O sucesso de um ex-nanico

Um garoto baixinho, franzino e bom de bola que não teve apoio do clube que defendia para bancar o tratamento que o deixaria com corpo de atleta de futebol. Essa até pode ser a história do melhor jogador do mundo. Mas também é a da maior revelação do Brasileiro-2012. Assim como Lionel Messi, o meia Bernard, destaque do Atlético-MG, vice-líder da Série A, também sofreu com o porte físico nada avantajado.

Mas, ao contrário do argentino, que precisou cruzar o Atlântico para encontrar no Barcelona alguém disposto a financiar seu projeto de crescimento e ganho de massa muscular, Bernard apelou mesmo para o “paitrocínio”. Foi seu pai, Délio Duarte, que ainda trabalha em uma loja de peças para ônibus em Belo Horizonte, quem financiou durante um ano e meio os R$ 40 mil em médicos, remédios e suplementos.

“Vi uma vez uma matéria que falava que o Messi tinha tomado mais de 2.000 agulhadas para crescer. Também vivi isso”, contou o meia. “Ele até teve a oportunidade de ir para o Tottenham, da Inglaterra, que prometeu pagar tudo. Mas era sacanagem com o Atlético-MG, mesmo eles não querendo fazer o tratamento que ele precisava”, contou seu pai à Folha.

Dos 1,55 m e 37 kg que tinha aos 15 anos e que levantavam dúvidas sobre seu futuro no futebol, saltou para 1,64 m e 62 kg. Aos 20 anos, espera ainda crescer mais um pouco e chegar a 1,68 m. Mas, com o corpo atual, já contrariou previsões feitas dentro das próprias categorias de base do Atlético-MG e virou jogador. Dos bons.

Promovido ao time principal como lateral direito no ano passado, depois de se destacar em período de empréstimo a um clube da terceira divisão mineira, ele deslanchou nesta temporada. Após fazer dois gols na decisão do Estadual, ganhou a companhia de Ronaldinho, seu ídolo de infância nos tempos de Barcelona, e recolocou o Atlético-MG na briga pelo título do Brasileiro, conquistado uma única vez, em 1971.

Bernard chegou à seleção, teve recusada uma proposta de € 15 milhões do Zenit, renovou contrato até 2017 e viu o salário de R$ 600 se multiplicar por mais de 50 vezes. “É uma pedra preciosa, mas que ainda precisa ser lapidada. Ele sabe usar a velocidade que tem por causa do jeito franzino para evitar o contato com os zagueiros. Mas ele participa do nosso programa com uma nutricionista para ganhar massa”, disse o diretor de futebol do Atlético-MG, Eduardo Maluf. (Da Folha de S. Paulo)

Sessenta anos de amadorismo

Por Gerson Nogueira

O atraso vem de longa data e se eterniza a cada temporada. A profissionalização, que bateu às portas do futebol brasileiro em meados de 1940, levou pelo menos mais 10 anos para se estabelecer precariamente no Pará. Nos primeiros anos, conforme relatos dos jornais daquele período, prevaleceu o sistema semi-amadorista. Alguns jogadores recebiam gratificação por partida, espécie de avó do “bicho” que se tornaria moeda corrente nos anos 60 e 70.

Os atletas eram recompensados com empregos em repartições públicas, graças à influência de dirigentes influentes no mundo da política. Com arranjos e improvisos, o futebol adentrou a era profissional sem que os clubes tivessem receita suficiente para remunerar seus jogadores, que precisavam ganhar a vida com outras ocupações.

Estádios acanhados, com capacidade máxima de 5 mil espectadores, produziam arrecadações modestas, apesar da simpatia crescente que Remo e Paissandu já angariavam junto à população. Eram tempos de pós-guerra, com romantismo à flor da pele e atletas que se comportavam como torcedores de chuteiras.

Frequentes eram as demonstrações de amor incondicional pelos clubes e raríssimas as trocas de jogadores entre os rivais. Interessante notar, nesse mergulho aos arquivos do Pará boleiro, que a maioria dos técnicos também era diletante, contentando-se com alguns caraminguás pela função.

Já os dirigentes eram abnegados que dedicavam horas de seu dia a acompanhar a vida dos clubes, sem direito a remuneração. Como naquele tempo não havia importação ou exportação de pé-de-obra, nem empresários de atletas, os baluartes não tinham a chance de descolar um ganho extra, como virou prática contumaz até os dias que correm.

