Ouço muitas perguntas sobre o futuro de Moisés e sua adaptação ao futebol de centros mais competitivos. Diante das notícias de que vai assinar contrato com o Internacional, sem querer bancar a pitonisa, muito menos ficar no muro, avalio que o atacante tem boas possibilidades de sucesso, desde que seja aproveitado por um time que saiba explorar sua maior virtude: a finalização em velocidade.
Raros são os jogadores paraenses com essa habilidade natural. O exemplo clássico talvez seja o de Mesquita, craque que brilhou nos anos 70/80 com as camisas de Remo, Paissandu e Tuna. Tinha invejável capacidade de se antecipar à marcação, facilidade para driblar e um cabeceio quase perfeito graças à grande impulsão.
Moisés terá que tomar muito açaí para amarrar as chuteiras de Mesquita, mas demonstra qualidades que o colocam bem acima da média atual. A grande interrogação é quanto à sua adaptação ao duro futebol gaúcho, onde atacantes franzinos têm pouquíssimas chances de sobrevivência.
Com mais de 23 anos, Moisés se ressente de melhor envergadura e caixa para agüentar o choque com as pesadas defesas do futebol dos Pampas. Quando foi cogitado para jogar no Santos, achei que era uma excelente oportunidade, levando em conta a pré-disposição do alvinegro paulista por jogadores de técnica apurada.
Além disso, o Peixe não costuma descartar atletas de compleição menos robusta. Não avalia jogador pela força. Prefere talento e cérebro. Neymar, André (que foi vendido para o Leste Europeu) e Ganso são provas eloquentes dessa filosofia. Por isso tudo, Moisés encontraria situação mais favorável na Vila Belmiro.
No Inter, precisará que superar de cara a barreira do porte físico, com poucas perspectivas de ser aproveitado na equipe A. As notícias vindas de Porto Alegre indicam que ele será utilizado no time B, que disputa torneios de segunda linha no interior gaúcho. Será uma trajetória difícil, com muitos brucutus a serem driblados pelo caminho.
Desconfio, porém, que a raiz das dúvidas em torno de Moisés está nas competições disputadas pelo jogador. A rigor, brilhou somente no campeonato estadual, que há muito tempo não pode servir de base para qualquer comparação.
Sua única experiência em torneio de nível nacional foi na Copa do Brasil, com rendimento tímido, principalmente no confronto com o Palmeiras. Qualquer observador mais atento diria que ele foi pouco testado – ou seu futebol nem chegou a ser devidamente posto à prova.
Por essas e outras, o negócio que se anuncia entre Paissandu e Internacional pode ser excelente para quase todos os envolvidos – clubes, dirigentes, empresários, procuradores – mas inclui um indisfarçável componente de risco para o jovem atleta.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 9)
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