Belém vai sediar a estreia da Seleção Brasileira nas eliminatórias da Copa 2026

Estádio do Mangueirão, em Belém, cumpriu as exigências técnicas e de logística para a realização do jogo

A CBF anunciou na noite desta segunda-feira que a partida entre Brasil x Bolívia, válida pelas eliminatórias da Copa do Mundo 2026, co-sediada por Estados Unidos, Canadá e México, será realizada no dia 8 de setembro, no estádio Jornalista Edgar Proença (Mangueirão), em Belém. Este será o primeiro jogo da Seleção na busca pela classificação. A última vez que o escrete jogou na capital paraense foi em setembro de 2011, pelo Superclássico das Américas, quando derrotou a Argentina por 2 x 0.

Nas redes sociais, o governador Helder Barbalho confirmou a escolha de Belém e conclamou o público esportivo a prestigiar a presença da Seleção na capital paraense. O jogo marcará também a estreia oficial do técnico Fernando Diniz no comando do escrete.

Com a reforma, o Mangueirão ganhou status de arena, com capacidade para 50 mil pessoas, gramado que segue as especificações da Fifa, sistema de segurança, novas rampas de acesso dos torcedores, além de infraestrutura de serviços como bares e restaurantes, pontos de atendimento médico e estacionamento para 9 mil veículos, entre outras mudanças.

O estádio do Mangueirão teve a aprovação da equipe de delegados da Conmebol, após uma inspeção em todas as instalações do local. “As decisões na atual gestão visam unicamente as melhores condições técnicas e de logística para a Seleção Brasileira. Vamos buscar ao longo dessa eliminatória questões que consideramos prioritárias, como deslocamento dos jogadores, desgaste da equipe, menor distância entre os locais das partidas, infraestrutura que traga conforto e segurança para toda a delegação. Além disso, não será analisado um jogo isoladamente, e sim a melhor composição do conjunto das partidas”, afirmou o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.

Uma vitória sofrida e redentora

POR GERSON NOGUEIRA

O Remo sofreu e fez seu torcedor sofrer, mas conseguiu finalmente vencer depois de cinco rodadas. Derrotou o Ypiranga-RS por 2 a 1 depois de um jogo duríssimo, difícil e recheado de erros de parte a parte. O empate persistiu até os 39 minutos do 2º tempo, mas um gol salvador de Richard Franco tirou o time do sufoco e da zona da degola.

A atuação do primeiro tempo foi confusa, cheia de tentativas erradas de chegar ao gol. Muriqui, cansado de brigar junto à área, precisou recuar até o meio-campo para iniciar jogadas. Lá, na área de criação, deveria estar Rodriguinho, que se posicionou no lado esquerdo.

Ronald era o atacante na direita, sofrendo o mesmo problema de outros jogos. Além de estar do lado errado, enfrentava sozinho dupla marcação, sem apoio de Lucas Marques, muito ocupado em vigiar Eric Farias, o artilheiro do Ipiranga.

Aliás, quando o jogo ainda estava 0 a 0, Marques deu um passe horizontal em direção à área do Remo e presenteou Eric, que disparou um chute perigoso à esquerda do gol de Vinícius. Foi o primeiro ataque de fato do Ipiranga, que se conformava em ficar tocando bola no setor defensivo.

A iniciativa tinha que partir do Remo, mas a lentidão e os passes errados comprometiam as tentativas. A primeira chance foi de Muriqui, complementando passe de Paulinho Curuá, mas a bola saiu alta. Aos 31 minutos, Evandro cruzou e a bola veio baixa. Claudinei se antecipou à zaga e mandou no canto esquerdo do gol de Caíque.

Nem era um placar condizente com o que se via em campo, mas o gol deu ânimo novo ao Remo e encantou a torcida – 8 mil azulinos presentes ao Mangueirão. O problema é que no 2º tempo o velho drama da desatenção voltou a castigar a defensiva azulina.

Com os laterais Lucas Marques e Lucas Mendes correndo pela direita, depois que Ronald foi substituído, o Remo tomou o gol justamente por aquele lado. Aos 6 minutos, MV foi lançado, entrou livre na área e só precisou tocar na saída de Vinícius. O que era alegria se tornou angústia.

Ricardo Catalá partiu para novas mudanças. Colocou Jean Silva no lugar de Lucas Marques, corrigindo o equívoco inicial. Em seguida, substituiu Fabinho e Curuá por Elton e Richard Franco. E foi justamente o paraguaio que conseguiu o gol da vitória, já aos 39’, após um bate-rebate na área. Gol de raça e força, como o momento da competição exige. (Fotos: Beatriz Reis)

Golaço salva Papão de derrota nas dunas de Natal

O PSC foi superior ao América-RN em boa parte do jogo de ontem, na Arena das Dunas, em Natal. O Alvirrubro saiu na frente nos acréscimos do primeiro tempo, com Álvaro, mas o Papão empatou com um golaço de Mário Sérgio aos 43 minutos do 2º tempo.

