A vida não cansa de nos empurrar pacotes que não pedimos nem compramos, mais ou menos como agem aquelas operadoras de telemarketing especialistas em tirar do sério até monge zen-bundista. Mas não abri esse post para falar dessas invasões de privacidade pelo telefone. Minha bronca é com a descaracterização das festas juninas. Nasci num lugar que tem Santo Antônio como padroeiro. Basta dizer isso para deixar claro o quanto as festividades do mês de junho me são particularmente caras. Fico, por essa razão, bastante mordido quando entro no shopping bacaninha, super bem transado, perfumes florais no ambiente, etecétera e tal, e deparo com aquele arraial de boutique na praça de alimentação.
E tome comidinhas que nada têm a ver com a quadra homenageada. Cadê o arroz doce, a canjica, a pamonha? Até fazem algumas tentativas toscas, usam (em vão) o nome dessas delícias interioranas, mas o sabor é de palha seca misturada com plástico. Não dá para engolir esse tipo de desrespeito, meus amigos. É um achincalhe.
Ainda mais para quem, lá em Baião, aprendeu desde moleque a apreciar os doces preparados por minha avó Alice. Estamos diante de um verdadeiro crime de apropriação indébita dos nomes dos quitutes juninos por parte de mãos fraudulentas. Alguém precisa localizar e convocar as cozinheiras e doceiras do interior paraense para ensinar essas impostoras da capital.
Além de poluir o visual com sujeitos vestidos de vaqueiros do Texas tirando onda e tomando o lugar dos verdadeiros jecas de junho, alguns desses estabelecimentos cheios de caqueado que infestam o shopping inventam de modernizar a festa. Por sugestão de alguns gênios do marketing, pessoal sempre descoladíssimo, já pipocam alguns pratos alienígenas na quadra junina. Já vi sushi, sashimi e até yakisoba expostos junto com inocentes quindins e cocadas. Não dá, tou pegando corda. É motivo mais do que suficiente para decretar guerra ou, como manda a moda do momento, propor a criação de um novo Estado.