Som da sexta-feira – Gram Parsons/Emmylou Harris, A Song For You

Coluna: O futebol sem endereço

Uma brecha, involuntária ou não, nos mecanismos de controle da CBF criou novo conceito na relação entre clubes de futebol e cidades de origem. Vai longe o tempo em que um time valorizava o vínculo umbilical com determinado município. Nas regras que balizam os negócios futebolísticos não há espaço para laços de afeto entre clubes e torcedores.

Em situação normal, num país igualmente normal, clubes nômades deveriam sofrer algum tipo de sanção, mas a lei é omissa e não existem restrições para os acordos de mudança de sede. Algo como ser automaticamente rebaixado para a divisão de origem.  

A realidade, porém, é outra. Quando a torcida não abraça a causa e falta apoio institucional, os clubes não se constrangem em mudar de casa, buscando parceiros mais generosas em investimentos. Basicamente, tudo depende de acertos financeiros. Os exemplos mais fortes vêm do próspero interior paulista – onde ocorreram sete mudanças – e ameaçam se proliferar.

O Grêmio Barueri, clube de investidores que saiu da Série C para a A em três anos, tomou o rumo de Prudente quando não era mais vantajoso jogar na cidade de origem. Fez isso de maneira rápida, sem maiores embaraços, até porque a torcida pouco se interessava pelo time. Com um cartel vitorioso, com jogos televisionados, o Grêmio Prudente ganhou incentivo financeiro e alguma atenção dos torcedores locais.

O Guaratinguetá segue a mesma trilha. Participante da Série B, o time foi rebatizado como Garça e está de malas prontas em direção à rica Americana, que sinaliza com patrocínios de empresas locais e gordo suporte da prefeitura. O novo berço da Garça projeta movimentação financeira superior a R$ 20 milhões contra despesas anuais orçadas em menos de R$ 8 milhões. Um bom negócio para quase todos.  

Na mudança de cidade, o registro do clube permanece o mesmo. Por isso, são mantidos todos os direitos de participação na série que disputava em sua antiga sede. Quando se trata de clube-empresa, a transferência é ainda mais tranqüila. É feita apenas a modificação no contrato social, prevendo a troca de endereço e pequenas questões burocráticas.

Americana espera movimentar cerca de R$ 20 milhões ao ano com o novo clube, calculando custo anual de cerca de R$ 7 milhões. Nesse valor estão incluídos a criação de novos empregos, gastos e investimentos na cidade, pessoas e empresas que vão se beneficiar direta a indiretamente e também as que estarão envolvidas em eventos.

A CBF não se manifesta sobre o fenômeno, prefere deixar as coisas nas mãos das federações – o que é sempre um perigo. Futebol, como se sabe, é movido a paixão e ligações sentimentais. Clubes de aluguel podem dar lucro e até conquistar títulos, mas não tocam o coração da massa. O São Caetano, que disputou até Libertadores, é um caso típico. Até hoje não conseguiu seduzir os torcedores da cidade. O estímulo ao surgimento de agremiações criadas por empresários pode parecer lucrativo e sem conseqüências num primeiro momento, mas a médio prazo pode equiparar o futebol ao vôlei, com clubes endinheirados, mas sem torcida.   

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 29) 

Agora até o Papa dá palpite na eleição

Por Ricardo Kotscho

Só faltava ele! Pois ao abrir a capa (alguns preferem chamar de home page) do portal Estadão.com, a 72 horas das eleições presidenciais, tomo um susto ao ler a manchete: “Papa condena aborto e pede a bispos que orientem politicamente fíéis”. Diz a nota que “em reunião em Roma na manhã desta quinta-feira, 28, o papa Bento XVI conclamou um grupo de bispos brasileiros a orientar politicamente fiéis católicos. Sem citar especificamente as eleições de domingo, o Papa reforçou a posição da Igreja a respeito do aborto e recomendou a defesa de símbolos religiosos em ambientes públicos”.

Além de condenar o aborto, como se alguém pudesse ser a favor do aborto, embora muitos defendam a sua descriminilização, o papa também cobrou o ensino religoso nas escolas públicas e defendeu a luta pela manutenção dos símbolos religosos, citando o monumento do Cristo Redentor no Rio, como se eles estivessem ameaçados. O Brasil é um Estado laico e mantem relações diplomáticas com o Estado do Vaticano. Com que direito Sua Santidade vem meter o bedelho em questões internas de um país às vésperas das eleições presidenciais? Já não basta o papel impróprio e deprimente  exercido por alguns dos seus bispos que, com esta falsa questão do aborto, transformaram seus altares em palanques contra uma candidatura e a favor de outra, distribuindo panfletos políticos em lugar de homilias?