Apesar de ter batalhado em busca da vitória, o PSC conquistou um ponto precioso, que garante sua permanência temporária no G8 – só perde essa posição se o São Bernardo vencer a partida de hoje contra o Brusque.

Em partida muito truncada pela marcação forte, PSC e América buscavam chegar ao gol com disparos de fora da área, sem efeito prático. Curiosamente, no momento em que atuava melhor, o Papão tomou o gol. Aos 47 minutos, Matheuzinho cruzou, Nicolas Careca errou no desarme e a bola se ofereceu para Álvaro abrir o marcador.

Disposto a empatar, o PSC trouxe Gustavo Custódio no ataque e Mário Sérgio deslocado para atacar pelos lados. Os ataques se repetiam, o América se encolhia, mas nada de sair o gol, que só veio no fim e de forma brilhante: Mário Sérgio, após passe de Paulão e corta-luz de Leandrinho, disparou um foguete no ângulo, sem chances de defesa. Um golaço.

Resultado satisfatório para o PSC, mas com protestos de Hélio dos Anjos e dos jogadores por um pênalti não marcado sobre Mário Sérgio.

Com organização e bolas aéreas, França vence Brasil

Perder para a França é um resultado normal e aceitável. Afinal, trata-se de um clássico e as francesas têm histórico melhor em Copas do Mundo. A expectativa era que a evolução brasileira sob o comando de Pia Sundhage fosse suficiente para proporcionar um jogo mais equilibrado. O placar (2 a 1) foi apertado, mas a seleção francesa foi superior no desenvolvimento das jogadas e na ocupação inteligente de espaços.

O futebol feminino ainda exibe, em alguns times, certa desorganização tática que se transforma em deficiência fatal quando bem explorada por um adversário mais competitivo. Foi basicamente o que ocorreu no confronto de sábado. O Brasil tinha grande dificuldade para trocar passes, o que limitou suas ações a tentativas de cruzamento e chutes tortos.

A França demonstrava saber o que fazer em todos os momentos. O Brasil passava por tensão e insegurança. A eficiência no desarme fez com que o adversário tivesse sempre a posse de bola no meio-campo. Chegou ao gol ainda no 1º tempo com bola alta, casquinha no primeiro e cabeceio no centro da área. Fácil, muito fácil. 

No reinício do jogo, o Brasil mostrou mais velocidade nas saídas. Em dois lances, Tamires e Debinha levaram perigo. Até que veio o lance perfeito. Debinha recebeu na área e bateu com categoria, fora do alcance da goleira. Um belo gol.

Nem isso fez a equipe ir em busca da vitória. Ao contrário, a França seguiu jogando do mesmo jeito, marcando intensamente e saindo rápido para o ataque. O segundo gol veio, de novo, numa bola pelo alto. Lance manjado para a zagueira Renard, que o Brasil esqueceu de marcar.

Mesmo com óbvios avanços na maneira de jogar, a Seleção tem problemas sérios num fundamento básico: o passe. Difícil ir longe com tantos equívocos coletivos e individuais. Algumas jogadoras também se mostraram aquém do esperado e Marta poderia ter entrado mais cedo.

Devido à derrota, o Brasil parte para um jogo decisivo contra a Jamaica na quarta-feira. Com obrigação de vencer, a expectativa é que o time esteja mais conectado e evitando sempre que possível as jogadas aleatórias. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 31)

Papão arranca empate nos minutos finais e continua no G8

Em jogo de muito equilíbrio, América-RN e Paysandu ficaram no 1 a 1 neste domingo à tarde, na Arena das Dunas, em Natal. O Alvirrubro potiguar saiu na frente nos acréscimos do primeiro tempo, com um gol de Álvaro, mas o PSC chegou ao empate a poucos minutos do final da partida com um golaço do atacante Mário Sérgio. Com o resultado, o Papão se mantém na oitava posição da Série C, mas ainda pode ser ultrapassado até o fim da rodada. O América continua no Z4 da competição.

Confiança para seguir em frente

POR GERSON NOGUEIRA

O momento do PSC permite acreditar num excelente resultado hoje contra o América-RN, em Natal, pela 15ª rodada do Brasileiro da Série C. Com três vitórias consecutivas – nove pontos em 12 disputados –, o time dirigido por Hélio dos Anjos faz uma campanha digna de G4, só abaixo do líder Brusque e no mesmo nível da Aparecidense. A arrancada, que permitiu subir nove posições, teve início logo após a derrota para o Brusque.

