Vitória rubro-negra reacende polêmica dos “mistos”

Por Mauro Cezar Pereira

Até o perfil da Copa do Nordeste propagou mensagem contra os nordestinos que torcem por times que não são da região. Uma tolice, pulverizada pela virada do Flamengo sobre o Fortaleza (2 a 1), com o aval de 15 mil rubro-negros presentes ao Castelão. Acredito que seria melhor para o futebol se as pessoas sempre torcessem pelos times de suas regiões, de suas cidades. Em tese, assim eles seriam mais fortes. Mas ninguém controla q paixão alheia.

Há quem seja do sul da Itália e torça pela Juventus, quem more em Londres e seja apaixonado pelo Liverpool, quem viva da fronteira entre Argentina e Paraguai e tenha tatuagem do Boca Juniors. E no Brasil sempre haverá quem torça por clubes sediados a milhares de quilômetros.

Quando nordestinos atacam nordestinos por não torcerem por clubes do Nordeste, o que se vê é uma espécie de “fogo amigo” do preconceito. Por que um cearense não pode torcer pelo Flamengo? O que justifica o rotularem como “misto”? Quem garante que todo nordestino torcedor de time de fora da região o tem como segunda paixão?

Tal postura é arrogante e contraditória. Além de antipática, capaz de afastar quem, se for realmente “misto”, poderia engrossar as fileiras de torcedores de times locais quando não estiverem diante daquele que realmente amam.

Ao invés de tentar atrai-los, de conclamar essas pessoas a apoiar os times do Nordeste, independentemente da paixão por outros, de regiões diferentes, eles os atacam. Em consequência, os afastam ainda mais com essa espécie de “marketing” pouco inteligente e muito preconceituoso.

E para completar, o Fortaleza perdeu o jogo e poderá ficar na fronteira do rebaixamento se o rival, Ceará, derrotar o Santos. Irônico, não?

Futebol, lenda urbana

POR GERSON NOGUEIRA

Já vai longe o tempo em que o Brasil podia se orgulhar, bater no peito até, que tinha um campeonato nacional repleto de grandes times, capazes de produzir jogos eletrizantes e inesquecíveis. Infelizmente, os últimos anos – décadas talvez – mostram um cenário completamente diferente.

Ao contrário do que dizem os ‘pachequistas’ de sempre, o Brasil não tem um dos campeonatos mais difíceis do mundo. Tem, quase certamente, um dos certames mais difíceis de assistir. É duro parar por duas horas em frente à TV para acompanhar autênticas peladas a cada rodada.

E não há como se queixar do apoio das torcidas. O público até melhorou nos estádios. A média de 2019 é de 21.321 pagantes, com média de ocupação em 47%. Não chega a ser um colosso de popularidade, mas são números razoáveis e até espantosos para o nível das partidas.

Os bons resultados obtidos por times populares como Flamengo, Palmeiras e até o Corinthians, mesmo aos trancos e barrancos, ajudam a explicar o relativo êxito nas bilheterias. O problema é que o torcedor está pagando – muito caro, em média – por um produto que não é entregue nos gramados.

O futebol é paupérrimo, salvo exceções – Flamengo, Santos e Atlético-PR. Os demais 17 clubes praticam o feijão-com-arroz com condimentos variados. Os jogos se transformaram em desfile de chutões, caneladas, cruzamentos no padrão Muricybol, “faltas táticas” e retrancas mal disfarçadas juntam-se às maçantes interrupções causadas pelo VAR.

O Corinthians, citado algumas linhas acima, ostenta números que exemplificam bem a penúria técnica da Série A. Acumula nada menos que 17 vitórias por 1 x 0 desde 2017 até este ano. O recorde resulta do esquema “gol é mero detalhe” de Fábio Carille, o técnico da nova geração mais identificado com a filosofia defensivita de Carlos Alberto Parreira.

