Remo x Fortaleza – comentários on-line

Campeonato Brasileiro da Série C 2016

Clube do Remo x Fortaleza – estádio Jornalista Edgar Proença, às 18h30

Rádio Clube _ IBOPE _ Sábado e Domingo _ Tablóide

Na Rádio Clube, Ronaldo Porto narra; Carlos Castilho comenta. Reportagens – Paulo Caxiado, Valdo Sousa, Carlos Estácio, Saulo Zaire e Mauro Borges. Banco de Informações – Fábio Scerni

80 horas semanais: a plutocracia cobra a conta de Temer

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POR CARLOS FERNANDES, no DCM

O plano inicial era que o verdadeiro arrocho fiscal patrocinado pelo governo Temer só seria divulgado após a votação do impeachment no Senado. Caso os excelentíssimos senadores outorgassem o golpe, aí sim o traidor mostraria a que veio.

Nesse meio tempo a idéia era agradar a todos numa espécie de “matemática alternativa”. Ao mesmo tempo em que aprova “bondades” que impactam em bilhões os cofres do tesouro nacional, tece o enfadado discurso do “inegociável” controle dos gastos públicos.

O problema é que tempo é dinheiro. E se existe uma coisa que capitalistas não gostam de perder é exatamente isso: dinheiro. Sendo assim, antes que o previsto, eis que o alto empresariado brasileiro bate à porta de Temer com a fatura na mão.

Em reunião realizada nesta sexta (8) com o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Braga de Andrade, o presidente interino ouviu as suas “propostas” (entre aspas porque o verdadeiro nome é impublicável) para equilibrar as contas públicas .

Não houve rodeios, de cara o cidadão sentenciou que o atual governo deve promover “medidas duras” na Previdência Social e nas leis trabalhistas que, segundo ele, nos impedem de ter uma indústria competitiva.

As medidas passariam, entre outras maravilhas, pela mudança da jornada de trabalho das atuais 44 horas semanais para a possibilidade de até 80 horas no mesmo período. Praticamente o dobro. Sobre o quanto se pagaria a mais pelo aumento da jornada de trabalho não foi exatamente discutido. Questões secundárias, digamos assim.

Em entrevista após o encontro, Andrade, como que falando para a massa proletária, afirmou: “A gente tem que estar aberto para fazer essas mudanças. E nós ficamos aqui realmente ansiosos para que essas mudanças sejam apresentadas no menor tempo possível”.

Nós quem cara?

O que a CNI, tanto quanto a FIESP do intragável Paulo Skaf defendem, é tão somente os interesses de quem explora, jamais os dos explorados. Querer fazer crer que o desmantelamento da Previdência Social e da Consolidação das Leis Trabalhistas são bons para o trabalhador insulta até o mais midiotizado dos golpistas.

Ou não. A alienação é realmente infinita.

Mas o fato é que o corporativismo empresarial a serviço da ganância capitalista deixa claro que qualquer benefício pode ser revogado e todo o sacrifício pode ser desprendido desde que não lhe digam respeito.

Explica-se.

Sobre os aumentos de impostos que já começa a ser admitido por Meirelles, Andrade – bem como os 100 empresários do Comitê de Líderes da Mobilização Empresarial pela Inovação que também estiveram presentes na reunião – se declararam totalmente contra.

Segundo o presidente da CNI: “Um aumento na carga tributária seria ineficaz e resultaria, neste momento, na redução das receitas, uma vez que as empresas estão em uma situação muito difícil”. As empresas, que fique claro. A situação dos trabalhadores não foi posta em pauta.

E o que disse Michel Temer sobre tudo isso? Absolutamente nada. Saiu sem dar entrevista. Como quem cala consente, o horizonte que se apresenta caso o golpe seja confirmado é realmente nebuloso. Para os trabalhadores é claro.

Mas sobre isso, Andrade tenta nos tranquilizar. Filosofou ele: “O mundo é assim”.

(*) Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina

A descoberta de Garrincha

 

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POR NELSON RODRIGUES

E eis que, pela primeira vez, um “seu” Manuel é o meu personagem da semana. Com esse nome cordial e alegre de anedota, ele tomou conta da cidade, do Brasil e, mais do que isso, da Europa. Creiam, amigos: o jogo Brasil x Rússia* acabou nos três minutos iniciais. Insisto: nos primeiros três minutos da batalha, já o “seu” Manuel, já o Garrincha, tinha derrotado a colossal Rússia, com a Sibéria e tudo o mais.