É a segurança transmitida pelo astral do time, combinado com força e intensidade nas disputas de campo, que dá ao torcedor alviceleste aquele sorriso largo, de quem aparentemente não teme nenhuma adversidade. Longe de ser arrogância, representa confiança no trabalho do treinador.

Em várias entrevistas concedidas nas últimas semanas, Hélio costuma afirmar que ninguém vai derrotar o PSC com facilidade. Não é marra. Ele apenas quer dizer que, ao contrário do que ocorria antes, quando a insegurança era a marca mais visível do time, o Papão não desiste nunca e luta bravamente pelos resultados.

A recuperação teve início por ajustes na linha de zaga. O PSC tinha a pior defesa do campeonato até quatro rodadas atrás. A facilidade que os times encontravam para entrar na defensiva bicolor terminou no dia em que Hélio determinou que Paulão teria como parceiro Wellington Carvalho e que Mateus Nogueira seria o goleiro.

Afastou os goleiros Gabriel Bernard e Thiago Coelho, que haviam falhado nas derrotas para Botafogo-PB e Brusque, operando uma verdadeira transformação na retaguarda da equipe. A partir dessas medidas pontuais, o time cresceu de rendimento e passou a ter mais segurança defensiva.

O condicionamento físico foi o segundo ponto a ser atacado pelo treinador. Identificou problemas sérios nos índices de resistência, força e velocidade do elenco. Quando esses níveis subiram, foi possível cobrar mais intensidade e os resultados apareceram.

No último confronto, contra o CSA na Curuzu, os problemas ainda apareceram aqui e ali, mas Hélio garante que os treinamentos estão corrigindo as deficiências e fragilidades. O processo é evolutivo e contínuo, fazendo crer que a equipe ideal (ou quase) está em construção.

Ao mesmo tempo, as laterais constituíam um problema aparentemente sem solução. Na direita, apenas um jogador, Edilson. Hélio recomendou trazer mais dois – Anilson e Nino Paraíba. Na esquerda, além de Igor Fernandes e Kevin, tem Eltinho, o mais experiente e participativo.

Foi através dele, que iniciou as jogadas, que o PSC conseguiu a emblemática vitória sobre o Amazonas, ponto de partida para o estágio atual. O time ainda exibe problemas no meio e no ataque, mas não há dúvida que está muito mais competitivo do que antes.

Protesto de organizadas é um ritual perigoso

Existe no futebol uma liturgia que não pode, nem deve, ser ignorada. É o que vem ocorrendo com o Remo nesta reta final de Série C – escrevo antes do decisivo jogo deste sábado contra o Ypiranga, no Mangueirão. Episódios ocorridos na sexta-feira deixam sinais perigosos quanto ao risco de rebaixamento.

Quando facções organizadas promovem atos de protesto para pressionar os jogadores, pedindo “raça e sangue”, é porque o pacto entre time e torcida está se rompendo. O simples fato de as organizadas entrarem em cena já mostra que a relação de respeito está em queda.

A desconfiança em relação ao time, que de fato faz campanha ruim na Série C, gera o empoderamento desses grupos. E nem sempre o efeito das ameaças e cobranças é benéfico sobre jogadores e comissão técnica. Na maioria dos casos, significa um tiro no pé.

Bola na Torre

A apresentação é de Guilherme Guerreiro, com a participação de Saulo Zaire e deste escriba de Baião. O programa vai ao ar às 22h, na RBATV. Em pauta, os jogos das séries C e D do Campeonato Brasileiro. A edição é de Lourdes Cezar.

São Paulo quer um camisa 10 para chamar de seu

James Rodríguez, o camisa 10 colombiano que encantou as plateias da Copa do Mundo 2014, pode estar voltando ao Brasil. E, agora, para jogar pelo São Paulo. Até a sexta-feira, 28, a diretoria do clube dava como certa a contratação. Sem mercado na Europa, ele aceitou uma proposta do Tricolor e um apelo de seu amigo Rafinha.

Depois da Copa, James foi jogar no Real Madrid, com razoável desempenho. Passou também pelo Bayern de Munique, jogando apenas 47% dos jogos possíveis no período – esteve no Everton, da Inglaterra (2020 a 21); Al-Rayyan, do Catar (2021 a 22) e Olympiacos, da Grécia (2022 a 2023).

O fantasma das lesões atrapalha a carreira de um jogador relativamente jovem – tem 32 anos. Quando deixou o Al-Rayyan, foi sondado por John Textor para o Botafogo, mas as negociações não avançaram.

