Depois de um grande jogo, no último domingo, entre Remo e Paissandu, o torcedor paraense tem a oportunidade de ver hoje à noite outro confronto de alto nível. Pelos bons tempos do nosso futebol, que já vão longe, adquirimos a mania de achar que nossos times são quase imbatíveis em casa. No passado, era assim. Hoje, nem tanto.
Ainda assim, embalado pela grande vitória sobre o rival, o Paissandu tem reais possibilidades de superar o visitante, embora o favoritismo esteja do lado paulista. Com jogadores mais qualificados e em franca evolução desde que Antonio Carlos Zago substituiu Muricy Ramalho no comando, o Palmeiras também traz um resultado digno de respeito.
Virou um placar que parecia perdido, domingo, dentro da Vila Belmiro, sobre o Santos de ataque arrasador e dos meninos malabaristas – que já estão na cidade para pegar o Remo amanhã. Além da capacidade de reação, mostrou um conjunto competitivo, afinado e que ganhou qualidade com a entrada de Lincoln e Everton.
No Paissandu, o maior perigo está na empolgação que domina a todos pela maneira acachapante como suplantou o velho rival. Há a ambição (legítima) de fazer barba-cabelo-bigode, contabilizando vitórias, hoje e domingo. Do presidente ao porteiro do clube, quase todo mundo passou a olhar Moisés como super craque e a enaltecer Didi como excepcional centroavante. Já há quem veja no “molequinho da Curuzu” a versão melhorada de Neymar.
Exageros à parte, Charles Guerreiro pode escalar um time forte, capaz de suportar a pressão e tenha forças para ir ao ataque, sempre que surgir espaço. Flávio Medina pode entrar na lateral direita e Zeziel na esquerda. Um problema: meio-campo não terá Tiago, o motorzinho de domingo. Sem ele, Charles terá que se valer de Marquinhos, meia que andou esquecido na Curuzu durante a era Barbieri. No ataque, a grande esperança: Moisés, que não é Neymar, mas anda jogando muita bola.
Vejo o VT do histórico embate Alemanha x Holanda, em 74, e não desperdiço a oportunidade de rever alguns conceitos, passados 36 anos. Sempre tive na memória a impressão de que a Laranja Mecânica tinha sido avassaladoramente melhor e havia perdido nos detalhes. Constato agora que a Alemanha sofreu o gol logo a um minuto, após arrancada de Cruyff que resulta em pênalti, e a partir daí soube reconstruir seu jogo, com habilidade e técnica refinada. Enfrentou a habilidade, rapidez e a incrível objetividade da máquina holandesa, mas foi superior.
Título merecido, com todas as honras. Aliás, um dos preciosos ensinamentos de Cruyff, a propósito daquele jogo, foi a de que fazer um gol muito cedo numa final de Copa é um fardo pesado demais. Obrigatório registrar o show proporcionado por Paul Breitner, Overath, Berti Vogts, Rep, Kroll, Suurbier. E, acima de todos, Sepp Mayer, o pai de todos os goleiros. Fez umas seis defesas magistrais no 2º tempo. Um monstro. Aliás, diz a ESPN, Mayer foi convencido a virar goleiro pelo próprio Kaiser, seu amigo de infância. Sem dúvida, um grande conselho.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 17)