Vasco recebe críticas por homenagear coronel Nunes como “benfeitor”

1524145383_709350_1524145556_noticia_normal_recorte1

Por Breiller Pires, no El País

Existem basicamente duas formas de uma instituição reverenciar um cidadão. A mais racional é pela notoriedade, seja por serviços prestados ou por personificar suas bandeiras institucionais. A outra, um tanto discutível, é por conveniência e interesses. Na última terça-feira, o Vasco da Gama, por meio de seu presidente Alexandre Campello, aproveitou a visita à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para prestar homenagem ao Coronel Nunes, mandatário da entidade que substitui, de forma decorativa até passar o bastão ao recém-eleito Rogério Caboclo, o investigado Marco Polo Del Nero, banido pela Fifa após denúncias de corrupção no cargo.

O dirigente da CBF recebeu o título de sócio proprietário benfeitor do clube, uma honraria concedida a torcedores ilustres, personalidades e apoiadores. Durante as gestões de Roberto Dinamite, ex-jogadores que levantaram taças memoráveis pelo Vasco, como Felipe, Pedrinho, Juninho Pernambucano e Edmundo, foram agraciados com o título. No mesmo período, vascaínos pouco atuantes, porém célebres, a exemplo da apresentadora Fátima Bernardes e do cantor Roberto Carlos, receberam a distinção. Dinamite ainda homenageou o então governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que sonhava ser presidente do clube, mas hoje, preso, acumula penas de 87 anos pelos crimes de corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Na época da ditadura, como oficial da PM, colaborou intensamente com as atividades do regime militar no Norte do país. Apesar de ter sido um fiel escudeiro dos governos ditatoriais, o Coronel Nunes, segundo revelou a reportagem da Agência Pública, em 2016, recebe cerca de 15.000 reais mensais como anistiado político da Força Aérea Brasileira, onde serviu antes de integrar a polícia.

Nesta quinta-feira, o Vasco joga pela Copa Libertadores contra o Racing, que, há algumas semanas, se juntou a vários clubes de futebol para cobrar o julgamento de militares responsáveis pelos crimes de tortura e assassinatos durante a ditadura na Argentina, lembrando os 42 anos do golpe de Estado liderado pelo general Jorge Videla. Já o time carioca, quase 50 anos depois do AI-5, decreto que acirrou a violenta repressão militar no Brasil, resolveu agradar um reconhecido homem de confiança da ditadura, que nunca se mostrou relevante como personalidade do futebol tampouco ostenta uma ficha corrida de serviços prestados ao clube. O fez meramente por conveniência, se curvando à pequena política da cartolagem e contrariando sua origem democrática.

O Vasco, que completa 120 anos em agosto, foi fundado por imigrantes portugueses e se tornou pioneiro ao abrir portas para negros e operários. A homenagem ao Coronel Nunes, chancelada pelo Conselho, é uma afronta à história do clube, tal qual a última eleição que levou Campello ao poder graças ao arranjo político orquestrado por Eurico Miranda. A diretoria cruzmaltina ainda não se pronunciou para justificar a concessão do título ao cartola da CBF. Hoje à noite, na Argentina, dois dos times mais tradicionais da América do Sul estarão frente a frente. Mas apenas o Racing foi capaz de levantar a voz contra os fantasmas da ditadura que tanto sangue derramou pelo continente. Ainda que vença no campo, o Vasco já amarga um vergonhoso revés no duelo institucional. (Transcrito do El País)

Xavi: “Cultivar o talento é o futuro do futebol”

1524138733_790815_1524138987_noticia_normal_recorte1

Por Xavi Hernández, no El País

Vinte anos depois de minha estreia no FC Barcelona, o futebol ainda me causa a mesma emoção, paixão e alegria do que quando entrei em campo pela primeira vez. Sempre me perguntam como o futebol evoluirá, qual é o seu futuro. Para mim, a resposta é tão simples como emocionante: talento.

futebol alcançou um nível incrível de desenvolvimento físico. A maioria dos dados que recebemos através dos meios de comunicação está relacionada com o rendimento físico; um jogador correu 12 ou mesmo 13 quilômetros, alcançou uma determinada velocidade máxima. Claro que isso é importante. Mas acho que alcançamos um limite do desenvolvimento físico. O jogador não pode correr mais, a intensidade não pode ser mais alta, pois já equivale a quase metade de uma maratona em dois jogos. Acredito que é pelo lado do talento, assim como do conhecimento técnico e tático, que ainda podemos melhorar.

