Mineiros chilenos, vítimas da flexibilização trabalhista

Por Emir Sader

O presidente chileno Sebastien Piñera quer se fazer de herói do resgate dos mineiros, presos há mais de dois meses numa mina, mas ele é duplamente algoz dos trabalhadores daquele país. Em primeiro lugar, porque seu governo não controla as condições de exploração da força de trabalho, nem sequer do segmento mais importante da economia chilena. As condições subumanas de trabalho dos sofridos trabalhadores mineiros, principais produtores das riquezas fundamentais do país, não encontram nenhum controle dos órgãos do governo, além de que, com a quebra da empresa que os superexplora, nem sequer seus direitos básicos estão garantidos. Mas de uma outra forma também Piñera é responsável pelas condições de trabalho dos trabalhadores chilenos. Ele é irmão de José Piñera – cujo grupo econômico é proprietário da LAN Chile, que acaba de comprar a TAM – tristemente famoso por ter introduzido a chamada lei de “flexibilização laboral”, com a conhecida cantilena de que, diminuindo os custos de contratação da mão de obra – às custas dos direitos dos trabalhadores – se expandiria o mercado de trabalho e diminuiria o desemprego.

Utilizou a enganosa expressão “flexibilização”, para expropriar direitos trabalhistas, a começar pelo contrato com carteira de trabalho, o emprego formal. A maioria dos trabalhadores foram jogados na informalidade. Submetidos a condições ilimitadas de exploração.

Usam duas palavras enganadoras: flexibilidade e informalidade, que seduzem (as preferimos à inflexibilidade e à formalidade), mas neste caso seu verdadeiro conteúdo é: precariedade das condições de trabalho. É trabalhar sem contrato, sem possibilidade de apelar à Justiça, de associar-se, de ter uma identidade social. Essa política, nascida na ditadura do Pinochet, foi se associando a todos os governos neoliberais na América Latina, fazendo com que a maioria dos trabalhadores do continente passasse a ser estarem submetidos à precariedade laboral, a não ter contrato de trabalho.

O governo tucano de FHC-Serra adotou essa política, com os mesmos mecanismos e argumentos do José Piñera e da ditadura pinochetista, causando níveis de exploração da força de trabalho (extração da mais valia), de desemprego aberto e camuflado, de precariedade, jamais vistos no Brasil. Esses mineiros chilenos foram, eles também vítimas dessas condições de trabalho, a mesma a que passaram a ser submetidos a maioria dos trabalhadores latinoamericanos. O governo Lula recuperou, regularmente, os contratos de trabalho formal, que aumentaram sempre, ao longo dos dois mandatos presidenciais, depois ter recebido uma herança também socialmente maldita do governo FHC-Serra. Essa uma diferença essencial entre os dois governos: desamparo dos trabalhadores diante da exploração ou afirmação dos seus direitos formais de trabalho.
* Matéria originalmente publicada no Blog do Emir Sader

Na pista da central de boatos e difamações

Por Rodrigo Vianna

Não é difícil rastrear os caminhos da boataria que atingiu Dilma Rousseff, poucas semanas antes do primeiro turno. A campanha do PT parece não ter levado a sério a ameaça. E a  boataria e as calúnias prosseguem. O jornalista Tony Chastinet – colega com quem tive o prazer de dividir o prêmio Vladimir Herzog em 2007, e com quem produzi a série de reportagens sobre as centrais clandestinas de tortura durante a ditadura – fez um levantamento minucioso sobre a origem de um desses e-mails caluniosos. Não precisou de dinheiro, nem de ferramentas especiais. Usou basicamente o “Google”. Gastou alguns minutos e usou a experiência de quem já investigou dezenas e dezenas de picaretas em suas reportagens investigativas. Tony Chastinet descobriu que o email partiu de gente ligada à extrema-direita. Gente com nome, sobrenome e endereço. Confiram…

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O CAMINHO DA CALÚNIA

por Tony Chastinet

Recebi ontem à noite um daqueles e-mails nojentos e anônimos, que estão circulando na internet, com calúnias contra a candidata Dilma Roussef. Decidi gastar alguns minutos para tentar identificar os autores. Consegui, e repasso abaixo as informações sobre os autores da baixaria – incluindo as fontes da pesquisa. Há um e-mail circulando na internet com o seguinte título: “Candidatos de esquerda”. Na mensagem há uma série de calúnias contra Dilma, e o pedido para se votar no Serra. Também recomenda a leitura do site www.tribunanacional.com.br.

