Em meio a tantos salamaleques ao atual Campeonato Brasileiro pela indefinição na reta decisiva eis que surgem alguns discursos dissonantes. Dois mitos estão em xeque a essa altura do pagode: o da justiça dos pontos corridos e do triunfo do planejamento sobre a improvisação.
Quanto ao primeiro, as dúvidas vêm principalmente da performance do Palmeiras, que liderou a competição ao longo da maioria das rodadas. Nas rodadas finais, o Alviverde continua com chances de levantar o caneco, mas é visível que não pode ser considerado o melhor time da disputa.
Até mesmo o São Paulo, que assumiu a liderança nas últimas rodadas, não pode ser apontado como um esquadrão de primeira linha e capaz de dar grandes espetáculos. Alguém é capaz de mencionar, assim de supetão, um jogo memorável do Tricolor neste campeonato? Duvido.
O atual vice-líder, Flamengo, detém a melhor arrancada da competição, empreendendo façanhas, como as vitórias sobre o Palmeiras em São Paulo e sobre o Atlético em Belo Horizonte. Quando passou a contar com defesa mais ajustada, reforçada por Álvaro, e um meio-de-campo equilibrado, com Maldonado e Petkovic, o Rubro-Negro tornou-se com justiça candidatíssimo ao título. O goleador Adriano completa o quarteto que faz a diferença em relação aos demais concorrentes diretos.
Não que o Fla esteja jogando o fino da bossa. Longe disso. Coerente com um campeonato cuja principal característica é a gangorra, a equipe de Andrade oscila muito ao longo das partidas e se atrapalha em jogos aparentemente fáceis, como contra Barueri e Santos. Seu favoritismo vem de um detalhe óbvio: oscila bem menos que os adversários diretos.
A inconstância do Flamengo e dos demais confirma que a tal regularidade, tão cultuada nos torneios de pontos corridos, está sob ataque neste Brasileiro. Afinal, nada é mais irregular, caótico e imprevisível que a campanha dos primeiros colocados da competição.
Quanto ao planejamento, palavra tão cara ao futebol nos últimos tempos, matéria da Folha de S. Paulo, assinada pelos repórteres Rodrigo Mattos e Lucas Reis, desanca com o conceito. Segundo levantamento dos atletas contratados no decorrer da disputa, a dupla conclui que os clubes – Flamengo e Cruzeiro – que remontaram elenco em pleno vôo cresceram e estão bem na parada.
Estranhamente, quem apostou na base se deu mal, com a exceção de sempre, o S. Paulo, que prestigiou o grupo existente e só trouxe três reforços. Palmeiras e Inter, que formaram elenco especialmente para o torneio, contratando pouco durante a disputa, desabaram no returno, embora os gaúchos comecem a dar sinais de recuperação. O Verdão seguiu o exemplo tricolor, investindo em apenas quatro contratações, mas entrou em descendente na fase mais aguda da refrega.
Depois deste Brasileiro, o termo planejamento perde espaço para fatores imponderáveis, como sorte, no discurso de analistas, técnicos e empresários do futebol. Talvez em 2010 tudo mude outra vez. Assim é a vida.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 18)