Ao contrário do que deu a entender, na entrevista de quarta-feira, o presidente do Remo, Amaro Klautau, terá muito a explicar aos conselheiros do clube. Dois assuntos encabeçam a sabatina: a venda do estádio Baenão, que ainda não foi sacramentada (como ele afirma), e a grotesca remoção do escudo do clube que dominava o pórtico do Baenão.
AK escapou desses questionamentos ao viajar a S. Paulo no dia da reunião do Conselho Deliberativo e talvez tenha bons motivos para se esquivar do encontro, previsto para depois da Semana da Pátria. Promotores que integram o Condel analisam itens legais que permitam enquadrar o mandatário remista.
Soma-se a isso uma terceira questão, cada vez mais mencionada entre sócios e beneméritos: o motivo pelo qual o presidente deixou de cumprir os acordos trabalhistas celebrados no Projeto Conciliar. A comparação direta com o procedimento do presidente do Paissandu, Luiz Omar Pinheiro, que vem honrando todos os compromissos do clube – inclusive dívidas herdadas de outras gestões –, não favorece AK.
O teor das recentes declarações do presidente adiciona ainda mais combustível à crise azulina. No entendimento dos conselheiros, ao dizer que a transação com as incorporadoras Agre e Leal Moreira é irreversível o presidente parece tentar impedir que uma nova proposta de compra seja apresentada. Tal atitude é considerada lesiva aos interesses do Remo, que deve buscar conseguir a venda do estádio pelo melhor preço possível.
A insistente dúvida quanto à localização e capacidade da prometida Arena do Leão é outro item da pauta do Condel. No Bola de ontem, AK caprichou na indefinição entre Marituba, terreno inicialmente agendado, e Icoaraci. Quanto à capacidade do estádio, os conselheiros exigem uma palavra final sobre o projeto, que já previu 24 mil lugares, depois caiu para 22,5 mil e agora encolheu para 15 mil – sem qualquer menção ao propalado centro de treinamento. Além disso, o valor (R$ 18 milhões) destinado à obra é, por todos os cálculos, visto como insuficiente.
Números atualizados indicam que, para construir uma arena de primeira linha, gastam-se R$ 2 mil por espectador sentado. Nem que os operários trabalhassem de graça e tijolos e cimento fossem doados, o dinheiro daria para concluir a praça de esportes. As outras dívidas, sempre cercadas de imprecisão (como o pagamento de R$ 350 mil ao jogador Jorge Mutt), também devem ser abordadas na aguardada reunião.
Diante de tantas interrogações, os conselheiros entendem que o torcedor azulino precisa ser devidamente informado sobre a real natureza (e conseqüência) do polêmico negócio.
Em meio às incertezas que rondam o futuro do Remo, cabe destacar, novamente, o papel conciliador e equilibrado da Justiça do Trabalho, que não mediu esforços para encontrar soluções que resolvessem as pendências, facilitando ao máximo as oportunidades de quitação. Que fique claro: críticas e análises sobre a situação do clube dirigem-se a gestores e conselheiros, únicos responsáveis pelo caos atual.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 3)