No tapetão, Papão volta a ter esperanças

A especulação em torno do terceiro cartão amarelo que o jogador Edu Chiquita teria recebido no primeiro jogo entre Paissandu e Salgueiro alimentou, no final desta noite, as esperanças da torcida alviceleste quanto à reversão do resultado que eliminou o Papão da Série B. O conselheiro Abílio Couceiro foi o primeiro a levantar a hipótese, através do Twitter. Posteriormente, a assessoria de imprensa do clube se manifestou, confirmando que a diretoria vai tentar recorrer ao STJD reivindicando os pontos da partida.

Tribuna do torcedor (47)

Por Carlos Eduardo Lira Silva (cadunon@yahoo.com.br)

Não gosto de procurar culpados pelo fracasso e vexame ocorrido na Curuzu, pois todos que compõe o clube de suíço são, um pouco, culpados pelo que aconteceu na manhã de anteontem. Antes de prosseguir com o texto, ressalto que em 28 anos de (minha) vida nunca havia assistido o PSC perder uma classificação na Curuzu tendo a vantagem; infelizmente, isso é comum com o tradicional rival. Fico, agora pensando, será essa a primeira de muitas? Espero que não… Vou pontuar algumas coisas sobre nosso futebol e gostaria que o Gerson (se pudesse) escrevesse sobre alguns desses assuntos.

1) Remo e PSC são fracos enquanto times e clubes de futebol:

Sobre este primeiro tema, creio que uma das razões para o enfraquecimento do nosso futebol encontra-se no fato de tanto Remo quanto PSC abdicarem de compor times com jogadores da terra, contratando apenas a coluna do time, como era antigamente. Alguns colegas do blog podem falar, mas quando há chances para estes jogadores locais eles nada fazem em Remo e PSC. A estes colegas respondo apenas com alguns nomes locais de sucesso, que jamais perderiam para Vila Aurora ou Salgueiro: Ageú, Edil, Chico Monte alegre, Oberdan, Charles, Belterra, Tiago, Zé Augusto (o antigo), Marinho,  Jóbson, Wélber, Vanderson, Luís Carlos Apeú, Edgar… O que quero dizer com isso é que tanto Remo quanto PSC precisam investir e oportunizar que seus jogadores de base joguem no time profissional, nem que para isso o PSC ou Remo percam o campeonato (e a hegemonia) para Águia ou São Raimundo, por exemplo. Ontem fiquei olhando para o Tácio que juntamente do Paulão não ganhavam uma única bola do “Dema”, por conta desse fato fiquei pensando. “Rapaz será que o Billi (volante) e o Paulo de Tárcio (que abrimos mão) é tão ruim assim? Será que o Bernardo (liberado) ou o Admilton (liberado) é tão ruim assim? E o Japonês (hoje no Time Negra) não poderia compor a meiuca do Papão com sua visivelmente habilidosa perna esquerda? Será que o Allax não jogaria melhor que o Bosco que só fez o trivial e a Gazela Ednaldo será que não jogaria melhor que o Aldivan que assim como esse não sabe marca”. Sinceramente, creio que um time local faria muito mais pelo nosso Papão e pelo nosso Leão.

2) O triste incômodo:

Eu sou um torcedor que sofre e, não nego, ontem sofri muito, passei o dia com uma sensação de vazio, tristeza mesmo. Mas apesar de gostar muito do PSC, não sou louco de torcer contra o Remo na atual conjectura do futebol paraense. Colegas e Gerson, nós, torcedores de Paissandu e Remo, precisamos nos unir, a fim de que nossos times possam voltar a brilhar. Sinceramente, é muito pouco confortável ver o Paissandu jogando pelo 5º ano consecutivo a série C e perceber que o Remo está nesta situação agonizante pelo 3º ano consecutivo (e nem estou contando ano que ele caiu da C para a D). Em um nível de comparação local, parece a nossa querida Tuna (clube conhecido por produzir craques) que não consegue se quer disputar a fase principal do parazão, uma lástima. Creio que nosso futebol somente voltará a ser grande quando Remo e PSC ajudarem Tuna. Talvez ela seja o ponto de equilíbrio que falta para o reerguimento do futebol paraense. 