Depois de ser explorado até a exaustão pelos bispos teefepeanos, telepastores dos dízimos e, principalmente, pela mídia, o assunto já tinha até saído de pauta, tão rapidamente quanto entrou, porque as últimas pesquisas mostraram que ele não estava mais rendendo nenhum resultado nas intenções de voto dos eleitores.  

Em artigo publicado terça-feira no Observatório da Imprensa, o analista de mídia Cristiano Aguiar Lopes prova com números de uma pesquisa que “houve um esforço coordenado e eficiente dos principais jornais e revistas do país para insuflar a polêmica sobre o tema com vistas a um fim eleitoral mais que óbvio: roubar votos de Dilma entre eleitores conservadores contrários à descriminalização do aborto”.

Os números são impressionantes: a três dias do primeiro turno, no dia 30 de setembro, as principais publicações do país pesquisadas registraram 149 menções sobre o aborto, chegando a 430 no dia 8 de outubro, na primeira semana do segundo turno que foi dominada pelo tema. “A primeira escalada ocorre pouco antes do primeiro turno e tem como objetivo conquistar os votos de indecisos e de dilmistas não muito convictos. A segunda, bem mais intensa, busca transferir para Serra os votos de um grande contingente de eleitores conservadores – sobretudo católicos e evangélicos – contrários à descriminalização do aborto”, conclui Cristiano Aguiar Liopes.

A pesquisa prova também que não houve “onda verde” nenhuma que tenha provocado o segundo turno. Foi, na verdade, uma “onda religiosa” nas igrejas e nos subterrâneos da internet que beneficiaram a candidata evangélica Marina Silva e levaram a eleição ao segundo turno, usando a ameaça do aborto como instrumento eleitoral. O Papa foi inconveniente, chegou atrasado na história e entrou de gaiato numa falsa polêmica que até a mídia já tinha esquecido. Deveria se preocupar mais com os casos de pedofilia envolvendo religosos que grassaram nos últimos anos em sua igreja, com a perda de fiéis para as seitas evangélicas e o esvaziamento dos seus templos. Não precisamos dos seus conselhos para saber como deveremos votar no domingo.

Ibope: Dilma 14 pontos à frente

A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, está 14 pontos à frente do adversário José Serra (PSDB), de acordo com pesquisa Ibope divulgada nesta quinta-feira. O levantamento mostra a petista com 57% dos votos válidos contra 43%. Na pesquisa anterior, divulgada no dia 20, Dilma aparecia com 56% contra 44% de Serra. Pelos votos totais, a petista conta com 52% das intenções contra 39% do adversário. Entre os entrevistados, 5% disseram que irão anular ou votar em branco e 4% estão indecisos. Na pesquisa anterior, Dilma registrava 51% das intenções totais de voto contra 40% de Serra. Os porcentuais de brancos e nulos e de indecisos continua o mesmo. A maioria dos eleitores (82%) diz que o voto é definitivo e 13% afirmam que ainda podem mudar. O governo Lula tem aprovação de 80% enquanto 15% o consideram regular e 4%, ruim ou péssimo.

A frase certeira do dia

“Acho que o papa deveria se preocupar com os escândalos que pipocam todos os dia na Igreja Católica. Deveria se preocupar com os padres pedófilos, e este, a bem da verdade, é um antiguíssimo problema, sempre hipocritamente ignorado. Deveria se preocupar com os inúmeros prelados que têm relação com a máfia. E com as investigações da justiça italiana sobre as atividade de seu banco, o IOR – Instituto para as Obras de Religião – que é, há muito tempo, um dos mais renomados do mundo em matéria de lavagem de dinheiro. A hipocrisia vaticana se revela até mesmo no nome. Que ‘obras religiosas’ seriam essas?”

