No reino dos caras-de-pau

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Frase supimpa do ministro da Justiça: “A população está cansada de corrupção”. Tudo muito bacana se o próprio não fosse ex-advogado do PCC (de Marcola), ex-secretário de Geraldo Alckmin (escândalo da merenda, trensalão, Alstom e outras bandalheiras) e ex-advogado do pilantra-mor, Eduardo Cunha.

Ainda só preto, pobre, prostituta e petista

POR EDUARDO GUIMARÃES, no Brasil247

Se você colocar a frase “Preto, pobre, prostituta e petista” entre aspas e a jogar no Google, este link será o primeiro resultado. É de matéria publicada nesta página em 2013, por ocasião da prisão do ex-deputado pelo PT de SP José Genoino. O petista em questão fora condenado “por corrupção”. Diante disso, naquela matéria reproduzi uma foto da mansão que ele auferiu com seus “atos corruptos” e que, graciosamente, reproduzi de novo no alto desta página.

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Genoino quase morreu do coração na cadeia, tal foi seu sofrimento. Um homem de vida impecavelmente limpa que amargou a humilhação das humilhações para quem é honesto. Depois dele, vários outros petistas foram presos. E alguns até já cumpriram pena e foram soltos. Desde 2013, quando começaram a prender petistas a torto e a direito, com certeza prenderam algum culpado, mas certamente prenderam inocentes, entre os quais o próprio Genoino.

Porém, de lá para cá nada mudou. Daquele post de três anos atrás para este, ainda só quem vai para cadeia no Brasil é preto, pobre, prostituta e petista (simpatizantes incluídos). Não se tem notícia de políticos de outros partidos que tenham passado por semelhante castigo nem quando provas muito mais sólidas pesam contra si – mais sólidas do que as que condenaram petistas.

À frente de todos os escândalos e de todas as provas de que não há democracia no Brasil está a situação de Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara dos Deputados. Para que se possa mensurar quão bandido ele é, sua mulher lavou um milhão de dólares comprando roupas e sapatos de grife na Europa, sem falar nos milhões em propinas encontrados em suas contas bancárias etc., etc.

Sem prender Eduardo Cunha, não deveria ser permitido prender mais ninguém no Brasil. Recentemente, áudio de conversa entre Sergio Machado, o corrupto que dirigia a Transpetro, e o ex-ministro do Planejamento Romero Jucá revelou que eles planejavam interferir nas investigações da Lava Jato – e esse é o crime que mais tem levado gente para os cárceres de Curitiba.

Mais do que tentativa de obstruir a Justiça, aquela conversa mostrou que grande parte dos deputados e senadores que votou pela abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff agiu assim para parar a Lava Jato, já que foi ela quem garantiu que a investigação continuaria, até que foi afastada.

Das conversas perigosas de Machado surgiram denúncias gravíssimas contra vários políticos tucanos e peemedebistas. Pelos motivos que levaram petistas à cadeia, há vários tucanos e peemedebistas que poderiam estar presos, mas já se tornou senso comum que só político petista vai preso. E se a premissa que sustenta essa realidade fosse verdadeira, o Brasil estaria bem na foto.

Pense comigo, leitor: se só político petista vai preso é porque os outros são todos inocentes ou porque nenhum outro fez nada tão grave que mereça cadeia antes mesmo do julgamento, de modo que intuímos que extinguindo o PT extinguiremos toda a corrupção no Brasil, o que, aliás, é dito por certos comentaristas deste site.

Mesmo o antipetista mais virulento não terá coragem de proferir semelhante sentença sem cair na gargalhada pelo absurdo da tese. É óbvio que corrupção não tem partido, não tem região, não tem ideologia, não tem etnia. Corrupção é ato praticado por seres humanos – nesse quesito, os animais são superiores a nós.

Ora, mas se qualquer um pode praticar corrupção, por que, até hoje, só políticos petistas foram presos? Por que não prendem Cunha ou Jucá? No caso do segundo, por exemplo, poderia ter sido preso pelo mesmo motivo que levou Delcidio do Amaral à cadeia. Já Eduardo Cunha, este tem tentado incessantemente interferir na Lava Jato e nada acontece.

E Aécio Neves? Poucos políticos foram citados tantas vezes quanto ele na Lava Jato. Há indícios, inclusive, de que tenta atrapalhar a investigação. Aliás, estamos em um país em que um deputado, dono de um helicóptero flagrado com meia tonelada de cocaína, nem foi inquerido sobre o episódio, enquanto que pessoas acusadas sem provas por bandidos estão trancafiadas cumprindo pena sem sequer terem sido julgadas.

De 2013 para cá, ainda só quem vai para cadeia, neste país, é preto, pobre, prostituta e petista, os quatro pês da desigualdade de direitos e oportunidades que, ao lado da desigualdade econômica, faz deste país um dos países mais injustos do mundo.

