O charme da imperfeição

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POR GERSON NOGUEIRA

É recorrente a discussão em torno do nível técnico da dupla Re-Pa a essa altura do ano futebolístico. Muitos identificam avanços pontuais, ganhos indiretos, entrosamento de um ou outro setor. A verdade é que ainda não é possível notar evolução significativa na formatação dos times, cujos novos treinadores tiveram pouco mais de um mês e meio para ajustar peças.

O fato é que os dois titãs, que hoje se enfrentam pela terceira vez em 2018, estão longe do que se pode considerar times bem estruturados. Não por falta de treinos ou dedicação de seus técnicos. Simples por natureza, o futebol ganhou com o passar do tempo arabescos teóricos e configurações táticas que normalmente traem seus princípios mais espontâneos.

Mais que isso: tarefas repassadas pelos comandantes (ou “professores”) nem sempre são assimiladas e reproduzidas fielmente em campo pelos atletas.

São incontáveis as histórias de boleiros que nunca conseguiram compreender patavina do que diziam os treinadores, alguns particularmente prolixos e de discurso realmente incompreensível. Givanildo Oliveira e Dado Cavalcanti sabem se fazer entender, mas há um longo caminho a trilhar em busca do entrosamento e da batida perfeita.

Os dois primeiros clássicos da temporada, vencidos pelo Remo, refletiram essa ausência de consistência técnica e organização de ambos os lados. As vitórias nasceram de ações isoladas, descuidos gritantes e brilhos de caráter individual. No Re-Pa inicial, a vitória azulina nasceu de lance fortuito, inteligentemente aproveitado por Elielton no minuto final, colocando-se entre a hesitação do zagueiro Perema e a indecisão do goleiro Marcão.

O segundo choque-rei teve como jogada crucial e decisiva a arrancada vertiginosa de Felipe Marques desde o meio-campo até a área, onde limpou a jogada com um drible sobre Perema e chutou entre a trave e o goleiro.

Duas jogadas de concepção e realização inteiramente individuais, sem qualquer elaboração prévia ou treinada. Talvez por isso mesmo tenham sido manobras tão contundentes e sem antídoto possível por parte da defensiva do PSC, justamente por ser impossível antever o improviso.

Fiz questão de relembrar os gols que decretaram os triunfos azulinos porque há entre os que analisam futebol a tendência natural a elaborar teorias – ou, até mesmo, inventar quando se faz necessário. É sempre reconfortante achar explicações para tudo.

Sigo à espera de um progresso evidente e claro por parte dos dois rivais de Belém, posto que o campeonato estadual – que celebrei como um brado de resistência na última coluna – é um laboratório para competições nacionais. Até lá, os embates tendem a ser decididos pela inspiração e oportunismo de um Mike ou um Felipe Marques, o que não deixa de ser muito bom.

É compreensível que os técnicos não tenham encontrado a formação ideal e feito com que as equipes joguem de acordo com suas filosofias. Isso consome tempo, exige paciência e afinação de competências, pois muitos jogadores ainda estão aquém (até fisicamente) do que podem render.

Por isso mesmo, ouso dizer, o Re-Pa desta tarde não será tão diferente dos anteriores quanto à distribuição dos times em campo. Ambos perseguem uma harmonia impossível de obter após tão pouco tempo de ensaios.

Entra em cena então o charme da imperfeição, que oferece o inusitado das jogadas, a surpresa gaiata do lance inspirado ou o escorregão traiçoeiro que oportuniza gols. Acho admirável que times se comportem como orquestras, como a seguir pautas musicais, mas nada supera a graça do inesperado e sua mescla de temperos que encantam (e assombram) o paladar. (Foto: Ascom-Remo)

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Bola na Torre

Guilherme Guerreiro comanda a atração, cuja pauta deste domingo é o primeiro jogo da decisão estadual. Lances, dúvidas, análises e gols em debate, com a participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. Começa às 21h, na RBATV.

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Dedeco e o mistério insondável das usinas de boatos

Volante do Castanhal e artilheiro do Parazão, Dedeco tem visto seu destino ser apregoado em prosa e verso há vários dias, sempre com endereços diferentes. Uns dizem que estaria com contrato já pré-assinado com o Remo. Outros garantem que pode se apresentar no Náutico-PE. E há, ainda, especulação sobre possível ida para o Nacional-AM, tese reforçada pela presença de Lecheva no comando técnico do time de Manaus.

Como sempre, a boataria mais confunde do que esclarece. A essa altura, só o próprio Dedeco e seu empresário podem dizer qual o futuro clube do jogador, embora obviamente prefiram manter silêncio.

