O maior clássico da Amazônia, que foi bobamente desdenhado há poucos dias pelo técnico Sérgio Cosme, tem rituais próprios e imutáveis. Como toda celebração, alimenta-se de práticas que foram se tornando obrigatórias ao longo do tempo. Guardadas as devidas proporções, é algo assim como os preparativos febris da semana do Círio.
Uma das tradições do confronto é o inevitável bate-boca quanto à arbitragem. É de conhecimento até do reino mineral que tudo irá se resolver satisfatoriamente até o momento de a bola rolar. Mas, para não perder o hábito, a polêmica se estabelece, ganha as ruas e os desavisados acreditam que a guerra é iminente.
É sempre assim. Normalmente, um dos rivais se antecipa na exigência de arbitragem de fora. Pela ordem natural das coisas, o oponente resolve fechar questão em defesa dos árbitros da terra. A falsa discórdia se repete há anos, com mudança apenas nos papéis assumidos por cada lado. Ontem à tarde, depois de um sorteio cercado de suspense, saiu o nome do escolhido: Paulo César de Oliveira (Fifa-SP). Como se ninguém soubesse que a escolha recairia sobre um juiz importado.
Outro ingrediente típico da semana do clássico é a contusão às vésperas da partida. Sempre envolvendo o grande jogador de um dos times. Desta feita, o nome ameaçado é Tiago Potiguar, principal destaque do Paissandu. Novamente, o barulho é desproporcional à realidade dos fatos. Como quase sempre ocorre, a lesão serve apenas para agitar os torcedores. Alguém tem dúvida de que no domingo o atleta vai estar prontinho da silva para jogar?
Nesse caldeirão emotivo, há espaço até para histórias fantasiosas, fomentadas exclusivamente pelo ardor da paixão clubística. Na Curuzu, alguns corneteiros espalharam que Alex Oliveira estaria alegando contusão para não jogar a quarta partida pelo Paissandu – com isso, com base no regulamento, estaria se preservando para uma eventual transferência.
E os próprios fofoqueiros apontam logo o clube interessado. Ora, Alex não jogou pelo Remo há quatro anos? Pois, então… Incrível é que ainda há quem acredite nessas maluquices. Coisas do Re-Pa. Como se vê, as ideias florescem à velocidade da luz sem nenhum compromisso com o bom senso. No fundo, são saborosos (e mais ou menos inofensivos) factóides para assanhar a massa e tornar a festa domingueira ainda mais animada.
Com imensa alegria, registro o recebimento de “21 depois de 21” (Ed. Livros de Futebol), de Paulo Marcelo Sampaio e Rafael Casé. Presente especial do amigo Ronaldo Passarinho. Na narrativa, lançada 21 anos depois, relatos emocionados sobre a saga do mítico Campeonato Carioca de 1989, conquistado pelo Botafogo ao cabo de 21 anos e 12 dias de sofrido jejum. O ponto culminante do livro, obviamente, é o gol de Maurício na final com o Flamengo, na noite de 21 de junho, aos 12 minutos de jogo no segundo tempo, quando o termômetro apontava 21 graus no Maracanã. Leitura obrigatória para botafoguenses como Ronaldo e eu.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 11)