brasil em 21 de fevereiro. 

Segundo a Agência Pública apurou, a partir do dia 24 de fevereiro, políticos bolsonaristas patrocinaram postagens repercutindo as denúncias no Instagram e no Facebook. Ao menos seis políticos investiram até R$ 100 para alavancar esses conteúdos: os deputados federais Luciano Galego (PL), do Maranhão, e Maurício Neves (PP), de São Paulo, o deputado estadual do Pará e ex-superintendente regional do Incra Coronel Neil (PL), a vereadora de Navegantes (SC) Lú Bittencourt (PL), os vereadores de São Paulo Reinaldo Digilio (PRB) e Lucas Ferreira (sem partido).

POR QUE ISSO IMPORTA?
Conteúdos desinformativos na internet muitas vezes são impulsionados por redes com interesses políticos. A comoção nas redes sobre supostos abusos de crianças no Marajó não partiu apenas de um engajamento espontâneo, mas foi alavancada com conteúdos pagos por políticos bolsonaristas. Ao todo, as publicações renderam quase 80 mil impressões, que é a quantidade de vezes que o anúncio apareceu para usuários do Facebook e Instagram.

A postagem que mais teve impressões foi a do deputado estadual Coronel Neil (PL). A propaganda circulou de 24 a 26 de fevereiro, rendendo aproximadamente 10 mil impressões. De acordo com uma pesquisa do NetLab/UFRJ, o deputado estadual também impulsionou anúncios para convocar caravanas para ato pró-Bolsonaro na avenida Paulista, no último domingo (25). 

Na publicação sobre o Marajó, o Coronel Neil aproveita a apresentação da cantora gospel para falar da sua atuação na região. O vídeo usa várias fotos dele ao lado da senadora e ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves.

A vereadora Lú Bittencourt conseguiu aproximadamente 8 mil impressões no post patrocinado, em que reproduz o vídeo da apresentação de Aymeê Rocha. O conteúdo começou a circular no dia 26 de fevereiro e foi direcionado a moradores de Santa Catarina. A vereadora também fez outras postagens sobre as supostas denúncias de exploração infantil no Marajó. No dia 27 de fevereiro, ela postou novamente o vídeo da apresentação.

Publicação patrocinada da Vereadora Lú Bittencourt atingiu aproximadamente 8 mil impressões
As duas postagens semelhantes patrocinadas pelo vereador Lucas Ferreira mobilizam apoio para o Instituto Akachi, que ganhou fama ao mobilizar uma campanha de arrecadação de doações para combater a exploração infantil no Marajó. Os conteúdos circularam a partir de 23 de fevereiro, conquistando cerca de 10 mil impressões.

O Akachi informa, em sua página na internet, que trabalha com crianças vítimas de violência. O instituto tem sido indicado por influenciadores e políticos – como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) – para receber doações para o Marajó via Pix. Em nenhuma das divulgações, porém, fica claro que a organização pertence a uma corrente evangélica e tem como um dos donos um pastor e ex-candidato bolsonarista.

Henrique Krigner é um dos sócios do Akachi e diretor da ONG, que tem sede em Pariquera-Açu, em São Paulo. Ele é uma das principais lideranças da igreja evangélica Zion Church e do Dunamis Movement, que promove cursos, eventos e ações voltadas a disseminar a fé principalmente entre jovens. Krigner é um dos organizadores do The Send Brasil, um dos principais eventos de música gospel do país, que recebeu críticas por fazer doutrinação política de jovens evangélicos e teve a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2020.

Krigner foi candidato a vereador de São Paulo em 2020 pelo Partido Progressista (PP), da base do ex-presidente. Recebeu mais de 16 mil votos, mas não se elegeu. Bolsonarista convicto, ele não diz em suas redes sociais se concorrerá novamente nas eleições deste ano, mas comentários em suas postagens parecem já estar em clima de torcida. “​Nosso vereador em SP​”, diz um deles, da semana passada.

Krigner gastou quase tudo o que recebeu na campanha. A quinta maior despesa que teve, no entanto, foi com a Big Wave Media, uma produtora de vídeos da qual também é sócio. Em 2018, ele foi um dos representantes da Zion Church em uma sessão solene na Assembleia Legislativa de São Paulo que homenageou Sarah Hayashi, fundadora da igreja. O evento foi presidido pelo então deputado e hoje prefeito de Americana Chico Sardelli, também aliado de Bolsonaro.

Em 2022, Sarah Hayashi recebeu a Medalha da Ordem do Mérito Princesa Isabel, uma honraria criada pelo governo Bolsonaro, das mãos de Damares Alves, ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos. Em 2022, o líder da Zion Teo Hayashi estava ao lado de Silas Malafaia e outros pastores pop em um vídeo para declarar apoio a Bolsonaro no início da sua campanha à reeleição. 

A Pública entrou em contato com os políticos que impulsionam conteúdos relacionados às denúncias sobre o Marajó, mas não recebeu resposta até a publicação. Krigner e Akachi não responderam até a publicação.

A igreja Zion, o Marajó e Damares

Um dos representantes da Zion, o pastor Lucas Hayashi, já publicou um vídeo, em 2019, sobrevoando o Marajó supostamente a convite de Damares. “Representando a sociedade civil por meio da Zion Church e do Dunamis Movement, fomos até a Ilha do Marajó, lá no Pará, com o objetivo de analisar as demandas da saúde, educação e assim contribuir com o Governo Federal, juntamente com o Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos e a ministra Damares Alves, e com o programa Abrace Marajó”, disse.

Em publicação de 2022, a senadora Damares Alves promoveu a expedição da igreja Zion até o Marajó em suas redes sociais

Damares Alves já foi investigada pelo Ministério Público Federal (MPF) por fake news contra a população do Marajó. Ela disse que havia um alto índice de exploração sexual na região porque as meninas “não usavam calcinha” e defendeu a construção de uma fábrica de lingerie dentro das ações do programa Abrace o Marajó, lançado durante sua gestão. 

