Motivação é quase tudo em futebol. Só não é o principal combustível porque técnica e talento vêm antes. Só que, às vezes, um time motivado funciona mais que uma equipe de alto padrão técnico. E não há hoje no Brasil nenhum outro grupo que exiba tamanha disposição em busca da vitória que o do Fluminense. Hoje, com a obrigação de superar a LDU por cinco gols de diferença para conquistar o título sul-americano, esse espírito será novamente posto à prova.
O interessante é que a missão, dificílima e improvável sob todos os pontos de vista, levando em conta o equilíbrio entre os dois adversários, já é vista como plenamente possível pela entusiasmada torcida tricolor. Ao cabo de uma vertiginosa campanha no Brasileiro, na qual saiu da condição de virtualmente rebaixado para a de sobrevivente, o Fluminense dá aos seus torcedores a certeza de que pode alcançar qualquer objetivo.
Como as vitórias funcionam como anabolizante emocional, o time exala otimismo e confiança. Parte para cima dos oponentes com a fúria cega (e até irresponsável) dos invencíveis. Ataca sem parar, e vai vencendo. A última vítima foi o Vitória, atropelado no Maracanã por 4 a 0.
Claro que é preciso considerar que o time baiano já não tinha qualquer ambição, mas não se pode esquecer também que o Fluminense se recuperava da impiedosa goleada sofrida no Equador no primeiro embate da decisão da Copa Sul-Americana.
A confiança em suas próprias forças é o grande fator impulsionador de um time limitado e que tem jogadores verdes demais em posições importantes. Compensa a inexperiência do grupo com duas peças de alto nível: o meia Conca e o centroavante Fred, ambos em grande fase e formando dupla afiadíssima, dentro da melhor tradição arco-e-flecha, que tantas glórias já rendeu às Laranjeiras, desde os tempos da Máquina Tricolor de 1975, com Rivelino e Doval; ou, mais recentemente, com Assis e Washington.
Arrisco dizer, porém, que Conca e Fred não fariam muita diferença se a auto-estima da equipe estivesse destroçada, como no começo do Brasileiro. O segredo está na esperança inabalável, que só o acúmulo de vitórias permite acumular. A ponto de, quase num delírio, acreditar que é possível golear a forte LDU. A essa altura, quem seria louco de duvidar? E se o milagre não ocorrer, apenas a tentativa heróica terá valido a pena.
Confirmado. Em parceria com Martinho Carmona e outros baluartes, o ex-presidente Artur Tourinho está assumindo a divisão sub-20 do Paissandu. É a maneira que encontrou de colaborar com a gestão de Luiz Omar Pinheiro. Procurado pelo grupo de grandes bicolores, o atual presidente teve a grandeza de aceitar o oferecimento. A partir de agora, a divisão que é o último degrau na carreira do atleta amador terá tratamento profissionalizado na Curuzu. Não é pouca coisa.
Aliás, o espírito de colaboração visível no Paissandu é o que mais faz falta no maior rival. Essa distinção também transparece no apego dos bicolores à tradição e ao patrimônio do clube, coisa em baixa nos arraiais azulinos.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 2)