Presidente eleito promete revisar pessoalmente provas do Enem

Em comentário feito em vídeo por cerca de meia hora (veja o vídeo abaixo), o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) disse há pouco que vai vistoriar a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) antes que seu conteúdo seja submetido aos alunos nos locais de teste. Bolsonaro criticou algumas questões oferecidas na edição deste ano do Enem, especialmente a relativa à espécie de dialeto falado por gays e travestis, o pajubá.

“Esta prova do Enem, vão falar que eu estou implicando. Agora, pelo amor de Deus! Este tema, da linguagem particular daquelas pessoas… O que temos a ver com isso, meu Deus do céu? Quando a gente vai ver a tradução daquelas palavras… um absurdo, um absurdo! Vai obrigar a molecada a se interessar por isso, agora? Para o Enem do ano que vem?”, reclamou o deputado, por meio de uma transmissão ao vivo no Facebook.

“Podem ter certeza,  fiquem tranquilo: não vai ter questão dessa forma no ano que vem, porque nós vamos tomar conhecimento da prova antes. Não vai ter isso daí. Vão ter perguntas sobre Geografia, dissertações sobre História, questões realmente voltadas ao que interessa ao futuro da nossa geração, do nosso Brasil. E não essas questões menores”, acrescentou Bolsonaro, elencando as “ideologias de gênero” entre as questões que ele diz considerar desimportantes.

O presidente eleito aproveitou também para falar sobre o perfil do próximo ministro da Educação, alguém que tenha “autoridade” suficiente e esteja alinhado com o Brasil “conservador”. Bolsonaro disse que o nome será anunciado muito em breve.

Veja a íntegra da transmissão:

Além da questão do Enem, Bolsonaro falou sobre diversas polêmicas que ele ou membros de sua equipe protagonizaram nos últimos dias. Ele citou, entre outros assuntos, o reajuste do teto salarial brasileiro, a reforma da Previdência, fusão de ministérios, indicação do juiz Sérgio Moro para o “superministério” da Justiça, crise com a Palestina a respeito de Jerusalém. Para Bolsonaro, a imprensa quer “botar na minha conta” questões que, em alguns casos, sequer lhe dizem respeito ainda. “Nós precisamos de uma equipe para salvar o nosso Brasil”, discursou.

Exame

Realizado anualmente, o Enem teve uma primeira etapa de provas realizada no último fim de semana, e terá consecução e encerramento no próximo domingo (11), com questões referentes a Matemática e Ciências da Natureza. O exame é realizado desde 1998 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia do Ministério da Educação. Mas foi em 2009 que o Enem passou a ser aplicado como forma de acesso ao ensino superior.

A metodologia não é a mesma dos vestibulares tradicionais. As questões apresentadas não são elaboradas integralmente por um mesmo grupo, mas escolhidas entre itens dispostos em um banco de dados com milhares de questões já aplicadas por diversos professores, há anos. (Do Congresso em Foco)

Era só o que faltava: presidente assumindo papel de bedel… estamos bem arrumados. 

Bolso planeja dar embaixada na Itália como prêmio a Michel Temer

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Michel Temer tem grandes chances de ser nomeado embaixador do Brasil na Itália, quando o presidente eleito Jair Bolsonaro tomar posse. Segundo informações do Correio Braziliense, a indicação é tratada como uma “saída honrosa” para o presidente em fim de mandato. Confirmada a nomeação, Temer manteria o foro privilegiado.

Segundo o jornal, a contar pelos últimos acontecimentos, a embaixada do Brasil em Roma terá grande participação no próximo governo. O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), a quem caberá nomear ou não Temer, se encontrou com o embaixador da Itália para definir as questões sobre a possível extradição do ex-ativista italiano Cesare Battisti, acusado de terrorismo na Europa e exilado no Brasil.

Interlocutores de Temer disseram ao Correio Braziliense dizem que há dois inconvenientes na suposta nomeação para um cargo no exterior. O primeiro é que o atual chefe do executivo federal não se sentiria confortável em responder ao novo governo – condição a qual ele se colocaria como embaixador.

A segunda justificativa é que, juridicamente, o presidente acha que não há vantagem em manter o foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF). Ministros têm negado pedidos da defesa dele. Por isso, seria mais vantajoso o processo ir para um juiz da primeira instância.