Em 2022, Damares fez novas denúncias, sem provas, sobre abusos sexuais e tortura de crianças no arquipélago. Ela responde a uma ação ajuizada pelo MPF em 2022 que pede o pagamento R$ 5 milhões por relatos sem provas de abuso infantil. A ação diz também que as declarações foram feitas durante a campanha eleitoral, de modo a associar Bolsonaro, que concorria à reeleição, ao combate à pedofilia. 

Essa fala de Damares voltou a circular na internet este mês junto com outros conteúdos falsos, como um vídeo em que supostas vítimas de tráfico de crianças no Marajó aparecem em um carro. Esse vídeo foi gravado no Uzbequistão. Outro conteúdo que mostra um homem beijando uma criança em um barco foi gravado no Mato Grosso do Sul. 

“Esses conteúdos chegam de uma forma muito violenta para a população daqui do Marajó. Não quero descartar o que acontece na região, mas a violência sexual não é uma questão somente daqui. É preciso tratar dessas questões com muita delicadeza, compromisso. As pessoas não aprofundam a situação e acabam caindo no sensacionalismo, na estigmatização”, diz a presidente do Instituto de Direitos Humanos Dom José Luis Azcona, irmã Marie Henriqueta Ferreira Cavalcante, que é uma referência no combate à violência sexual contra crianças e adolescentes no Marajó.

Irmã Marie Henriqueta avalia que, no governo Bolsonaro, houve um “desmonte de políticas para crianças e adolescentes”. “Nós não vimos efeito nenhum do programa Abrace o Marajó. Cesta básica não é combate ou enfrentamento a violência sexual.” No ano passado, a Controladoria-Geral da União (CGU) identificou danos de mais de R$ 2,5 milhões aos cofres públicos por irregularidades em ações do Abrace o Marajó. 

O atual governo encerrou o Abrace o Marajó em 2023 e lançou um novo programa chamado Cidadania Marajó. “A gente espera que no governo atual a gente tenha políticas essenciais para desfazer esse contexto de miséria, produzida e reproduzida, da pobreza e da impunidade. Se as nossas crianças e adolescentes ainda sofrem violência é porque existe uma lacuna enorme feita por um processo de punição daqueles e daquelas que violam os direitos”, acrescentou irmã Marie Henriqueta.

As denúncias falsas de Damares sobre exploração sexual no Marajó voltaram a circular este mês

Influenciadora presa em investigação sobre jogos de azar mobilizou vaquinha virtual
Além do Akachi, outras organizações e até influenciadores mobilizaram campanhas de arrecadação virtuais para o território do Marajó a partir das denúncias que viralizaram este mês. Na plataforma Vaquinhas, há pelo menos seis campanhas de financiamento coletivo para o Marajó abertas em fevereiro. A de maior arrecadação foi mobilizada pela influenciadora Noelle Maria de Araújo Alves, que conseguiu angariar mais de R$ 41 mil. A meta era R$ 30 mil. 

Em dezembro passado, Noelle foi presa na Operação Truque de Mestre, que investiga envolvimento de influenciadores digitais com jogos de azar conhecidos como “jogo do tigrinho”. Ela foi liberada em 23 de dezembro por alvará de soltura expedido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJPA). De acordo com as investigações, a influenciadora administrava uma casa de swing usada para lavagem do dinheiro das apostas.

No Instagram, onde Noelle tem 180 mil seguidores, ela compartilhou fotos de cestas básicas que teriam sido compradas com as doações e postou stories mostrando o transporte de barco das cestas para o Marajó, mas as publicações não informaram os locais de entrega ou quantas cestas foram compradas. A reportagem procurou a influenciadora, mas não teve retorno do contato. 

A AGU abriu investigação sobre a rede de desinformação que ajudou a espalhar notícias falsas sobre exploração sexual no Marajó. De acordo com a AGU, a investigação ainda está em fase inicial. O ministro de Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, disse em vídeo que não vai admitir que “oportunistas utilizem as mazelas e os problemas que existem em Marajó para criar pânico moral”.

(Transcrito de reportagem da Agência Pública)

Rock na madrugada – R.E.M., “It’s the End of the World As We Know It (and i feel fine)”

POR GERSON NOGUEIRA

Essa lendária apresentação ao vivo rendeu um DVD espetacular (Perfect Square) do R.E.M., desnudando todos os motivos que levaram a banda a dominar os anos 90 e o começo do século XXI. O hit dançante “It’s the End of the World As We Know It” (É o fim do mundo como o conhecemos hoje), do disco Document (1987), sacode a plateia de Wiesbaden, cidadezinha no interior da Alemanha, no verão europeu de 2003. Já assisti umas 200 vezes esse DVD, aliando o prazer pela música brilhante do R.E.M. com a saudade da Alemanha, que conheci em 2006 para cobrir a Copa do Mundo e jamais esquecerei.

Michael Stipe (voz), Mike Mills (baixo) e o craque Peter Buck (guitarra) conseguiram fazer do R.E.M. o perfeito combo entre banda de garagem e supergrupo de arena por 21 profícuos anos, sem perder jamais a essência daquilo que um dia alguém se meteu a chamar de rock alternativo.

Formada em 1980, em Athens (Georgia, EUA), a banda encantou o mundo até 2011 – e mata a gente de saudade até hoje.

Novo tropeço derruba Catalá

POR GERSON NOGUEIRA

O desenho da partida foi muito parecido com o da eliminação na Copa do Brasil. O Remo perdendo gols e tomando o 1 a 0 em meio à barafunda defensiva. Como em Porto Velho, abusou da desorganização. Empatou em lance atípico, de iniciativa individual do zagueiro Ícaro, mas a transição foi novamente um desastre. Frouxa, lenta, sem inspiração. O empate só teve um aspecto positivo: o desligamento do técnico Ricardo Catalá.

