Dia: 19 de abril, 2018
O mundo acompanha a farsa
Enquanto isso…
Vasco recebe críticas por homenagear coronel Nunes como “benfeitor”
Por Breiller Pires, no El País
Existem basicamente duas formas de uma instituição reverenciar um cidadão. A mais racional é pela notoriedade, seja por serviços prestados ou por personificar suas bandeiras institucionais. A outra, um tanto discutível, é por conveniência e interesses. Na última terça-feira, o Vasco da Gama, por meio de seu presidente Alexandre Campello, aproveitou a visita à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para prestar homenagem ao Coronel Nunes, mandatário da entidade que substitui, de forma decorativa até passar o bastão ao recém-eleito Rogério Caboclo, o investigado Marco Polo Del Nero, banido pela Fifa após denúncias de corrupção no cargo.
O dirigente da CBF recebeu o título de sócio proprietário benfeitor do clube, uma honraria concedida a torcedores ilustres, personalidades e apoiadores. Durante as gestões de Roberto Dinamite, ex-jogadores que levantaram taças memoráveis pelo Vasco, como Felipe, Pedrinho, Juninho Pernambucano e Edmundo, foram agraciados com o título. No mesmo período, vascaínos pouco atuantes, porém célebres, a exemplo da apresentadora Fátima Bernardes e do cantor Roberto Carlos, receberam a distinção. Dinamite ainda homenageou o então governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que sonhava ser presidente do clube, mas hoje, preso, acumula penas de 87 anos pelos crimes de corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Voltemos ao Coronel Nunes. Ele se diz vascaíno, mas também torce pelo Paysandu, de Belém. Comandou por quase duas décadas a Federação Paraense de Futebol, de onde só saiu para se dedicar à presidência da CBF após uma manobra política que resguardou o círculo de poder de Del Nero. Com uma série de gafes no currículo e parcos conhecimentos sobre gestão do futebol, raramente se expõe ao público e à imprensa. Aos 81 anos, já comparou a confederação a uma unidade militar.
Na época da ditadura, como oficial da PM, colaborou intensamente com as atividades do regime militar no Norte do país. Apesar de ter sido um fiel escudeiro dos governos ditatoriais, o Coronel Nunes, segundo revelou a reportagem da Agência Pública, em 2016, recebe cerca de 15.000 reais mensais como anistiado político da Força Aérea Brasileira, onde serviu antes de integrar a polícia.
Nesta quinta-feira, o Vasco joga pela Copa Libertadores contra o Racing, que, há algumas semanas, se juntou a vários clubes de futebol para cobrar o julgamento de militares responsáveis pelos crimes de tortura e assassinatos durante a ditadura na Argentina, lembrando os 42 anos do golpe de Estado liderado pelo general Jorge Videla. Já o time carioca, quase 50 anos depois do AI-5, decreto que acirrou a violenta repressão militar no Brasil, resolveu agradar um reconhecido homem de confiança da ditadura, que nunca se mostrou relevante como personalidade do futebol tampouco ostenta uma ficha corrida de serviços prestados ao clube. O fez meramente por conveniência, se curvando à pequena política da cartolagem e contrariando sua origem democrática.
O Vasco, que completa 120 anos em agosto, foi fundado por imigrantes portugueses e se tornou pioneiro ao abrir portas para negros e operários. A homenagem ao Coronel Nunes, chancelada pelo Conselho, é uma afronta à história do clube, tal qual a última eleição que levou Campello ao poder graças ao arranjo político orquestrado por Eurico Miranda. A diretoria cruzmaltina ainda não se pronunciou para justificar a concessão do título ao cartola da CBF. Hoje à noite, na Argentina, dois dos times mais tradicionais da América do Sul estarão frente a frente. Mas apenas o Racing foi capaz de levantar a voz contra os fantasmas da ditadura que tanto sangue derramou pelo continente. Ainda que vença no campo, o Vasco já amarga um vergonhoso revés no duelo institucional. (Transcrito do El País)
Ode à amizade verdadeira
Xavi: “Cultivar o talento é o futuro do futebol”
Por Xavi Hernández, no El País
Vinte anos depois de minha estreia no FC Barcelona, o futebol ainda me causa a mesma emoção, paixão e alegria do que quando entrei em campo pela primeira vez. Sempre me perguntam como o futebol evoluirá, qual é o seu futuro. Para mim, a resposta é tão simples como emocionante: talento.