O fato é que a razoável visibilidade obtida pelo volante-artilheiro no Estadual pode vir a render algum contrato lucrativo desde que bem administrada, o que parece ser justamente a intenção do representante do jogador, com o auxílio prestimoso dos boateiros de plantão.

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Talisca confirma o poder da vitrine chamada Seleção

Digam o que disserem, mas a Seleção Brasileira ainda é a vitrine mais atraente do planeta. Bastou uma convocação de Tite para que o baiano Anderson Talisca despontasse como sonho de consumo de gigantes europeus, como Inter de Milão, Arsenal, Liverpool e Atlético de Madri.

O último interessado é o Manchester United, disposto, segundo jornais britânicos, a desembolsar R$ 85 milhões pelo atleta que defende o Besiktas e pertence ao Benfica. Talisca não vai ser titular do Brasil na Copa, talvez nem mesmo vá à Rússia, mas a convocação já cumpriu seu papel.

(Coluna publicada no Bola deste domingo, 01)

Jesus não morreu por “nossos pecados”

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Por Alberto Maggi (*)

Jesus Cristo morreu pelos nossos pecados. Essa é a resposta que normalmente se dá para aqueles que perguntam por que o Filho de Deus terminou seus dias na forma mais infame para um judeu, o patíbulo da cruz, a morte dos amaldiçoados por Deus (Gl 3,13).

Jesus morreu pelos nossos pecados. Não só pelos nossos, mas também por aqueles homens e mulheres que viveram antes dele e, portanto, não o conheceram e, enfim, por toda a humanidade vindoura. Sendo assim, é inevitável que olhando para o crucifixo, com aquele corpo que foi torturado, ferido, riscado de correntes e coágulos de sangue expostos, aqueles pregos que perfuram a carne, aqueles espinhos presos na cabeça de Jesus, qualquer um se sinta culpado… o Filho de Deus acabou no patíbulo pelos nossos pecados!

Corre-se o risco de sentimentos de culpa infiltrarem-se como um tóxico nas profundezas da psiquê humana, tornando-se irreversíveis, a ponto de condicionar permanentemente a existência do indivíduo, como bem sabem psicólogos e psiquiatras, que não param de atender pessoas religiosas devastadas por medos e distúrbios.

No entanto, basta ler os Evangelhos para ver que as coisas são diferentes. Jesus foi assassinado pelos interesses da casta sacerdotal no poder, aterrorizada pelo medo de perder o domínio sobre o povo e, sobretudo, de ver desaparecer a riqueza acumulada às custas da fé das pessoas.

A morte de Jesus não se deve apenas a um problema teológico, mas econômico. O Cristo não era um perigo para a teologia (no judaísmo havia muitas correntes espirituais que competiam entre si, mas que eram toleradas pelas autoridades), mas para a economia.

O crime pelo qual Jesus foi eliminado foi ter apresentado um Deus completamente diferente daquele imposto pelos líderes religiosos, um Pai que nunca pede a seus filhos, mas que sempre dá.

A próspera economia do templo de Jerusalém, que o tornava o banco mais forte em todo o Oriente Médio, era sustentada pelos impostos, ofertas e, acima de tudo, pelos rituais para obter, mediante pagamento, o perdão de Deus.

Era todo um comércio de animais, de peles, de ofertas em dinheiro, frutos, grãos, tudo para a “honra de Deus” e os bolsos dos sacerdotes, nunca saturados: “cães vorazes: desconhecem a saciedade; são pastores sem entendimento; todos seguem seu próprio caminho, cada um procura vantagem própria”  (Is 56, 11).

Quando os escribas, a mais alta autoridade teológica no país, considerando o ensinamento infalível da Lei, vêem Jesus perdoar os pecados a um paralítico, imediatamente sentenciam: “Este homem está blasfemando!” (Mt 9,3). E os blasfemos devem ser mortos imediatamente (Lv 24,11-14). A indignação dos escribas pode parecer uma defesa da ortodoxia, mas na verdade, visa salvaguardar a economia.

Para receber o perdão dos pecados, de fato, o pecador tinha que ir ao templo e oferecer aquilo que o tarifário das culpas prescrevia, de acordo com a categoria do pecado, listando detalhadamente quantas cabras, galinhas, pombos ou outras coisas se deveria oferecer em reparação pela ofensa ao Senhor. E Jesus, pelo contrário, perdoa gratuitamente, sem convidar o perdoado a subir ao templo para levar a sua oferta.