Quando a bola rolou, a expectativa era de uma nova vitória do Remo, que seria a terceira seguida no Parazão – Tapajós e Águia foram as anteriores. O adversário não impunha temor, mas, à medida que o tempo passava, os erros habituais voltaram a assombrar a torcida presente ao Baenão.

Depois de perder oportunidades claras com Felipinho e Ribamar por pura afobação, a marcação vacilou e o São Francisco não perdoou. Foram quatro finalizações numa jogada só, até a bola tomar o caminho das redes. O arremate definitivo foi de voleio. Um golaço de Edgo, aos 28 minutos.

A simplicidade do São Francisco contrastava com a desconexão dos setores de meio e ataque do Remo. Como de praxe, na busca pela igualdade, o time passou a disparar chuveirinhos em direção a Ribamar. Não funcionava, pois a zaga levava quase sempre a melhor.

Aos 40’, quando o zagueiro Ítalo acertou um tiro de primeira, aparando um rebote da zaga, tudo parecia se encaminhar para uma reação azulina. Ledo engano. O primeiro tempo terminou com os atacantes desperdiçando lances bobos junto à área do São Francisco.

Na volta do intervalo, o Remo seguiu na mesma estratégia de cruzar bolas na área. Como o São Francisco se fechava todo para garantir o empate, o técnico Ricardo Catalá meteu as mãos pelos pés com mudanças completamente incompreensíveis.

Tirou o volante Henrique, que estava bem na recomposição e na distribuição de jogo, para colocar o confuso Pavani. Além disso, tirou Camilo para a estreia de Matheus Anjos e trocou Felipinho por Echaporã.

A mexida no meio deixou o Remo inicialmente travado, sofrendo com o desentrosamento de Mateus com os companheiros. O time só começou a pressionar mais forte nos 20 minutos finais, com Echaporã e Thalys avançando pela direita e a dupla Marco Antônio e Raimar pela esquerda.

Mas, se não bastasse a dificuldade para criar pelo corredor central, o Remo tinha contra si a imperícia de Ribamar no jogo aéreo. Alto e forte, o centroavante repetiu ontem à noite as performances que faziam as torcidas de Botafogo e Vasco arrancarem os cabelos.

O jogo terminou empatado pela inoperância ofensiva do Remo e a completa ausência de ideias por parte de Catalá, que terminou dispensado minutos depois do tropeço. A situação ficou insustentável e o voto de confiança da diretoria terminou ontem.    

Botafogo e Tiquinho finalmente estreiam na temporada

Tomei como presente de aniversário a belíssima atuação do Botafogo, ontem, diante do Aurora (Bolívia). Desculpem a imodéstia deste escriba, mas a goleada de 6 a 0 retratou o que foi a partida, inteiramente dominada por Tiquinho Soares e seus companheiros. Os gols foram surgindo naturalmente, e cabia até mais.

Importantíssima a reabilitação de Tiquinho perante o torcedor alvinegro. Marcou um gol e deu assistência para dois gols de Júnior Santos, grande nome da partida, com quatro gols e uma atuação encapetada.

E até semanas atrás havia quem defendesse a saída de Junior e Tiquinho. Teve até pichação no estádio Nilton Santos. Em certos momentos, o torcedor é um ser absolutamente insano e afobado.

O gol de Júnior Santos logo aos 3 minutos deu o tom do que viria a ser a partida: um passeio botafoguense. O time foi vertical e implacável no aproveitamento das muitas brechas deixadas pelo sistema defensivo boliviano.

Aos 16 minutos, foi a vez de Tiquinho fazer as pazes com o gol – e com a torcida. No lance, bateu duas vezes para colocar a bola nas redes. Depois, Savarino marcou um golaço, invadindo pela esquerda e chutando no ângulo para fechar o primeiro tempo em 3 a 0.

Na etapa final, Tiquinho teve um gol anulado logo no início, mas deu assistência perfeita para Júnior estufar as redes. O ponta-direita estava em noite digna de Jairzinho, aterrorizando a zaga do Aurora. Marcou mais duas vezes, contribuindo decisivamente para a goleada de 6 a 0.

Curiosamente, como ocorreu na fatídica Série A de 2023, esta grande atuação do Botafogo teve um auxiliar técnico na beira do campo. No ano passado, Cláudio Caçapa foi responsável por alguns dos jogos mais empolgantes da equipe. Desta vez, o interino é Fábio Mathias.

Que venha o Bragantino.

Papão só não pode subestimar o azarão Ji-Paraná

Contra o Ji-Paraná, hoje, o PSC estreia na Copa do Brasil e Hélio dos Anjos, que não estará em cena – cumpre suspensão –, formatou a equipe com força máxima. A dupla titular da zaga está de volta e Nicolas comanda o ataque.

Fundamental a essa altura é tomar como alerta o tropeço que eliminou o Remo, lá mesmo em Rondônia, na semana passada. Qualquer vacilo pode significar um prejuízo de R$ 1,4 milhão.

A estratégia montada pelo clube para o jogo foi meticulosa. O time poupou peças diante do Canaã, no sábado, e o complicado roteiro de viagem foi cuidadosamente pensado para evitar ao máximo o desgaste do time.

Em situação normal, o PSC é favoritaço. Tem um elenco tecnicamente superior, a partir de investimentos muito superiores aos do Ji-Paraná, e não pode desperdiçar a chance de fazer receita na Copa do Brasil.  

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 29)

Leão tropeça de novo em casa e Catalá é dispensado

O Remo voltou a tropeçar em casa e ficou no empate (1 a 1) com o São Francisco, nesta quarta-feira no Baenão, em jogo atrasado da terceira rodada do Parazão. O Leão Santareno saiu na frente com um gol de voleio de Edgo, mas o Leão Azul empatou com um belo gol de Ícaro, batendo de primeira, ainda no primeiro tempo.

