POR GERSON NOGUEIRA
Em meio ao Natal menos iluminado de que se tem notícia nos últimos tempo, o futebol brasileiro atravessa a costumeira trégua nas últimas semanas do ano, permitindo que os clubes refaçam seus planejamentos e corrijam – se for o caso – o rumo de suas gestões. Aos torcedores, a paralisação de atividades nos gramados é uma oportunidade para que eles possam exercitar seu esporte favorito (depois do futebol): a cornetagem.
Nos programas diários da Rádio Clube, a cobrança quase unânime dos ouvintes é por “contratações de peso”, significando que os clubes devem mirar em nomes conhecidos, que possam despertar a atenção das massas torcedoras.
É claro que nem sempre esse tipo de apelo é entendido pela cartolagem, que acaba errando nas escolhas e trazendo muitas vezes figuras que foram até relativamente famosas no passado, mas que hoje representam apenas pálida sombra dos bons tempos, sendo que alguns já chegam exibindo a condição de ex-atletas à beira da aposentadoria.
A condição geográfica faz do Pará uma espécie de alvo natural das artimanhas de empresários espertos, que encontram no parco conhecimento dos dirigentes sobre as sutilezas do negócio futebol um terreno fértil para empurrar mercadoria de quinta categoria.
Nos últimos três anos, como participante da Série B, o Papão foi rota de alguns veteranos sem mercado, com sérios prejuízos de natureza técnica e financeira em função desses equívocos.
Quando os torcedores ligam ou passam mensagens para os programas esportivos estão, na prática, tentando alertar seus representantes para o perigo de contratar gato por lebre. O mau hábito de anunciar times inteiros a cada começo de ano (ou de semestre, em casos mais graves) criou no torcedor a mentalidade de que só com muitos “reforços” é possível montar bons times.
O correto seria acreditar que, com reforços de verdade, pontuais e qualificados, é mais provável acertar na formação das equipes – ou ter perdas menores, até no plano financeiro, caso o projeto não seja inteiramente vitorioso.
As queixas mais candentes partem dos torcedores alvicelestes, o que é compreensível, pois o clube disputa a Segunda Divisão e dispõe de mais recursos para investir em contratações de qualidade.
Os azulinos, apesar da quase consolidada noção de que o dinheiro é curto, não deixam de se exasperar diante da quantidade de atletas anunciados e da ausência do tal pedigree, tão reivindicado nos dois lados da Almirante Barroso.
Para conter a impaciência da torcida, cabe a Ney da Matta confirmar na prática, com as atuações do novo Remo antes e durante o Campeonato Estadual, que o elenco atual é o mais confiável possível nas atuais circunstâncias. O tempo urge. Os testes de verdade já começam a partir da próxima semana, com os dois amistosos programados contra o Castanhal.
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Gramados: novela sem final previsto
Nem bem os clubes começam a apresentar os jogadores contratados para a disputa do Parazão, entra em cena a polêmica habitual sobre as condições dos gramados dos campos do interior. Parece novela repetida, pauta obrigatória de todo período pré-campeonato.
Fica sempre a sensação de que algo deixou de ser feito quanto à fiscalização rigorosa dos estádios e, ao mesmo tempo, que os clubes não levam a sério as condições do palco do jogo, tão importante que é o primeiro item da lista de regras oficiais da Fifa.
Para que a situação se resolva seria necessário aplicar medidas punitivas, como exclusão de clubes que não apresentem campos dentro das especificações exigidas. É claro que, no sistema eleitoral que rege a vida da FPF, punir clubes equivaleria a perder votos em penca.
Esse compadrio político explica, em linhas gerais, a razão de o problema persistir por tanto tempo, sem sinal de solução.
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A mania de complicar e encarecer o jogo
Ao mesmo tempo em que recebeu a boa notícia de que o artilheiro Paolo Guerrero teve a pena amenizada pela Fifa de um ano para seis meses, por doping, o Flamengo convive com uma situação curiosa. Nas redes sociais, a torcida detona a negociação com o atacante Fred, em fim de carreira, que pode ser a principal aquisição do clube neste fim de temporada, com salários em torno de R$ 1 milhão.
O negócio é daqueles que só interessa a um lado – o do jogador e seu agente – e tem toda pinta de uma tremenda roubada, como diz o torcedor, já cabreiro com as transações recentes do clube rubro-negro, que trouxe Conca por um salário europeu e que é hoje o principal representante da tropa do chinelinho no país.
Além do argentino, o Flamengo também repatriou Diego e Everton Ribeiro, ambos com rendimento muito aquém do esperado nas principais competições do ano – Libertadores, Brasileiro e Sul-Americana.
Fred, mais velho que todos os citados acima, acumula altos e baixos desde que acabou execrado pela participação na Seleção de Felipão em 2014. No Atlético-MG, teve média de gols acima dos demais companheiros de ataque, mas é um veterano sem muita disposição para o trabalho pesado. Está mais a fim de garantir um futuro tranquilo e bem remunerado.
Sorte dele que ainda há quem aceite bancar esse tipo de aposentadoria planejada.
(Coluna publicada no Bola desta quinta-feira, 21)