Entrei na página e de cara me deparei com aquela foto montada da Dilma ao lado de um fuzil. Uma verdadeira central de calúnias ligada à extrema direita. Vejam uma amostra neste link http://www.tribunanacional.com.br/v2/editorial/a-terrorista/. O e-mail foi enviado para minha caixa postal na noite de domingo. O remetente é um tal de Ingo Schimidt (ingo@tribunanacional.com.br). O site está registrado na Fapesp em nome do “Círculo Memorial Octaviano Pinto Soares”.

Essa associação tem CNPJ (026.990.366/0001-49), está localizada na SCRN, 706-707, Bloco B, Sala 125, na Asa Norte, em Brasília. O responsável pelo site chama-se Nei Mohn. Em uma pesquisa superficial na internet, descobre-se que ele foi presidente da “Juventude Nazista” em 1968. Era informante do Cenimar e suspeito de atos de terrorismo na década de 80 (bombas em bancas de jornais e outros atentados feitos pela tigrada da comunidade de informações). Também foi investigado por falsificar o jornal da Igreja Católica, atacando religiosos que denunciavam torturas, assassinatos e desaparecimentos (vejam abaixo nas fontes).

Nunca foi investigado e sequer punido pelas barbaridades que aprontou. Para isso, contou com a proteção dos militares e da comunidade de informações para abafar os escândalos e investigações. Prossegui na pesquisa e descobri que o filho de Nei, o advogado Bruno Degrazia Möhn trabalha para um grande escritório de advocacia de Brasília contratado por Daniel Dantas para representar o deputado federal Alberto Fraga (DEM) em ação no TCU movida pelo deputado para tentar impedir a compra de ações da BRT/OI pelos fundos de pensão.

Interessante essa ligação entre a extrema direita, nazistas e Daniel Dantas. Mas tem mais.

No registro do site ainda há outros dois nomes apontados como responsáveis pela página: Antonio Afonso Xavier de Serpa Pinto e Zoltan Nassif Korontai. Serpa Pinto trabalha na Secretaria da Fazenda de Mato Grosso. Korontai é responsável pelo site http://www.projetovendabrasil.com.br. É um negócio estranho como pode ser visto na página da internet. Ele atua na área de tecnologia e fez concurso para analista de sistemas no TRE do Paraná. O cadastro do site dele está em nome da CliqueHost Internet Hosting e Eletro Eletrônicos (CNPJ 008.144.575/0001-90 – Avenida Doutor Chucri Zaidan, 246, SL 18, São Paulo). O responsável chama-se Frederich Resende Soares Marinho.

 Marinho é consultor de informática e trabalha em Piraúba (MG). Há uma série de reclamações de que ele vendeu hospedagens de site e não entregou o serviço. Ele é membro da Assembleia de Deus em Sorocaba. Outro dado interessante: Ingo coloca um link no e-mail para quem não quiser mais receber as mensagens. Esse link aponta para o seguinte endereço: ingo.newssender.com.br. Newssender é um serviço de marketing eletrônico (leia-se spam) registrado e vendido pela Locaweb Serviços de Internet S/A. O curioso é que é o mesmo provedor que hospeda o site do candidato tucano.