Com o surgimento de torneios regionais e nacionais entre seleções, cujo auge ocorreu na década de 60, iniciou-se o intercâmbio entre praças estaduais. De forma tímida, jogadores paraenses começaram a buscar espaço no Nordeste e no Sul maravilha. Craques como Quarentinha, Assis, Oliveira e Manuel Maria foram aproveitados em grandes clubes do Rio e de São Paulo.

Organizo esses apontamentos há algum tempo, a fim de estabelecer um paralelo entre o modus operandi da cartolagem do período amadorista e a atual. Grosso modo, pode se deduzir que, nos últimos 50 anos, o mundo evoluiu rapidamente, surgiram novíssimas tecnologias e estabeleceram-se novos pactos de relação trabalhista no futebol, mas o Pará teimosamente permaneceu atado ao passado.

Os jogadores tornaram-se profissionais, os técnicos também. O único lado que se mantém imutável é o dos dirigentes. Os de hoje parecem bizarras figuras de cera a representar antepassados. Como acontecia nos tempos de JK, remistas e bicolores continuam a dedicar tempo mínimo à gestão dos clubes, são centralizadores ao extremo e comportam-se como se estivessem sempre na arquibancada.

As diferenças, sutis, se revelam apenas na forma de remuneração, que se disfarça sob comissionamentos e ardis contábeis. Portanto, em comparação com os baluartes de antanho, os novos dirigentes representam um retrocesso. E, a cada nova exibição de despreparo, irrompe a mais urgente necessidade de uma escola – ou curso – que prepare gestores capazes de aliar paixão e pragmatismo com equilíbrio e eficiência. A ideia, por ironia, é bem antiga. Era defendida pelo grande Edyr Proença nos idos de 1960.

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O torcedor precisa ir logo se acostumando. Conforme o script desenhado pela Fifa, a Copa do Mundo de 2014 terá um indigesto pacote de jogos às 13h, alguns das fases decisivas. A escolha do horário mais quente do dia atende ao público europeu. Será a sexta Copa com partidas sob sol a pino. Antes, os boleiros penaram nos mundiais de 1930 (Uruguai), 1970 (México), 1978 (Argentina), 1986 (México) e 1994 (EUA).

A história mostra que seleções sul-americanas levaram sempre a melhor quando os torneios foram disputados sob céu ensolarado. Brasil e Argentina ganharam duas Copas e o Uruguai levou a primeira de todas.

Com essa escala de jogos, a Copa brasileira deve beneficiar equipes jovens, com velocidade e pulmão para superar seus adversários e as altas temperaturas. Renovação, portanto, é uma das chaves do sucesso.

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A capa do caderno Bola da última sexta-feira, sobre o imbróglio Marcelinho Paraíba, dividiu opiniões e teve o mérito de suscitar debates acalorados quanto ao papel da crítica jornalística. Além do caráter informativo, propôs discussão inédita em torno da divisa entre humor e achincalhe, escracho e desrespeito.

Recebi centenas de manifestações, via e-mails, telefonemas e mensagens no blog, Twitter e Facebook. Muitas mostravam irritação pelo uso da figura do mascote do clube sentado sobre o vaso sanitário. Outras tantas traziam elogios aos editores, lastimando apenas que o verdadeiro trapalhão da história não tivesse sido “homenageado” no desenho.

Em comum, o reconhecimento de que as trapalhadas da diretoria mereciam um tratamento forte. Aproveito para, em nome da equipe, agradecer aos que apoiaram e lamentar pelos que não entenderam, sentindo-se atingidos pela ilustração. A todos, a promessa de que continuaremos a conduzir a linha editorial do Bola pelos caminhos da crítica saudável e construtiva.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 30)

Da revolta contra a charge ao que realmente importa

Por Maurício Carneiro (mauriciocarneiro68@hotmail.com)