Ex-Águia, atacante Keno desperta interesse de grandes clubes

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O atacante Keno está na mira do Flamengo. Pelo menos é isso o que diz o canal “Fox Sports”. O jogador de 29 anos, que está no Pyramids FC, do Egito, pode retornar ao futebol brasileiro em 2019 e a Gávea é um dos prováveis destinos.

O canal esportivo revelou que o clube carioca consultou o staff do atleta sobre a possibilidade, mas não fez proposta oficial. Além do Flamengo, Grêmio e Palmeiras também teriam interesse em Keno, que defendeu o Verdão antes de ir para o futebol africano.

Keno foi jogador do Águia de Marabá, há quatro anos, sem despertar o interesse de nenhum dos grandes do futebol paraense.

Jogadores do PSG ganham bônus em dinheiro para saudar torcida nos estádios

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A cláusula de contrato garante aos jogadores do Paris Saint-Germain um bônus salarial caso cumpram uma série de requisitos de ética e comportamento -entre eles, o cumprimento aos torcedores ao final de cada jogo. Em resposta, Neymar e Thiago Silva se manifestaram nas redes sociais criticando a notícia e dizendo que tudo não passa de fake news.

O prêmio varia de acordo com cada jogador. Neymar tem previsto € 375 mil por mês (R$ 1,6 milhão) em contrato neste quesito, enquanto Kylian Mbappé tem € 117 mil (cerca de R$ 500 mil). Daniel Alves e Edinson Cavani levam € 70 mil (R$ 300 mil) cada, e Thiago Silva, € 33 mil (R$ 140 mil). informações são da emissora França 2, que obteve documentos sigilosos pelo site Football Leaks.

O bônus havia sido noticiado anteriormente por outros veículos, mas os valores não eram conhecidos. O próprio clube, quando puniu Marco Verratti recentemente, disse estar retirando parte de seu “bônus por ética”. Nesta semana, diversos veículos de comunicação estão divulgando detalhes dos bastidores do futebol por meio do Football Leaks, sendo que dois casos de grande repercussão envolvem o PSG.

No começo da semana, Mbappé foi o alvo, com detalhes da negociação, pedidos salariais, influência da família e cifras exorbitantes reveladas nos documentos obtidos pela revista alemã Der Spiegel e analisados pela Mediapart, em parceria com a EIC (Colaborações Investigativas Européias).

Já na quinta-feira (8), documentos liberados pelo site, e publicados pela Mediapart, insinuam que o clube praticou discriminação racial para selecionar jogadores para as categorias de base. Horas após a publicação, o PSG confirmou a veracidade da acusação. Com informações da Folhapress.

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A vez da mão-de-obra nativa

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POR GERSON NOGUEIRA

Os times de futebol no Brasil disputam competições com elencos formados quase sempre a partir de informações desconexas, indicações de pessoas não habilitadas, demonstrando ausência de critério e descuido quanto à verificação de desempenho dos atletas. Os resultados dessas escolhas inapropriadas acabam se revelando, da pior forma, ao longo de campeonatos e torneios.

Como o futebol é atividade sujeita a percalços de toda ordem, acaba aceitando a influência de fatores inusitados para desfechos surpreendentes. Não é incomum, portanto, que ocorram situações capazes de desafiar a lógica dos fatos, premiando soluções apressadas e mal avaliadas.

No Pará, useiro e vezeiro na prática de contratações massivas, ao sabor da irresponsabilidade de muitos e da esperteza de outros tantos, já tivemos exemplos de equipes constituídas às pressas e que tiveram êxito pleno ou parcial.

Apesar de raros, tais casos servem para corroborar as piores práticas, sendo usados como argumentação contra quem defende método e organização, planejamento de longo curso e preocupação com a qualidade.

A dupla Re-Pa caminha de mãos dadas nesse departamento. É bem verdade que os azulinos trilham a rota do improviso há tempos, de maneira continuada e teimosa.

Os bicolores, ao contrário, têm se mostrado sinceramente mais preocupados em fugir aos velhos hábitos. Há seis anos, desde a ascensão do grupo políticos Novos Rumos, uma revigorada geração de dirigentes persegue atitudes mais adequadas às modernas práticas de gestão. São elogiáveis os esforços nessa direção.