No segundo tempo, apesar de insistir em busca do segundo gol, o Remo esbarrou na imperícia do ataque, principalmente Ribamar, que desperdiçou várias oportunidades. Em consequência do empate, o técnico Ricardo Catalá teve sua demissão anunciada ao final da partida pelo executivo de futebol Sérgio Papellin.

Assassino de Chico Mendes eleito para presidir PL de Medicilândia, mas direção nacional pede destituição

Darci Alves Pereira, réu confesso, condenado em 1990 a 19 anos de prisão pelo assassinato de Chico Mendes, é o novo presidente do Partido Liberal (PL) de Medicilândia, cidade de cerca de 32 mil habitantes no oeste paraense. Pereira tomou posse no final de janeiro. Documento obtido por O ECO junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indica que a composição da nova diretoria do PL em Medicilândia foi formalizada na Justiça Eleitoral em 27 de novembro de 2023.

A cerimônia de posse, no entanto, aconteceu somente no dia 26 de janeiro de 2024. O evento, realizado na Câmara de Vereadores da cidade, contou com a presença do deputado estadual Rogério Barra, secretário-executivo do PL no estado do Pará e de quem Darci Alves Pereira é afilhado político.

Foto colorida de Darci Alves Pereira, novo presidente do PL - Metrópoles

O presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, recomendou, nesta terça-feira (27/2), o afastamento de Darci Alves Pereira da presidência do partido em Medicilândia, município do Pará. A decisão foi encaminhada para o presidente do PL do Pará, o deputado federal Éder Mauro (PL-PA).

“Recomendei ao presidente da estadual do PL do Pará, deputado Éder Mauro, a imediata destituição de Darci Alves Pereira do cargo”, afirmou Valdemar Costa Neto.

O presidente nacional do PL destacou que não tinha conhecimento sobre o envolvimento de Darci Alves na morte do ambientalista e seringueiro Chico Mendes, assassinado em dezembro de 1988.

“Gostaria de esclarecer que não tinha conhecimento de que Darci Alves Pereira, que assumiu recentemente a presidência do PL de Medicilândia, no interior do Pará, é o mesmo indivíduo acusado do assassinato do ambientalista Chico Mendes. Agradeço à imprensa por trazer ao nosso conhecimento esse importante fato”, completa a nota.

Darci Alves assumiu a presidência do PL de Medicilândia durante evento na Câmara de Vereadores da cidade em 26 de janeiro. A informação foi publicada pelo O ECO e confirmada pelo Metrópoles.

Atualmente, Darci se apresenta como Pastor Daniel. Nas redes sociais, o assassino do ambientalista anunciou que será candidato a vereador de Medicilândia. A cidade está localizada no interior do Pará e tem, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 27.094 habitantes.

Darci Alves Ferreira e o seu pai, o fazendeiro Darly Alves, foram condenados a 19 anos de prisão pela morte de Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes, em 1990. Chico Mendes foi assassinado com um tiro de escopeta em 22 de dezembro de 1988. Ele nasceu em Xapuri, no Acre, e ficou conhecido pelo seu trabalho em defesa do meio ambiente.

(Com informações do portal O ECO e do Metrópoles)

Adeus a um ídolo de verdade

POR GERSON NOGUEIRA

A coluna falou de Vinícius inúmeras vezes, de forma predominantemente positiva, reconhecendo suas atuações como goleiro titular do Remo por sete anos. Vinícius volta a ser mencionado aqui, talvez pela última vez como jogador azulino. O clube oficializou ontem o fim do vínculo com o guardião, junto com a dispensa do preparador de goleiros Juninho Macaé.

A coincidência não é despropositada. Vinícius e Juninho formavam uma dupla afinada, com excelentes serviços prestados ao Remo desde 2017, quando ambos foram trazidos para o futebol paraense pelo técnico Josué Teixeira. 

Na nota curta e de poucos adjetivos em que anunciou que Vinícius não terá contrato renovado, o clube informa que o goleiro receberá uma homenagem nesta quarta-feira (28), na última partida da equipe em casa nesta primeira fase do Campeonato Paraense.

Diante do São Francisco, às 20h, no Baenão, a torcida terá a última chance de aplaudir e reverenciar Vinícius, um dos mais disciplinados atletas que já passaram pelo Remo em todos os tempos. Curiosamente, circulam boatos nos bastidores tentando impingir a ele uma imagem negativa.  

Como Vinícius, Juninho teve sua demissão recomendada pelo técnico Ricardo Catalá. O próprio preparador revelou isso em entrevista, ontem. Ele teria recebido essa informação ao procurar o executivo Sérgio Papellin.

Vinícius disputou 250 jogos com a camisa azulina e coleciona conquistas pelo clube. Foi campeão paraense em 2018, 2019 e 2022, herói do título da Copa Verde em 2021 sobre o Vila Nova, decidida nas penalidades; e peça fundamental no acesso à Série B em 2020.

Juninho é um grande amigo de Vinícius e exerceu sempre uma postura de liderança na equipe. Foi apontado sempre pelo goleiro como um dos responsáveis pelo seu sucesso como titular do arco azulino por tantos anos.

No futebol profissional, a saída de um jogador é absolutamente normal. Ciclos devem ser fechados e não cabe julgar ou criticar dirigentes por decisões do tipo. O que soa estranho, no caso de Vinícius, é a forma encontrada para interromper uma parceria tão benéfica ao Remo.

Ídolo da torcida, Vinícius sai em alta por tudo que produziu ao longo dos anos, salvando inúmeras vezes o Remo de situações difíceis, contribuindo para evitar até rebaixamentos. O torcedor, em sua imensa sabedoria, não esquece isso. E sabe que, acima de personagens menores, que passam como nuvem passageira, ídolos se eternizam na história do clube.

Mais do mesmo prevalece na pré-lista de Dorival  

Há quem tenha perdido as esperanças na Seleção Brasileira desde o Mundial de 1998, mas, contra todas as projeções lógicas, eu insisto em achar que existe chance de redenção. Apesar disso, desde a Copa do Mundo de 2018, estabeleci um parâmetro para avaliar a seriedade do trabalho dos técnicos do escrete.