O futebol alcançou um nível incrível de desenvolvimento físico. A maioria dos dados que recebemos através dos meios de comunicação está relacionada com o rendimento físico; um jogador correu 12 ou mesmo 13 quilômetros, alcançou uma determinada velocidade máxima. Claro que isso é importante. Mas acho que alcançamos um limite do desenvolvimento físico. O jogador não pode correr mais, a intensidade não pode ser mais alta, pois já equivale a quase metade de uma maratona em dois jogos. Acredito que é pelo lado do talento, assim como do conhecimento técnico e tático, que ainda podemos melhorar.
Acho que esta pode ser a próxima grande evolução do futebol. O talento é o que faz a diferença em uma partida. A cada semana acompanho jogos de todo o mundo, muitos – talvez até demais, se você for perguntar à minha mulher. Em todos os países e em todos os campeonatos, procuro times que joguem um futebol ofensivo e jogadores com talento. Para mim, o fator decisivo não são os jogadores com presença física, e sim aqueles que dão sentido e estrutura ao jogo.
Em poucas semanas veremos muitos jogadores que se destacam. Espero assistir e me divertir com a Copa do Mundo da FIFA 2018 na Rússia, porque um Mundial é algo realmente incrível. Tive a sorte de disputar quatro, e a honra de levantar o troféu na África do Sul junto com meus companheiros da seleção espanhola. Neste ano, será a primeira vez desde que eu era adolescente que poderei viver uma Copa do Mundo como torcedor.
Irei à Rússia com o Generation Amazing, um programa criado pelos organizadores da Copa do Catar-2022 que promove a inclusão e o desenvolvimento social através do futebol no Catar e em toda a região. Entre outras atividades, levaremos os operários que trabalham na construção dos estádios catarianos para o jogo inaugural da Copa do Mundo na Rússia. É um modo de retribuir o esforço daqueles que estão ajudando a construir este país.
No Barcelona aprendi a ser altruísta e empático e a ajudar a outros. São valores que pude colocar em prática no Oriente Médio graças ao Generation Amazing. Há alguns anos viajei à Jordânia com esse programa e conheci Hadeel e outras garotas residentes em um campo de refugiados que agora conta com um espaço seguro onde elas também podem jogar futebol. Inspira-me a paixão pelo futebol que vejo nesta região. Afinal de contas, treinar é uma oportunidade para ajudar os jovens jogadores a alcançarem seu máximo potencial neste esporte que todos amamos.
Esta é uma etapa importante para o meu clube no Catar, o Al Sadd. Começamos a etapa final da temporada nas finais das duas competições catarianas, a Copa do Catar e a Copa do Emir, e já classificados para a próxima fase da Liga dos Campeões da Ásia.
Há um ano obtivemos uma vitória memorável na final da Copa do Emir, que teve lugar no estádio Khalifa, a primeira sede terminada da Copa de 2022. Nossa experiência no Catar, tanto para mim como para minha família, está sendo fantástica. A cada dia há mais cultura futebolística ao nosso redor, especialmente quando faltam apena quatro anos para a Copa do Catar-2022.
O país está crescendo em geral, mas especialmente em termos de futebol e esporte. É um prazer estar aqui e uma adaptação perfeita da minha parte. Aqui tenho tempo de me concentrar em estudar para ser treinador e ver diferentes metodologias de treinamento na Aspire Academy. Acredito que esteja no melhor lugar para crescer como treinador, já pensando no meu futuro.
Neste mês de abril vou tirar a minha carteira de treinador em Madri, e gostaria de expressar minha gratidão à Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) e aos meus colegas que também participarão desse curso intensivo. Será um prazer dividir a sala de aula com grandes do futebol e bons amigos com quem compartilhei tantos confrontos importantes dentro de campo ao longo dos anos.
Também gostaria de expressar meu agradecimento ao meu clube e às principais autoridades do futebol catariano por acomodarem esse arranjo, que me permitirá continuar jogando pelo Al Sadd enquanto me preparo como treinador.