Acho que esta pode ser a próxima grande evolução do futebol. O talento é o que faz a diferença em uma partida. A cada semana acompanho jogos de todo o mundo, muitos – talvez até demais, se você for perguntar à minha mulher. Em todos os países e em todos os campeonatos, procuro times que joguem um futebol ofensivo e jogadores com talento. Para mim, o fator decisivo não são os jogadores com presença física, e sim aqueles que dão sentido e estrutura ao jogo.

Em poucas semanas veremos muitos jogadores que se destacam. Espero assistir e me divertir com a Copa do Mundo da FIFA 2018 na Rússia, porque um Mundial é algo realmente incrível. Tive a sorte de disputar quatro, e a honra de levantar o troféu na África do Sul junto com meus companheiros da seleção espanhola. Neste ano, será a primeira vez desde que eu era adolescente que poderei viver uma Copa do Mundo como torcedor.

1524138733_790815_1524139035_sumario_normal_recorte1

Irei à Rússia com o Generation Amazing, um programa criado pelos organizadores da Copa do Catar-2022 que promove a inclusão e o desenvolvimento social através do futebol no Catar e em toda a região. Entre outras atividades, levaremos os operários que trabalham na construção dos estádios catarianos para o jogo inaugural da Copa do Mundo na Rússia. É um modo de retribuir o esforço daqueles que estão ajudando a construir este país.

No Barcelona aprendi a ser altruísta e empático e a ajudar a outros. São valores que pude colocar em prática no Oriente Médio graças ao Generation Amazing. Há alguns anos viajei à Jordânia com esse programa e conheci Hadeel e outras garotas residentes em um campo de refugiados que agora conta com um espaço seguro onde elas também podem jogar futebol. Inspira-me a paixão pelo futebol que vejo nesta região. Afinal de contas, treinar é uma oportunidade para ajudar os jovens jogadores a alcançarem seu máximo potencial neste esporte que todos amamos.

Esta é uma etapa importante para o meu clube no Catar, o Al Sadd. Começamos a etapa final da temporada nas finais das duas competições catarianas, a Copa do Catar e a Copa do Emir, e já classificados para a próxima fase da Liga dos Campeões da Ásia.

Há um ano obtivemos uma vitória memorável na final da Copa do Emir, que teve lugar no estádio Khalifa, a primeira sede terminada da Copa de 2022. Nossa experiência no Catar, tanto para mim como para minha família, está sendo fantástica. A cada dia há mais cultura futebolística ao nosso redor, especialmente quando faltam apena quatro anos para a Copa do Catar-2022.

O país está crescendo em geral, mas especialmente em termos de futebol e esporte. É um prazer estar aqui e uma adaptação perfeita da minha parte. Aqui tenho tempo de me concentrar em estudar para ser treinador e ver diferentes metodologias de treinamento na Aspire Academy. Acredito que esteja no melhor lugar para crescer como treinador, já pensando no meu futuro.

Neste mês de abril vou tirar a minha carteira de treinador em Madri, e gostaria de expressar minha gratidão à Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) e aos meus colegas que também participarão desse curso intensivo. Será um prazer dividir a sala de aula com grandes do futebol e bons amigos com quem compartilhei tantos confrontos importantes dentro de campo ao longo dos anos.

Também gostaria de expressar meu agradecimento ao meu clube e às principais autoridades do futebol catariano por acomodarem esse arranjo, que me permitirá continuar jogando pelo Al Sadd enquanto me preparo como treinador.

Perez Esquivel e Leonardo Boff são impedidos de visitar Lula na prisão

Adolfo-Perez-Esquivel-barrado-na-Polícia-Federal

Um princípio adotado pela ONU desde a prisão de Nelson Mandela, o de que todo preso político tem direito a contato com o mundo exterior, foi mais uma vez descumprido pela Justiça do Paraná, que barrou a visita do argentino Adolfo Perez Esquivel (Prêmio Nobel da Paz de 1980) a Lula. A decisão é da juíza Carolina Lebbos, responsável pela custódia do ex-presidente Lula na 12ª Vara de Execuções Penais.

