POR GERSON NOGUEIRA
O Remo que foi derrotado para a Juazeirense-BA concede muito espaço no meio e nos lados. Tamanha generosidade cobra um preço alto demais em competições equilibradas e niveladas por baixo como o Brasileiro da Série C. Não há como sobreviver a tanta vulnerabilidade e com tão parcos valores individuais. Os adversários se estudam e, obviamente, esse ponto fraco azulino já é de conhecimento geral.
Na Rádio Clube, no blog, na TV e aqui neste espaço venho chamando atenção para a ilha da fantasia que é o esquema 4-3-3 usado pelo Remo. É fantasioso porque, apesar de jogar com três atacantes, o time não tem a agressividade que um trio de frente deveria oferecer.
O sistema funcionou com êxito no Campeonato Estadual com as suas frágeis linhas defensivas, incluindo a do PSC, vítima contumaz dos avanços de Elielton e Felipe Marques pelas beiradas. Ocorre que o Remo saiu do Parazão e o Parazão não saiu do Remo.
Na Série C, destacam-se aqueles que têm bom conjunto e atuam de forma compactada, brigando por espaço o tempo todo. Com três na frente, mesmo que os ponteiros ajudem a bloquear, o Remo permite quase 20 metros de abismo entre o meio e a linha ofensiva. É fatal para qualquer zaga. Foi nessa faixa de Gaza que Atlético e Juazeirense penetraram para construir as jogadas que levaram aos gols.
A saída óbvia é reforçar a segunda linha, com um armador (Adenilson ou Everton) e três volantes (Dudu, Brasília e Dedeco). Na frente, levando em conta o baixo rendimento de Isac, a alternativa seria usar um ponta velocista e um atacante mais centralizado – Gabriel Lima ou Jayme.
A Juazeirenze mostrou entender as peculiaridades da Série C, contando com um armador habilidoso (Julinho Tardelli) que tanta falta faz ao Remo. Sem um organizador, a bola é sempre rifada pelo goleiro Vinícius em direção a Marques e Elielton ou distribuída a esmo por Dudu, um volante operário cujas virtudes não incluem o talento para fazer lançamentos.
Cabe observar que tanto Vinícius quanto Dudu agem assim por força da necessidade. Se o time tivesse um organizador de verdade, essas saídas de emergência não seriam necessárias e o Remo teria mais posse de bola, livrando-se do bate-volta atual.
Givanildo comentou, depois do jogo, que continua a esperar a contratação de outro centroavante, pois tem apenas Isac para o embate direto com a zaga. Sabe-se que o experiente técnico não é dado a lamúrias, mas tem tirado leite de pedra para dar um mínimo de competitividade ao time.
A situação fica mais dramática porque Felipe Marques, principal peça ofensiva do time na temporada, murchou após a divulgação do acerto com o Londrina. Pode ser apenas uma instabilidade temporária, mas o fato é que o ponta perdeu chances contra Atlético-AC e Globo em lances que o Felipe Marques do Parazão não perderia.
No ritmo atual, caso não se leve a sério a necessidade de reforçar o elenco, o risco de rebaixamento se agiganta. Claro que ainda é cedo, com 15 rodadas a disputar, mas é bom levar em conta a máxima de Pep Guardiola: título se ganha nas últimas oito rodadas e se perde nas oito primeiras.
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Objetivo e frio, Papão define jogo e supera sustos
Do outro lado da Almirante Barroso, o ambiente é de festas e fanfarras. Com toda razão. O Papão cumpre campanha surpreendente e irretocável na Série B. São três vitórias em três jogos, garantindo lugar no grupo de elite da classificação e passando a desfrutar do respeito que os vencedores inspiram. No sábado à tarde, na Curuzu, o time passou por um teste de nervos diante do Brasil-RS, sofrendo alguns sustos e levando bolas na trave, sem perder a compostura e o foco.
Com frieza, o time de Dado Cavalcanti fez seus gols antes da primeira meia hora, em menos de quatro minutos (aos 20 e 24 minutos), decretando ali o caminho da vitória. O Brasil descontou em seguida, aos 27’, mas esse contratempo não abalou o Papão, que manteve a proposta de atrair o adversário e sair em velocidade ao ataque.
O jogo evidenciou que o esquema com três zagueiros está definitivamente aprovado, com a melhoria de rendimento de Diego Ivo, Perema e Edimar e as opções que o time ganha com a segurança defensiva. Falta ainda aperfeiçoar o trabalho dos alas, ainda inconstantes e dados a sumiços, principalmente Miller.
No centro da segunda linha, Carandina e Renato Augusto estão afinados, produzindo o que nunca produziram no PSC. Renato, inclusive, fugindo às suas características, apareceu na frente para marcar o gol de abertura, raspando de cabeça um cruzamento vindo do lado esquerdo.
Cassiano vive momento iluminado. Confiante, joga em alto nível, evoluindo nos deslocamentos sem bola e criando problemas para a zaga inimiga mesmo quando a jornada não lhe é inteiramente favorável. Fez o gol, cobrando pênalti sofrido por Mateus Silva, e poderia ter feito mais caso a sorte ajudasse em dois outros lances.
Acima de todos, porém, esteve Mike, incansável no vaivém entre meio-campo e ataque, nos lançamentos e toques de primeira. Utilíssimo no atual desenho do time, que não conta com um armador de ofício.
Claudinho estreou bem. Participou das articulações e exibiu qualidades para integrar a força-tarefa ofensiva junto com Cassiano e Mike, substituindo a Moisés. Thomaz entrou depois e não fez feio, embora tenha sido mais discreto.
Imaginava-se que o desenrolar da competição poderia intimidar o Papão ante a evolução técnica das demais equipes. Com três rodadas realizadas, o time mantém o trem inicial e não se afasta da rota traçada por Dado. Absorve bem a pressão e sai rápido. Se caprichar na aproximação entre as linhas, vai se tornar melhor ainda.
Com a mesma pontuação dos líderes, o PSC pode chegar à frente na próxima rodada jogando em São Luís contra um Sampaio Corrêa mergulhado em séria crise técnica.
(Coluna publicada no Bola desta segunda-feira, 30)