Cuidado com as regras do jogo

Por Hélio Campos Mello, dir. de Redação/Revista Brasileiros

Meu filho me pergunta sobre as eleições. Ele ainda não vota, mas vive o tiroteio pré-eleitoral que chega também à escola. Explico, então, por que votei em quem votei. Digo que quero que se mantenha o ritmo de crescimento do país dos últimos anos. Que quero a manutenção da obra – que está em andamento – para a construção de uma sociedade livre, que seja mais justa e mais solidária. Digo ao meu filho que, pela minha formação e pela que procuro dar a ele, quero a continuação do trabalho que vem sendo feito para acabar com a pobreza. E, não fosse por princípios, só o fato de hoje eu ser empresário me obrigaria a ver com entusiasmo tudo isso, que é o que me possibilita viabilizar e fazer crescer a editora que publica esta revista. Digo a ele que sei que há muitos problemas, mas que acredito que também há muitas soluções.
Que, sim, concordo, há muita bobagem sendo feita, mas que nossa obrigação é cobrar providências. Exigir soluções. Digo ao Felipe que votei em Dilma Rousseff, a candidata do Lula, e que vou repetir o voto no segundo turno. Explico a ele que assim o fiz porque espero que se dê continuidade a um trabalho e a um gerenciamento que permitiu o crescimento na área econômica e social. Que quero a continuação do respeito conquistado pelo Brasil no resto do mundo. Quero, por exemplo, viajar – como acontece agora, quando escrevo este texto de Frankfurt, na Alemanha, onde vim a uma feira de publicações – e ler, no Financial Times, bem destacada no meio de uma página, a frase: “Countries have been asking Brazil for advice on how it undertook its reforms”. “Países têm se consultado com o Brasil sobre como ele procedeu a suas reformas”, em um caderno especial sobre governança corporativa. Isso sem falar nas famosas capas da The Economist, como a do Cristo Redentor decolando, nem nas já rotineiras edições especiais que saíram e saem na imprensa internacional, sobre o Brasil, um País que hoje está muito além do samba e do futebol.Digo também que se ele se sentir convencido pelos meus argumentos, que ele chegue às suas próprias conclusões e que as defenda na escola. Que o faça com firmeza, mas com respeito em quem pensa diferente dele. E que tenha a tranquilidade de exigir que também sua opinião seja respeitada. E que o exija com clareza e firmeza.
Digo, e ele sabe, que justamente isso é o que não está acontecendo nesse tiroteio pré-eleitoral que estamos assistindo. Há tudo menos clareza nessa guerra que tem como munição mensagens eletrônicas que se aproveitam do anonimato para criar boatos e espalhar mentiras das quais não há quem consiga se defender. Não há tranquilidade na decisão de um jornal em se vangloriar de assumir uma posição política e de declarar seu voto e, ao mesmo tempo, afastar, demitir, trocar – seja lá o que for – uma colaboradora que pensa e escreve de maneira diferente.
Digo ao meu filho que esta revista que seu pai está construindo pretende manter o propósito de defender um Brasil que respeite as diferenças, coisa que faz desde seu primeiro número. Diferenças raciais, religiosas, de opinião, de opções sexuais e, principalmente neste momento, políticas.
Acrescento que não é bom chegar a conclusões apressadas, movidas por informações dúbias ou não checadas. Como na questão do aborto que parece ter tirado votos da candidata Dilma. Digo que defendo que o que importa para um presidente não seriam suas posições de foro íntimo, mas sim, a sua disposição para aceitar opiniões diversas das suas ou mesmo ter a disposição de colocá-las em discussão.
Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, já pagou preço injusto pelo fato de ter sido induzido a declarar que não acreditava em Deus. Ou de não ter sido suficientemente claro sobre a questão. O que, digamos, tem pouca importância. Importância estava, sim, na disposição que ele mostrou ter, quando Presidente da República, própria de um democrata. Disposição que o postulante deve ter em promover o respeito em quem acredite e em quem não acredite em Deus. Em quem defenda ou em quem não defenda o direito ao aborto.
E que proporcione garantias para a discussão do assunto. O que é um pouco da essência de uma democracia. Se é o que queremos. Portanto, que se definam as regras do jogo. E se realmente é democracia o que queremos é bom respeitar as diferenças.

