Quem perdeu, vai ter muito o que lamentar pelo resto de seus dias. Os que assistiram, no estádio ou pela TV, devem se considerar privilegiados. Foi o melhor jogo do ano e um dos melhores dos últimos dez anos, sem qualquer sombra de dúvida. Santos e Flamengo pareciam enlouquecidos em campo, marcaram nove gols e ainda houve um penal desperdiçado.
Houve lambança das defesas, mas o que conta mesmo é a voracidade ofensiva dos times. Nos primeiros 20 minutos, o Santos esboçou golear. Fez três gols, um deles antológico do infernal Neymar, perdeu outros tantos e aí caiu naquela soberba típica dos garotos – e que costuma ser a ante-sala do infortúnio, na bola e na vida. Neymar, Ganso e até outros menos virtuosos se metiam a fazer jogadas de efeito, complicando o simples.
Do outro lado, apesar de levar tantos gols em tão pouco tempo, o Flamengo jogava bem. O passe fluía e a dupla Ronaldinho e Tiago Neves criava seguidas chances, quase sempre desperdiçadas pelo atrapalhado Deivid, que perdeu gol até em cima da linha. Faltava aquele último toque para as redes e isso normalmente vai demolindo a auto-estima de qualquer equipe.
Aos poucos, o Santos foi refreando o ímpeto assassino. Enquanto cadenciava o jogo e caprichava nas firulas, o adversário aproveitou para se reerguer. Veio o primeiro gol, em vacilo do goleiro Rafael. Logo em seguida, o segundo. Pronto. O Flamengo renascia das cinzas.
Os deuses da bola ainda deram uma réstia de chance aos anfitriões. Em arrancada belíssima, Neymar foi empurrado na área e a torcida exigiu que o penal fosse entregue a Elano – aquele mesmo do chute que alcançou as nuvens na Copa América. Péssima idéia. Elano conseguiu ser ainda mais displicente que na Seleção e inventou uma canhestra cavadinha, batendo uma petequinha nas mãos do goleiro rubro-negro. Esqueceu que só um Loco (Abreu) faz esse tipo de coisa. Era a bola do jogo.
A partir daquele momento, o Flamengo ganhou a confiança que faltava. Chegou ao empate e quase virou ainda no primeiro tempo. Veio o intervalo, Muricy deve ter esquentado a orelha da molecada santista e o time voltou mais plugado. Logo de saída, Neymar fez outro golaço e as coisas pareciam sob controle. Ledo engano.
Sob o comando de Ronaldinho, em sua melhor performance desde os tempos iluminados de Barcelona, veio o novo empate – com a colaboração involuntária do nosso Ganso – e a espetacular virada, em lance típico de futsal que já havia executado pelo timaço catalão. Ainda houve chance de mais um gol, mas aí já seria exagerado. Acho que até os deuses já se davam por satisfeitos pelo futebol alegre, ofensivo, imune aos esquemas e modismos. Pena que durou apenas uma noite. Mas, que noite!
O Remo ensaia mudanças na estrutura do futebol profissional. Pedro Minowa e Hamilton Gualberto devem ficar responsáveis pelo setor. Mais que escolher nomes, o clube deve definir já sua política de contratações. Não há mais espaço para salvadores da pátria.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 29)
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