Juiz admite que não apreciou defesa de Lula

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POR FERNANDO BRITO, no Tijolaço

A imprensa, louca para condenar Lula – por qualquer coisa, não importa – faz estardalhaço com a decisão do juiz Ricardo Leite, substituto da 10ª Vara Federal Criminal de Brasília por ter recebido a denúncia do Ministério Público contra o ex-presidente, Delcídio do Amaral e outros. Não poderia ter agido de outra forma, por que – ao menos em relação a Delcídio – há indício material expressivo – a gravação feita por Bernardo, filho de Nestor Cerveró – de tentativa de obstrução da Justiça.

Mas o próprio juiz deixa claro, em sua decisão, que nem sequer examinou os argumentos das defesas – exceto o pedido de Lula para apresentar previamente a sua – e que, portanto, está recebendo a denúncia sem ouvir os acusados:

Quanto às defesas encartadas aos autos antes do recebimento da peça acusatória, entendo que este não é o momento adequado para sua análise, mas, sim, posteriormente, a eventual recebimento de denúncia, nos termos do artigo 396-A do Código de Processo Penal. Assim, por ora, deixo de apreciar as defesas escritas apresentadas pelos denunciados antes do recebimento da denúncia, bem como os memoriais entregues.

Ou seja, até agora Lula não exerceu seu direito de defesa o que, diz o juiz, poderá fazer agora. Tanto que, ao negar o pedido de apresentação defesa prévia do ex-presidente, argumentou:

Também a violação ao contraditório e à ampla defesa não procedem, uma vez que, caso haja a recebimento da denúncia, haverá a apreciação da resposta escrita com possibilidade de absolvição sumária…

Não entro no mérito do procedimento do juiz, embora não  observe a prudência necessária num caso que envolve uma figura política da expressão de um ex-presidente e a evidente exploração política de torná-lo réu que é, para o leigo, quase uma condenação. A interpretação larga do direito de defesa não proíbe ao juiz considerar informações que vêm aos autos, mesmo que não solicitadas., embora já não mais coberta pelo antigo  Art. 559 do Código de Processo Penal (da ditadura Vargas, vejam só) que dizia que “se a resposta ou  defesa prévia do acusado convencer da improcedência da acusação, o (juiz) relator proporá ao tribunal o arquivamento do processo”, revogada na “democracia” punitiva.

Embora não mais expresso objetivamente – e tudo o que a lei não proíbe, permite – isso pode ser levado em conta, tanto que ele examinou e recusou uma preliminar arguida pela defesa.

Mas o fato é que, na interpretação estreita pela qual optou, deve ficar claro que a defesa sequer tem o conhecimento formal da acusação (Lei 8.038/90, Art. 4º, § 1º – “Com a notificação, serão entregues ao acusado cópia da denúncia ou da queixa, do despacho do relator e dos documentos por este indicados”.)

Ou seja, todo o processo até agora é unilateral.

Sabe-se apenas que Lula é acusado de obstrução da Justiça. Com base em quê? No que Delcídio do Amaral alegou, depois de preso semanas a fio, em sua delação premiada.

Mas o que ele alegou, mesmo?

Dou um doce se alguém souber apontar algo que ele tenha apresentado como prova contra Lula.

Não tem problema, serve.

Vale tudo.

O difícil equilíbrio

POR GERSON NOGUEIRA

É inegável o esforço que os dirigentes do Papão têm feito para consolidar uma gestão moderna, eficiente e vencedora. Começou com Vandick Lima e prossegue agora com Alberto Maia. Administrativamente, o clube avançou várias décadas, queimou etapas e alcançou o status de organização que o futebol atual exige.

c1a5ec85-7007-4f45-ab30-5542b8014708Em função dessa condição, surge de vez em quando o questionamento quanto a projetos bem sucedidos no campo da gestão e que, inexplicavelmente, fracassam quanto a resultados em campo.

São vários os exemplos no Brasil, sendo que o Internacional de Porto Alegre é sempre mencionado. O Flamengo, que dedicou três anos a uma política austera de gastos executada pelo presidente Bandeira de Melo, também padece com resultados decepcionantes.

Em situação menos aflitiva se encontra o Palmeiras, que nesta temporada começou a colher os frutos do trabalho de reconstrução executado há cinco anos. A liderança do Campeonato Brasileiro tem servido para lotar (com dias de antecedência) a Arena Palmeiras, em São Paulo.

O ‘case’ palmeirense é até aqui uma combinação feliz de êxito nos negócios, representado pela própria construção da arena, e sucesso no jogo. Tudo ainda depende do desfecho da Série A, pois a liderança na tabela não é folgada e ainda permite reviravoltas.

