A modorrenta Copa América ainda não tinha visto nada igual. Sob pressão, acusado até de anti-patriota, Lionel Messi calou seus críticos com uma exibição magistral de suas qualidades na partida de segunda-feira à noite contra Costa Rica. O time é travoso, faltam jogadas ensaiadas e o treinador parece mais inseguro do que todos os jogadores juntos. Diante deste quadro desanimador, Messi tomou a única atitude que se espera de um fora-de-série: resolveu mostrar o que sabe. E se há uma coisa que o camisa 10 sabe fazer, como poucos, é jogar futebol de primeiríssima linha.
Recuso-me a assumir aquela zanga irracional que parte da torcida brasileira nutre em relação a tudo que vem da Argentina, capaz de fechar os olhos para os estupendos jogadores que de vez em quando surgem por lá. Sempre fui admirador do futebol argentino, pelo dom natural do passe em velocidade, a facilidade para o drible e a indiscutível valentia de seus times.
Invejo, acima de tudo, a vocação para produzir excepcionais meio-campistas e atacantes. Nem vou falar (por não ter visto) do fabuloso Di Stéfano, que entrou para a história como um dos mais completos futebolistas de todos os tempos.
Mas acompanhei a caminhada de Ardiles, Maradona, Redondo, Kempes e Riquelme. E, de repente, o espanto: o mundo via nascer Messi. No começo, era apenas o garoto mirrado que admirava Ronaldinho Gaúcho, então senhor absoluto do Barcelona.
Em apenas dois anos, 2006 e 2007, o império do Gaúcho ruiu como castelo de areia e a promessa argentina virou realidade no Camp Nou. Talvez pelo fato de não ter vestido nenhuma das tradicionais camisas de agremiações do país, custou a ser abraçado como ídolo pela torcida.
Como no Brasil, em relação a tanta gente (Gerson, Zico, Tostão e o próprio Pelé), os corneteiros de plantão não dão sossego a Messi. Saiu queimadíssimo da última Copa, sob a suspeita de não ser “jogador de seleção”. Bobagem.
Tive o privilégio de ver La Pulga em gramados sul-africanos e posso garantir que é craque no sentido pleno do termo. Jamais poderia ser responsabilizado pela eliminação de seu time, visto que joga muito, mas não joga sozinho.
Às vezes, um indivíduo até consegue resolver tudo, mas normalmente prevalece a coletividade. Para sorte do bom futebol, Messi desmentiu essa verdade contra a imberbe Costa Rica. Saiu fazendo diabruras com a bola, sozinho, como só os realmente grandes sabem fazer.
Dois garotos brasileiros, mais jovens que Messi, também estão sob suspeita. Neymar e Ganso, depois de apenas dois jogos, já escutam os ecos da intolerância. Há quem duvide de suas qualidades e até antecipe um futuro tenebroso para ambos. Não entro nessa. Acredito que a dupla santista ainda nos dará muitas alegrias.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 13)
Gerson, mantenho cisma quanto a Neymar, acho que não vai ser isso tudo. Lembremos que é jovem, tudo bem, mas já há uns dois anos que tá com a faca e o queijo na mão, como titular absoluto do Santos e agora com muita moral na seleção. Já era pra ter feito mais, conforme continua se esperando desde o início, é muito arrogante e exibicionista, nisto totalmente diferente dos outros dois em questão e dos antepassados que citaste. PH indiscutivelmente tem tem algo mais, é craque, ao estilo Zidane, tipo de jogador que se encaixa em qualquer time, em qualquer esquema, faz o jogo fluir com extrema simplicidade e, por isso mesmo, rádida e objetivamente, sendo importante também pra cadenciar o ritmo quando necessário deixar o tempo correr mais do que a bola.
Messi não precisa se preocupar em mostrar mais nada pra ninguém. Apenas acho que deve aprender a assumir o papel de líder em campo, passa às vezes a imagem de caçula-revelação que não é mais, tem que gesticular e orientar como um 10 da categoria que é, realmente ser um pouco mais “argentino”.
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Perfeito comentário, meu caro Mauricio Carneiro !
Quanto ao melhor do planeta, o Messi, a dificuldade para ser mais “argentino”, é devido a ele crescer em Barcelona, ou seja, Messi é mais espanhol do que argentino. Ele apenas nasceu na Argentina.
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Concordo com o comentário do artigo, só excluo um, da lista de craques sitados. Em todos os esporte, quem é pego fazendo uso de qualquer meio para ilicito (principalmente uso de drogas!) é execrado, no caso de Maradona não. É uma pena que a imprensa só consiga ver as qualidades e acredite que parte do vigor físicos das arracandas que ele dava era apenas fruto de genialidade. Sem as drogas, acredito que ele deixaria de ser este super craque.
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Não me referi aos problemas pessoais do Maradona. Como craque, seu valor é inquestionável, independentemente da simpatia ou antipatia que se tenha por ele.
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CRAQUES DEPENDEM DO CONJUNTO DO TIME.
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Messi é um bom jogador, diferenciado de muitos renomados atuais. A costa Rica lhe proporcionou espaços para mostrar a sua habilidade e quando isso acontece, quem sabe, sabe mostar sua arte. Neymar até o momento tem encontrado esses espaçõs mas está tropeçando na sua propria vaidade. Até que caiu menos no jogo anterior. Acho que hoje deve mostar para que foi, caso contrário………
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Na verdade, penso que quando um adversário de Brasil ou Argentina resolve só se defender e ocupar com aplicação tática e determinação sua metade do campo, fica muito difícil de jogar, individual e coletivamente. Some-se a isso o fato de que as seleções não são, nem serão, tão entrosadas quanto um time comum. Às vezes, ver um Chile x Uruguai ou Peru x Colômbia,por exemplo, é mais emocionante por ser um jogo aberto. Por outro lado, quando Brasil e Argentina se enfrentam, raramente o jogo é ruim, se respeitam mas não se temem, vão pra cima e o bicho pega, os craques acabam tendo mais espaço.
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