O Flamengo, de Jorge Jesus, empregou um bom dinheiro na contratação de boleiros qualificados – Bruno Henrique, Everton Ribeiro, Arrascaeta, Gerson, Rafinha, Filipe Luís e Gabriel – e colhe os frutos dessa estratégia.

Melhor de um campeonato fraco, o Fla busca (e alcança) vitórias jogando o suficiente para atropelar adversários tecnicamente inferiores, medrosos pela própria condição e pouco empenhados em adotar estratégias alternativas.

Na Libertadores, imprevisível pela própria natureza da disputa, o confronto mais aguardado resultou em brutal desperdício de expectativa, anteontem. O Grêmio, acovardado em boa parte do duelo, só resolveu jogar o que pode na 2ª etapa, mas ainda assim sofreu bastante para empatar.

Quando Jorge Jesus concedeu entrevista enaltecendo a Série A brasileira certamente exprimia a velha fidalguia lusitana, sendo gentil na chegada ao país. É improvável que hoje, diante dos arremedos de adversários que topou pelo caminho, ele veja as coisas do mesmo jeito.

Calendário da CBF segue esmagando estaduais

A CBF anunciou ontem o calendário do futebol para 2020, garantindo as 10 datas necessárias para o lucrativo negócio dos amistosos oficializados pela Fifa. Ao mesmo tempo, deu um passo a mais na redução de datas dos campeonatos estaduais (agora com 16). Esse esmagamento não chega a afetar torneios com menor quantidade de clubes como o do Pará, que usa 14 datas – 12 na fase classificatória, 2 na semifinal e 2 na final.

O novo calendário reabre a discussão sobre o futuro dos regionais. O problema vai recair sobre os Estados do Sul e do Sudeste, com necessidade maior de datas para contemplar vários clássicos. A redução de datas expressa a diminuição de importância das batalhas regionais, justamente onde estão as históricas rivalidades que alimentam grandes torcidas.

Ainda levará um tempo até a extinção dos estaduais, mas o ritmo da prosa indica que esse dia está cada vez mais próximo, em função do olho gordo da CBF nas datas que beneficiam suas jogadas mais lucrativas e pela subserviência histórica de suas filiais nos Estados.

A cúpula da CBF sabe que qualquer migalha, como aqueles convites para eventos fúteis, bancados em hotéis luxuosos com as mordomias conhecidas, já garante a anuência da cartolagem pé-de-chumbo, por mais lesivo que um projeto possa ser aos interesses dos clubes filiados.

O próprio exemplo das datas impostas aos clubes paraenses na fase decisiva da Copa Verde atesta o menosprezo com que a entidade olha para federações menos importantes. As datas das finais do torneio – 23 de outubro e 20 de novembro – desafiam a lógica e o bom senso.

Um absurdo que a FPF nem se deu ao trabalho de contestar. O finalista do Norte, que sai neste domingo (6), terá que se submeter ao critério injusto estabelecido pela CBF exclusivamente para não contrariar os interesses de Cuiabá e Goiás, que disputam as Séries B e A, respectivamente.

Em termos financeiros, isso irá custar muito alto ao clube paraense classificado para a decisão, pois terá que prorrogar contratos de vários atletas para manter time completo e competitivo para as finais.

Rony: grande chance e imensa responsabilidade

O lateral-direito Rony é hoje a mais valiosa revelação do Remo na temporada. É o jogador que mais se destacou entre os jovens atletas que compõem o elenco azulino, mostrando segurança e categoria quando foi lançado inicialmente contra o Atlético-AC no Baenão.

Desenvolto e ofensivo, como há muito não se via no clube, Rony impressionou de cara pelo bom passe e a precisão de seus cruzamentos. Tais atributos já lhe permitiram entrar no clássico que abriu a semifinal da Copa Verde e podem garantir a titularidade no próximo domingo.

A responsabilidade é grande, mas Rony encontrou em Eudes Pedro um comandante atento às suas qualidades e consciente dos riscos que uma jovem aposta corre em meio ao fervor de uma rivalidade centenária.

(Coluna publicada no Bola desta sexta-feira, 04)