O São Paulo busca um camisa 10 à moda antiga e James tem o perfil desejado. Mesmo com o fiasco do projeto Daniel Alves, o clube está disposto a pagar R$ 960 mil mensais ao colombiano.

Quanto ao marketing, o retorno é garantido. O desafio, porém, está dentro das quatro linhas, local que James visita cada vez menos na carreira.  

(Coluna publicada na edição do Bola deste domingo, 30)

Rock na madrugada – Bob Dylan, “Tombstone Blues”

Com uma super banda de apoio, Bob Dylan saiu em excursão no verão europeu de 1984 e os shows confirmaram o seu imenso prestígio junto a um público renovado, causando impacto pela pegada roqueira do repertório. Mick Taylor, recém-saído dos Rolling Stones, foi uma atração à parte com solos que contribuíram para enriquecer canções como “Tombstone Blues”. Ian McLagen (teclados), Colin Allen (bateria) e Greg Sutton (baixo) completam o time.

Na raça e no sufoco, Leão vence Ipiranga e deixa a zona do rebaixamento

Com uma vitória de 2 a 1 sobre o Ipiranga, na noite deste sábado, no Mangueirão, o Remo deixou temporariamente a zona do rebaixamento e passa a ocupar a 14ª colocação. O primeiro tempo foi confuso e travado, mas o Remo abriu o placar com Claudinei finalizando com perfeição um cruzamento de Evandro, aos 31 minutos.

No 2º tempo, o Leão veio com mudanças no lado direito (Ronald saiu para a entrada de Lucas Mendes) e ficou desguarnecido, propiciando ao Ipiranga o empate, que veio pelos pés de MV, aos 6 minutos. Desarrumado e nervoso, o Remo ficou muito exposto e quase sofreu o segundo gol. William Barbio perdeu duas boas chances.

Nos minutos finais, já com Richard Franco em campo, o Remo foi à frente empurrado pela torcida e acabou chegando ao gol na base do abafa. A defesa gaúcha rebateu uma bola cruzada na área e Richard Franco aproveitou para bater cruzado, assegurando a vitória azulina, aos 39′.

Experiência – ou a detestável palavra da vez

Por Edu Goldemberg

Dirão meus detratores que eu estou velho – e que por isso, por estar velho, quase uma múmia, dou de implicar com tudo o que é novo. Repilo com veemência o que – antecipo – se dirá a meu respeito por conta do que vou lhes contar.

Há uma nova praga (nem tão nova assim, mas é de certo modo recente) que tem me tirado do sério.

Tudo, rigorosamente tudo hoje em dia, é uma experiência (e a palavra desgasta-se mais, a cada vez que é pronunciada).

Dia desses entrei, sozinho (estou apaixonado por mim mesmo, como lhes contei aqui, e tenho amado fazer programas comigo), num restaurante.

Sentei-me. E veio até mim, o garçom.

Não era exatamente um garçom, na verdadeira e clássica acepção da função: era um estudante, um universitário, em busca de, honestamente, arcar com os estudos. Mas há toda uma diferença (chocante) na liturgia.

Estendeu-me o cardápio.

Pedi um Dry Martini e uma água com gás.

Estava lendo atentamente o cardápio quando ele, o garçom, voltou com meu drink e com a água. Ajeitou a taça e o copo diante de mim, e disse:

— Já escolheu, brother? – é assim que eles tratam os clientes.

— Ainda não. – respondi constrangido.

— Posso te dar uma sugestão?

— Claro.

Ele, então, ajeitou-se (fez pose, eu diria). E apontando para uma das entradas, soltou:

— Essa experiência, um tanto cítrica… – eu o interrompi e pedi a conta.

Ele ficou sem entender nada.

Mas ouvir aquilo – experiência – me cortou o barato.

Tudo agora é experiência. Tudo.

Ninguém mais diz que gostou de almoçar no restaurante tal. Emposta-se a voz:

— Vale muito a experiência! As carnes, então…

Vira-e-mexe uma besta complementa:

— Prefiro a experiência marítima. Frutos do mar, peixes…

Mudemos o cenário.

Estava num táxi, semana passada, e mal pude acreditar no anúncio que ouvi (o motorista estava sintonizado numa rádio cujo nome não lembro). O locutor anunciava um plano funerário e encerrava o reclame dizendo que a experiência da morte seria infinitamente mais tranqüila com a assinatura do tal plano garantida.

Beira, reconheçam, o inacreditável.

Um amigo bateu o telefone pra mim por esses dias. Estava preocupado – foi o que ele disse – com a separação (separei-me, vocês que me lêem já sabem). Marcamos um chope. Cheguei na hora marcada, uma rotina, e cinco minutos depois ele adentrou o botequim. Eu estava já terminando o primeiro chope. Ele sentou-se sôfrego. Com uma das mãos, pediu dois chopes. E arfou, eu diria até que com alguma inveja:

— Como está sendo a experiência da separação?