Perez Esquivel e Leonardo Boff são impedidos de visitar Lula na prisão
Um princípio adotado pela ONU desde a prisão de Nelson Mandela, o de que todo preso político tem direito a contato com o mundo exterior, foi mais uma vez descumprido pela Justiça do Paraná, que barrou a visita do argentino Adolfo Perez Esquivel (Prêmio Nobel da Paz de 1980) a Lula. A decisão é da juíza Carolina Lebbos, responsável pela custódia do ex-presidente Lula na 12ª Vara de Execuções Penais.
O ato vem se juntar a uma série de afrontas a normas de Direito, confirmando a conduta de truculência e autoritarismo dos magistrados de Curitiba, até porque a juíza disse que “é problema dele” (Esquivel). Leonardo Boff, que acompanha Esquivel, também foi barrado nesta quinta-feira e decidiu ficar na calçada até que sua visita a Lula seja permitida.
Só para evitar futuros enganos
Tem que ver isso aí…
Remo negocia volta de Pimentinha e deve anunciar ex-bicolor como novo executivo
O Remo negocia com o atacante Pimentinha para reforçar a equipe na Série C. O jogador se desligou do Luverdense e demonstrou interesse em retornar ao Evandro Almeida, de onde saiu no ano passado em situação até hoje mal explicada. Às vésperas do último jogo do Remo no Brasileiro, Pimentinha alegou contusão e não viajou com a delegação para enfrentar o Salgueiro (PE).
Com a quase certa saída de Felipe Marques para o Londrina (PR), o técnico Givanildo Oliveira pediu a contratação de outro atacante com características parecidas e Pimentinha voltou a ser cogitado no clube, conforme informou o repórter Paulo Caxiado na noite de quarta-feira (18), com exclusividade.
Em entrevista à Rádio Clube, na manhã de hoje, o diretor Miléo Jr. confirmou a negociação, mas disse que a contratação ainda não foi fechada. Quanto à função de executivo de futebol, o nome mais provável para o lugar de Zé Renato é o do ex-zagueiro do Paissandu Ari Barros, que também defendeu o Águia de Marabá. Ari trabalhou com Givanildo e, nos últimos, atuou como empresário de jogadores.
Um milhão de índios brasileiros em luta pela sobrevivência
Há, no Brasil, cerca de 1 milhão de indígenas de mais de 250 etnias distintas vivendo em 13,8% do território nacional. Em meio às ameaças de violência, riscos de perda de direitos em decorrência da pressão dos latifundiários, mineradoras e usinas, alguns povos indígenas lutam por mais autonomia, tentando conquistar, com a comercialização de seus produtos e com o turismo, alternativas para diminuir a dependência dos recursos cada vez mais escassos da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Segundo especialistas consultados pela Agência Brasil, estes são alguns dos principais desafios a serem lembrados neste 19 de abril – o Dia do Índio. Para serem bem-sucedidos, nessa empreitada visando a venda de suas produções e a exploração dos recursos naturais das terras indígenas (TIs), os povos indígenas têm como desafio buscar maior representatividade no Congresso Nacional, uma vez que cabe ao Legislativo Federal criar políticas específicas que deem segurança jurídica para que eles consigam o desenvolvimento financeiro do qual sempre foram excluídos.
Alguns povos indígenas que tiveram suas terras homologadas têm conseguido bons resultados por meio da comercialização de seus produtos. Levantamento apresentado à Agência Brasil pelo Instituto Socioambiental (ISA) aponta que, somente na safra 2017/2018, índios da etnia Kaiapó do Pará obtiveram cerca de R$ 1 milhão com a venda de 200 toneladas de castanha. Outros R$ 39 mil foram obtidos com a venda de sementes de cumaru, planta utilizada para a fabricação de medicamentos, aromas, bem como para indústria madeireira.
A castanha rendeu aos Xipaya e Kuruaya, no Pará, R$ 450 mil, dinheiro obtido com a venda de 90 toneladas do produto. Cerca de 6 mil peças de artesanato oriundo das Terras Indígenas do Alto e do Médio Rio Negro renderam R$ 250 mil aos índios da região. Já os indígenas da TI Yanomami (Roraima e Amazonas) tiveram uma receita de R$ 77 mil com a venda de 253 quilos de cogumelos.
