POR GERSON NOGUEIRA
O futebol profissional já deveria ter aprendido a conviver melhor com os rompimentos e despedidas. Como ocorre com os casamentos convencionais, é natural que jogadores e técnicos se divorciem de clubes com os quais pareciam ter um pacto de relação permanente.
Movido pela paixão que afeta milhões de pessoas, o futebol nem sempre sabe assimilar bem as separações. Algumas vezes, ruídos e mágoas acabam por abalar o que deveria ser um ritual pacífico e civilizado. Os canais abertos pela internet amplificam esses amuos.
Acompanho há dias uma batalha entre torcedores e dirigentes do Botafogo em torno da saída do volante Aírton, que repentinamente passou a contar com uma legião de fãs inconformados com o desfecho de suas negociações com o clube.
No mundo corporativo, esse tipo de conflito nem chega a existir, tamanha é a frieza e o tecnicismo dos processos de desligamento. Na área futebolística, o fanatismo pode ditar as regras e aí ninguém se entende.
No caso específico de Aírton, trata-se de um jogador comum, que está há várias temporadas no Botafogo sem produzir nada de significativo, com o aspecto negativo de passar mais tempo lesionado do que jogando.
Para os torcedores, que enaltecem conceitos como “raça” e “sangue”, Aírton deveria ter estátua na frente do estádio Nilton Santos e seu contrato renovado com o clube em nome de um reconhecimento sem razão lógica.
Vá entender cabeça de torcedor…
Outro episódio significativo da relação atribulada entre clubes e ex-atletas. Quarta-feira passada, no tradicional jogo de final de temporada promovido por Zico, a torcida carioca reencontrou antigos ídolos. Adriano, que ainda alimenta o sonho de voltar a jogar, foi o mais aplaudido.
Curiosamente, Léo Moura, lateral que defendeu o Flamengo por anos e hoje está no Grêmio, foi vaiado sem piedade. Tudo porque teria se referido ao ex-clube com alguns xavecos depois da conquista da Libertadores.
Aqui mesmo no Pará, com suas incongruências bem conhecidas, boa parte da torcida bicolor não concordou com a saída do goleiro Emerson, tido por alguns como ídolo da Fiel torcida. É fato que o goleiro, de performances decisivas em 2016, não foi o mesmo em 2017, ficando ausente por muito tempo e atuando mal em alguns jogos.
O clube fez a avaliação fria e sensata, pesando custo-benefício, mas o torcedor, com sua alma eternamente em chamas, não deglutiu a ideia. Até hoje é possível ouvir resmungos, lamentando a partida do goleiro.
A apaixonada torcida do Atlético-MG vive momentos de extrema atribulação com a saída do artilheiro Fred, que simplesmente atravessou em direção ao Cruzeiro. Pior que o abandono é a troca pelo arquirrival. Para completar, o jogador apagou das redes sociais todos os vestígios de ligação com o antigo clube.
Coisas desses tempos desalmados, quando o jogador alcançou um nível profissional que o torcedor jamais entenderá. O conflito entre paixão e profissionalismo é um dos grandes dilemas da humanidade.
Simplesmente não há como resolver e voltamos aos tempos de antanho, quando já se sabia que a dor dos que ficam será sempre mais aguda que a saudade dos que partem.
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Bola na Torre
O último programa da temporada vai ao ar hoje, às 20h30, na RBATV. Guilherme Guerreiro apresenta, com participações de João Cunha e deste escriba de Baião. Em pauta, os preparativos e contratações da dupla Re-Pa para a temporada que está começando.
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Lista de reforços faz torcida recuperar confiança
A contratação de Cáceres, Mike, Cassiano e Pedro Carmona deu ao torcedor do Papão um alento no final da temporada. O primeiro lote de contratações, que consistiu de goleiro e defensores, não chegou a entusiasmar o torcedor mais exigente.
Com o anúncio de nomes conhecidos, como Cáceres e Cassiano, veio a aprovação às escolhas da comissão técnica e do executivo de Futebol. Se os reforços irão vingar já é outra história, depende de fatores diversos, mas está claro que o caminho trilhado é o mais correto.
A possibilidade de um acerto com Moisés, bom atacante do Vila Nova-GO no último Brasileiro da Série B, pode fechar o pacote com chave de ouro.
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Que 2018 restitua nossas esperanças perdidas
A última coluna do ano é dedicada aos meus amados pais, Benedita e José, que seguem firmes e fortes lá em Baião, na mesma casa em que nasci, tendo por perto quase todos os mesmos amigos de sete décadas.
Com eles, aprendi que a vida é sempre melhor quando a brisa chega tranquila e o barulho maior vem das folhagens.
De minha parte, torço para que 2018 seja menos inclemente que este duríssimo 2017 que termina. Que os corações e mentes se abram para as necessidades do mundo e das pessoas.
Continuo convencido de que a esperança é nosso último refúgio.
Feliz ano novo!
(Coluna publicada no Bola de domingo, 31, e segunda-feira, 01)