Inventei uma desculpa qualquer e fui embora.

É tremendo o efeito manada: experiência, estou sendo repetitivo de propósito, serve pra rigorosamente tudo.

Beber um vinho, agora, é uma experiência. Comer, idem. O sujeito termina de ler um livro e dá de elogiar a experiência que foi, e a coisa vai ganhando ares de pandemia – ninguém escapa.

Hoje mesmo – escrevo na noite de sexta-feira – fui a uma cafeteria aqui em Copacabana.

Dirigi-me ao balcão e pedi:

— Um pão de queijo e um café coado da casa – como o cardápio, exposto na parede, apresentava a bebida.

A mocinha (visivelmente universitária) redarguiu:

— O senhor não quer viver a experiência de um Hario?

Fui embora sem me despedir (e, claro, sem o pão de queijo e o café).

AS NOVAS CAFETERIAS

Quem é mais velho – como eu – conhece o Café Gaúcho, no Centro do Rio. A Lolló, em Copacabana. Ou o Palheta, na Tijuca.

Três cafeterias tradicionalíssimas.

As três com balcões imponentes, onde se serve o cafezinho, o bom e velho cafezinho que o brasileiro tanto gosta.

Você chega, compra ficha – o método é o mesmo nas três – e pede o seu café, que é servido em questão de segundos.

Estão em extinção.

As novas cafeterias são diferentes.

São uma experiência diferente.

Você chega e se depara com 5, 6, 7, 8 funcionários. Todos de avental. E só há você de cliente – o salão está à mosca, no singular.

Quem te atende?

Ninguém.

A bossa, nas novas cafeterias, é testar a paciência do cliente – que não tem razão nenhuma nesses estabelecimentos.

Dizem, os que entendem do riscado (estou sendo debochado, aviso), que essa é a onda das novas cafeterias: o sujeito deve esquecer do mundo do lado de fora, do trabalho, dos filhos, das responsabilidades, deve deixar de lado o celular (eles anunciam, como se fosse uma glória!, que não há rede Wi-Fi disponível), deve pedir o café sem pressa, deve até esquecer que pediu o café, tamanha a demora, e deve bebê-lo gelado, com olhos e boca de êxtase. Deve, inclusive, pedir o autógrafo do barista que fez toda a mise-en-scène, elogiá-lo, adulá-lo e outros bichos.

O que se dá é o seguinte: você fica ali, olhos vidrados naquela quantidade de funcionários, e ninguém te dá atenção. Uns 10, 15 minutos depois (ou 20) é que se aproxima alguém.

Daí você pede um café. Assim. Simples.

— Um cafezinho, por favor.

— Aqui não servimos cafezinho. Só cafés especiais.

— Tá bem. Me vê um.

— Qual o método?

— Oi?

— De extração.

— Qualquer um.

— Pode ser coado?

— Pode.

— Hario?

— Pode ser.

— Ou prefere prensa francesa?

— Qualquer um.

Daí vem o garçom. De avental, rabo de cavalo, piercing, trazendo nas mãos uma balança, um bule, uma base acrílica, um filtro de papel, e você gemendo, ganindo, desesperado pelo seu café.

Quinze minutos depois, quinze!, o café fica pronto.

Há que se ter paciência. Muita paciência.

Você bebe o café (que estará frio).

Pede a conta.

E daí volta o universitário à mesa:

— O senhor mesmo vai até o caixa.

Lá chegando:

— Bom dia. Quanto eu lhe devo?

— Só o café, senhor?

— Só.

— Setenta e cinco reais.

— Hein?!

— Sem os dez por cento dos nossos baristas.

Rock na madrugada – Morrissey, “Bigmouth Strikes Again”

Lançado em 1986, “Bigmouth…” é um dos maiores sucessos dos Smiths, banda de Manchester fundada em 1982 e desfeita em 1987. O conceito de indie rock (rock independente) foi praticamente inaugurado pelo grupo de Morrissey (vocal), Johnny Marr (guitarra), Andy Rourke (baixo) e Mike Joyce (bateria). Com um estilo melodioso, letras depressivas e confessionais, os Smiths conquistaram a geração pós-punk e influenciaram centenas de bandas mundo afora, inclusive no Brasil – Renato Russo nunca escondeu que seguia a pegada dos ingleses, imitando até os trejeitos de Morrissey no palco.

