POR GERSON NOGUEIRA

Nunca antes na história deste país a Série C do Campeonato Brasileiro reuniu tantos times de tradição, torcida e bom retrospecto como na edição que se aproxima. O grupo que normalmente reúne clubes do Norte e Nordeste é o que mais contará em 2019 com equipes fortes e quase do mesmo nível técnico, o que confere à competição um grau de dificuldades sem precedentes.
Está habilitado para a disputa, ao lado do Remo e do Atlético Acreano, únicos representantes nortistas, um verdadeiro exército nordestino. Quando se refere à Copa do Nordeste, o pernambucano Xico Sá, craque da crônica e das letras em geral, usa o apelido carinhoso de Lampions League, valorizando o trocadilho com a maior competição de clubes do planeta. O chiste cabe bem nesta situação específica da Série C.
O campeonato do próximo ano reúne todos os requisitos para ser empolgante e, pelo menos da banda de cá, uma pedreira terrível. E a coluna está se atendo aos clubes definidos até a última sexta-feira, incluindo o Sampaio Corrêa, já rebaixado da Série B – a situação do PSC ou do CRB só se definiria na rodada deste sábado.
Além dos já citados Náutico e Santa Cruz, a chave A terá Botafogo-PB, Confiança-SE, Globo-RN, Atlético-AC, ABC-RN e Remo, todos remanescentes da edição 2018, mais Treze-PB, Ferroviário-CE e Imperatriz-MA, que subiram da Série D e o Sampaio, que caiu da B.
Em caso de rebaixamento de PSC ou CRB, o caldo engrossará ainda mais, ampliando o equilíbrio na busca pelo acesso à Série B. Com o provável remanejamento do Atlético-AC para o grupo B, o confronto deverá ser direto e aberto entre o Remo e nove times do Nordeste.
Mais do que nunca, os esforços da nova diretoria azulina devem se concentrar na estruturação de um time competitivo, capaz de lutar na parte de cima da classificação, fugindo ao desespero vivido nesta temporada, quando a cinco rodadas do final o Remo estava quase rebaixado.
É preciso, acima de tudo, compreender que a competição mudou de feição. Na primeira fase, que classifica quatro equipes para as semifinais, o futebol terá um perfil de jogo rápido e voltado para a marcação, características das equipes nordestinas. A partir da segunda etapa, começam os confrontos com times do Sul e Sudeste, de porte físico maior e adeptos do jogo aéreo.
O Remo não poderá repetir os erros exibidos na preparação e na busca de jogadores para compor o elenco, cujos desatinos estouraram na reta decisiva da competição, envolvendo até a perda de três atletas importantes – Everton, Ruan e Rafael.
Para 2019, os erros cobrarão um preço muito mais alto do que em 2018. João Neto assumiu o comando do time e conseguiu evitar a queda jogando contra adversários do mesmo nível. Na Série C que vem por aí dificilmente será possível ter uma reação heroica como a deste ano.
A conferir.
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Rolos marcam venda dos direitos do Brasileirão pela CBF
A CBF parece fadada a arrumar problemas sempre que contratos milionários chegam à mesa de negociações. O novo rolo envolve a licitação para venda de direitos de transmissão e exploração dos jogos do Campeonato Brasileiro para o exterior, no período de 2019 a 2022. O martelo foi batido por R$ 550 milhões.
Uma pequena empresa do Rio de Janeiro, a BR Newmedia, especializada até o ano passado no mercado de móveis, foi usada como plataforma por investidores bem mais graúdos para ganhar a disputa com oponentes poderosos, inclusive gigantes do mercado, como a francesa Lagardère, a suíça Sinergy e a norte-americano IMG.
A surpreendente jogada, ainda não devidamente explicada, mas defendida pela CBF como absolutamente legal, teve todos os componentes que marcam processos licitatórios na entidade desde os tempos de Ricardo Teixeira.
Para tornar tudo ainda mais misterioso, segundo reportagem da Folha de S. Paulo, os contratos ganhos pela BR Newmedia já foram repassados a um fundo de investimentos chamado FanFoot, do paraíso fiscal de Delaware, um dos mais rigorosos do mundo, sediado nos Estados Unidos.
Quando situações pouco claras começam a despertar desconfiança geral é porque algo de errado envolve o processo. Como a CBF é useira e vezeira em confusões do tipo, todas as suspeitas estão no ar.
Desta vez, resta o consolo de que, caso haja algum tipo de ilegalidade na licitação, a situação tende a ser facilmente desenrolada, visto que o fundo que comprou o pacote de transmissão se localiza nos Estados Unidos e a Justiça de Tio Sam é a única capaz de desnudar maracutaias no futebol.
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Bola na Torre
Guilherme Guerreiro comanda o programa, a partir das 21h, na tela da RBATV. Giuseppe Tommaso e este escriba baionense participam da bancada de debatedores. Em pauta, os detalhes e análises da rodada final da Série B.
(Coluna publicada no Bola deste domingo, 25)