Se o valor dado pelos europeus ao Mundial é questionado, e a escalação inicial do Liverpoolé um argumento a mais para essa tese, um brasileiro sabe muito bem o quanto pesa a competição. Para ser letal contra o Monterrey, Roberto Firmino resolveu e precisou de cinco minutos em campo para isso. Foi dele o gol da vitória por 2 a 1 que classificou o time inglês, aos 45 minutos do 2º tempo, para a final contra o Flamengo.
Portanto, está confirmada reedição da final de 1981, sábado, no estádio Khalifa, em Doha, no Qatar. A bola rola às 14h30 (de Brasília). A delegação do Flamengo viu de perto o esforço do Liverpool, já que estava na arquibancada da arena.
Em um Liverpool que começou sem os principais astros, outro brasileiro foi fundamental para manter o favorito time inglês vivo até o fim: Alisson. O melhor goleiro do mundo foi bastante exigido, principalmente no primeiro tempo, e fez defesas complicadas, freando um corajoso Monterrey.
– O jogador europeu talvez não tenha a mesma mentalidade que o sul-americano para essa competição. Já tínhamos visto o bom trabalho do Monterrey. Eles tiveram chance de vencer, mais chances perigosas. Tivemos muitas dificuldades. Virgil (Van Dijk) estava doente. Henderson precisou jogar na defesa. Estamos muito felizes de chegar a essa final, que era nosso objetivo – disse o goleiro.
Fiquei anotando e
registrei que o maior clássico do futebol inglês teve, ontem, quase 65% minutos
de bola rolando, índice considerado até modesto para os padrões da Premier
League. No Brasil, partidas da Série A patinam em percentuais anêmicos que
variam entre 45% e 50% de tempo de bola, com jogos marcados por paralisações e muita
cera.
Na prática, o que o exemplo
inglês traz de educativo para o futebol praticado no Brasil é a preocupação com
a qualidade do pacote oferecido ao torcedor, principal cliente e fiador do
negócio todo. Significa respeito a quem, em última análise, banca o circo.
Liverpool e Manchester City buscaram com afinco a vitória. Melhor time da Europa, talvez do mundo, o Liverpool empreendeu uma pegada avassaladora nos primeiros minutos. Rapidamente construiu um resultado confortável. Aos 13 minutos, já vencia por 2 a 0. Entrou na reta crítica do confronto ganhando por 3 a 0, com o gol de Mané aos 6’ do 2º tempo.
Nem assim, com o boi na sombra,
desistiu de querer mais. Atacava com a mesma constância e qualidade, sustentado
pelo afiado entendimento do trio ofensivo Mané, Salah e Firmino, tarefa
exponencialmente facilitada pela impecável atuação do volante-meia Fabinho, gigante
nas jogadas pelo meio e autor do belíssimo primeiro gol.
O City, de Pep Guardiola,
pareceu desconcertado com a firme postura dos donos da casa, mas não se aquietou
com o placar aparentemente definido. Os 30 minutos finais tiveram presença
permanente dos avançados Sterling, Aguero (depois Gabriel Jesus) e Bernardo
Silva, criando um cerco à área vermelha que raros times costumam armar em
Anfield.
Com tanto empenho em
reduzir o placar, Bernardo Silva fez o gol de honra (e que gol!) após avanço de
De Bruyne pelo lado esquerdo. Por alguns poucos minutos, o City ainda rondou a
área quase obtendo o segundo gol, mas o Liverpool soube fechar a avenida criada
no lado direito da defesa e conduziu as coisas a bom termo até o final. Um
jogão.
Como de hábito, chama
atenção a solidez tática do Liverpool, que no Brasil só encontra alguma semelhança
com o Flamengo, que procura jogar sempre do mesmo jeito ofensivo em qualquer
campo. O time de Jürgen Klopp não desafina, nem apoia seu desenvolvimento de
jogo apenas no trio ofensivo.
Tudo começa lá atrás, na
segurança da zaga liderada por Van Dijk e vigiada por Wijnaldum. As saídas são
bem articuladas, com passes certeiros. Não há firula na parte intermediária, só
eficiência e rapidez.
Há muito a ser observado (e
aprendido) no futebol proposto pelos técnicos europeus da nova geração. Klopp e
Guardiola são estudiosos, obcecados por treinos setorizados, com repetição
exaustiva de movimentos e simulação de cenários de jogo. O que os times mostram
em campo reflete maravilhosamente essa humilde dedicação aos métodos de
aperfeiçoamento.
Novo comandante azulino prestes a ser anunciado
Depois das conversas
iniciais entre diretoria e o executivo Carlos Kila encaminharam o perfil do
técnico a ser contratado pelo Remo para a temporada 2020. Uma coisa ficou bem
posta: não há espaço para treinador conservador e excessivamente cauteloso. A
diretoria quer um time que proponha jogo e não se intimide nunca.
Fica claro que a jornada
ruim no trecho final da fase classificatória da Série C teve efeitos profundos
na reformulação do futebol azulino para o próximo ano, a começar pelo
executivo.
Rogerio Zimmermann, Sérgio
Soares e Moacir Junior são os nomes mais especulados. Nenhum deles conhece o
futebol paraense, mas todos têm currículo respeitável. A escolha deve ser
anunciada até quarta-feira.
Brasileiros são as novas vítimas do ódio na Europa
Depois das manifestações
racistas na Bulgária durante jogo entre as seleções búlgara e inglesa, pela fase
classificatória da Eurocopa 2020, a reação imediata das autoridades do país foi
no sentido de amenizar os cantos agressivos e os sons de macaco que vinham das
arquibancadas para insultar jogadores negros do time britânico.
Logo em seguida, a Uefa
se manifestou dando uma espécie de puxão de orelhas na federação búlgara, mas
sem qualquer punição prática, o que foi visto como uma passada de pano que só
agrava o clima de racismo e neonazismo no continente.
Na semana passada, o
atacante Balotelli foi alvo de xingamentos no jogo do Brescia (seu
time) com o Verona. Revoltado, ameaçou sair de campo em sinal de protesto, mas
foi contido até por jogadores do Verona. Depois de se recompor, deu a resposta
em campo marcando um golaço.
O mais absurdo é que o jogador foi criticado
publicamente por uma torcida do Brescia, a neofascista Ultras 1911, que
recomendou que ele ficasse calmo e suasse a camisa. O texto atribui o incidente
ao nervosismo do jogador e tenta diminuir o ato discriminatório da torcida do
Verona.
Ontem, dois brasileiros
sofreram na pele mais um episódio de racismo no futebol internacional. Os
atacantes Dentinho e Taison, do Shakhtar Donetsk, ouviram fortes insultos
raciais no clássico ucraniano contra o Dínamo de Kiev.
Os dois deixaram o campo
chorando recebendo o apoio de companheiros de equipe, sendo que Taison ainda
foi expulso por gestos de revolta dirigidos aos torcedores racistas.
Há uma crescente infiltração
de grupos de extrema direita em torcidas de clubes europeus, com ênfase para
manifestações na Itália, Espanha e países do Leste Europeu. A situação é tão
grave que a Fifa vive fazendo campanha atrás de campanha, sempre de perfil
educativo e sem muito resultado prático.
A saída mais indicada para conter a onda de intolerância e ódio seria a adoção de medidas punitivas, como o banimento de times e federações. Para isso, porém, é preciso ter pulso firme e vontade política. O problema é que as entidades que comandam o futebol não parecem dispostas a comprar essa briga.
(Coluna publicada no Bola desta segunda-feira, 11)