Depois que o grupo acabou, em meio a desavenças entre o cantor e o guitarrista, após o lançamento do álbum Strangeways, Here We Come, Morrissey e Marr abraçaram carreiras individuais bem-sucedidas. O registro aqui é de um show de Morrissey em Londres (2004), com sua atual banda de apoio.

A volta do jornalismo de esgoto e a guerra dos índices

Por Luis Nassif

Foi uma reestreia em grande nível da pior fase do jornalismo brasileiro: o jornalismo de esgoto, através do qual a mídia difundia as acusações mais inverossímeis visando estimular o estouro da boiada, o gado que atuava de maneira irracional nas grandes ondas de linchamento.

Lembrou as acusações de Cuba enviando dólares ao PT através de garrafas de rum, as FARCs invadindo o Brasil, a ABIN espionando o Supremo, Ministros recebendo propinas nas garagens do Palácio, e factóides em geral.

Criaram um crime impossível e atribuíram a um “inimigo”, usando o recurso do “SE”, que suporta tudo. “Se minha avó fosse roda, eu seria bicicleta”, por exemplo.

O crime impossível: a manipulação dos dados do IBGE.

Como explicou Sérgio Besserman, ex-presidente do IBGE e intelectualmente muito mais honesto que Edmar Bacha, outro ex-presidente, é impossível qualquer manipulação de dados no IBGE, devido à estrutura profissional dos funcionários do órgão.

A última manipulação ocorreu no período Delfim Netto, na primeira metade dos anos 70 – com plena aprovação do sistema Globo, que comanda o atual linchamento. Como reação, surgiram inúmeros outros índices, o do DIEESE (Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas), o da FGV (Fundação Getúlio Vargas), da FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), da Universidade de São Paulo. Além deles, todas as grandes instituições financeiras montaram seus próprios levantamentos de preços.

Depois de criar o crime impossível, criaram o suspeito do “SE”: se o futuro presidente do IBGE, Márcio Pochmann, manipular as estatísticas, ocorrerá o mesmo que ocorreu com o IBGE argentino. E “se” Pochmann não manipular as estatísticas? Aí perde-se o gancho.

O que poderia ser uma crítica técnica ao pensamento de Pochmann, tornou-se um caso de linchamento público desmoralizante para o jornalismo da Globo. Após a primeira suspeita lançada, seguiu-se um festival de ataques de jornalistas analfabetos econômicos, zurrando como sábios contra os estudos de Pochmann, sem a menor noção sobre o papel do IBGE ou sobre temas tratados por Pochmann e sobre a própria biografia de Pochmann, “acusando-o” de ter posições ideológicas. E Roberto Campos Neto? Esse tem posição técnica.

Cronista esportiva, coube a Milly Lacombe, da UOL, enxergar o rei nu: em um país em que a economia é dominada pela ideologia do mercado, as acusações a todos que não concordam com isso é serem “ideológicos”. Em suma, um movimento que em nada ficou devendo aos movimentos do gado bolsonarista, as mesmas suposições sem base factual, o mesmo terraplanismo, a mesma intenção de fazer o gado pensar com o fígado.

Depois de um dia de ataques bárbaros, capitaneados por Miriam Leitão, restou uma única crítica válida: o anúncio do Secretário de Comunicação Paulo Pimenta, antecipando-se à Ministra do Planejamento Simone Tebet, uma grosseria, sem dúvida. E a soberba lição de civilidade de Tebet, quando cercada pelo gado setorista e indagada sobre o que achava das acusações sobre o crime impossível de Pochmann:

“Já fui julgada muitas vezes na minha vida e não vou julgar ninguém sem conhecer os fatos”.

A BRIGA DOS ÍNDICES

Por trás dessa baixaria completa, está o receio da grande guerra pelos índices.

O ponto central da ideologia mercadista é vender o peixe de que todas as medidas beneficiando o mercado são “técnicas”, e não políticas.

A consolidação dessa ideologia se deu através do monopólio dos indicadores e pela exclusão de qualquer análise sistêmica sobre medidas econômicas.

Vende-se a ideia de que gastos públicos aumentam a inflação prejudicando os mais pobres. E se começarem a ser desenvolvidos trabalhos mostrando os efeitos das taxas de juros sobre o emprego e sobre a situação dos mais pobres?

Em pleno período de ataques aos aumentos do salário mínimo, o Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) divulgou um estudo, com base no IBGE, mostrando que em mais de 50% das famílias, com um aposentado ou pensionista, eles eram o arrimo econômico. Ou seja, o aumento do salário mínimo beneficiou a saúde, pelo fato de ajudar a alimentar a família; a educação, permitindo às crianças entrar mais tarde no mercado de trabalho; a segurança, tornando as crianças menos suscetíveis às investidas do crime organizado.

