A reunião que a diretoria do Remo convocou para quarta-feira, a fim de apresentar a tão aguardada proposta de compra do estádio Evandro Almeida, confirmou a impressão geral de que o negócio tem pontos obscuros demais e expôs uma constatação surpreendente: a de que o montante de dinheiro oferecido pela praça de esportes não é suficiente para zerar a dívida oficial do clube.
Trata-se de cálculo matemático primário. O presidente Amaro Klautau reafirmou nesta semana (em entrevista à Rádio Clube, inclusive) que a dívida total do Remo é de aproximadamente R$ 15 milhões. Estranhamente, os representantes do consórcio Agra-Leal Moreira foram claros em dizer aos conselheiros que entregarão R$ 14 milhões pelo Baenão – com um adendo de R$ 4 milhões posteriormente.
É justo neste ponto que a coisa se complica. Caberá ao clube destinar parte dos R$ 14 milhões para pagar pelo terreno que abrigará a futura Arena do Leão. Pela cotação atual, não encontrará terreno suficientemente grande para o complexo esportivo (três campos de futebol) por menos de R$ 5 milhões – isto sem levar em conta o ágio decorrente da notícia de que o Remo está com dinheiro em caixa.
Com os R$ 5 milhões restantes, como se vê, a dívida do clube – única justificativa para o negócio – não poderá ser extinta. Além disso, o tal bônus (patrocínio de R$ 1,2 milhão por dois anos ou R$ 50 mil mensais) que o Remo teria com a transação é inferior aos valores repassados hoje por Unimed Belém e Banpará – R$ 60 mil mensais cada.
Perplexa, a platéia de conselheiros, beneméritos e alguns penetras, que acompanhou a exposição de Hilbert Nascimento e do arquiteto Herlon Oliveira, ficou sabendo de um item até então desconhecido: o futuro estádio não ficará pronto no prazo de dois anos, como prometia até então o presidente AK. Primeiro, será construída (e entregue) uma banda, com 12.500 lugares nas arquibancadas.
A metade da obra dará direito ao consórcio de se apossar do Evandro Almeida, erguendo um conjunto de prédios residenciais e de escritório. Com os lucros do empreendimento será, então, custeada a construção da outra banda da Arena, sem prazo definido para entrega.
Escritórios de consultoria ligados a beneméritos do clube já avaliam a viabilidade do negócio. De maneira geral, há a convicção de que a transação é obscura e temerária. A diretoria, por seu turno, aposta em duas hipóteses: se fechar o negócio, sairá apregoando que o clube ingressa numa “nova era”; se o Condel rejeitar a proposta, usará politicamente o fato alegando que foi impedida de “salvar o Remo”.
Ao mesmo tempo, surge uma revelação desconcertante: advogados ligados ao clube garantem que a tal dívida oficial de R$ 15 milhões é peça de ficção. O passivo trabalhista gira em torno de R$ 3 milhões. A pendência fiscal deve ser transformada em bônus superior a R$ 3,5 milhões. E o débito com o IPTU simplesmente não existe porque o Remo mantém a prática de cinco esportes olímpicos, como reza a lei.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 11)
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