Tribuna do torcedor (51)

Por Daniel Malcher (malcher78@yahoo.com.br)

Estive na Curuzu naquela fatídica manhã de 17 de outubro. E, no decurso da partida, experimentei sensações díspares e opostas, que me alçaram à alegria e à euforia, permanecendo nelas por exatos 19 minutos… quando veio o débâcle, o golpe que me torturou e que me atirou no mar das incertezas compartilhadas por uma multidão em azul e branco. Fiquei, pois, atônito e confuso, sem saber o que pensar ou dizer diante da tragédia consumada um pouco além das 11 horas daquele dia ensolarado. O motivo de tanta confusão? O futebol apresentado pela equipe pernambucana do Salgueiro perante o futebol não apresentável da equipe bicolor? Sim, não vou negar que foi este embate futebolístico, inglório e desproporcional, a causa maior do meu embaraço, me deixando atordoado, imóvel, sem forças até para olhar pros lados.
Mas, ao retornar para casa, notoriamente de “cabeça inchada”, percebi que tivemos ali o nosso “Maracanazzo”, pois a sensação (ou seriam as sensações?) que tive foi muito parecida com aquela que nos foi informada por relatos sobre o sentimento da massa torcedora presente naquele dia de 1950. Será que a essência da tragédia esportiva pintada em tons celestes, que fez com que se alimentasse a crença de que não seríamos um “povo heróico e de brado retumbante” agora paira sobre nós, paraenses, bicolores e azulinos, nestes últimos anos? Nossas poucas façanhas nos desportos, porém gloriosas, ligadas a um passado “recente” – afinal, nossos grandes feitos foram há  quase uma década  – desnudam nossa pequenez?  Será que repetiremos ano após ano as mesmas frases conformistas-fatalistas como “nunca podemos”, “não conseguiremos” ou “por que eles e não nós?”?
Nossas derrotas, caro escriba, há muito nos acovardaram, mexeram com nossas cabeças, com nossos credos e com a própria idéia que temos de nós mesmos, afinal, olhamos para o espelho esperando ver o que queremos ser e não o que somos. Qual o motivo de tantas amarras? E o nosso esporte, e principalmente o nosso futebol, do qual tanto já nos orgulhamos, ao que parece também foi contaminado por esse complexo de vira-latas, por essa síndrome do “já teve” e pelo conformismo pungente do tipo “somos isso e apenas isso merecemos”. Somente esta constatação pode explicar meu estado letárgico após o embate entre Paysandu e Salgueiro naquela manhã de dissabores. E, tal como em 1950, o futebol paraense – e não somente o futebol, mas o esporte paraense… e o povo paraense – precisa urgentemente de “um 1958”, de uma redenção, de algo que nos faça ver que não apenas “já tivemos” mas que “podemos ter”, ou ainda, que “podemos ser”. 

3 comentários em “Tribuna do torcedor (51)

  1. Meus caros. O que aconteceu naquele dia foi que o Salgueiro jogou mais que o Paysandu.. Só isso.
    Agora, as tintas usadas para pintar o quadro é que são diferentes.

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