“Perdoai e sereis perdoados” (Lc 6,37) é, de fato, o chocante anúncio de Jesus: apenas duas palavras que, no entanto, ameaçaram desestabilizar toda a economia de Jerusalém. Para obter o perdão de Deus, não havia mais necessidade de ir ao templo levando ofertas, nem de submeter-se a ritos de purificação, nada disso. Não, bastava perdoar para ser imediatamente perdoado…

O alarme cresceu, os sumos sacerdotes e escribas, os fariseus e saduceus ficaram todos inquietos, sentiram o chão afundar sob seus pés, até que, em uma reunião dramática do Sinédrio, o mais alto órgão jurídico do país, o sumo sacerdote Caifás tomou a decisão. “Jesus deve ser morto”, e não apenas ele, mas também todos os discípulos porque não era perigoso apenas o Nazareno, mas a sua doutrina, e enquanto houvesse apenas um seguidor capaz de propagá-la, as autoridades não dormiriram tranquilas (“Se deixarmos ele continuar, todos acreditarão nele … “, Jo 11,48).

Para convencer o Sinédrio da urgência de eliminar Jesus, Caifás não se referiu a temas teológicos, espirituais; não, o sumo sacerdote conhecia bem os seus, então brutalmente pôs em jogo o que mais estava em seu coração, o interesse: “Não compreendeis que é de vosso interesse que um só homem morra pelo povo e não pereça a nação toda?” (Jo 11,50).

Jesus não morreu pelos nossos pecados, e muito menos por ser essa a vontade de Deus, mas pela ganância da instituição religiosa, capaz de eliminar qualquer um que interfira em seus interesses, até mesmo o Filho de Deus: “Este é o herdeiro: vamos! Matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança” (Mt 21,38). O verdadeiro inimigo de Deus não é o pecado, que o Senhor em sua misericórdia sempre consegue apagar, mas o interesse, a conveniência e a cobiça que tornam os homens completamente refratários à ação divina.

(*) Biblista italiano, frade da Ordem dos Servos de Maria – tradução de Francisco Cornélio

E a “pressão” dos juízes e do MP, D. Cármen, a senhora aceita?

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Por Fernando Brito, no Tijolaço

Mil promotores e juízes fazem um “abaixo assinado”, piedosamente batizado de “Nota Técnica” para exigir do Supremo Tribunal Federal que autorize Sérgio Moro a  prender Lula imediatamente.

Chegam a admitir no texto, que a prova é um aspecto secundário, bem abaixo da convicção, neste trecho, onde grifo:

A interpretação do princípio da presunção de inocência deve-se operar em harmonia com os demais dispositivos constitucionais, em especial, os que se relacionam à justiça repressiva. O caráter relativo do princípio da presunção de inocência remete ao campo da prova e à sua capacidade de afastar a permanência da presunção. Há, assim, distinção entre a relativização da presunção de inocência, sem prova, que é inconstitucional, e, com prova, constitucional, baseada em dedução de fatos suportados ainda que por mínima atividade probatória.
Disso decorre que não é necessária a reunião de uma determinada quantidade de provas para mitigar os efeitos da presunção de inocência frente aos bens jurídicos superiores da sociedade, a fim de persuadir o julgador acerca de decreto de medidas cautelares, por exemplo; bastando, nesse caso, somente indícios, pois o direito à presunção de inocência não permite calibrar a maior ou menor abundância das provas.

É de causar arrepios a quem pensa na Justiça como ferramenta da aplicação do direito e no velho – e ao que parece, aposentado – conceito de prova, agora substituído por qualquer “dedução de fatos” e pelo “em dúvida” não mais pro reu, mas pelo que achem que seja “pro societas“, em seu exclusivo conceito.

Aliás, “flexibilização de princípios” é argumento que, pela sua contradição, só pode ser próprio de canalhas, porque é o mesmo que não ter princípios.

Numa descarada usurpação de funções, não apenas violam a Lei Orgânica da Magistratura – que proíbe a juízes de se manifestarem  “por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem” – como atuam como advogados:

…os membros do Ministério Público e do Poder Judiciário abaixo assinados manifestam-se pela constitucionalidade de prisão após a condenação em 2ª instância.

Como cidadãos, têm todo o direito de expressar opinião. Mas quando se qualificam e se agrupam como “membros do Ministério Público e do Poder Judiciário”, não podem. A não ser como foras da lei, algo que parece já não vir ao caso, diante de seus ódios políticos.

Sabem que essa “pressão” a ministra Cármen Lúcia aceita.  O Supremo, talvez não.