O ato vem se juntar a uma série de afrontas a normas de Direito, confirmando a conduta de truculência e autoritarismo dos magistrados de Curitiba, até porque a juíza disse que “é problema dele” (Esquivel). Leonardo Boff, que acompanha Esquivel, também foi barrado nesta quinta-feira e decidiu ficar na calçada até que sua visita a Lula seja permitida.

DbKnkvhXUAUW-ai

Remo negocia volta de Pimentinha e deve anunciar ex-bicolor como novo executivo

remo2x2confianca-se-15

O Remo negocia com o atacante Pimentinha para reforçar a equipe na Série C. O jogador se desligou do Luverdense e demonstrou interesse em retornar ao Evandro Almeida, de onde saiu no ano passado em situação até hoje mal explicada. Às vésperas do último jogo do Remo no Brasileiro, Pimentinha alegou contusão e não viajou com a delegação para enfrentar o Salgueiro (PE).

Com a quase certa saída de Felipe Marques para o Londrina (PR), o técnico Givanildo Oliveira pediu a contratação de outro atacante com características parecidas e Pimentinha voltou a ser cogitado no clube, conforme informou o repórter Paulo Caxiado na noite de quarta-feira (18), com exclusividade.

Em entrevista à Rádio Clube, na manhã de hoje, o diretor Miléo Jr. confirmou a negociação, mas disse que a contratação ainda não foi fechada. Quanto à função de executivo de futebol, o nome mais provável para o lugar de Zé Renato é o do ex-zagueiro do Paissandu Ari Barros, que também defendeu o Águia de Marabá. Ari trabalhou com Givanildo e, nos últimos, atuou como empresário de jogadores.

Um milhão de índios brasileiros em luta pela sobrevivência

indio-600x399

Há, no Brasil, cerca de 1 milhão de indígenas de mais de 250 etnias distintas vivendo em 13,8% do território nacional. Em meio às ameaças de violência, riscos de perda de direitos em decorrência da pressão dos latifundiários, mineradoras e usinas, alguns povos indígenas lutam por mais autonomia, tentando conquistar, com a comercialização de seus produtos e com o turismo, alternativas para diminuir a dependência dos recursos cada vez mais escassos da Fundação Nacional do Índio (Funai).

Segundo especialistas consultados pela Agência Brasil, estes são alguns dos principais desafios a serem lembrados neste 19 de abril – o Dia do Índio. Para serem bem-sucedidos, nessa empreitada visando a venda de suas produções e a exploração dos recursos naturais das terras indígenas (TIs), os povos indígenas têm como desafio buscar maior representatividade no Congresso Nacional, uma vez que cabe ao Legislativo Federal criar políticas específicas que deem segurança jurídica para que eles consigam o desenvolvimento financeiro do qual sempre foram excluídos.

Alguns povos indígenas que tiveram suas terras homologadas têm conseguido bons resultados por meio da comercialização de seus produtos. Levantamento apresentado à Agência Brasil pelo Instituto Socioambiental (ISA) aponta que, somente na safra 2017/2018, índios da etnia Kaiapó do Pará obtiveram cerca de R$ 1 milhão com a venda de 200 toneladas de castanha. Outros R$ 39 mil foram obtidos com a venda de sementes de cumaru, planta utilizada para a fabricação de medicamentos, aromas, bem como para indústria madeireira.

A castanha rendeu aos Xipaya e Kuruaya, no Pará, R$ 450 mil, dinheiro obtido com a venda de 90 toneladas do produto. Cerca de 6 mil peças de artesanato oriundo das Terras Indígenas do Alto e do Médio Rio Negro renderam R$ 250 mil aos índios da região. Já os indígenas da TI Yanomami (Roraima e Amazonas) tiveram uma receita de R$ 77 mil com a venda de 253 quilos de cogumelos.