Talvez por isso haja espanto quase geral com a sequência de erros que o clube ostenta nas últimas edições da Série B. Com executivos de futebol diferentes, as contratações não fugiram muito à regra de sempre, priorizando atletas rodados, vindos de equipes paulistas e paranaenses medianas.

Ao invés de seguir a infalível cartilha da atualização de dados, com atenção ao rendimento anterior dos jogadores buscados, os executivos e diretores do Papão deixaram-se levar por indicação de técnicos, quase todos previamente comprometidos com os chamados “atletas de confiança”.

Só isso explica, por exemplo, na atual Série B, o PSC ter contratado 29 atletas, alguns a custo significativo, sendo que vários nem chegaram a disputar três jogos completos, por deficiência técnica ou problemas de condicionamento.

Três casos são exemplares: Jonathan, Guilherme Teixeira e Fábio Alemão. O último nem estreou e, provavelmente, não será escalado nas próximas três partidas. Veio do Internacional, com boas recomendações, mas sumiu depois de chegar à Curuzu. Seria tecnicamente inferior a Timbó?

O zagueiro Guilherme foi escalado por Guilherme Alves, atuou três vezes e não mais foi lembrado. Jonatas, também trazido no período de Alves, que o definiu como um volante que poderia atuar na lateral com eficiência, também foi relegado ao esquecimento após quatro entradas no time – contra Ponte Preta, Brasil, Sampaio e São Bento.

Em meio a isso, jogadores contratados no começo do ano foram sendo descartados. Moisés foi liberado após longo jejum de gols, Renan Gorne também.

O experiente volante Cáceres vive um esquisito exílio interno. Jogou quatro vezes (Juventude, Avaí, Boa e Fortaleza). Ficou lesionado e, depois de liberado pelo DM, só participa dos treinos. Fica encostado, mesmo sendo um dos maiores salários do grupo. Sua única aparição, no banco de reservas, foi o cartão amarelo recebido contra o CRB.

E aí, na hora do aperreio, os nativos são finalmente lembrados. A entrada de Magno (foto) e William comprova a velha máxima. Dado Cavalcanti, Guilherme Alves, Ailton e o próprio Brigatti não levavam fé na dupla. Eram pouco escalados, nunca como titulares absolutos.

Como não é mais possível bancar as opções por jogadores que não rendem (como Claudinho), Magno virou a bola da vez. É velocista, joga pelos lados e faz gols, uma raridade no atual naipe de atacantes bicolores. Deverá ser mantido até o final, pois não há alternativa mais confiável para as necessidades atuais.

Interessante é que, a cada boa atuação de um jogador pouco badalado, confirma-se o caótico processo de contratações que tanto mal causa ao PSC nesta Série B.

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Um mar de mistérios e desinformações

Bombástico boato com cheiro de factoide irrompeu em meio à conturbada campanha eleitoral no Remo. Teria aparecido um misterioso grupo investidor – supostamente do segmento atacadista de São Paulo – disposto a investir R$ 10 milhões no clube. A oferta estaria em mãos da diretoria e já teria sido comunicada ao Condel, cujo presidente negou ter recebido qualquer informação concreta a respeito.

Surpreende tamanha disposição para investimentos em momento especialmente nublado da economia nacional. Mas, se for verdade, é ótima notícia para os azulinos. Serviria para compensar o festival de baixarias que alguns descerebrados promovem para tumultuar a eleição.

Caso seja algo realmente sério, fica a dúvida sobre o motivo de tanto mistério. O que impede a presidência do Remo de anunciar publicamente a existência de tal proposta, submetendo-a à apreciação dos conselheiros? Caso a história não seja esclarecida, ficará a suspeita de que é mais um factoide para ludibriar eleitor desavisado.

(Coluna publicada no Bola desta sexta-feira, 09)

Nova lei antiterrorismo ameaça liberdade de expressão

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Por Raphael Tsavkko Garcia – The Intercept_Brasil

O seu like descompromissado ou o seu compartilhamento engajado podem lhe render uma pesada pena por apoio ou apologia ao terrorismo se uma mudança na Lei Antiterrorismo for aprovada. O projeto está em debate no Congresso e pode ser aprovado nas próximas semanas.

