O processo de venda do estádio Evandro Almeida, que começou turvo e cheio de meias-verdades, não podia chegar a um desfecho diferente. Como lembrado pela coluna, não havia como criar um memorial descritivo sobre um terreno inexistente. A indefinição quanto à aquisição da propriedade que abrigaria a futura Arena do Leão, com a demora em escolher local apropriado, não permitiu que fosse elaborado um relatório descritivo da área, conforme estabelecem as normas da construção civil.
Ontem à noite, em face do não cumprimento das exigências legais pelas empresas Agre e Leal Moreira, a Justiça cancelou a negociação que envolvia a venda do Baenão por R$ 33,2 milhões. O prazo de entrega do documento foi espichado durante toda a tarde, mas os compradores não conseguiram honrar com o que havia sido previamente acertado.
Renomado engenheiro de Belém foi procurado, há três semanas, por representantes das empresas interessadas na compra do Baenão, desesperados para obter um memorial, a tempo de cumprir o prazo estabelecido pela Justiça do Trabalho. Do alto de sua expertise no ramo, o profissional disse que era impossível preparar um documento tão minucioso e preciso em menos de 60 dias.
No comunicado sucinto que sepulta a longa novela, a juíza antecipa que o estádio deverá ser levado à leilão judicial para pagamento das dívidas trabalhistas do clube, sem fazer referência a datas.
Soa irônico que a transação que virou prioridade obsessiva do mandato do atual presidente do Remo termine dessa maneira, derrubada pelo descumprimento do prazo final de obrigações perante a Justiça. Poderia ter sido desfeita antes, caso o Conselho Deliberativo do clube tivesse cumprido seu dever, fiscalizando o desinteresse do presidente no pagamento das parcelas de acordo trabalhista celebrado em 2006. A inadimplência proposital deixou o clube sob a iminência de perda de seu mais valioso imóvel, localizado em área central de Belém. Pior: levou à depreciação do Baenão, cuja área de 27 mil metros quadrados não vale menos de R$ 60 milhões, segundo cotações do mercado imobiliário.
Podia, ainda, ter sido travada quando o presidente deliberadamente escondeu detalhes do negócio. Primeiro, anunciou que o futuro estádio teria capacidade para 24,5 mil espectadores. Meses depois, mudou os números: a nova praça teria 22 mil lugares. E, finalmente, reduziu a capacidade da Arena do Leão para 15 mil lugares, sem qualquer alteração proporcional nos valores a serem pagos pelos compradores.
Sem esquecer que as motivações da aloprada venda incluíram o patético episódio de derrubada do escudo remista do pórtico do Baenão, pelo simples receio de que servisse de motivo para um processo de tombamento da tradicional praça de esportes.
Como última medida, depois de tanta inércia, caberia ao Condel inquirir o presidente sobre a verdadeira razão da desesperada urgência em se desfazer de um bem do Remo. Em seguida, com ou sem resposta, deveria cumprir o rito sumário de sua expulsão, por conduta claramente lesiva aos interesses do clube.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 22)