POR GERSON NOGUEIRA
Quando se noticia o desligamento de Ronaldinho Gaúcho do Fluminense, após dois meses de improdutiva e constrangedora passagem, lembro imediatamente de outro veterano, Clarence Seedorf. Quanta diferença na maneira de pensar a carreira e de agir com os clubes contratantes. Seedorf passou uma temporada no Botafogo, mas jogou bola. Corria como um garoto, às vezes mais até do que os outros atletas.
O craque holandês constituiu-se num exemplo de honradez profissional e competência técnica. Levou o time à sua melhor colocação no Brasileiro em 18 anos, fazendo valer cada centavo gasto com sua contratação. Além disso, foi o grande destaque da competição, encantando a todos com sua habilidade e capacidade de finalização.
Ronaldinho Gaúcho, ao contrário, vem colecionando fracassos desde que saiu do Milan e retornou ao Brasil. Depois de rodar pelo Flamengo, conseguiu se estabelecer no Atlético-MG, onde viveu seus últimos lampejos, contribuindo para a conquista da Libertadores. Saiu para defender o mexicano Querétaro, com pouco destaque.
De volta ao Brasil, depois de interromper contrato, iniciou um leilão envolvendo Vasco e Fluminense, terminando por firmar contrato com os tricolores. Na ocasião, empolgada com o feito, a diretoria do Flu chegou a se vangloriar publicamente por ter vencido a disputa com os vascaínos pelo futebol do craque.
É claro que se arrependimento matasse os dirigentes do Fluminense estariam em maus lençóis a essa altura. Como quase todo mundo desconfiava, R10 foi apenas um arremedo de atleta nas Laranjeiras. Passava mais tempo no departamento médico do que jogando. Tinha dificuldades até para acompanhar a rotina de treinos.
Nos poucos momentos em que foi visto com a camisa do Flu nem de longe lembrava o elogiado ganhador da Bola de Ouro da Fifa e ídolo do grande Barcelona. Lento, pouco participativo, limitava suas ações com a bola a chutes de longa distância rumo à área. Sua passagem durou um pouco mais graças à benevolência de parcela da crônica esportiva.
Ocorre que a torcida, pouco paciente com enganadores, começou a botar a boca no trombone e a pressionar os dirigentes. Angustiados com a brutal queda de rendimento do Fluminense na Série A e com as imensas dificuldades que o time teve para superar o Papão na Copa do Brasil, os torcedores passaram a hostilizar Ronaldinho e Fred, os dois veteranos do clube. Antes de encarar problemas mais sérios, R10 decidiu pedir as contas e foi se dedicar ao pagode e à vida noturna, suas atividades preferenciais nos dias de hoje.
O desfecho representou um alívio para os dirigentes aloprados que o contrataram, pagando cerca de R$ 600 mil mensais, e uma tristeza para fãs do futebol vistoso e cheio de dribles do ex-craque gaúcho.
A lição que fica, não só para o Flu, é de que não há mais lugar para essa mania nacional de correr atrás de veteranos que jogam apenas com a fama do passado. Já vimos a versão papachibé desse filme, com Marcelinho Carioca, Finazzi, Souza e Leandrão. É tempo de levar mais a sério esse negócio chamado futebol.
————————————————————
Leão busca vaga e lucro nas bilheterias
O Remo bem que tentou. No afã de conciliar os interesses de campo com as urgentes necessidades do cofre, buscou obter um aumento do limite de público permitido para o estádio Jornalista Edgar Proença para a partida de sábado contra o Palmas (TO). Apesar da boa vontade do Ministério Público, dois obstáculos impediram que a carga fosse ampliada para 40 mil, como pretendiam os dirigentes azulinos. O departamento de Segurança do estádio vetou a proposta por entender que a logística ficaria comprometida e a Polícia Militar alegou falta de efetivo – parte do contingente é hoje obrigado a ficar no Portal da Amazônia.
Há três anos, a capacidade original do Mangueirão (45 mil espectadores) baixou para 38 mil em partidas de futebol, por razões de segurança, principalmente quanto ao escoamento de público ao final dos eventos esportivos. De 38 mil a lotação baixou para 35 mil, até que haja uma reforma completa nas áreas de acesso e saída do estádio.
Com isso, os dirigentes decidiram colocar à venda 32.700 ingressos, incluindo sócios-torcedores e meia-entrada para estudantes. Os demais 2.300 ingressos serão destinados às gratuidades e credenciados. Desde anteontem, via internet e na sede do clube, o torcedor já pode adquirir seus ingressos, a R$ 40,00 (arquibancada) e R$ 60,00 (cadeira).
É um momento crucial para o time, que precisa do apoio maciço da torcida para ultrapassar o primeiro mata-mata, e para o clube, argolado em dívidas com o próprio elenco e que depende do que faturar nos jogos da Série D para sair do vermelho. Um depende diretamente do outro para continuar respirando e o torcedor entra como fiador do projeto.
————————————————————
Duas Águias na encruzilhada do Parazão
As duas Águias do nosso futebol, a do Souza e a de Marabá, atravessam momentos curiosamente parecidos, embora com perspectivas diferentes. A velha Águia Guerreira está há dois anos longe da primeira divisão do nosso futebol, patinando nas fases de acesso e apelando para a prospecção de atletas refugados por outras agremiações, distante de sua tradição de formar jogadores. O Águia marabaense, bem mais jovem, acaba de perder lugar na Série C do Campeonato Brasileiro, onde permaneceu por oito anos. E, a exemplo de sua co-irmã, está alijado do Campeonato Paraense desde 2013.
Para os dois times, o acesso ao Parazão torna-se prioridade absoluta neste final de temporada. O Azulão ainda tem o alento de poder disputar a Série D em 2016, mas a Cruz de Malta não pode se dar ao luxo de ficar sem calendário, sob pena de sucumbir definitivamente.
Apesar de situação ligeiramente melhor, a presença no Parazão é também determinante para o futuro do Águia. Explica-se: foram as duas ausências da fase principal da competição que comprometeram o planejamento do clube e influíram decisivamente no fiasco deste ano na Terceira Divisão. Sem identidade e com um time pouco testado, o Águia passou mais da metade da fase classificatória na zona do rebaixamento.
Depois de sair da Série C, o Águia dedica-se agora a brigar por uma vaga no Parazão ao lado da Tuna e de mais dez concorrentes. Tarefa desafiadora e que vai pôr à prova a competência e o arrojo de duas importantes forças do nosso futebol.
(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 30)