E se o IBGE utilizasse seus levantamentos para analisar, por exemplo, as externalidades positivas dos investimentos públicos ou dos gastos sociais? Por exemplo: o dinheiro gasto em uma estrada reduziu em xis porcento as perdas com transporte e com carga, permitindo um ganho adicional de ypisilone para a economia brasileira.

Ou a visão sistêmica sobre os financiamentos do BNDES?  Hoje em dia, o mercado meramente compara os custos de financiamento do BNDES com a taxa Selic – e diz que a diferença é déficit público. E se forem incluídos nas contas as empresas criadas, os fornecedores, os empregos e o pagamento de impostos desse novo universo produtivo? Aí se poderia saber que, além de gerar empregos e investimentos produtivos, os financiamentos do BNDES ajudam na arrecadação fiscal. E seriam desmascaradas as análises rasas que sustentam muitos dos estereótipos econômicos que alimentam a mídia.

Em suma, há uma grande batalha ideológica em torno dos índices. O medo desse pessoal não é com a manipulação de índices, mas como a elaboração de novos índices, bem embasados academicamente, podendo comprometer a sua própria manipulação de conceitos. Eles não temem a manipulação da estatísticas: temem o que as estatísticas podem mostrar.

Os méritos do comandante

POR GERSON NOGUEIRA

A tranquilidade que reina na Curuzu é o sintoma mais evidente de que o time finalmente entrou naquele astral que conduz ao sucesso. Não se pode afirmar a essa altura que o acesso virá, mas é notório que o PSC respira outros ares desde a entrada em cena de um personagem especial: o técnico Hélio dos Anjos, com seu estilo peculiar de comandar, por meio de um discurso que vai do enérgico ao paternal.

Além da rápida transformação que operou no time, que antes capengava na competição ostentando marcas constrangedoras (foi a pior defesa até a 11ª rodada), Hélio fez um movimento fundamental em direção à torcida. Assumiu pessoalmente a missão de conduzir o Papão à classificação e ao acesso, sem medo de se comprometer.

Esse carisma é parte do arsenal de positivismo que torna o ambiente interno mais leve e prazeroso. É visível nas imagens dos treinos a alegria dos jogadores, o clima de alto astral e os sinais de confiança próprios de quem sabe que está no caminho certo.

Foram três vitórias (Amazonas, Remo e CSA), por escores apertados e sem grandes performances. Os resultados fizeram o Papão saltar da 14ª posição para a sétima, entrando em definitivo na lista de times cotados para a classificação. O que era dívida com o torcedor se torna, a cada jogo, um passo importante no sentido de alcançar a meta maior.  

Acima de tudo, Hélio conseguiu resgatar no elenco o foco nas vitórias e o comprometimento com o resultado. Para isso, constatou que a equipe precisava de força e intensidade. Chegou a dizer que, para isso, seria necessário sangrar e sentir dor. 

Se o processo foi de fato doloroso, ninguém sabe dizer, mas é certo que a recompensa está aí, aos olhos de todos.

Quando a notícia briga com as imagens

É comum que países promotores de Copas turbinem artificialmente números relacionados à presença de público nos estádios. Isso ocorre principalmente em locais sem maior tradição no futebol e onde prevalece o apego a outras modalidades. Austrália e Nova Zelândia, sedes do mundial feminino de futebol, estão às voltas com a necessidade de mostrar avanço em relação à Copa do Mundo anterior, disputada na França.

Por mais que a Fifa fique alardeando que as vendas de tíquetes estão acima do esperado, a paisagem nos estádios desmente essa informação. As câmeras até fogem de registros das áreas vazias das arenas, mas a imensa maioria dos jogos foi disputada com estádios com baixa presença de torcedores.

A Austrália tem no rúgbi e no beisebol seus esportes preferidos. A Nova Zelândia vai na mesma direção. Não é surpreendente, portanto, a baixa adesão de público. A presença de torcedores de outros estádios é inexpressiva, pois o futebol feminino ainda não arrasta multidões.

Na África do Sul, em 2010, presenciei inúmeras partidas com casa meio vazia, principalmente em Pretória e Porto Elizabeth. Lá, como ocorre atualmente na Austrália, o rúgbi é o esporte mais praticado, o que afasta boa parte do interesse dos torcedores.

Para complicar ainda mais os sonhos de grandeza da Fifa, os preços cobrados pelos ingressos são proibitivos para a imensa maioria da população. Na Copa do Qatar, no ano passado, ingressos para as fases de mata-mata eram vendidos por até R$ 2.500,00.

As informações que chegam da Copa feminina indicam que os preços de ingressos continuam salgadíssimos, tornando mais do que previsível a contradição entre notícias de recordes de públicos e as imagens de arenas semi vazias.