Leão confirma Felipe Marques e Elielton, mas perde Levy

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O Remo finalizou seus preparativos para o Re-Pa com treino recreativo na manhã deste sábado e o técnico Givanildo Oliveira divulgou a lista de jogadores relacionados para o jogo de amanhã à tarde. Os atacantes Felipe Marques e Elielton, cujas escalações eram incertas, foram confirmados no grupo, mas o lateral direito Levy foi excluído porque não se recuperou de contusão. As demais baixas são o zagueiro Martony, o goleiro Douglas Dias e o volante Geandro. Recuperado, o atacante Jayme (foto) volta a ser opção para o técnico Givanildo.

Os jogadores relacionados para o clássico são os seguintes:

Goleiros – Vinícius e Evandro

Laterais – Gustavo, Jefferson Recife e Esquerdinha

Zagueiros – Mimica, Bruno Maia e Kevem

Volantes – Felipe Recife, Fernandes e Dudu

Meias – Adenilson, Andrey, Miguel e Rodriguinho

Atacantes – Elielton, Felipe Marques, Isac, Marcelo, Jayme e Felipe Pará 

Galeria do rock

Há 60 anos, em 31 de março de 1958, Chuck Berry lançou seu single “Johnny B. Goode”, que se tornaria um clássico do rock. Gravado nos lendários estúdios Chess, de Chicago. A letra é parcialmente autobiográfica: Berry nasceu em na casa 2520 da Goode Avenue, em St. Louis, Missouri, e de fato tocava guitarra como um sino…

Fiel na balança

Por Alberto Helena Jr.

Na balança que embala esse Dérbi decisivo, a Fiel deverá ter um peso extra.

Assim como, no jogo da volta, o grito de Avante, Palmeiras! certamente ecoará no Parque com a força de um gol definitivo.

Digo isso porque em clássicos como esse, ainda mais valendo taça, o emocional muitas vezes acaba sendo o fator decisivo. E, com as restrições atuais à presença de torcedores do time visitante, ainda mais.

No plano técnico, é inegável que o Verdão, graças à excelência de seu elenco (isso, no atual contexto do nosso frágil futebol doméstico), está mais bem equipado do que o Timão. Este, porém, entra em campo com o moral nas nuvens. Não só porque já venceu o rival no último encontro entre os dois, como também porque acaba de passar pelo São Paulo movido pelas asas da esperança que se esvaía até o último minuto de jogo.

O diabo não está na alma alvinegra e sim no corpo. Tanto, que Carille decidiu adiar o anúncio da equipe principal para a hora do jogo, já que a tropa exaurida terá de ser passada em revista pelo médico antes.

É certo, porém, que Balbuena volta à zaga corintiana, o que é um alívio para a Fiel, pois o gringo joga um bocado.

Já do outro lado, na zona verde, Roger coça a cabeça nem tanto pra escalar este ou aquele, pois há um grande equilíbrio nesse aspecto no elenco palmeirense. Sua preocupação confessa é escolher a tática certa, baseada nos ensinamentos que colheu depois da derrota por 2 a 0 para o rival na fase de classificação do Paulistinha.

Resumindo: todo cuidado é pouco.

Hummm… Isso me cheira à velha máxima caipira: arrecua os arfos, matuto!

Espero, para o bem geral das nações verde e alvinegra, que assim não seja, em nome do belo espetáculo que ambos podem proporcionar neste sábado.

Goleiros são atrações à parte na decisão paulista

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Pela primeira vez desde 1999, Palmeiras e Corinthians disputam a final do Campeonato Paulista a partir das 16h30 (de Brasília) deste domingo, na arena de Itaquera. Responsáveis diretos pela classificação das respectivas equipes, os goleiros Jailson e Cássio podem ser decisivos na busca pelo título. Na semifinal contra o Santos, após brilhar no tempo normal, Jailson foi eficiente na decisão por pênaltis que garantiu o Palmeiras na decisão do Campeonato Paulista. Em um roteiro semelhante, Cássio fez o mesmo no dramático triunfo corintiano sobre o São Paulo.

Aos 36 anos, com 49 jogos pelo Palmeiras, Jailson conquistou a Copa do Brasil 2015 e o Campeonato Brasileiro 2016. Cássio, com 30 anos e 339 jogos pelo Corinthians, já ganhou o Brasileiro (2015 e 2017), o Paulista (2013 e 2017), a Libertadores (2012), o Mundial (2012) e a Recopa (2013). Adversários no Derby, ambos querem aumentar a galeria de títulos.