Os exemplos de produções financeiramente bem-sucedidas abrangem também os Baniwa (AM), que venderam 2.183 potes de pimenta, que renderam R$ 46,3 mil. As 16 etnias que vivem no Parque do Xingu obtiveram R$ 28,5 mil com a venda de 459 quilos de mel.

O presidente da Funai, general Franklimberg Ribeiro Freitas, disse que cabe aos indígenas a escolha do modelo de desenvolvimento a ser adotado. “A Funai deve apoiá-los para atingir seus objetivos”, afirmou à Agência Brasil. “Em diversas regiões, os índios estão produzindo visando à comercialização de seus produtos ou mesmo serviços, como o turismo ecológico. Essas experiências mostram que a extração sustentável, a comercialização de produtos e o turismo podem ajudar a ampliar o desenvolvimento das Terras Indígenas”, disse o presidente do órgão indigenista. 

Franklimberg destacou que entre as etnias que produzem e avançam na comercialização de produtos e serviços estão os Kaiapós do Pará.  “Eles produzem toneladas de castanha e agora reivindicam máquinas para beneficiar o produto”, ressaltou. “Há também o cultivo e a venda de camarão, pelos Potiguara da Paraíba, que está bastante avançada. Tem até a lavoura de soja dos Pareci, no Mato Grosso”.

O presidente da Funai acrescentou ainda que: “No caso do minério e dos recursos hídricos, é preciso ainda normatizar e regulamentar essas atividades, o que cabe ao Congresso Nacional fazer”.

Para o antropólogo e professor da Universidade de Brasília Stephen Baines, os indígenas são preteridos na relação com os empresários e donos de terras. “Há uma desproporção absurda no Legislativo brasileiro a favor daqueles que querem o retrocesso dos direitos dos povos indígenas, previstos na Constituição de 1988 e na legislação internacional”, disse à Agência Brasil.

“Temos atualmente um Congresso Nacional extremamente conservador que representa – por meio de parlamentares ligados à bancada ruralista, ao agronegócio, às empresas de mineração e aos consórcios de mineração e de usinas hidrelétricas – a maior ameaça e o maior ataque aos direitos dos povos indígenas”, afirmou o antropólogo.

Segundo Baines, é difícil para os índios planejar grandes voos do ponto de vista de recursos, sem que, antes, seja resolvida a questão da gestão territorial, o que inclui a segurança jurídica que só é possível a eles após terem suas terras demarcadas e homologadas.

“É fundamental que se tenha respeito pelos índios e pela sua forma de viver e produzir. Para tanto, é necessária a efetivação dos direitos previstos tanto na Constituição como pelas convenções internacionais”, disse Baines citando convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os direitos dos povos indígenas.

Stephen Baines afirmou que a violência contra os índios ainda é intensa em várias comunidades, como nos estados do Pará, Mato Grosso e Roraima. “Há muitas ameaças contra os índios, feitas por latifundiários, empresas e pelos capangas, que matam lideranças locais que lutam pelos seus direitos. Quer saber onde os índios correm mais riscos? Basta olhar para as terras indígenas que estão próximas a latifúndios”, disse.

Baines citou como exemplo o ocorrido na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR), onde fazendeiros que vieram de outras regiões se instalaram. “Eles invadiram as áreas indígenas para desenvolver produção industrial de arroz. Para expulsar os índios da região, usavam capangas. Até indígenas foram pagos por eles para intimidar as lideranças”, afirmou.  “Atualmente, muitos daqueles invasores são atualmente influentes políticos locais e federais e, com a ajuda da mídia, passam a falsa ideia de que há muita miséria entre os indígenas. Os indígenas negam isso, mas não conseguem espaço na mídia para desmentir a história falsa.”

À Agência Brasil, o integrante da Frente Parlamentar da Agropecuária e líder do PSDB na Câmara, deputado Nilson Leitão (MT), disse que “nenhum projeto” aprovado pelo Congresso Nacional traz prejuízos aos interesses dos indígenas. “Pode ir contra o interesse de intermediários, interventores ou organizações sociais, que dizem trabalhar para o índio. Nenhum deputado que eu conheço, que defenda o setor produtivo, trabalha contra o índio”, disse.