3) A imprensa paraense

Apesar dos pesares, a imprensa paraense (apesar de omitir situações sobre os clubes para não prejudicá-los) é a verdadeira heroína do nosso futebol. Espero, com toda a sinceridade, que a imprensa continue desenvolvendo este trabalho para manter viva, nos torcedores, a chama de amor pelos nossos clubes (por isso não suporto quando a Clube perde tempo transmitindo jogos de times de fora que se pudessem extinguiam o PSC e o Remo).

4) Ao invés de Copa Norte…

Ao invés de Copa Panamazônica ou Copa Norte, creio que uma alternativa para reerguimento do futebol nortista, como um todo, seja as Federações, os clubes, os empresários locais e a imprensa paraense organizarem um campeonato amazônida sub-18 e um campeonato sub-20 entre seleções dos estados amazônidas. Creio que isso, poderia impulsionar o surgimento e visibilidade craques locais.

Gerson e colegas, deixo a palavra com vocês…

Coluna: A fé cega dos vitoriosos

Antes de entrar nas minúcias do futebol de quinta categoria apresentado pelo Paissandu, cabe reconhecer a superioridade em campo do bravo Salgueiro e seus méritos pela vitória. Criado há cinco anos, portanto ainda nas fraldas, tinha tudo para chegar à Curuzu lotada e tremer. Não foi o que se viu. Como todos que se planejam para vencer, os salgueirenses não se amofinaram em nenhum instante.

Pisaram no gramado na condição de eliminados, pois o 0 a 0 beneficiava o Paissandu, mas não esmoreceram. Para piorar, sofreram um gol logo no começo. Podiam ter sucumbido, mas fizeram o que os fortes costumam fazer nestes momentos: foram à frente, com alma e coragem. Obviamente, sem esquecer de jogar, que sem isso não se chega a lugar algum. Bola de pé em pé, lançamentos para os melhores homens do ataque.

No geral, o Salgueiro é uma equipe limitada. A zaga é rebatedora e os volantes são apenas razoáveis. Acontece que quatro jogadores são tecnicamente bons e – mais importante – estavam a fim de jogo. Cléberson, Edu Chiquita, Fagner e Rogério Rios erraram pouquíssimos passes e jogaram com extrema objetividade. Quase nenhuma firula, apenas toques de primeira e movimentação constante.

O futebol não tem muitos segredos e qualquer boleiro sabe que a bola, como já decretou o filósofo Muricy Ramalho, pune. Desta vez, castigou com rigor e virulência o time que se empenhou menos, que parecia dar a vitória como favas contadas.

O Paissandu jogou com a parcimônia dos burocratas. Os jogadores se comportavam como se fossem resolver tudo quando bem entendessem. Faltou combinar com o adversário. O problema é que nem o torcedor mais cri-cri podia prever o desastre da domingueira na Curuzu.

Mas, como bem lembrou mestre Carlos Castilho, faltou interpretar alguns sinais. Quando o primeiro tempo acabou empatado em 1 a 1, com o time de Charles Guerreiro se arrastando em campo, lerdo e sem criatividade, era preciso ter tomado medidas drásticas. Tirar Fernandão, por exemplo. Aliás, de onde Charles tirou a idéia de escalar um atacante que nunca havia entrado como titular? Outra boa providência seria substituir Sandro ou Tácio, que não tinham entrado em campo.

Tudo isso acabou sendo providenciado, mas com vários minutos de atraso. E aí já era realmente tarde. A manhã avançava sobre o estádio vovô da cidade e o Salgueiro virou o marcador, depois ampliou para 3 a 1 e podia ter chegado ao quarto gol se Chiquita não errasse o balãozinho sobre Favaro. Paulão ainda descontou num daqueles 300 cruzamentos despejados na área pernambucana, mas não havia mais nada a fazer. E vida que segue.

Não cabe culpar apenas Charles pela escalação desenxabida. Há uma imensa carga de responsabilidade sobre os jogadores, que acharam que a parada estava resolvida de véspera. O empate que caiu do céu em Salgueiro, no sábado anterior, foi superdimensionado, mas devia ter servido de lição. Agora é passado. O presente indica que o Paissandu tem que começar a trabalhar para tentar tudo de novo em 2011.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 18)