Ronaldinho Gaúcho ganha nova chance no escrete

Ronaldinho Gaúcho está de volta. Nesta sexta-feira, no Hotel Intercontinental, em São Conrado, Zona Sul do Rio de Janeiro, o técnico Mano Menezes confirmou o retorno do apoiador do Milan à Seleção Brasileira no amistoso contra a Argentina, no dia 17 de novembro, em Doha, no Qatar. Além do jogador, o atacante Neymar, do Santos, também foi novamente lembrado pelo treinador. A única novidade é o apoiador Douglas, do Grêmio.

Mano decidiu chamar Ronaldinho após conversar com o jogador no centro de treinamento do Milan e de acompanhar o desempenho do jogador em duas partidas do clube na Europa, contra o Chievo (3 a 1), pelo Campeonato Italiano, e diante do Real Madrid (derrota por 2 a 0), pela Liga dos Campeões. A partir, o comandante da Seleção decidiu por chamar o atleta. Gaúcho não era chamado para a Seleção desde março do ano passado. A última partida do jogador pela equipe canarinho foi no dia 1º de abril, na vitória por 3 a 0 sobre o Peru, no Beira-Rio, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. (Do G1)

Goleiros: Victor (Grêmio), Jeferson (Botafogo), Neto (Atlético-PR)

Laterais: Daniel Alves (Barcelona), Rafael (Manchester United), Adriano Corrêa (Barcelona), André Santos (Fenerbahçe)

Zagueiros: Thiago Silva (Milan), David Luiz (Benfica), Alex Costa (Chelsea), Réver (Atlético-MG)

Volantes: Lucas (Liverpool), Ramires (Chelsea), Sandro (Tottenham), Jucilei (Corinthians)

Meias: Douglas (Grêmio), Philippe Coutinho (Inter de Milão), Ronaldinho Gaúcho (Milan), Elias (Corinthians)

Atacantes: Robinho (Milan), Alexandre Pato (Milan), André (Dínamo de Kiev), Neymar (Santos)

Dodô e o desprezo ao marketing

Dodô já tentou combater a própria personalidade. Em uma bela tarde de sua longa carreira, o atacante comemorou um gol como um gladiador sedento de sangue. Pulou alambrados, sacudiu os braços com força, arregalou os olhos e proferiu gritos de guerra. Tentou repetir a coreografia, mas sentiu náuseas. Alheio às campanhas de autopromoção, tão difundidas entre as estrelas do futebol, Dodô, atualmente na Portuguesa, disse em entrevista que não apoia jogadores marqueteiros e só não conquistou mais títulos por ser uma “pessoa muito azarada”. A frieza demonstrada por Dodô em campo foi talvez sua maior inimiga. Apelidado de “Dodorminhoco” pelas torcidas paulistas, o atacante ganhou mais adversários do que fãs na capital paulista. “Não era fácil. Tinha que ter sangue frio. Eu mal entrava em campo e a torcida já gritava: ‘Acorda Dodô, o jogo já começou!’ Não era fácil suportar”, disse o atacante, que considera a torcida do Palmeiras a mais chata que já conheceu.

No início de carreira, sob o comando de Telê Santana, o atacante viveu o encanto de ser considerado um dos jogadores mais promissores do futebol brasileiro, quando ainda defendia o São Paulo no final dos anos 1990. Em 97, chegou a ser convocado por Zagallo para defender a seleção brasileira. Porém, dez anos depois, atuando pelo Botafogo, viveu o maior drama de sua carreira, após ter sido flagrado no exame antidoping por ter utilizado a substância fenproporex (anfetamina) em partida contra o Vasco. Em 2008, a Corte Arbitral do Esporte acatou recurso da Fifa e da Wada (Agência Mundial Antidoping) e o suspendeu por dois anos dos campos. “Fui utilizado como um exemplo”, disse. “Não tem como duvidar de uma coisa (um remédio) que o clube te passa, principalmente se esse clube é o Botafogo. Levei uma punição que nenhum jogador de futebol havia levado.”

Você já defendeu seis dos oito maiores clubes do eixo Rio-São Paulo. Qual a torcida mais chata que você teve que aguentar?
Dodô: A do Palmeiras. Entrar no Palestra Itália era complicado. Se o time não correspondia, eles (os torcedores) vinham fortes, pegavam no pé. Você vê  a torcida do Botafogo, do Vasco e Fluminense. Elas são maravilhosas. No Rio, acho que por ser uma cidade mais habituada com artistas, o trabalho é mais tranquilo. Em São Paulo, a cobrança, tanto da torcida quanto da imprensa, é mais rigorosa.