Foi na Copa da Rússia que começou a espantosa série de convocações de Gabriel Jesus, que persiste até hoje. Tite bancou o atacante, hoje no Arsenal, mesmo diante dos pífios números do camisa 9. Presente na Copa seguinte, no Qatar, Jesus conseguiu a façanha de sair “invicto” de ambas: não marcou um golzinho sequer.

Apesar do desempenho chinfrim, Jesus coleciona convocações com base na eterna imagem de jogador que promete desabrochar a qualquer momento. O problema é que até hoje não revelou nenhum talento especial para ser prestigiado com a camisa da Seleção por tanto tempo.

Em pré-lista de nomes que vazou no portal UOL nos últimos dias, supostamente para os amistosos contra Inglaterra e Espanha, em março, Dorival mostra escolhas muito parecidas com as de Tite e Fernando Diniz.

Os goleiros, por exemplo, são Ederson, Lucas Perri, Weverton, Bento e Everson. Entre os zagueiros, aparecem Marquinhos, Nino, Beraldo, Bremer, Gabriel Magalhães e Murilo. Os meio-campistas seriam Andreas Pereira, André, Bruno Guimarães, Raphael Veiga, Lucas Paquetá e Casemiro.

Aí vem a turma do ataque e o mais do mesmo se acentua. Pedro, Richarlyson, Endrick, Vítor Roque, Vinícius Jr., Rodrygo e… Gabriel Jesus. Não tem combate. Com a opção por Jesus, Dorival se alinha com os antecessores e deixa claro que há, ao que tudo indica, uma ordem pré-estabelecida para chamar certos jogadores – inclusive cabeças de bagre.

Bem, como ainda é uma pré-lista, Dorival pode mudar nomes e fugir da velha fama de técnico sem convicções. 

A guilhotina não poupa ninguém no Parazão

Rogerinho Gameleira é a mais nova vítima da dança de cadeiras no Campeonato Paraense. Do nada, a diretoria do Bragantino decidiu achar um culpado pela oscilação do time na competição. Pior: optou por despachar o técnico na semana da rodada decisiva.

No começo da noite de ontem surgiu a notícia de que Alexandre Finazzi também teria sido dispensado pela diretoria do Tapajós, que ocupa a penúltima posição na classificação da primeira fase.

Rodrigo Reis, do Santa Rosa, foi defenestrado em consequência direta da goleada (4 a 0) frente à Tuna, no Souza. Surpreende o fato de que as cúpulas dos clubes tenham se dado conta do trabalho insatisfatório somente depois de sete rodadas disputadas.

Antes, quatro outros técnicos haviam sido demitidos. Uidemar, do Cametá; Emerson Almeida, do Canaã; Rafael Jaques, do Águia; e Wilton Bezerra, do Castanhal. No total, sete treinadores perderam o cargo. Emerson conseguiu se recolocar, substituindo Bezerra no Japiim.

Ontem, o preparador de goleiros Juninho foi demitido pelo Remo, depois de quase oito anos de trabalho sempre muito elogiado.

E ainda nem chegamos à fase de mata-mata quando os confrontos são eliminatórios. Pelo ritmo do pagode, o campeonato deste ano vai bater todos os recordes de dispensa de técnicos.

(Coluna publicada na edição do Bola desta terça-feira, 27)

Rock na madrugada – Bob Dylan, “To Fall in Love With You”

POR GERSON NOGUEIRA

Canção romântica de Bob Dylan inspirada na então namorada Suze Rotolo, artista plástica novaiorquina. O cantor e compositor estava em fase de formação, começando a colher os frutos de seus primeiros trabalhos. O caprichado registro de “To fall in love with you” reuniu um timaço de músicos no Studio Townhouse, em Londres, nos dias 27 e 28 de agosto de 1986. Dylan é acompanhado por Eric Clapton na guitarra, Ron Wood e Kip Winger no baixo, Beau Hill nos teclados e Henry Spinetti na bateria. A canção entrou na trilha do filme Hearts of Fire.

Sobre a musa, cabe dizer que o mundo teve acesso à imagem de Suze no lançamento do álbum “The Freewheeelin’ Bob Dylan”, de 1963. Ela aparece aconchegada ao cantor na foto que ilustra a capa, uma das mais singulares já lançadas. Era um dia de neve e os dois aparecem abraçados enquanto caminhavam por uma rua de Greenwich Village. Apesar do sucesso de Dylan, a moça de cabelos compridos sempre foi um mistério.

Em 2008, Suze quebrou anos de silêncio para contar a história de como foi se apaixonar por Dylan aos 17 anos (ele tinha 20), apresentando-o à política dos direitos civis e à poesia moderna. Romperia a relação por não resistir às pressões do estrelato, após quatro anos de um relacionamento tumultuado.

Testemunhou Dylan criar clássicos como “Blowin’ in the Wind” e “A Hard Rain’s A-Gonna Fall”. Em reportagem do New York Times sobre seu livro de memórias, ela conta que era “reservada por natureza e meu instinto era proteger minha privacidade e, consequentemente, a dele”. No entanto, isso revelou-se impossível, à medida que a estrela de Dylan disparava.

Embora não confirme quais músicas foram inspiradas nela, o próprio Dylan admitiu em entrevistas da época que “To Fall in Love…” e “Tomorrow Is a Long Time” referiam-se diretamente ao relacionamento com Suze.

Ela conheceu Dylan em 1961 num concerto de folk-rock da Riverside Church, em Manhattan, e logo começaram a namorar. Até sua morte, em 2011, foi sempre lembrada como “a musa” e “a moça da capa” do icônico disco de Dylan.