Um bom jornalista gosta desses “desafios” e bravatas de idéias anti-democráticas e o Gerson jamais iria se abalar, ao invés, se fará mais forte na sua conduta. Todo os dias leio o blog mais de duas ou três vezes e também achei completamente descabida essa revolta contra a capa do Bola. Na verdade, dei uma boa risada e nem me prendi ao post e só depois resolvi ler devido ao grande número de comentários. E nem preciso dizer que sou bicolor, apenas não me considero fanático, embora até mesmo um “bom” fanático seja capaz de se resignar e se afastar do futebol com tanta decepção vivida (nem sei se isso já não aconteceu comigo). Já pensou se todo o Brasil se revoltasse contra as charges e programas de humor que metem o pau na CBF, “nossa” seleção brasileira e nossos ídolos? Mas como é time de uma torcida só isso não acontece. Todos se unem pra malhar e os jornalistas passam a ser legais e porta-vozes do povo. Agora, manda um jornal argentino tirar sarro… Até engraçado, quando aqui mesmo no boteco, diga-se, muito bem frequentado, o GN lança alguns posts e logo vem o Cláudio: “Te dizer o amigo Gerson, lá vem confusão…”. E vem mesmo. A paixão pelo time de futebol do coração é impressionante, e o ódio do rival, mais ainda.

Aí vou entrar em outro ponto. A rivalidade e a paixão das nossas torcidas não diminuem nunca, e até vem sendo mantida e alimentada num momento de completa desgraça para os dois lados. Guardadas as devidas proporções, algo tipo guerra tribal entre miseráveis da África, cegados pelo ódio, nem sabem direito por quê, comandados por autoritários incapazes e  egoístas. E já começo a achar necessário que alguém (o ideal seria de dentro dos clubes) lance um olhar sociológico e antropológico para estudar e entender as torcidas de Remo e Paysandu, tentando interferir pra melhorar seu comportamento que tem se caracterizado pela violência desmedida que passa pras novas gerações e dissemina-se nas redes sociais. Na minha humilde opinião, os meios de comunicação tem que mudar, ou adequar, a forma como tratam a torcida. E vice-versa. Nesses tempos de gerenciamento errado, com pessoas não capacitadas para tamanha responsabilidade e consequentes resultados péssimos dentro de campo, e horizontes piores ainda, chega a ser até injusto e perigoso dizer que o povo-  e o futebol envolve povo apaixonado que facilmente perde a razão, tem que se mobilizar para salvar os clubes. Não podemos mais simplesmente dizer que temos times de terceira e quarta divisão com torcidas de primeira…que se não fossem as torcidas, Remo e Paysandu já teriam fechado as portas…que a fiel e o fenômeno azul vão lotar e empurrar…empurrar o quê? Uma Mercedes sem motor? Só pode acabar em frustração e revolta, com paradoxal aumento da rivalidade e da violência, que por si só já mistura tantos ingredientes alheios ao futebol.

Vamos atacar o problema na raiz e não, mesmo que involuntariamente, incentivar a revolta das torcidas. Lembro, salvo engano, que há poucos anos a Aclep chegou a realizar uma espécie de fórum sobre como melhorar o futebol paraense. Não sei no que deu, mas pelo menos o foco tem que ser por aí. Nem é mais preciso dizer que no Papão e no Leão as cagadas não terminam, como na ótima charge do Bola. Agora temos que ajudar a fazer algo diferente, ou não fazer nada, talvez uma utópica união das torcidas pra dar um gelo nos clubes e se afastar das arquibancadas até que surja uma ponta de esperança de que vale a pena voltar a pagar pra torcer. Com tanta burrice e má gestão juntas, não é a torcida na arquibancada que vai fazer o time jogar bem se não tem condições pra isso, seja na Curuzu, Baenão ou Mangueirão. Muito menos o mal administrado dinheiro que deixar de entrar vai ser a última pá de terra no defunto. Poupemos nossos corações, nem digo tanto o bolso das nossas famílias.

Voltando à charge, tão importante quanto as torcidas é a imprensa especializada que temos no Pará, alguns um tanto apaixonados de mais, é verdade, mas não importa.  A torcida só existe por causa de Remo e Paysandu, a imprensa só vende por causa das torcidas, que só acompanham o que acontece por causa da imprensa, sem as quais, Paysandu e Remo não se manteriam. Agora, diretor não cuidar bem da razão de tudo isso, contribuir pra afastar a torcida e ainda se achar no direito de brigar com jornalista e jogar a galera contra ele?!  Pensem bem, quem está errado nessa relação clube x torcida x imprensa? Inacreditável que se aliem a essa pessoa pra atirar em quem não se esconde e ainda cede espaço democraticamente. Não está satisfeito com o clube? Se afaste ou se associe e vá ajudar a mudar, mas não agrida, nem mesmo o dirigente, quem quer que seja. Não está satisfeito com o Blog? Simplesmente se afaste, ou emita opinião civilizada, mas não agrida quem está ao lado das torcidas em favor do futebol paraense e não contra fulano ou sicrano.