Mas na sua época de Palmeiras o time foi rebaixado…
Dodô: Sou meio azarado, caraca meu.. O time do Palmeiras daquele tempo (em 2002) era razoável. Tnha jogadores como Zinho e Arce. No Bota, antes de chegar ao Palmeiras, eu estava numa fase espetacular. E estreei bem pelo Palmeiras. Ganhamos do São Caetano e pensei: ‘Agora vai. O time vai reagir’.Mas nada. Veio o Levir, e nada. E posso garantir que não tinha racha, não tinha briga. Um jogador motivava o outro: ‘Vamos lá’!. Mas não tinha solução. Tem jogo que você martela, insiste e não adianta nada. Inexplicável.

Você sempre jogou em clube grande, mas não conquistou muitos títulos. Atribui isso ao fato de ser ‘azarado’ como disse?
Dodô: Fico triste porque poderia ter ganhado. Ao mesmo tempo, eu não jogava sozinho. Cansei de ser artilheiro e ver meu time perder.  Um Paulista e um Carioca é muito pouco para a minha carreira, para os times que eu joguei. Você olha minha carreira e percebe: tem muito vice-campeonato! O São Paulo de 1997 e 1998, na minha opinião, não se compara ao São Paulo de hoje, que ganhou tudo. Aquele time do São Paulo era melhor. O Santos do meu tempo era um timaço, mas não ganhava também.

Você nunca gostou de comemorar muito os gols. Não faltou um pouco de marketing?
Dodô: Eu escutei muito isso. Já tentei fazer gol e subir no alambrado, mas aí você faz uma, duas vezes e cansa. Voltei ao normal. É coisa minha, prefiro dar crédito a quem passa a bola. Hoje tem marqueteiro demais. Já cheguei a clubes em que na reunião, antes de fechar o contrato, algumas pessoas falavam que eu tinha que ser marqueteiro, que faltava isso para mim, que tinha que fazer algo extra, além de jogar futebol. Mas ser marqueteiro e falar alguma mentira não são coisas para mim. (Do UOL Esporte)

Coluna: O futebol sem endereço

Uma brecha, involuntária ou não, nos mecanismos de controle da CBF criou novo conceito na relação entre clubes de futebol e cidades de origem. Vai longe o tempo em que um time valorizava o vínculo umbilical com determinado município. Nas regras que balizam os negócios futebolísticos não há espaço para laços de afeto entre clubes e torcedores.

Em situação normal, num país igualmente normal, clubes nômades deveriam sofrer algum tipo de sanção, mas a lei é omissa e não existem restrições para os acordos de mudança de sede. Algo como ser automaticamente rebaixado para a divisão de origem.  

A realidade, porém, é outra. Quando a torcida não abraça a causa e falta apoio institucional, os clubes não se constrangem em mudar de casa, buscando parceiros mais generosas em investimentos. Basicamente, tudo depende de acertos financeiros. Os exemplos mais fortes vêm do próspero interior paulista – onde ocorreram sete mudanças – e ameaçam se proliferar.

O Grêmio Barueri, clube de investidores que saiu da Série C para a A em três anos, tomou o rumo de Prudente quando não era mais vantajoso jogar na cidade de origem. Fez isso de maneira rápida, sem maiores embaraços, até porque a torcida pouco se interessava pelo time. Com um cartel vitorioso, com jogos televisionados, o Grêmio Prudente ganhou incentivo financeiro e alguma atenção dos torcedores locais.

O Guaratinguetá segue a mesma trilha. Participante da Série B, o time foi rebatizado como Garça e está de malas prontas em direção à rica Americana, que sinaliza com patrocínios de empresas locais e gordo suporte da prefeitura. O novo berço da Garça projeta movimentação financeira superior a R$ 20 milhões contra despesas anuais orçadas em menos de R$ 8 milhões. Um bom negócio para quase todos.  

Na mudança de cidade, o registro do clube permanece o mesmo. Por isso, são mantidos todos os direitos de participação na série que disputava em sua antiga sede. Quando se trata de clube-empresa, a transferência é ainda mais tranqüila. É feita apenas a modificação no contrato social, prevendo a troca de endereço e pequenas questões burocráticas.

Americana espera movimentar cerca de R$ 20 milhões ao ano com o novo clube, calculando custo anual de cerca de R$ 7 milhões. Nesse valor estão incluídos a criação de novos empregos, gastos e investimentos na cidade, pessoas e empresas que vão se beneficiar direta a indiretamente e também as que estarão envolvidas em eventos.

A CBF não se manifesta sobre o fenômeno, prefere deixar as coisas nas mãos das federações – o que é sempre um perigo. Futebol, como se sabe, é movido a paixão e ligações sentimentais. Clubes de aluguel podem dar lucro e até conquistar títulos, mas não tocam o coração da massa. O São Caetano, que disputou até Libertadores, é um caso típico. Até hoje não conseguiu seduzir os torcedores da cidade. O estímulo ao surgimento de agremiações criadas por empresários pode parecer lucrativo e sem conseqüências num primeiro momento, mas a médio prazo pode equiparar o futebol ao vôlei, com clubes endinheirados, mas sem torcida.   

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 29)