Carcará pode receber até R$ 2 milhões na Série B

Por Eliaquim Oliveira (do Jornal do Commercio, de Recife)

Um exemplo a ser seguido. Este é o Salgueiro Atlético Clube, time do Sertão pernambucano que ganhou notoriedade esta semana ao conquistar pela primeira vez uma vaga na Série B do Campeonato Brasileiro. O Carcará, como é conhecido, superou todas as expectativas e estará em um patamar superior a muitos clubes do país. O time sertanejo disputou a Série C pela terceira vez consecutiva. Na primeira edição, em 2008, avançou na competição. Enquanto que adversários como Santa Cruz e Central, de maior tradição no Estado, ficaram para trás e acabaram rebaixados para a Série D de onde ainda não saíram. No campeonato deste ano, o Salgueiro por pouco não seguiu os passos dos colegas mais ilustres. Brigou até a última rodada contra o rebaixamento e acabou conquistando a vaga para a segunda fase.

Ao bater o Paissandu no Pará carimbou o passaporte para a Segundona Nacional, por onde passaram recentemente Vasco, Corinthians, Palmeiras, Atlético-MG, etc. E onde figuram atualmente Sport e Náutico. Este time sediado numa cidade localizada numa área conhecida como “polígono da maconha” tem apenas cinco anos de profissionalismo. No primeiro ano conquistou a Copa Pernambuco. Em 2007 foi campeão da Segunda Divisão Estadual e passou a figurar na elite do futebol pernambucano desde então. Ficou em quinto lugar em 2008. Em 2009 chegou em quarto. E em 2010 faturou o primeiro título oficial de Campeão do Interior.

Em tão pouco tempo o Salgueiro começa a fazer história. Mas qual o segredo deste time? Estrutura? Não. O estádio Cornélio de Barros, onde a equipe manda seus jogos, é Municipal e tem capacidade para apenas 6 mil torcedores. Seria o dinheiro? Nada disso. O Carcará tem uma das menores folhas salariais da Série C em torno de 60 mil reais mensais. Grandes jogadores? Nem tanto. Por lá passaram atletas que disputaram o campeonato pernambucano da primeira e da segunda divisão, dentre eles vários que vestiram a camisa do Central como Edu Chiquita, Fagner, Clebson, Rogério. Na Patativa não deram certo, mas no Sertão, sim.

A humildade, a raça e a vontade de vencer foram os fatores decisivos que levaram o Salgueiro para a Série B. E o time ainda pode levantar a taça de Campeão da Série C, o que seria um feito ainda maior. O acesso pode representar dias ainda melhores para o carcará. Além dos R$ 20 mil doados pela Federação Pernambucana como prêmio e mais R$ 30 mil que virão em caso de título o Governo do Estado anunciou que destinará recursos para a reforma e ampliação do estádio salgueirense. Sem contar com os cerca de R$ 2 milhões que o clube deverá receber em cotas de televisionamento por disputar a Série B em 2011. São feitos e fatos para deixar alvinegros e tricolores com muita inveja, mas que sirvam de lição para administrações destes clubes que com esforço e dignidade se pode chegar lugares altos. Parabéns ao Carcará que está voando longe.

Champions: Real e Milan fazem primeiro clássico

Os dois maiores campeões da história da Champions League, Real Madrid e Milan fazem o grande clássico da primeira fase da Champions League nesta terça-feira, às 16h45, no estádio Santiago Bernabéu. Antiga decisão de título nos anos 1950, a partida define apenas a liderança do Grupo G da competição com três rodadas a serem disputadas, mas ganha ares de jogo estelar tanto pela história, como pelo atual momento das duas equipes. A primeira da série de duas partidas válidas pela fase de grupos da chave G lembra a decisão da temporada 1957/1958, vencida pelos espanhóis na prorrogação por 3 a 2, e está marcada para a capital espanhola, no estádio Santiago Bernabéu. Nesta segunda-feira, restavam poucos ingressos para o jogo, que deverá contar com 200 fãs da torcida milanista, e toda a capacidade de torcedores merengues. A partida é de tamanha importância que o técnico da Seleção Brasileira, Mano Menezes, estará presente no estádio Santiago Bernabéu para ver o duelo entre os dois maiores campeões da Champions. (Da ESPN) 

Coluna: A purgação das tristezas

O tradicional fórum das terças-feiras ressurge sempre que a ocasião requer. E o revés do Paissandu, domingo, continua a despertar debates acalorados sobre a derrota em si e o próprio estágio do futebol paraense, que fraqueja diante de adversários cada vez mais modestos. “Sou torcedora, infelizmente, desse Bicola fajuto, aliás, desse futebolzinho fajuto paraense mostrado nesses últimos anos de penúria. E, por incrível que pareça, deixarei de ser insistente em esperar melhoras. Acabo de jogar a toalha como fiel. Futebol, sabe-se, ganha-se nas quatro linhas, mas garra e desejo de vencer são fora à parte. Um dia desses, ouvi um jogador dizer que não tinha obrigação de ganhar mas tinha obrigação de lutar pela vitória com todas as forças que tivesse. O que se viu, naquele primeiro gol, quando um negão perder na corrida para um baixinho, e esse mesmo baixinho dominar quase o elenco todo do adversário, é demais para as coronárias…”.
O comentário ácido é da Belinda Sá, que, além do salto alto, dos erros da cartolagem e dos festejos antecipados dos torcedores, faz uma crítica dura e sincera a nós, cronistas. “Para a imprensa que engana os torcedores mais deslumbrados, fazendo-os crer que o time era competente, e depois que perde, descobrem tantas coisas que atrapalharam. Se sabem tanto de técnica e apuro do futebol, por que não mostraram logo as fraquezas, os desníveis? Não. Mas, logo após o final do embate, descortinaram uma enorme relação de falhas que vieram desde muito longe”.
Já o amigo Sérgio Gluck Paul protesta contra certas comparações pós-jogo. “Comparar os 300 mil do Paysandu aos 60 mil do Salgueiro é um erro muito grave. O Salgueiro pode se dar ao risco de ter jogadores recebendo 2 mil ou 4 mil reais, pois, como estão no anonimato total, esses jogadores dificilmente tem contato com o assédio dos empresários que rondam a Curuzu. Imagina o Moiséis recebendo 2 mil reais? Hoje estaria de graça no Santos. Nossos jogadores devem ser protegidos por multas recisórias razoáveis e isso impacta no salário, consequentemente na folha”.
Já o amigo escritor Alfredo Garcia aborda a derrocada dos clubes paraenses e clama contra os adjetivos exagerados dados a alguns ditos talentos do nosso futebol. “Nem Tiago Potiguar, muito menos Fabrício, nem mesmo Sandro Goiano e Moisés, endeusados pela torcida e alçados à condição de semideuses pela crônica esportiva local, merecem ser chamados de craques. São jogadores de razoável para média qualidade técnica, e isso com muita condescendência”.
Bruno Augusto recomenda serenidade para encarar o futuro. “Gostaria de relembrar o que aconteceu com o Givanildo em 2000, quando o Paissandu foi eliminado pelo Remo na fase final da Copa J. Havelange. Apesar da derrota para o rival, Givanildo permaneceu como treinador em 2001 e a base do time foi mantida – e o que aconteceu? Títulos paraense e brasileiro da Série B, depois Copa Norte e Copa dos Campeões”.
 
Em meio aos choramingos pela derrota, a noite terminou com a notícia de que o Paissandu pode ainda reverter a situação no tapetão. A conferir.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 19)