Goleiro campeão de votos visita Lula

O ex-goleiro Danrlei Hinterholz (PTB-RS) encontrou, nesta quarta-feira (13), pela primeira vez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e afirmou que o encontro foi a realização de um “sonho”. “Primeiro que eu realizei um sonho meu de conhecer o presidente, uma pessoa que ajudou bastante o nosso País a crescer”, disse. Danrlei, 37 anos, foi o esportista que recebeu mais votos (173.787 no total) nesta eleição e conseguiu uma vaga de deputado federal pelo Rio Grande do Sul. O atleta foi o quarto mais votado no Estado.

O ex-goleiro disse que pretende investir durante seu mandato na bandeira da inclusão social pelo esporte, e defendeu o assunto com o presidente. “Fiquei à disposição para as questões que para mim são essenciais e importantes, ao meu ver, que é a questão da inclusão social através do esporte. Falei muito sobre isso com ele, dessa minha vontade de que isso aconteça, vou lutar bastante em relação a isso”. Na conversa, o tema futebol não ficou de fora. “Falamos sobre o Corinthians, meu passado dentro do esporte, jogos entre Grêmio e Corinthians naqueles tempos”. Danrlei defendeu o Remo na Série B de 2007. (Com informações do Portal Terra)

Coluna: Por uma agenda positiva

Participei ontem, na Rádio Clube, de um debate interessante sobre o futuro das divisões de base no futebol paraense e, especificamente, a respeito do acordo de Remo e Paissandu em torno dos direitos federativos de Héliton. Ao contrário dos que acreditam em nova era na relação entre os rivais, penso que duas forças antagônicas têm interesses quase sempre conflitantes e dificilmente estabelecerão parcerias duradouras.
Explico melhor: as condições favoráveis à cessão, quase de graça, de Héliton ao Paissandu têm a ver com os momentos absolutamente opostos vividos pelos dois clubes. O Paissandu, a caminho da Série B, atravessa situação positiva, com astral elevado, dentro e fora de campo. Já o Remo, combalido politicamente, amarga ainda sérios dissabores no futebol, depois de eliminado da Série D.
Diante disso, fica razoavelmente fácil entender o sucesso da transação, apesar dos termos desfavoráveis ao Remo, que recebeu R$ 70 mil de bônus e cedeu o jogador por cinco anos, com direito a 40% do valor de uma possível transferência para outro clube.
Argumentei no programa – ancorado pelo companheiro Valmir Rodrigues, com a presença de Carlinhos Dornelles (pelo Remo) e Antonio Cláudio Louro (Paissandu) – que a negociação só chegou a bom termo porque os remistas estão enfraquecidos, com a torcida desmobilizada e um presidente que tenta a todo custo fazer dinheiro antes de passar o cargo.
Em igualdade de condições, por melhor que fossem as propostas apresentadas à mesa, a transação dificilmente se consumaria. Como é impensável que isso ocorra hoje em sentido contrário, com o Paissandu transferindo – a preço de banana – um bom jogador ao velho oponente.
Não significa que remistas e alvicelestes, através de seus dirigentes, não devam construir uma agenda positiva, de convivência civilizada, que permita, eventualmente, acordos pontuais em torno da transferência de atletas ou qualquer outro item comum.
Ainda no programa, através das palavras do baluarte Dornelles, a constatação de que as divisões de base seguem sem merecer a devida atenção dos gestores. Alheios à redenção que a boa formação de craques pode representar, os clubes locais vivem de espasmos na valorização de suas crias. Qualquer dia desses acabam acordando – ou sumindo do mapa.  
 
 
Para espanto (quase) geral, o presidente do Remo declara não ter dinheiro para pagar funcionários do clube e jogadores que restaram no plantel. Alega que o clube está ameaçado por cerca de 20 leilões! Para completar, antecipou o recebimento da verba dos próximos três meses de patrocínios e zerou o caixa para o próximo presidente (a ser eleito em dezembro). A pergunta que não quer calar: se Amaro moveu céus e terras para vender o estádio, a título de sanear as dívidas trabalhistas, de onde surgem esses novos leilões judiciais? Há muita coisa a explicar e descobrir nesse campo minado em que o Remo se transformou. 

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 14)