E notem: bastava ao Brasil um empate. Mas o meu personagem não acredita em empate e se disparou pelo campo adversário, como um tiro. Foi driblando um, driblando outro e consta inclusive que, na sua penetração fantástica, driblou até as barbas de Rasputin.

garrincha_pAmigos: a desintegração da defesa russa começou exatamente na primeira vez em que Garrincha tocou na bola. Eu imagino o espanto imenso dos russos diante desse garoto de pernas tortas, que vinha subverter todas as concepções do futebol europeu. Como marcar o imarcável? Como apalpar o impalpável? Na sua indignação impotente, o adversário olhava Garrincha, as pernas tortas de Garrincha e concluía: — “Isso não existe!”. E eu, como os russos, já me inclino a acreditar que, de fato, domingo Garrincha não existiu. Foi para o público internacional uma experiência inédita.

Realmente, jamais se viu, num jogo de tamanha responsabilidade, um time, ou melhor, um jogador começar a partida com um baile. Repito: — baile, sim, baile!E o que dramatiza o fato é que foi baile não contra um perna-de-pau, mas contra o time poderosíssimo da Rússia.

Só um Garrincha poderia fazer isso. Porque Garrincha não acredita em ninguém e só acredita em si mesmo. Se tivesse jogado contra a Inglaterra, ele não teria dado a menor pelota para a rainha Vitória, o lord Nelson e a tradição naval do adversário. Absolutamente. Para ele, Pau Grande, que é a terra onde nasceu, vale mais do que toda a Comunidade Britânica. Com esse estado de alma, plantou-se na sua ponta para enfrentar os russos. Os outros brasileiros poderiam tremer. Ele não e jamais. Perante a platéia internacional, era quase um menino. Tinha essa humilhante sanidade mental do garoto que caça cambaxirra com espingarda de chumbo e que, em Pau Grande, na sua cordialidade indiscriminada, cumprimenta até cachorro. Antes de começar o jogo, o seu marcador havia de olhá-lo e comentar para si mesmo, em russo: “Esse não dá pra saída!”. E, com dois minutos e meio, tínhamos enfiado na Rússia duas bolas na trave e um gol. Aqui, em toda a extensão do território nacional, começávamos a desconfiar que é bom, que é gostoso ser brasileiro.

Está claro que não estou subestimando o peito dos outros jogadores brasileiros. Deus me livre. Por exemplo: cada gol de Vavá era um hino nacional. Na defesa, Bellini chutava até a bola. E quando, no segundo tempo, Garrincha resolveu caprichar no baile, foi um carnaval sublime. A coisa virou show de Grande Otelo. E tem razão um amigo que, ouvindo o rádio, ao meu lado, sopra-me: “Isso que o Garrincha está fazendo é pior do que xingar a mãe!”. Calculo que, a essa altura, as cinzas do czar haviam de estar humilhadíssimas. O marcador do “seu” Manuel já não era um: eram três. E, então, começou a se ouvir, aqui no Brasil, na praça da Bandeira, a gargalhada cósmica, tremenda, do público sueco. Cada vez que Garrincha passava por um, o público vinha abaixo. Mas não creiam que ele fizesse isso por mal. De modo algum. Garrincha estava ali com a mesma boa-fé inefável com que, em Pau Grande, vai chumbando as cambaxirras, os pardais. Via nos russos a inocência dos passarinhos. Sim: os adversários eram outros tantos passarinhos, desterrados de Pau Grande.

Calculo que, lá pelas tantas, os russos, na sua raiva obtusa e inofensiva, haviam de imaginar que o único meio de destruir Garrincha era caçá-lo a pauladas. De fato, domingo, só a pauladas e talvez nem isso, amigos, talvez nem assim.

Nelson Rodrigues, [Manchete Esportiva, 21/6/1958]

* Brasil 2 x 0 União Soviética, 15/6/1958, em Gotemburgo (Suécia). A URSS era apontada como o grande fantasma da Copa por seu “futebol científico”.