No geral, porém, o torcedor comum acaba induzido a pensar que bom comportamento contábil e gerencial não garante conquistas. Ou, ainda pior, é fazê-lo crer que uma coisa atrapalha a outra, como frequentemente se escuta quando alguém informa que um clube paga salários em dia e o time não rende.

Em primeiro lugar, é preciso entender que as normas que regem o futebol no plano administrativo impõem um rigor cada vez maior com as contas e balanços. Clubes e seus dirigentes têm que seguir ainda um receituário específico quanto aos órgãos federais de fiscalização e controle de receita.

Ao mesmo tempo, depois das décadas perdidas pela CBF exclusivamente com politicagem e maracutaias, a atual direção ensaia um processo de depuração que passa pelo saneamento das relações entre clubes e agentes de jogadores.

Todas essas providências poderão de início criar embaraços para clubes que vivem em completa balbúrdia administrativa, mas no futuro tendem a tornar mais saudável a realidade do futebol como negócio no Brasil.

No futebol do Pará, que ainda engatinha nessas práticas, é extremamente significativo que o Papão tenha rompido as amarras com o passado de amadorismo e jeitinho. Seu avanço nessa área é importante (e exemplar) até para o maior rival, que ainda se atrapalha quanto à organização e práticas de gestão.

Só que o clube não pode depender sempre dos bons resultados do time, como a conquista da Copa Verde e do Parazão deste ano. Tropeços não podem sabotar a evolução fora de campo. Nesse sentido, o papel do torcedor é fundamental, decisivo até, para que fantasmas do passado não se arvorem a rondar o clube outra vez. E que ninguém se iluda: eles estão sempre à espreita, aguardando uma brecha para voltar.

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Bola na Torre

Guilherme Guerreiro comanda o programa, que começa logo após o Pânico, na RBATV, por volta de 00h20. Na bancada de debatedores, Giuseppe Tommaso e este escriba de Baião.

Em pauta, a rodada de final de semana dos clubes paraenses.

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Direto do blog

“O Papão teve nos últimos anos os treinadores Mazzola Jr, Dado Cavalcante e Gilmar Dal Pozzo. Mazzola faz um excelente trabalho no CRB, Dado fez no Náutico e Dal Pozzo subiu com a Chapecoense de séris C, pra B e pra A. Logo, não se pode dizer que teriam sido ‘aventuras’ da diretoria.
Todavia, em que pese uma ou outra partida digna de elogio, feita sob a batuta desses três, o time do Papão sempre foi marcado pela previsibilidade e obsolescência, daí ter tido dificuldades com equipes do porte do Tupi, Macaé e Mogi-Mirim. Seu ataque jamais engatou uma sequência de jogos que levasse temor aos adversários, chegando ao estágio atual com números constrangedores.
Então, cabe perguntar o seguinte:
Por que o Juventude, que está na série C, joga taticamente deforma mais eficiente, conseguindo postar três jogadores marcando a saída de bola do adversário, como fez na 4ª feira, obrigando no caso o Bicola a jogar pros lados, enquanto o Papão faz isso apenas por cinco. ou dez minutos, em seguida oferecendo uma zona de conforto ao adversário até o grande círculo?
Por que três treinadores passaram pelo clube e nenhum conseguiu mudar esse modo anacrônico de atuar, salvo, curiosamente, em jogos contra o Botafogo(RJ), no Engenhão e o Vasco em São Januário e mais uns dois ou três?
Será que o time é o único entre os 20 que marca atrás por conta das limitações físicas?
Não será essa, também, a explicação para desempenhos individuais desastrosos?
No meu modo de pensar, antes de responsabilizar unicamente os jogadores é preciso resolver essa abominação técnico-tática que nos atormenta na medida em que, com esse posicionamento, pode vir no 4-4-2; 3-5-2; 4-2-3-1; 4-4-1-2; o antigo 2-3-5; 6-3-1 ou qualquer outra combinação numérica que não resolverá. Ou não?”.

Jorge Amorim, sempre atento às oscilações táticas do Papão.

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Neymar e as trombadas com a mídia

Sempre que o atacante do Barcelona se vê longe dos assessores e inteiramente vulnerável ao questionamento de repórteres, acaba se saindo muito mal. Craque com a bola nos pés, ele vira um autêntico perna-de-pau nas entrevistas.

O entrevero com o repórter na última coletiva da seleção olímpica atesta as limitações de Neymar para o debate franco. Como jogador de primeira linha e pertencente a um dos maiores clubes do planeta, devia estar preparado para essas refregas.

Pesam, porém, o raso nível de compreensão da realidade e a pouca informação, doenças crônicas que acometem boa parte dos boleiros nacionais, desde os tempos de Pelé e Garrincha.

(Coluna publicada no Bola deste domingo, 31)