Os exemplos de produções financeiramente bem-sucedidas abrangem também os Baniwa (AM), que venderam 2.183 potes de pimenta, que renderam R$ 46,3 mil. As 16 etnias que vivem no Parque do Xingu obtiveram R$ 28,5 mil com a venda de 459 quilos de mel.
O presidente da Funai, general Franklimberg Ribeiro Freitas, disse que cabe aos indígenas a escolha do modelo de desenvolvimento a ser adotado. “A Funai deve apoiá-los para atingir seus objetivos”, afirmou à Agência Brasil. “Em diversas regiões, os índios estão produzindo visando à comercialização de seus produtos ou mesmo serviços, como o turismo ecológico. Essas experiências mostram que a extração sustentável, a comercialização de produtos e o turismo podem ajudar a ampliar o desenvolvimento das Terras Indígenas”, disse o presidente do órgão indigenista.
Franklimberg destacou que entre as etnias que produzem e avançam na comercialização de produtos e serviços estão os Kaiapós do Pará. “Eles produzem toneladas de castanha e agora reivindicam máquinas para beneficiar o produto”, ressaltou. “Há também o cultivo e a venda de camarão, pelos Potiguara da Paraíba, que está bastante avançada. Tem até a lavoura de soja dos Pareci, no Mato Grosso”.
O presidente da Funai acrescentou ainda que: “No caso do minério e dos recursos hídricos, é preciso ainda normatizar e regulamentar essas atividades, o que cabe ao Congresso Nacional fazer”.
Segundo o antropólogo, o conhecimento tradicional sobre a relação com o ambiente faz parte dos produtos indígenas e, ao mesmo tempo, valoriza a questão ambiental. “Não há dúvida de que o fato de serem feitos por indígenas dá ao produto um diferencial, por serem ecologicamente seguros. Inclusive há lojas na Europa muitas lojas que vendem produtos industrializados como sendo indígenas. Alguns até usam uma pequena quantidade de óleo de castanha kaiapó para associar a imagem do produto à ideia de produção sustentável em suas campanhas de marketing”.
Em menor escala, a forma de produção indígena é bastante diferente da exploração industrial, que, segundo ele, é desastrosa e provoca impactos ambientais irreversíveis. “Quando eles optam pela mineração, eles o fazem por meio de uma maneira própria de garimpagem em pequena escala. Extraem somente o necessário, pensando nas gerações futuras. Não querem empresas porque sabem que elas tiram tudo de uma vez, não deixando nada para o futuro”. Para Baines, é importante a adoção de cotas indígenas no ensino superior, como fez de forma pioneira a Universidade de Brasília (UnB). Em 2017, havia 67 alunos indígenas de 15 povos. Destes, 42 faziam graduação e 25 pós-graduação.
O assessor parlamentar da Funai Sebastião Terena disse que as lideranças indígenas têm trabalhado também para ampliar a representatividade de índios na política brasileira nas eleições de 2018, em especial no Congresso Nacional. As dificuldades, no entanto, não são poucas. Na história do Parlamento brasileiro, o único indígena eleito foi Mário Juruna, em 1982, para a Câmara dos Deputados.
Pelos dados de Terena, há apenas 117 vereadores indígenas cumprindo mandato em 25 unidades federativas, além de quatro prefeitos e um vice-prefeito. “Apesar da falta de recursos e de infraestrutura, pela primeira vez teremos pré-candidatos indígenas em pelo menos 10 estados e no Distrito Federal”, disse Terena à Agência Brasil. A definição dessas candidaturas deve ocorrer em julho.
O antropólogo Stephen Baines lamenta que “apenas uma pequena minoria de parlamentares luta pelos direitos indígenas”. “Em parte, isso se explica porque muito do dinheiro do agronegócio e das empresas e consórcios acaba sendo usado em campanhas eleitorais das bancadas contrárias aos povos indígenas. E muito provavelmente parte do financiamento vantajoso que é direcionado ao agronegócio acaba servindo também para financiar as campanhas dessa bancada que faz de tudo para inviabilizar candidaturas indígenas”, acrescentou.
Na avaliação de Baines, a data de hoje – Dia do Índio – é importante não só para o protagonismo indígena, mas também para chamar a atenção das pessoas interessadas na defesa dos direitos indígenas. (Da Agência Brasil)