A lei que pode transformar meras curtidas nas redes sociais em crimes contra a pátria nasceu após uma reportagem da revista Veja sobre um recrutador de brasileiros para o Estado Islâmico. Com medo de brasileiros “radicalizarem” e passarem a cometer atos terroristas como os extremistas do Islã, o senador gaúcho Lasier Martins, do PSD, apresentou em julho de 2016 um projeto para endurecer a Lei Antiterrorismo, que havia sido aprovada por Dilma Rousseff três meses antes, pouco antes do impeachment. Para Martins, a proposta sancionada por Rousseff – com muitos vetos – era “inócua”. Era preciso, segundo ele, endurecer a caçada aos terroristas.

Dois anos depois, a proposta, o PLS 272/2016, voltou à pauta – mas o contexto é bem diferente. Seu projeto ganhou novos contornos e, às vésperas do governo de Jair Bolsonaro, é o instrumento que faltava para o governo perseguir e prender opositores – ou “terroristas”, seja lá o que for classificado desta maneira. A lei, na prática, já poderia criminalizar movimentos sociais e manifestações de qualquer tipo, mas, se a nova proposta for aprovada, o cerco ficaria ainda pior.

Apoiado por Bolsonaro, o novo projeto caiu no colo do senador ultraconservador Magno Malta, do PR, aquele mesmo que conduziu a reza da vitória depois do resultado do segundo turno. Sem conseguir se reeleger para o Senado e já buscando preparar o terreno para o novo governo (do qual possivelmente fará parte como ministro), Malta aproveita o período de transição, em que as atenções ainda estão dispersas, para articular a aprovação do projeto às pressas na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

“A gente sabia que uma hora ele [o projeto de lei] ia efetivamente entrar em votação, esperando um momento favorável”, diz Camila Marques, advogada da Artigo 19, ONG que apoia o acesso à informação. “A eleição de Bolsonaro, que defendeu abertamente a inclusão de movimentos de luta pela moradia, por exemplo, na lista de grupos terroristas, criou exatamente esse momento favorável.”

Lasier Martins e Magno Malta miraram no Estado Islâmico – mas, na prática, podem afetar qualquer pessoa que se opõe ao governo. Entre as mudanças, está definido como terrorismo o ato de “incendiar, depredar, saquear, destruir ou explodir meios de transporte ou qualquer bem público ou privado, com o objetivo de forçar a autoridade pública a praticar ato, abster-se de o praticar”. Este trecho estava no projeto original aprovado em 2016, mas foi vetado por Dilma Rousseff. Outra mudança é a tipificação do ato de “louvar outra pessoa, grupo, organização ou associação pela prática dos crimes previstos” na lei – inclusive na internet. Uma moldura na sua foto de perfil do Facebook, por exemplo, em uma interpretação ampla – mas possível – da lei.

Como relator, Magno Malta não apenas deu seu parecer favorável ao projeto, como ainda buscou torná-lo pior e mais perigoso a movimentos sociais, com o acréscimo de duas emendas. A primeira altera o artigo que define o que seria terrorismo. O projeto original dizia que terrorismo é a “prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos nesse artigo por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia ou religião”. Malta acrescentou ao texto “ou por outra motivação política, ideológica ou social”. A manobra mira políticos e que pregam transformação social como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), alvos preferenciais dos ataques do presidente eleito Jair Bolsonaro. Sabe a camiseta ou boné do MST? Então: pode ficar complicado desfilar com ela por aí.

Cuidado com eventos no Facebook

A segunda alteração acrescenta a tipificação de “atos preparatórios” de um suposto ato terrorista. A redação proposta por Malta acrescentaria que “nas mesmas penas incorre aquele que, pessoalmente ou por interposta pessoa, presta auxílio ou abriga pessoa de quem saiba estar praticando atos preparatórios de terrorismo”. Como seria provada a intenção? Seriam usados posts na internet? Escrever, mesmo que de brincadeira, sobre a intenção de matar uma autoridade, incendiar o Congresso ou algo parecido, valeria uma condenação?

