Por Sérgio Xavier, da Placar
Repercutiram e ainda seguem repercutindo muito as declarações dadas pelo técnico Ney Franco. O ex-treinador do São Paulo soltou os cachorros no capitão e goleiro do time. Disse que Rogério Ceni é o dono do vestiário e prejudicou demais o seu trabalho no clube.
Há basicamente duas formas de liderança: a liderança concedida e a liderança conquistada. Ney Franco se tornou o líder do futebol porque foi empossado treinador do time. Liderança oficial, legítima. Já Rogério Ceni virou líder no Morumbi e no CT por anos de serviços prestados ao São Paulo. Nem estamos falando aqui de suas defesas e dos mais de 100 gols marcados. A conversa aqui é outra. Rogério se tornou um comandante pelo seu comprometimento com os objetivos do clube. Ele sempre foi obsessivo por vitórias e títulos. Inteligente, analisa adversários, sugere contratações, observa variações táticas. Pretensioso, metido? Sim, Rogério não é humilde e e não se omite. Fala o que pensa. A questão é que ele pensa bem, vê futebol melhor do que a esmagadora maioria dos jogadores e técnicos. Na imprensa, então, dá um baile. Ele estraga o trabalho dos comentaristas quando inventa de falar na saída do campo. Geralmente, conta uma verdade que os profissionais da palavra não souberam traduzir das cabines…
Esperto, Rogério aprendeu que não se ganha sozinho no futebol. Ao contrário do que o torcedor imagina, seus colegas gostam dele. Porque o capitão briga pelas premiações dos companheiros, recebe bem quem chega, orienta os mais jovens e está sempre focado em vitórias. E, bem sabemos, bicho só pinga no bolso de jogador quando há vitórias.
Personalidade forte, Rogério bate de frente com quem o desafia. Ney Franco morreu para o goleiro no dia que o desautorizou a opinar no time. Desde então, o São Paulo entrou em parafuso. O líder nato versus o líder do crachá. O clube demorou tempo demais para fazer a sua escolha. É um problema em qualquer organização quando a melhor cabeça não está no principal cargo de direção. Na década passada, o São Paulo entendeu bem como aproveitar a liderança positiva de Rogério Ceni e dominou o futebol brasileiro. Só que o tempo passou, a diretoria se perdeu, as relações se deterioraram e Rogério fisicamente desmoronou. Um novo São Paulo ainda precisa ser planejado e reconstruído.