Leão decide jogo em 15 minutos

POR GERSON NOGUEIRA

A reabilitação que o Remo buscava veio com uma vitória construída no 2º tempo, depois de uma fase inicial confusa e sem inspiração. Tudo o que foi falado do time depois do vexame na Copa do Brasil se repetiu nos primeiros 45 minutos, para irritação da torcida (4.028 presentes), que vaiou os jogadores na descida para o intervalo. Na etapa final, com outra postura, o time resolveu o jogo em 15 minutos.

Apesar de controlar as ações e segurar o Águia, o Remo insistiu nos cruzamentos sobre a área marabaense, que travaram o jogo ofensivo e tornaram inútil a presença do centroavante Ribamar na área.

A primeira boa investida do Leão ocorreu aos 18 minutos, quando o zagueiro Ligger lançou Ribamar, que girou e bateu cruzado em direção ao gol. Axel Lopes espalmou. Aos 23’, foi a vez de Jaderson arriscar de fora da área, quase surpreendendo o goleiro do Águia.

Finalmente, aos 33’, veio a mais clara chance de gol para os azulinos na primeira etapa. Jaderson lançou Nathan, que disparou um chute à meia altura, à esquerda da trave. Em contrapartida, o Águia se manteve retraído, sem oferecer qualquer perigo à defensiva do Remo. Marcelo Rangel fez apenas duas defesas tranquilas em cobranças de escanteio.

Como a expectativa era de uma resposta azulina às cobranças da torcida, o placar em branco desagradou a torcida, que protestou com vaias.

A manifestação de desagrado surtiu efeito. Sem trocar peças, o Remo voltou do intervalo com postura mais agressiva. Logo de cara, Marco Antônio, improdutivo no 1º tempo, recebeu junto à área e chutou cruzado. Axel espalmou e Camilo aproveitou o rebote para abrir o marcador.

O Remo continuou impositivo, cercando a área do Águia, sem permitir ao adversário passar do meio-campo. Como consequência, logo aos 15’ a fatura foi liquidada. O volante Henrique, com grande atuação no trabalho de marcação, livrou-se da marcação e mandou um chute rasteiro, sem chances para Axel Lopes. O gol mais bonito da tarde.

Não houve brilho ou exuberância no jogo praticado pelos azulinos. O diferencial esteve na determinação dos jogadores e no apuro das finalizações. Em termos de organização, o time ficou devendo, mas a intensidade na marcação deu mais solidez defensiva.

Continua a faltar inventividade no meio-campo, com muito espaçamento. Outro aspecto a ser corrigido é a inclusão dos laterais no esforço ofensivo. Tanto Thalys quanto Nathan (substituído depois por Raimar) seguem excessivamente contidos, quase sem aproximação com o ataque.

O triunfo é importante por reconquistar a confiança do torcedor após atuações insatisfatórias, mas deve ser visto com cautela e sem oba-oba.

Lusa goleia Santa Rosa e se consolida no 2º lugar

Com uma campanha consistente, a Tuna se isolou na segunda colocação do Parazão após golear o Santa Rosa, por 4 a 0, na manhã deste domingo, no estádio do Souza. Ainda invicta, a equipe soma 15 pontos e 15 gols marcados, melhor artilharia da competição.

É a primeira grande campanha da Lusa desde o vice-campeonato de 2021, quando por detalhes deixou escapar o título da temporada. Sob o comando de Júlio César Nunes, neste Parazão o time tem conseguido equilibrar um jogo defensivo seguro com um ataque produtivo.

Na partida de ontem, o gol veio logo cedo, aos 19 segundos. Luquinha aproveitou um rebote na área para balançar as redes do Santa Rosa. Depois, aos 16 minutos, o artilheiro Jonathan Chula ampliou em cobrança de penalidade. Foi o 6º gol dele, que se igualou a Nicolas (PSC).

Flávio desperdiçou um pênalti para o Santa Rosa e perdeu a chance de diminuir. A Tuna foi à frente e aumentou a vantagem. Pedrinho, que havia entrado no intervalo, aproveitou falha da zaga para fazer o terceiro gol.

Ainda havia tempo para mais: o mesmo Pedrinho completou um cruzamento para as redes, fechando a contagem em 4 a 0.

Papão abusa do desperdício e tropeça no Canaã

O PSC sofreu um tropeço inesperado diante do lanterna do campeonato, na tarde de sábado, em Parauapebas. O Canaã conseguiu segurar o 0 a 0 por 30 minutos. Depois de forte pressão, o gol bicolor saiu aos 31’. Michel Macedo chutou cruzado em direção ao gol e o zagueiro Mateus tentou desviar, mas botou a bola no fundo do barbante.

Depois disso, o Papão aumentou ainda mais o ritmo, perdendo seguidas oportunidades para ampliar, muito em função da excelente performance do goleiro Matheus Poletine, responsável por três grandes defesas. O lance mais claro ocorreu quase no final do 1º tempo, quando, depois de uma falha da zaga, Leandro chutou e lá estava Matheus Poletine para evitar o gol.

Na etapa final, Elis García tentou fazer de cabeça para a equipe bicolor, mas o lance foi anulado por impedimento. O venezuelano deu outra cabeçada e o goleiro defendeu.

A jogada mais aguda teve Poletine fazendo uma defesa dupla em lance que Hyuri desperdiçou. Depois desse intenso bombardeio, o Papão acabou castigado aos 48 minutos. Em lance individual, Zé Paulo dominou na entrada da área e chutou rasteiro para empatar a partida no Rosenão.

O Papão poupou a dupla de zaga titular, Lucas Maia e Wanderson, e os atacantes Nicolas e Vinícius Leite, de olho na partida de quarta-feira, em Rondônia, contra o Ji-Paraná pela Copa do Brasil.

Psicologia do Esporte em debate no Troféu Camisa 13

O Troféu Camisa 13 promove hoje o 1º Bate-Bola da temporada, com palestra de Daniel Alvarez Pires, mestre em Educação Física e doutor em Ciências do Esporte, que vai discorrer sobre Psicologia do Esporte e como o comportamento dentro e fora de campo afeta o rendimento esportivo e influencia as relações interpessoais.