Se as sugestões de Malta forem aprovadas, barricadas com fogo, muito comuns em manifestações, poderiam ser consideradas parte de um plano terrorista, e qualquer manifestação popular poderia ser automaticamente enquadrada por suas motivações “política, ideológica ou social” – em especial se a polícia agredisse os manifestantes e os acusasse de reagir ou incitar.

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O artigo alterado também trata de quem potencialmente auxilie em tais atos, podendo criminalizar quem meramente tenha contato com o suposto terrorista, como alguém que lhe venda algum material a ser usado em ato terrorista, ou alugue ou empreste uma casa ou um carro, mesmo que não faça ideia das intenções do suposto criminoso.

Mas piora: pode ser que você compartilhe um evento no Facebook, convocando para um protesto, e a manifestação tenha conflito, barricadas e vidraças quebradas. É o suficiente. Não apenas quem estava na manifestação pode ser acusado de participar de um ato terrorista, como quem compartilhou o evento, convocou ou incentivou a participação pode ser enquadrado na Lei Antiterrorismo por prática de “atos preparatórios”. Se você ainda comemorar posteriormente ou celebrar os que conseguiram sair ilesos ou desafiaram a polícia durante o protesto, estará em situação ainda pior – terá praticado “atos preparatórios” e ainda terá louvado “pessoa, grupo, organização ou associação pela prática” do terrorismo.

Durante os debates, o senador Randolfe Rodrigues, da Rede, alertou que o objetivo de Martins e Malta seria o de estender qualquer tipo de crime para os movimento sociais. “É um ato de censura, de combate ao direito de ir e vir e à liberdade de manifestação, conceituado na Constituição”, disse Rodrigues. O senador petista Lindbergh Farias classificou o projeto como um violento atentado à democracia. “Em cima desse texto, podem prender militantes de movimentos estudantis, movimentos sindicais, estamos criminalizando o MST”, afirmou.

A oposição pediu uma audiência pública e conseguiu travar, no dia 31 de outubro, a votação na Comissão de Constituição e Justiça no Senado. A intenção é tentar impedir que o projeto seja votado em 2018 – mas Bolsonaro já sinalizou, inúmeras vezes, suas intenções ao lidar com opositores e movimentos sociais, especialmente os que taxa como “esquerdistas”. “Vamos botar um ponto final em todos os ativismos do Brasil”, chegou a dizer, durante um ato na Avenida Paulista uma semana antes de ser eleito presidente.

Em entrevista para a Folha de S.Paulo, a historiadora Maud Chirio, pesquisadora sobre a direita brasileira, deu voz às preocupações dos movimentos: “Para mim, no dia 3 de janeiro de 2019 [dois dias após a posse de Bolsonaro], o MST e o MTST serão declarados organizações terroristas“. Com as modificações, este não seria um cenário difícil de se concretizar. De olho em um espaço no futuro governo, Malta faz o que pode para garantir um emprego em 2019.

Herança do PT

Embora nunca tenha sido usada para criminalizar movimentos sociais, a Lei Antiterrorismo é um legado da gestão de Dilma Rousseff, na época preocupada com os protestos que ocorriam no Brasil em junho de 2013 e em possíveis manifestações que poderiam bagunçar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

O Brasil mal havia tido tempo de respirar após os grandes protestos de junho de 2013 quando, em novembro daquele mesmo ano, a comissão mista da Consolidação das Leis e Regulamentação da Constituição do Senado, presidida pelo senador Romero Jucá, do MDB, e pelo deputado federal petista Candido Vaccarezza, apresentou o Projeto de Lei do Senado 499/2013.

Nascia ali o embrião do projeto da Lei Antiterrorismo. O PL tipificava, já em seu primeiro artigo, o terrorismo como “o ato de provocar ou infundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa à vida, à integridade física, à saúde ou à previsão de liberdade de pessoa”. O objetivo da lei era atualizar a antiga Lei de Segurança Nacional, aprovada durante a ditadura, e que seria insuficiente para lidar com o tema específico e cada vez mais discutido do terrorismo (como consta na justificativa do próprio projeto).