De Mino Carta, jornalista, diante do discurso “tucano” do papa Bento XVI nesta quinta-feira, 28, aos bispos brasileiros

As revelações do velho Keith

Por Jamari França

Life,  de Keith Richards está saindo como série no jornal inglês The Times, com acesso pago (uma libra por 30 dias). No capítulo desta segunda, Keith conta como ele e Brian Jones criaram o som da banda, dissecando exaustivamente discos de bluesmen e rockers negros americanos como Elmore James, Bo Diddley, Muddy Waters, Robert Johnson, Chuck Berry etc. Analisavam, imitavam a princípio e depois foram achando sua própria maneira de fazer um som calcado na música nascida no delta do Mississippi. Mick Jagger não participava porque nada tocava e passava a maior parte do dia nas aulas da London School Of Economics, uma respeitada faculdade de economia. Mas alivia que o parceiro aprendeu a tocar gaita muito bem, com direito a uma alfinetada: “É a única coisa que ele faz sem ser calculista. Eu perguntei por que ele não cantava assim e s resposta foi que eram duas coisas diferentes. Mas não são, nos dois casos é botar o ar para fora.” Keith diz que no princípio eles não pensavam em ganhar dinheiro com o que faziam, depois mudaram de idéia, claro. Havia uma abordagem purista da música que eles amavam, feita por artistas que eram boicotados na América por conta do racismo.

Keith diz que Jumpin’ Jack Flash é seu riff favorito, “basicamente é Satisfaction ao contrário” e conta como usou uma tecnologia nova na época para gravar partes da música, um gravador cassette da Philips, que chama de mini estúdio. “Tocava violão e saturava o gravador para ficar bem distorcido e o resultado parecia uma guitarra. E vi que podia dar uma reforçada sem eletrificar e ficava um som novo, diferente. No estúdio eu ligava o gravador num auto-falante e botava um microfone na frente do auto-falante, aí conseguia um pouco mais de profundidade e amplitude. E assim gravei a base. Não há guitarras em Jumpin’ Jack Flash e em Street Fighting Man, só violões.”

O endereço do Times é WWW.thetimes.co.uk

Santos pode fechar a temporada em Belém

O presidente do Paissandu, Luiz Omar Pinheiro, deve se definir nesta quinta-feira sobre a realização de um amistoso do Santos em Belém no próximo mês de dezembro. LOP estaria hesitando em relação ao jogo por avaliar que a torcida bicolor está desmotivada, depois da eliminação do time na Série C. Caso o amistoso seja confirmado (para 17 ou 18 de dezembro), o atacante Moisés seria uma das atrações do Santos, ao lado de Neymar.

PMDB quer nova eleição para o Senado no Pará

O PMDB, partido a que pertence o deputado federal Jader Barbalho, que teve recurso contra impugnação da candidatura ao Senado indeferido pelo Supremo Tribunal Federal anunciou, na noite de ontem, que entrará com recurso para garantir a realização de uma nova eleição ao Senado no Pará.
“O PMDB usará das garantias constitucionais para exigir a realização de novas eleições, nas quais o povo do Pará vai reafirmar que somente aos paraenses cabe escolher seus representantes”, informa o partido na nota divulgada horas depois de anunciado o resultado do julgamento no Supremo.
O argumento do partido para exigir nova eleição é que decisão do STF tornará nulos os votos dados a Jader Barbalho e ao candidato do PT, Paulo Rocha, que também renunciou ao mandato e teve a candidatura indeferida sob o mesmo o argumento usado para impugnar o registro de Jader. Juntos, os candidatos do PMDB e do PT tiveram mais de 3,5 milhões votos. Sobraram menos da metade – cerca de 2,6 milhões. Para os advogados do partido, dar posse aos eleitos por meio de uma eleição que teve mais de 50% dos votos invalidados seria uma afronta à vontade da maioria dos eleitores paraenses.
Na nota oficial, o PMDB cita artigos da Constituição que expressam claramente que os senadores e os suplentes serão escolhidos por maioria de votos. Por lei, segundo entendimento do PMDB, o Tribunal Superior Eleitoral não poderia proclamar hoje senadores eleitos pelo Pará uma vez que a maioria dos votos foi invalidada. “Não deve o Tribunal Eleitoral proclamar eleito o candidato que obteve a maioria da votação válida, quando houver votos dados a candidatos com registros indeferidos, mas com recursos ainda pendentes, cuja nulidade for superior a 50% da votação válida, o que poderá ensejar nova eleição, nos termos do art. 224 do Código Eleitoral”, diz a nota.
O deputado federal Jader Barbalho não se pronunciou após a decisão, mas a nota do partido lamenta a decisão do STF que classificou de “saída artificial, precária, e contra o interesse da sociedade representada por milhões de votos”, segundo os termos usados pelo próprio presidente do STF, Cezar Peluso, ao encerrar a sessão que julgou o recurso do deputado paraense. (Com informações de Rita Soares/DIÁRIO)