O evento é aberto ao público e começa às 18h, no auditório da RBATV, na avenida Almirante Barroso, 2190.

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 26)

A frase do dia

“CONFESSOU! A PF vai usar discurso de Bolsonaro na Paulista na investigação, pois ao se ‘explicar’ ele admitiu conhecimento sobre a minuta golpista. O covarde ficou em silêncio no depoimento, mas no domingo produziu prova contra si mesmo. O peixe morre pela boca!”.

Ivan Valente, deputado federal (PSOL-SP), professor e engenheiro

Quando traímos os criadores

Estrelando Mercenárias, Lucchetti, Frank Herbert e Enzo Ferrari

Por André Forastieri

Em 1982 atrás as Mercenárias faziam o que ninguém fazia no Brasil: pós-punk. Agressivo, abrasivo, provocativo. Cosmopolita e paulistaníssimo. Feminino e feminista. Som sem precedentes entre nós. Tudo isso quando o punk engatinhava no nosso país. Muito menos nossa niu uêive temporona, engraçadinha, cabaço, que só se afirmaria na segunda metade dos 80. Olha só elas nessa foto de 1984, do grande Rui Mendes.

As Mercenárias tinham tudo para dar errado e deram.

O primeiro disco demorou muito pra sair; no segundo, foram estranhamente tratadas como obsoletas. O rock que demole instituições nunca teve palco neste país. Ou só em versões humorísticas, ou aguadas / coreografadas – Titãs.

A gente não prestou a devida atenção nas Mercenárias. Eu também não. Outro dia assistimos Sandra e a atual formação de sua banda. Minha primeira vez desde aqueles antediluvianos 80. Agora elas fazem perfeito sentido.

Tocaram entre o Cólera e o L7. Estavam lá o Gordo e o Scandurra. Tinha um jovem casal na faixa dos vinte anos comigo. Sandra disse no nosso ABFP que o público delas agora tem gente mais jovem ainda, 13, 14 anos. E disse outras coisas que você vai gostar de ouvir também.

Estar neste show deu a sensação de fazer parte da História. Que as Mercenárias fizeram e na época não sabiam. Tavam só lá vivendo e tocando, fazendo arte e confusão, dando murro em ponta de faca, dando errado – dando certo.

Agora elas sabem e nós também.

Dá ódio e desgosto ver velho passando necessidade. É mais odioso ainda quando o velho é um criador. Gente que se dedicou a divertir, até inspirar os outros. Que fez nossas vidas menos árduas, quem sabe iluminadas.

Acontece com gênios. Acontece à beça com quem criou como funcionário ou frila, alugando seu talento pra liquidar os boletos da semana.

Dias atrás os fãs de quadrinhos se espantaram com um post de Larry Hama, 75 anos. Contou que precisa continuar trabalhando pra pagar as contas, e que continua recebendo o mesmo fixo por página de roteiro desde o século 20.

Hama não é famoso fora da gibilândia. É o principal responsável pela criação da bilionária franquia G.I. Joe, de filmes, desenhos, brinquedos. Mas não é “o criador”, não tem os direitos autorais ou patrimoniais sobre nada. O “criador” é a Hasbro, também “criadora” dos Transformers, Magic: The Gathering, Power Rangers e Peppa Pig.

Agora é Rubens Luccheti, um dos nossos maiores criadores no universo do terror e da fantasia, indissociável de Zé do Caixão. Idoso, passa dificuldades aqui pertinho, no nosso Brasil mesmo. Não tem um milésimo dos fãs de Hama. Se puder, ajude.

Reciclei um texto antigo meu sobre os bastidores da criação de “Duna”, o livro, e estou animadão pra assistir o segundo filme. Quem não leu e não sabe como acaba a história periga assustar. E assustar do tanto que George Lucas surrupiou de Frank Herbert.

Fiz um videozinho explicando minha birra com “Ferrari”, que vi e chega aos cinemas. Enzo era artista? Era. Você jamais desconfiaria assistindo esta cinebiografia. Sua italianíssima, pagã, pan-helênica busca pelo justo equilíbrio entre prazer e perfeição se perde na tradução de Michael Mann e Adam Driver para platéias anglófonas.

Quem nasceu na velha bota traz do berço saudável desrespeito pelas ilusões da performance heróica. Incompreensível para os ianques, cujo deus demanda sacrifício por resultados rápidos, “just do it”. Até no sexo cinematográfico (com Penelope Cruz!), sempre vestido e apressado, gozo funcional e voltemos ao trabalho.

Cadê o charme e a lassidão, o apolíneo e o dionisíaco, lo Mastroianni e la Cardinale? “Traduttore, traditore”, indeed…

Remo derrota o Águia e se reabilita junto ao torcedor

Com dois gols em 15 minutos, no segundo tempo da partida, o Remo derrotou o Águia na tarde deste domingo no estádio Baenão, em partida válida pela 7ª rodada do Parazão. Com o resultado, a equipe de Ricardo Catalá se reabilita perante a torcida, depois da crise provocada pela eliminação da Copa do Brasil. O primeiro tempo foi morno, sem grandes emoções e com poucas chances de gol, embora o Leão tenha sido superior ao visitante.

O Remo movimentou o placar logo no primeiro minuto do 2º tempo. Marco Antônio avançou com a bola até a entrada da área e chutou cruzado, com efeito. O goleiro Axel Lopes espalmou nos pés de Camilo, que tocou para o fundo das redes.

O Águia se manteve cauteloso e muito recuado. Teve uma boa chance, aos 12 minutos, com Iury Tanque, mas vacilou na marcação três minutos depois. Henrique recebeu a bola na intermediária, driblou um marcador e chutou rasteiro, no canto esquerdo da trave.