É provável que, a partir das quartas de final, o público cresça e prestigie as fases mais emocionantes da competição. Ao mesmo tempo, é preciso notar que o faturamento com ingressos é apenas uma pequena parte dos lucros que a Fifa terá com o torneio. Patrocínios e direitos de transmissão garantem receitas estratosféricas, para alegria de Mr. Infantino.

Luan no Grêmio: a volta emocionante do filho pródigo

O Reizinho do Olímpico está voltando para casa. Luan, garoto ainda, recebeu ontem à tarde em Porto Alegre todo o carinho e aclamação da torcida gremista. Depois de ser humilhado e agredido por bandidos com camisas do Corinthians em São Paulo, há duas semanas, o meia-atacante retorna seis anos depois ao clube que o projetou.

Méritos de Renato Gaúcho, que defendeu publicamente a contratação no momento mais difícil da vida do jogador. Os aplausos entusiasmados da torcida – mais de 100 pessoas foram recepcioná-lo no aeroporto Salgado Filho – emocionaram Luan e reafirmam uma verdade do futebol: quem conquista o respeito de uma torcida jamais será esquecido ou deixado pelo caminho.

É bonito e comovente ver um reencontro feliz. Um gesto de imensa gratidão pelos gols e dribles que Luan deu ao Grêmio. Que o talento dele volte a brilhar nos gramados.

Enquanto isso, o inquérito sobre a covarde agressão no motel de São Paulo continua inconclusivo. Uma emboscada que deixou no ar muitas desconfianças, inclusive quanto ao esquisito papel da diretoria corintiana na história. É como se o salário de Luan (em torno de R$ 800 mil) fosse o verdadeiro motivo da pancadaria. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 28)

Mídia corporativa retoma fake news e discurso de ódio contra Lula por um só motivo: está dando certo

Por Leonardo Attuch, no Brasil247

Durou pouco a trégua entre a imprensa corporativa brasileira e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As fake news e o discurso de ódio que marcaram eventos como junho de 2013, a campanha contra a Copa de 2014, a Lava Jato, o golpe de estado de 2016, os processos de Curitiba e a prisão de Lula em 2018 voltaram com força total no episódio Marcio Pochmann, futuro presidente do IBGE, uma nomeação de segundo escalão, que, em situações normais, não deveria provocar tanta celeuma.

O caso Pochmann, no entanto, é emblemático por várias razões. Até antes de junho de 2013, a então presidente Dilma Rousseff era aprovada por 70% dos brasileiros por uma razão óbvia: o Brasil seguia firme nos trilhos do desenvolvimento. A consequência natural seria sua reeleição, em condições bem mais confortáveis do que efetivamente ocorreu, no ano seguinte, e a volta de Lula, em 2018, consolidando um ciclo de vinte anos de poder do Partido dos Trabalhadores. Afinal, como dizia uma revista semanal, “nunca fomos tão felizes”. 

A guerra contra o Brasil, que teve todos os episódios já mencionados, jamais teria ocorrido sem a participação direta da imprensa corporativa e do seu coquetel destrutivo formado por fake news e discurso de ódio, fenômenos que quase sempre nascem na imprensa comercial e só depois se propagam pelas redes sociais, que levam a culpa e a má reputação.

Marcio Pochmann foi vítima desses dois fenômenos: fake news e discurso de ódio. Qual é a base factual para que digam que lá na frente ele irá falsificar estatísticas? Nenhuma. Obviamente o que existe são jornalistas desonestos falsificando informações e enganando o público. E quando o submetem a este corredor polonês midiático, trata-se do mais puro e acabado linchamento movido a discurso de ódio. 

Se este é o fenômeno, a questão agora é o porquê? Qualquer analista econômico sério já percebeu que o Brasil, sob a administração Lula, se tornou a “bola da vez”. Todos indicadores econômicos, sem exceção, melhoraram. O PIB foi revisto para cima, a inflação desabou, o superávit comercial é recorde, a atração de investimentos é crescente e falta apenas resolver a questão da taxa de juros para consolidar um novo ciclo de prosperidade no Brasil.

O Brasil, claramente, voltou aos trilhos, mas a bonança que já se anuncia, e será retratada por um IBGE fortalecido, assusta a oposição neoliberal e seu principal aparelho de dominação ideológica, que é a imprensa corporativa. Por isso mesmo, o modo golpista foi reativado nas redações decadentes. A sorte é que hoje o Brasil conta com uma imprensa independente mais sólida do que no passado e com uma maior consciência coletiva sobre o estrago promovido pelas forças do atraso. Avante, Pochmann, avante, Lula, avante, Brasil.