POR GERSON NOGUEIRA
A Copa do Brasil existe para dar ao futebol brasileiro um mínimo de emoção anual. Se o torneio não existisse, ficaríamos reféns do modelito comportado, bacaninha e justo dos pontos corridos nos campeonatos das séries A e B. Cada vez que vejo os jogos de mata-mata da Copa BR sinto saudades imensas daqueles tempos de finais eletrizantes nos certames nacionais, quando dois times chegavam ao jogo decisivo com chances de levantar a taça.
Nada substitui essa emoção que só as incertezas do futebol podem proporcionar ao torcedor. Nenhum outro esporte permite tamanha amplitude de possibilidades num simples jogo. A torcida paraense, ou parte dela, esteve até anteontem envolvida nesse roteiro imprevisível, por obra da boa campanha do Papão, que alcançou as oitavas-de-final da Copa.
Tarefa, diga-se, das mais difíceis desde que a competição passou a ter a participação dos clubes vindos da Taça Libertadores em flagrante prejuízo dos deserdados do mercado boleiro no país. Explico: antigamente, era possível que o Criciúma, o Juventude, Sport e o Paulista conquistassem o título. Hoje, com os grandões de volta, ficou complicado, daí a façanha alviceleste de chegar à quarta fase do torneio.
Mas o que me chamou atenção na super rodada de quarta-feira à noite foi a quase equânime redistribuição de lugares entre os menos aquinhoados da Série A. Não que eu esteja duvidando da veracidade dos jogos, todos disputados de maneira empedernida pelos times.
É que, por vias do acaso, o cambaleante Vasco viu-se triunfante sobre o Flamengo, o semi-emergente Palmeiras despachou o Cruzeiro, o Figueirense superou o Atlético-MG e o Santos passou pelo hiper mega poderoso Corinthians. Só não se fez justiça “social” com o Papão e o Ceará, garfado dentro de casa, mas aí já são outros quinhentos mil réis.
O desfecho da rodada ficou para a noite de ontem, quando o Internacional tinha tudo para confirmar a vaga diante do modesto Ituano, mas o fato indiscutível é que a Copa do Brasil já serviu pelo menos a um propósito: alegrar algumas torcidas que iriam passar os próximos meses apenas se lamuriando pelas desditas de seus clubes na Série A. Com alguma sorte, podem ter até mais emoções do que muitos medalhados que estão melhor posicionados no campeonato de pontos corridos.
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Outro azulino ameaça atravessar a avenida
Depois de Jonathan e Leandro Cearense, outra proposta tentadora por parte do Papão pode fazer um outro azulino trocar o Baenão pela Curuzu. A bola da vez é o volante Ilaílson Aguiar. O jogador foi procurado por dirigentes do Papão, compareceu a uma reunião e recebeu uma oferta salarial que gira em torno de R$ 30 mil, segundo fontes próximas ao atleta. Um dos diretores do Remo soube da história e contatou Ilaílson, que teria confirmado o encontro e a negociação com os bicolores.
O fato é que o jogador está desmotivado no Baenão, por conta dos atrasos salariais e pela constante improvisação na lateral-direita pelo técnico Cacaio. Ilaílson ficou bastante interessado na proposta do Papão, embora não esconda a preocupação em não se indispor com os azulinos.
No Papão, o negócio não é confirmado oficialmente, mas nos bastidores comenta-se que Ilaílson entrou na alça de mira depois da lesão sofrida por Ricardo Capanema no jogo contra o Fluminense, afastando-o por pelo menos dois meses da disputa da Série B. Sem um volante pegador para substituir Capanema, Dado Cavalcanti teria aprovado a iniciativa.
No Remo, a diretoria deve se reunir hoje para discutir o que fazer, até porque Ilaílson tem contrato em vigor com o clube. A dúvida é se ele não está com os salários em atraso, o que poderia permitir o desligamento, como aconteceu com Jonathan. Um detalhe em particular irrita os azulinos; Ilaílson é representado por Hércules, o mesmo procurador que foi animador de torcida no Papão e que tirou o atacante Roni do Baenão.
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Ranking dos maiores públicos e rendas do ano
Levantamento do produtor Adilson Brasil, do Banco de Informações da Rádio Clube do Pará, confirma mais uma vez a ampla hegemonia da dupla Re-Pa no futebol nortista. Os dois titãs respondem pelos 10 maiores públicos da temporada na região, tendo arrastado ao estádio Jornalista Edgar Proença um total de 238.264 pagantes. Não é para qualquer um.
Abaixo, a lista completa:
1° Remo 4×1 Cuiabá (Copa Verde) – 34.780
2° Remo 2×0 Independente (Estadual) – 34.773
3° Paysandu 1×2 Fluminense (C. do Brasil) – 31.418
4° Paysandu 2×1 Atlético-GO (Série B) – 30.201
5° Remo 2×1 Paysandu (Estadual) – 26.416
6° Remo 2×0 Paysandu (Copa Verde) – 21.861
7° Paysandu 1×1 S. Corrêa (Série B) – 21.509
8° Remo 1×0 Paragominas (Estadual) – 21.096
9° Paysandu 2×1 Vitória (Série B) – 19.293
10° Paysandu 1×1 Mogi Mirim (Série B) – 18.426
(Atualizado em 27/08/2015)
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Sobre livros, exemplos e jornalistas
Registro, agradecido, o recebimento de dois livros recém-lançados e que muito dignificam qualquer biblioteca, mesmo aquelas mixurucas, como a minha. O primeiro é “Golpe de Estado” (Ed. Geração), de Palmério Dória e Mylton Severiano. O subtítulo explica a obra: “O espírito e a herança de 1964 ainda ameaçam o Brasil”. O outro é “A Vida sem Crachá” (Ed. Agir), de Claudia Giudice. Um relato pungente e muitíssimo bem escrito sobre “a dor de perder um emprego e a experiência de dar a volta por cima com um plano B”.
O prazer maior vem do fato de que são livros escritos por jornalistas. Bons jornalistas, diga-se. “Golpe…” tem um tom engajado e até carbonário, com o qual muito me identifico. O de Claudia é sobre a faina diária, as agruras, os ‘sapos’ e a pauleira de um ofício que poucas vezes glorifica méritos, mas está sempre à espreita para nos dar rasteiras. Profissão, porém, que amamos tanto.
As duas obras, tão diferentes entre si, são úteis e atualíssimas. Ambas provocam inveja branca neste caboclo baionense e fizeram com que mergulhasse ainda mais no meu próprio livro, com a certeza de que não tenho como nem chegar perto. Vale a tentativa, e isso já é meritório, como nos ensina Claudia.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 28)