Com 13 pontos, o Leão agora ocupa a terceira posição, atrás de Paysandu (17) e Tuna (15), mas tem um jogo atrasado contra o São Francisco, marcado para quarta-feira, 28, no Baenão.

Águia em alta, Leão em crise

POR GERSON NOGUEIRA

É um duelo entre times que atravessam momentos opostos. O Águia vem de uma classificação brilhante frente ao Coritiba, na quinta-feira (22), garantindo vaga na segunda fase da Copa do Brasil. O Remo foi eliminado da mesma competição pelo azarão Porto Velho, na terça-feira (20).

Tem tudo para ser um jogo bem interessante. O Remo mergulhou em crise depois do tropeço na capital rondoniense, e nem era para menos. Depois de três anos consecutivos chegando à terceira fase da Copa do Brasil, faturando bom dinheiro com isso, o vexame atual fica difícil de explicar.

Num gesto que surpreendeu a meio mundo, a diretoria optou por manter o técnico Ricardo Catalá, responsabilizado pela torcida pelo insucesso do time. O voto de confiança concedido pelo clube tem prazo de validade curto. Vai até hoje.

Explicando melhor: caso ocorra um novo revés, desta feita pelo Campeonato Paraense, não haverá força no universo capaz de impedir a saída do treinador. Por mais que o período de trabalho seja de apenas um mês e meio, os dirigentes terão que se curvar à insatisfação da torcida.

Times de massa têm esse perfil desafiador. A massa torcedora costuma ter mais força que a diretoria, embora não se dê conta disso. Na tradição de cobrança por resultados que reina no futebol brasileiro, a pressão popular costuma ser irresistível.

Para a partida de hoje (17h), com mudanças pontuais na escalação – Ícaro na zaga e, provavelmente, Jaderson no meio-campo –, o Remo terá que superar o clima de desconfiança e tensão gerado pelo ocorrido em Porto Velho. É fundamental mostrar evolução técnica e mais organização em campo.

O problema é que do outro lado estará o atual campeão paraense, devidamente turbinado pela atuação contra o Coritiba e pela reação dentro do certame estadual depois do retorno do técnico Mathaus Sodré.

Para vencer Axel Lopes e seus confiantes companheiros, o Remo tem boas armas ofensivas. A principal é Marco Antônio, que tem sobrevivido à sequência de jogos chinfrins do time. Outra é Jaderson, um meia que atua pelos lados, mas que sabe atuar na faixa central.

Vale dizer que o último confronto entre Leão e Águia no Baenão, em 2023, terminou em frustração azulina e festa marabaense pela conquista do inédito título estadual, após disputa em cobrança de penalidades.

Pep e a grande chance para Ednaldo e a CBF

Pep Guardiola, considerado o melhor técnico do planeta, disse ao repórter João Castelo Branco em entrevista na ESPN que um de seus sonhos a realizar até o fim da carreira é treinar uma seleção nacional. “Não sei quem me quer”, comentou, ao ser indagado se tinha uma preferência.

De toda sorte, é mais uma senha que o espanhol dá sobre a disponibilidade para assumir um selecionado. Antes da Copa de 2018, ele chegou a admitir que sonhava com a Seleção Brasileira, mas nunca mais falou a respeito.

Sobre os métodos de trabalho, Pep garante que gosta de se sentir desafiado. “Pessoalmente prefiro que as pessoas duvidem. Assim, podemos dizer: vamos provar a eles”.

Revelou ainda que era mais feliz correndo atrás da bola. “Ganhei mais títulos como treinador do que como jogador, mas sentia mais prazer jogando. O jogo é sempre mais bonito para quem joga”.

Um excelente técnico e um entrevistado de primeira grandeza.

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro apresenta o programa, a partir das 22h, na RBATV. Participações de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. A sétima rodada do Campeonato Paraense é a pauta principal da noite. Edição de Lourdes Cezar.

Beira do gramado não é para todos os técnicos

A ausência de Hélio dos Anjos nos jogos do PSC na Copa Verde e Copa do Brasil – e, possivelmente, na Série B – abre um pequeno debate sobre a importância do técnico à beira do gramado. Rigorosamente, isso não significa grande coisa para o desfecho de uma partida, mas algumas situações podem exigir a presença de um técnico mais participativo.

Hélio tem esse perfil, razão de muitos elogios e de algumas críticas, principalmente por caminhar por uma trilha muito tênue. Entusiasmado, passa facilmente do ponto no afã de defender seu time ou reclamar da arbitragem. Por ironia, essa característica de engajamento nas partidas é a razão da presente punição – nove partidas.

Quando esse assunto veio à baila no programa “Linha de Passe”, da Rádio Clube, na quarta-feira, um ouvinte lembrou de um técnico que era o oposto de Hélio. O gigante Paulo Amaral não gostava de acompanhar os jogos junto à linha lateral. Preferia o sossego das cabines, de onde podia ter uma visão geral e observar a distribuição dos jogadores em campo.  

No estádio Evandro Almeida, como técnico do Remo após integrar duas comissões técnicas campeãs do mundo com a Seleção, ele só descia no intervalo e passava rente ao alambrado, pouco ligando para as reclamações da galera – sua envergadura (1,98) certamente inibia críticas mais ácidas. 

Oriundo do boxe, Paulo Amaral era de pouca conversa, mas impunha muito respeito. Formado no Botafogo, treinou o Glorioso por quatro vezes e trabalhou também no Bahia e no Corinthians, antes de vir treinar o Remo de Alcino, Rosemiro, Mesquita, Aderson, Dico e Cuca, conquistando o título estadual de 1975, fechando o tri invicto (73/74/75).

Foi sob o comando do careca Paulo Amaral que o Remo bateu o Flamengo de Zico e Junior no Maracanã, por 2 a 1, em outubro de 1975, pela Taça de Ouro. Um feito inédito para um clube paraense à época. 

(Coluna publicada na edição do Bola deste domingo, 25)