Nilson Leitão afirmou que o “verdadeiro parceiro do índio são os produtores”. “[Indígenas e produtores] são vizinhos, moram na mesma localidade, têm as mesmas peculiaridades e colaboram um com o outro. Não existe conflito entre eles a não ser aqueles provocados por organizações sociais”, disse.

O antropólogo alertou sobre “marco temporal”, medida que divide opiniões, busca produzir a área das terras indígenas, colocando como referência para as demarcações as terras que estavam ocupadas na época em que a Constituição foi promulgada [1988], ou seja, quando os “indígenas foram removidos e expulsos de suas terras em todo o Brasil”.

Neste cenário, as manifestações indígenas ganharam mais força, como o caso do Acampamento Terra Livre, organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Formado em 2004, é a maior mobilização de povos indígenas do país. Em 2017, mais de 3 mil indígenas de 200 povos participaram da manifestação em Brasília.

No próximo dia 23, haverá a 15ª edição da mobilização, em Brasília, em defesa da manutenção e efetivação dos diretos dos povos indígenas. Os diversos grupos indígenas apelam por mais mecanismos de segurança jurídica para o desenvolvimento e comercialização de seus produtos. “A segurança jurídica não pode ficar restrita a grandes grupos econômicos. Além de ter seus direitos respeitados e a liberdade para explorar as terras como acharem melhor, os indígenas precisam também de incentivos para produzir, respeitando seus próprios modos de produção”, argumentou Stephen Baines

Segundo o antropólogo, o conhecimento tradicional sobre a relação com o ambiente faz parte dos produtos indígenas e, ao mesmo tempo, valoriza a questão ambiental. “Não há dúvida de que o fato de serem feitos por indígenas dá ao produto um diferencial, por serem ecologicamente seguros. Inclusive há lojas na Europa muitas lojas que vendem produtos industrializados como sendo indígenas. Alguns até usam uma pequena quantidade de óleo de castanha kaiapó para associar a imagem do produto à ideia de produção sustentável em suas campanhas de marketing”.

Em menor escala, a forma de produção indígena é bastante diferente da exploração industrial, que, segundo ele, é desastrosa e provoca impactos ambientais irreversíveis. “Quando eles optam pela mineração, eles o fazem por meio de uma maneira própria de garimpagem em pequena escala. Extraem somente o necessário, pensando nas gerações futuras. Não querem empresas porque sabem que elas tiram tudo de uma vez, não deixando nada para o futuro”. Para Baines, é importante a adoção de cotas indígenas no ensino superior, como fez de forma pioneira a Universidade de Brasília (UnB). Em 2017, havia 67 alunos indígenas de 15 povos. Destes, 42 faziam graduação e 25 pós-graduação.

O assessor parlamentar da Funai Sebastião Terena disse que as lideranças indígenas têm trabalhado também para ampliar a representatividade de índios na política brasileira nas eleições de 2018, em especial no Congresso Nacional. As dificuldades, no entanto, não são poucas. Na história do Parlamento brasileiro, o único indígena eleito foi Mário Juruna, em 1982, para a Câmara dos Deputados.

Pelos dados de Terena, há apenas 117 vereadores indígenas cumprindo mandato em 25 unidades federativas, além de quatro prefeitos e um vice-prefeito. “Apesar da falta de recursos e de infraestrutura, pela primeira vez teremos pré-candidatos indígenas em pelo menos 10 estados e no Distrito Federal”, disse Terena à Agência Brasil. A definição dessas candidaturas deve ocorrer em julho.

O antropólogo Stephen Baines lamenta que “apenas uma pequena minoria de parlamentares luta pelos direitos indígenas”. “Em parte, isso se explica porque muito do dinheiro do agronegócio e das empresas e consórcios acaba sendo usado em campanhas eleitorais das bancadas contrárias aos povos indígenas. E muito provavelmente parte do financiamento vantajoso que é direcionado ao agronegócio acaba servindo também para financiar as campanhas dessa bancada que faz de tudo para inviabilizar candidaturas indígenas”, acrescentou.

Na avaliação de Baines, a data de hoje – Dia do Índio – é importante não só para o protagonismo indígena, mas também para chamar a atenção das pessoas interessadas na defesa dos direitos indígenas. (Da Agência Brasil)