Por Demerval Moreno
Conta-se a história do Urubu que vivia ali pelo Ver-o-peso em Belém, brigando por um peixe ou um pedaço de pelanca, magro velho, até que alguém o viu e dele se compadeceu. A bondosa alma o levou para outro estado, onde havia abundancia de carne, peixe e outros alimentos. Mas qual não foi a surpresa do seu benfeitor ao ver que o urubu andava triste e cabisbaixo pelos cantos, quase morrendo de fome e inanição. Como poderia ser isso, diante de tanta fartura? A negra ave reuniu as últimas forças e respondeu ao seu benevolente amigo que estava daquele jeito, em estado deplorável, porque não tinha a mesma alegria que tinha entre os outros milhares de urubus que brigavam por um pedaço de comida no concorrido Ver-o-peso; que mesmo num lugar de tanta fartura, o que ele sentia falta mesmo era da bagunça.
Tem paraense que mora fora do Pará e/ou de Belém e sente falta daquela falta de organização. Paraenses que pegaram suas malas e arribaram rumo a dias melhores; que saíram de suas terras, de seus quintais cheios de pés de açaí, cupuaçu e pupunheiras e foram catar maçãs, uvas e outros frutos de outras doçuras. Mas que carregam em seus peitos doída saudade desse estado maravilhoso.
O que nos fez pegar a boroca e partir foi a bagunça que certos “urubus” fizeram com o estado e suas economias, suas estradas, suas ruas e vicinais; com suas escolas, hospitais e postos de saúde. Tá uma bagunça e falo com franqueza: sou um paraense, mas dessa bagunça não sinto saudade e não quero isso para os meus filhos e netos. Saí da terra que também era minha e fui para o Maranhão – terra dos outros. Lá era “forasteiro”. Era urubu que pensava na luta que meus irmãos travavam por um naco de carne. Fui mais adiante, sempre para a frente e vi como as aves livres de estados como o Tocantins conseguiram fazer valer sua liberdade. Criaram suas possibilidades e saíram da dependência daqueles que lhes deixavam apenas a carniça social, as migalhas e mazelas de governos distantes.
Não! Eu sou um urubu que voa alto. Vi como é bom ser livre. Não tenho saudade daquela bagunça do “Ver-o-Peso”. Quero um ESTADO NOVO, onde haja pão para todos e o conhecimento seja partilhado; onde a esperança seja um ato e não “fato”. Não vivemos de restos. A gente só “gosta” de carniça e coisas putrefatas até descobrir que há lugares de sombra e carne fresca para nos matar a fome.