Chauí descontrói Moro e a Lava Jato

POR PAULO NOGUEIRA, no DCM

Marilena Chauí fez muito bem em dizer certas coisas sobre Moro. Nem importa exatamente o conteúdo das acusações. Não acredito que Moro tenha sido treinado pelos americanos para nos surrupiarem o pré-sal, embora seja uma possibilidade. A relevância da fala de Chauí reside na descontrução de um personagem que é uma desgraça nacional.

chaui-2-600x400 (1)Quanto Chauí incomodou a direita obtusa que idolatra Moro pode se ver pelo Twitter, onde ela ficou mais de um dia entre os trending topics levando pancadas de toda natureza. Moro simboliza, ao lado de Gilmar Mendes, a justiça partidária e tendenciosa que castiga o Brasil.

O objetivo da Lava Jato, o tempo deixou claro para os inocentes, jamais foi erradicar a corrupção. Foi, isso sim, erradicar o PT. Enquanto espetáculos cinematográficos mostravam em rede nacional petistas sendo presos, Eduardo Cunha e Aécio, para ficar em dois casos icônicos, roubavam sem preocupação nenhuma.

As coisas só ficaram mais complicadas para eles, e outros da mesma gangue, quando delatores contaram suas histórias. Não tenho dúvida: se os responsáveis pela Lava Jato pudessem obliterar os depoimentos que mostraram a alta roubalheira no PSDB e no PT, teriam feito.

É que não dava para fazer isso: censurar, deletar e coisas assim.

As delações recentes — sobretudo a de Sérgio Machado — revelaram o que a Lava Jato nunca pretendeu: o PT é mirim em corrupção diante dos profissionais do PMDB e do PSDB.

Pior do que não fazer nada contra a corrupção é fazer alguma coisa apenas contra um alvo. Isso é demagogia, manipulação, enganação. Você finge que está limpando o país quando na verdade está deixando as portas abertas para os gatunos de sempre.

Aconteceu em 1954, com Getúlio. Aconteceu em 1964, com Jango. E aconteceu agora, com Dilma. Sempre a mesma ladainha da plutocracia: a corrupção, o alegado mar de lama.

Dado o golpe, o capítulo seguinte é sempre o mesmo: rouba-se muito mais. Ninguém estava na verdade interessado em combater a corrupção. Ou você acredita que uma empresa sonegadora e sem escrúpulo nenhum como a Globo pode falar em ética e moral sem ficar vermelha?

Não era Eduardo Cunha o centro da admiração de todos os analfabetos políticos que marchavam contra a corrupção até os suíços — não a Lava Jato — desmascará-lo? Enquanto os idiotas davam vivas a Cunha à luz do sol dos domingos ele tramava na sombra novas formas de achacar empresas e recolher propinas.

Moro foi um personagem central no enredo sinistro que destruiu 54 milhões de votos. Sua parceria com a Globo, da qual a apoteose foi o vazamento de conversas entre Lula e Dilma, ficará marcada como um dos episódios mais indecentes da história política nacional.

A posteridade não perdoará Moro, como não perdoou Lacerda, Roberto Marinho e os militares golpistas. E é bom ver que uma intelectual brilhante como Marilena Chauí também não o perdoa desde já.

A hora e a vez de Ciro

POR GERSON NOGUEIRA

Depois de longo tempo como reserva, Ciro está escalado para o jogo contra o Fortaleza. Em situação normal, deveria ser a grande esperança de gols, mas hoje é apenas uma aposta, ainda sob desconfiança da torcida. O lado curioso é que o atacante teve um começo acachapante no Remo, marcando três vezes contra o Águia logo na abertura do campeonato estadual.

Mais do que os gols, exibiu desenvoltura na área, rapidez nos deslocamentos e um chute mortal, principalmente quando entrava na área pela diagonal. Para coroar tudo, tinha um entrosamento natural com Eduardo Ramos, com quem jogou no Sport-PE.

38647ca4-abe3-4dfe-8065-bf276b3935c5A impressão inicial logo se desfez. Ciro ainda marcou gols no campeonato, mas depois entrou em fase descendente e não conseguiu mais acertar o pé. Esperava-se que brilhasse na Copa Verde, mas isso também não aconteceu. De candidato a ídolo virou peça descartável no Evandro Almeida, sendo seguidamente incluído em lista de dispensas.

