
Por Gerson Nogueira
Que seria um jogo palpitante não havia a menor dúvida. O equilíbrio também era evidente. A difícil vitória do Paissandu, arrancada em circunstâncias dramáticas pelo andamento do jogo, acabou confirmando todas as previsões.
Foi um Re-Pa disputado à moda antiga (no bom sentido), na disputa por cada metro do gramado, na catimba e até no gol matador quase em cima da hora – como era comum nos tempos em que a camisa alviceleste era envergada por Carlos Alberto, Tony e João Tavares.
Raul incorporou esse espírito e matou o jogo para o Paissandu, revestindo a partida de tintas ainda mais interessantes porque é um ex-atleta do maior rival. Além de atuação correta como defensor, foi decidido e sortudo nas duas jogadas que selaram o destino do turno.
No primeiro tempo, o jogo apresentou o Remo mais presente no ataque, tocando com mais desenvoltura e levando muito mais perigo nos primeiros 30 minutos. Só sentiu o baque do gol de Raul em lance que teve escorregões do goleiro Fabiano e do beque Mauro.
Como no primeiro clássico decisivo, a partir do gol o Paissandu se tornou dono das ações e decisões. Eduardo Ramos começou a pontificar como grande figura do meio-campo e até jogadores que se mostravam tímidos, como Pikachu, entraram em cena.
Só não mudou muito o panorama no ataque, onde Iarley e João Neto, apesar do esforço de ambos, pouco produziam de fato, vigiados de perto pelo trio de zagueiros do Remo.
Depois de bambear por quase dez minutos, o Remo voltou à carga e em cobrança de falta chegou ao empate. Zé Antonio bateu firme, o goleiro Zé Carlos rebateu e Leandro Cearense mandou para as redes. Era como se o Paissandu devolvesse o gol que o Remo lhe deu em falha defensiva.
Para o segundo tempo, Lecheva foi tão ousado como naquela partida da Série C em Macaé. Lançou Héliton e Gaibu, tirando Djalma e Vânderson. Deu certo. O Paissandu foi ao ataque para tentar obter o gol que precisava. Dependia do que o Remo iria fazer para neutralizar a estratégia.

E o Remo, surpreendentemente, não fez nada. Ou melhor: fez o que já havia feito na primeira partida. Recuou excessivamente.
Enquanto os meias do Paissandu trabalhavam a bola e abasteciam o ataque, acionando principalmente Héliton pela direita em parceria com Pikachu, o Remo defendia-se com três zagueiros e dois volantes. É bem verdade que o Paissandu não criava muita coisa, preferindo os cruzamentos para a área, mas o Remo nem isso fazia no ataque.
Leandro Cearense e Val Barreto (que substituiu Fábio Paulista) morriam de tédio lá na frente. A bola chegava sempre rifada, sem condições de ser transformada em jogada perigosa. Sem muito o que fazer no ataque, Barreto teve que recuar para ajudar na marcação.
Depois de 300 bolas cruzadas e defendidas por Carlinhos Rech, a casa finalmente caiu aos 42 minutos. Barreto e Cearense ainda tentaram o empate em lance de puro esforço, mas a justiça do jogo prevaleceu e o Paissandu saiu para comemorar a conquista da primeira metade do campeonato. Não precisou ser brilhante, foi apenas ofensivo e corajoso.

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A derrota da tática da cautela
Flávio Araújo passou o campeonato jogando com cautela. Ontem, a cautela o traiu. Ao tirar Fábio Paulista e deixar Cearense, acabou com a única possibilidade de escape em velocidade. Como não tinha ninguém confiável no banco para armar, deixou Galhardo, cansado e pouco inspirado, ser dominado pelo meio-campo do Papão. Lecheva foi superior. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)

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Seel deixa jornalistas sem cabine
Os jornalistas da imprensa escrita e dos portais de internet ficaram sem abrigo no clássico de ontem. Por ordem da Secretaria de Esporte e Lazer, foram desalojados da cabine que sempre utilizaram. Profissionais merecem respeito e precisam de local adequado para exercer seu trabalho.
O impedimento de uso da cabine deveu-se à necessidade de alojar emissoras de rádio e TV do interior, que só cobrem jogos do porte do Re-Pa no Mangueirão. Se a ideia era arranjar espaço para esses profissionais, que se utilizasse algumas das várias cabines que a Seel tem a seu dispor no estádio para receber convidados especiais.
Os responsáveis pelo estádio precisam entender que destinar área, com conforto e segurança, para os jornalistas não constitui um favor ou uma concessão. É obrigação.
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Duas lendas do Mangueirão
À saída do Re-Pa, dois craques do passado recente eram cumprimentados por todos que passavam, torcedores principalmente. Mesquita e Bira, responsáveis por façanhas no Mangueirão, colhiam ali, diante de todos, o reconhecimento público por tudo que fizeram em campo. Mesquita marcou o primeiro gol oficial no estádio. Mego já havia marcado duas vezes, contra o Operário, mas a inauguração ainda não havia ocorrido. Já o artilheiro Bira foi simplesmente o jogador que marcou mais gols na história do Mangueirão: 32.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 04)