Vi, na sexta-feira à noite, o jogo que garantiu ao Vasco o título da Série B. Comparei com outras jornadas cruzmaltinas nesta Segundona e era evidente a instabilidade emocional do time, atormentado entre a necessidade de agradar a multidão nas arquibancadas e a missão de superar um oponente desesperado para escapar do rebaixamento.
É evidente que não se pode esperar do esquadrão vascaíno, por maior boa vontade que exista, atuações impecáveis. Luta, velocidade e entrega estão presentes em todos os lances. Sobra transpiração, mas não há talento em quantidade suficiente para dar espetáculo de fina técnica. A rigor, somente o meia-armador Carlos Alberto se aproxima do figurino clássico do sujeito bom de bola.
Por força dessa limitação, o título – que dependia de vitória simples – só veio depois de um jogo difícil, disputado palmo a palmo com o bravo América-RN. O visitante saiu na frente, mas a torcida entusiasmada não calou. O time foi à frente, na bruta, trombando, tentando chegar ao empate. Dois pênaltis foram marcados, só um convertido.
O sufoco não diminuiu nem mesmo com o fato de o adversário ter ficado com um jogador a menos desde o começo do 2º tempo. Tantos sacrifícios talvez retratem bem a via-crúcis própria da competição, que adquire aspecto ao mesmo tempo punitivo e purificador para os grandes clubes brasileiros.
O Vasco, que padeceu mais de uma década sob as botas de Eurico Miranda, caiu de divisão no ano passado, justo no momento em que o clube passava às mãos de seu maior ídolo, Roberto Dinamite. A dor que o rebaixamento provocou só podia encontrar cura na volta redentora, por cima, conquistada em campo.
Ao dar a volta no gramado, saudando e sendo saudado pelo torcedor, num gesto tantas vezes repetida ao longo da vitoriosa saga de artilheiro, Dinamite encarnou à perfeição o novo Vasco, fortalecido e legitimado para retomar sua história entre as legendas do futebol no Brasil. Uma conquista merecida e comovente. Digna de parabéns.
O mundo tem cada vez mais pressa. Não importa o destino, mas a urgência em chegar. Parece filosofia de botequim, talvez até seja, mas é fato. No futebol, espelho da vida, as coisas não são diferentes. E é justamente essa afobação dos tempos modernos que aflige o Paissandu de hoje, às voltas com um time completamente reformulado e um caminhão de dúvidas quanto à qualidade dos novos contratados (15 no total).
Sem chance de testar os reforços em jogos oficiais, restou a opção dos amistosos contra equipes amadoras do interior. O empate de quinta-feira, na Curuzu, contra S. Caetano de Odivelas deixou a torcida à beira de um ataque de nervos. Não precisava tanto. A situação exige serenidade. Nada mais precipitado do que cobrar resultados no começo de um trabalho.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 15)
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