Na verdade, Ciro é um reflexo da própria gangorra experimentada pelo Remo no primeiro semestre. Sob o comando de Leston Junior, a equipe oscilou no certame estadual, surpreendida seguidas vezes por times tecnicamente inferiores e sem jamais mostrar solidez tática.

Leston repetia sempre que o time estava em evolução, mas os resultados o desmentiam. Perdeu o primeiro turno e quando se preparava para perder o segundo foi substituído por Marcelo Veiga, trazido às pressas para tentar corrigir a rota e evitar o desastre.

Jogadores como Ciro afundaram junto com o time, fracassando seguidamente e fazendo partidas bisonhas. O Parazão passou, veio a Copa Verde e nada de o time se acertar. Veiga fez seguidas experiências, sem encontrar a formação ideal.

Ciro seguiu tendo algumas oportunidades, aceitou até se submeter aos caprichos do técnico e chegou a jogar de lateral esquerdo, fechando a marcação. Algo inteiramente surreal para um atacante que joga sempre junto à área ou dentro dela, buscando fazer gols.

Veiga foi embora há menos de três semanas, depois do incômodo jejum de vitórias em Belém ao longo da Série C. Chegou Waldemar Lemos, de postura tão zen quanto a de seus antecessores, mas aparentemente menos enrolado na hora de estruturar o time.

Perdeu na estreia, contra o Salgueiro, mas segue com crédito para tentar a primeira vitória remista no Mangueirão. Anunciou na sexta-feira a firme disposição de lutar para reatar o casamento entre time e torcida. E montou um time que parece mais coerente que o de Veiga.

A presença de Ciro no ataque, ao lado de Edno, é uma das razões dessa boa impressão deixada por Lemos na hora de escalar o Remo para o difícil confronto com o Fortaleza, líder do grupo.

Ciro entra como segundo atacante, capaz de puxar as jogadas pelos lados do campo, uma de suas características mais fortes. Pela maneira de atuar do Remo, terá a chance de fazer jogadas com Eduardo Ramos, com quem sempre se entendeu bem.

A presença de Wellington Saci ou Héricles como segundo homem de criação é outro aspecto que valoriza as observações de Lemos e que pode contribuir para que Ciro tenha mais desenvoltura, com ou sem bola.

O fato é que o desafio de vencer o Fortaleza é tão importante para o Remo quanto para Ciro, que ganha nova chance de conquistar a confiança do torcedor e pode dar a tão sonhada guinada na carreira – como anunciou ao desembarcar em Belém.

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Bola na Torre

Guilherme Guerreiro comanda o programa, que começa logo depois do Pânico, por volta de 00h30. Giuseppe Tommaso e este escriba de Baião completam a bancada.

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Saudades do encantamento da torcida

A Eurocopa chega ao fim hoje e vai deixar saudades. Não pela exuberância técnica – pelo contrário, o torneio foi até sofrível em vários jogos. O lado inesquecível fica por conta da generosa presença das torcidas, que brindou o mundo com imagens maravilhosas ao longo das últimas semanas.

Não é possível esquecer jamais a fina simbiose entre o time da Islândia e a galera, marcando o hino com os braços levantados, como se tivesse ensaiado cuidadosamente. Comemoravam ali a espetacular vitória sobre a velha Inglaterra. Depois, murcharam diante dos franceses, mas já tinham feito a obrigação de causar admiração e encanto.

As torcidas de Gales, Croácia, Bélgica, Itália e Espanha também foram fenomenais. Com a facilidade do acesso à França, hordas de torcedores invadiram as cidades sedes, emprestando cor e alegria, risos e choro à disputa.

Em termos de futebol, era até previsível que a França chegasse à decisão. Tem um punhado de jovens e bons atletas, com destaque para Pogba e Griezman, além do excepcional goleiro Lloris. Didier Deschamps sentiu as ausências de Ribery e Benzema, mas soube manter a seleção sempre na ascendente.

Chega à finalíssima com vantagens técnicas sobre Portugal, cuja classificação não era esperada. Atuações medíocres e dependência excessiva de Cristiano Ronaldo marcaram a trajetória do time lusitano.

Por tudo isso, fecho com a opinião de Joachim Low, o derrotado técnico alemão: o título deve ficar com os azuis por simples merecimento.

(Coluna publicada no Bola deste domingo, 10)