O país ainda tentava entender o que havia acontecido nos últimos meses de revolta social, mas os poderes da república estavam mais preocupados em garantir que junho nunca mais acontecesse – e, se acontecesse, que fosse ainda mais duramente criminalizado e reprimido. E 2014 era ano de Copa e logo depois, em 2016, viriam os Jogos Olímpicos – era importante, naquele contexto, impedir protestos que pudessem se tornar violentos.

proposta foi criticada pela OAB, que considerava não haver “justificativa para que se promova a tipificação da conduta em lei específica” e contra movimentos sociais. Mas a nova lei foi desde o princípio apoiada por políticos da oposição e do governo. Se por um lado o então ministro dos esportes, Aldo Rebelo, do PCdoB, comentava que o que mais preocupava às vésperas da Copa de 2014 eram os crimes comuns e não o terrorismo, por outro, senadores do PT como Jorge Viana e Paulo Paim, defendiam a votação urgente do projeto.

O deputado petista Humberto Costa fazia uma oposição solitária à proposta. Declarou, na época, que “tem que ficar absolutamente claro que terrorismo é aquilo que representa, de fato, uma ameaça ao Estado, e ao regime democrático que leve a uma risco de ruptura. Não podemos pegar as manifestações sociais e classificar como o terrorismo”.

Passou a Copa do Mundo, e o texto seguia parado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado em 2015. Quase ao mesmo tempo, no entanto, o governo apresentou na Câmara dos Deputados outro projeto, que alterou a Lei das Organizações Criminosas, e tipificou o crime de terrorismo, prevendo as penas mais pesadas de 15 até 30 anos em regime fechado.

O governo dizia que levou adiante a lei atendendo às cobranças do Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo, uma organização intergovernamental formada por 36 países, incluindo o Brasil, que exigiu uma tipificação para o crime de terrorismo. Especialistas, no entanto, viram a proposta como uma forma do governo federal ampliar o estado policial, que já estava em curso com a criação da Força Nacional de Segurança (pelo então presidente Lula em 2004) e a ocupação de favelas (como Maré e Alemão) pelo Exército.

O projeto passou como um relâmpago pela Câmara e Senado e se tornou lei em março de 2016, quando foi sancionado por Dilma Rousseff – a tempo das Olimpíadas do Rio de Janeiro. Rousseff vetou alguns dos artigos mais polêmicos, como o que considerava como atos de terror “incendiar, depredar, saquear, destruir ou explodir meios de transporte ou qualquer bem público ou privado” ou ações de “interferir, sabotar ou danificar sistemas de informática ou bancos de dados”, além da “apologia ao terrorismo”.

Apesar disso, ativistas especialistas ligados ao Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos apontaram para o perigo que a lei representava pela sua mera existência e a possibilidade de servir de base para futuras perseguições políticas.“As disposições do projeto por si só não garantem que essa lei não seja usada contra manifestantes e defensores de direitos humanos”, disse o representante da ONU Amerigo Incalcaterra. Eles apontaram esse cenário caso houvesse uma maioria capaz de alterar o texto e passar por cima dos vetos da então presidente – ou mesmo uma interpretação da lei pelas autoridades que levasse à criminalização de movimentos sociais e protestos, como alertou Guilherme Boulos na época. Dito e feito.

Imediatamente após a aprovação da lei, em 21 de julho, 15 suspeitos foram presos no Rio de Janeiro acusados de planejar um atentado terrorista durante as Olimpíadas em uma operação até hoje envolta em dúvidas e controvérsia. Oito foram condenados.

Na tentativa de obter total controle sobre as ruas após 2013 com a emergência de novos movimentos autônomos e descentralizados apostando no uso pesado de redes sociais, o PT de Dilma e Lula buscou formas de garantir sua segurança institucional com a certeza de que se perpetuaria no poder. O apoio de partidos aliados à direita (e mesmo opositores) não foi uma surpresa – era do interesse de diversas esferas do poder a aprovação de uma lei que limitasse protestos.

Mas a manobra poderá custar muito caro à esquerda e mesmo à população em geral, que passou a tomar gosto por sair às ruas em protestos independentemente do espectro político. “Somente uma resistência articulada é capaz de barrar os retrocessos e esses instrumentos de repressão e criminalização”, diz Camila Marques.