Por Gerson Nogueira
A barca do adeus, que há semanas está para desatracar da Curuzu, segue envolta em mistério e causando uma série de prejuízos paralelos ao trabalho do técnico Arturzinho. Como já havia ficado evidente no período em que Givanildo Oliveira estava no comando, o excesso de atletas no elenco do Paissandu é um fator de desestabilização interna, provocando insatisfações e crises de relacionamento.
Com mais de 40 jogadores sob seu comando, Arturzinho se defronta com o problema todos os dias na hora de formar os times para o treino coletivo. Caso queira movimentar todos os atletas, precisa fazer duas práticas, com quatro equipes.
Diante da impossibilidade de preparar adequadamente os times, com as paradas necessárias para orientações táticas, o treinador é obrigado a selecionar 22 ou 24 jogadores, deixando os demais sem atividade ou treinando à parte.
Nem mesmo a liberação, anteontem, do lateral esquerdo Janílson e do zagueiro Adson ajudou a reduzir a superpopulação de boleiros na Curuzu. Antes deles, o clube só havia dispensado Jean, Rodrigo Alvim e Tiago Costa. Quem acompanha futebol de perto sabe o quanto situações desse tipo minam o ambiente e contribuem para a formação de grupos. Daí para as panelinhas e intrigas, é apenas um passo.
O clima de insatisfação dos bastidores nem sempre é observado em campo, mas é apontado por muitos como a causa de resultados inesperados, que quase sempre custam a cabeça do treinador e placares vexatórios para o clube. É a tal “casinha”, que normalmente é atribuída a boleiros descontentes, com maior ou menor dose de veracidade.
Experiente nas questões do futebol, o presidente do clube, Vandick Lima, certamente não é indiferente a esses riscos. Vai daí que a demora em definir o desligamento de pelo menos 10 jogadores só pode ser atribuída às dificuldades para levantar o dinheiro necessário aos acordos de rescisão.
À medida que chegam mais contratados – e nos últimos dias já foram apresentados mais cinco jogadores – o problema vai se tornando ainda mais insustentável. Arturzinho já adiantou que o clube deve trazer ainda dois ou três atletas para posições carentes, inchando de vez o plantel.
A parcimônia em desligar jogadores que não interessam mais ao treinador contrasta com a afobação em buscar reforços. A cada novo insucesso na Série B, o clube se lança a novas aventuras consumistas, quase sempre sem o impacto (e o retorno) esperado.
Das contratações feitas depois do Campeonato Estadual, somente Fábio Sanches, Careca e Marcelo Nicácio vingaram. A maioria não justificou o investimento e já está na lista dos descartáveis. Alguns não deveriam nem ter vindo, pois carecem de tempo para garantir melhor condicionamento.
Givanildo recomendou poucas aquisições, mas Arturzinho ainda está sugerindo jogadores. No ritmo atual, o Papão periga entrar no segundo turno da Segundona com um troféu incômodo: o de maior, mais caro e menos qualificado elenco entre os vinte clubes. Os resultados, pelo menos por enquanto, exprimem isso.
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Sem o maestro, Fogão avança
O Botafogo, de Vitinho e Lodeiro, superou ontem o Atlético-MG campeão da América com uma facilidade impressionante. De um lado, o Galo com todos os seus titulares, incluindo Victor, Ronaldinho Gaúcho, Jô e Réver. Do outro, o Glorioso sem sua estrela mais fulgurante. Seedorf, poupado pelo técnico Oswaldo de Oliveira, desfalcou o time.
Não foi uma atuação excepcional (apesar da goleada), mas, ao contrário de outras jornadas, nas quais a ausência de Seedorf fazia o tipo perder o rumo e o prumo, desta vez a equipe fez ver que começa a ter desprendimento para jogar corajosamente sem o seu maestro. É uma grande notícia para a torcida botafoguense.
Quanto ao Atlético, a forma pouco inspirada com que Ronaldinho e seus companheiros se apresentaram evidencia que o time permanece naquela zona de sombra que costuma sobrevir a grandes conquistas. O desafio é se livrar o quanto antes dessas algemas.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 23)