
Por Gerson Nogueira
Apesar da liderança 100%, o Remo fez um jogo desconcertante ontem em Cametá, mostrando o pior e o melhor de seu repertório nos dois tempos. Na fase inicial, apesar de marcar um gol logo aos 6 minutos (Val Barreto, de cabeça), acomodou-se e permitiu que o Cametá dominasse as ações. De tanto se apequenar na defesa e abrir o meio, acabou cedendo o empate aos 42 minutos (Leandro Mineiro, também de cabeça) e por pouco não sofreu a virada.
Mais espantoso ainda foi o comportamento do meio-de-campo nesse período. Chutões para todo lado, nenhuma articulação com os demais setores e incapacidade de antecipação para marcar. Tantos problemas deixaram o time travado e presa fácil da empolgação e da velocidade do Cametá, cujos armadores Adelson e Leandro Mineiro manobravam com liberdade.
Na segunda metade da partida, usando a mesmíssima escalação, o Remo voltou transfigurado e apresentou sua melhor atuação no campeonato. O time escapou da pressão a partir do novo posicionamento do volante Endy, deslocado para o lado direito da marcação, e da aproximação entre Fábio Paulista e Tiago Galhardo.

Como por encanto, a bola passou a rolar de pé em pé, o jogo fluiu e o time começou a fazer triangulações para envolver a defesa cametaense. Aos 8 minutos, nasceu o segundo gol em escanteio cobrado por Galhardo para o cabeceio de Henrique. Ao contrário do começo do jogo, quando fez o gol e se encolheu, o Remo continuou a atacar e criar chances.
Desfrutou de três boas oportunidades antes dos 20 minutos, com Galhardo e Paulista obrigando Labilá a defesas difíceis. Val Barreto cansou e foi substituído por Leandro Cearense e a equipe passou a tocar a bola com mais lucidez e precisão. Até o ala Berg, que errava passes a todo instante, evoluiu e passou a funcionar como opção ofensiva.
Fábio Paulista e Leandro quase ampliaram o marcador em chutes da entrada da área, que Labilá espalmou para escanteio. Pouco acionado na etapa inicial, o goleiro cametaense se configurou na grande figura do segundo tempo pelas defesas. Um sinal claro da transformação ocorrida com o Remo.

O Cametá até atacava, principalmente depois que Cacaio lançou Landu e Marçal, mas a defesa remista aparecia bem postada pelo alto e não dando espaço para arremates de dentro da área. Até a frágil marcação dos volantes passou a funcionar melhor.
Flávio Araújo elogiou o comportamento do time nos últimos 45 minutos, mas é evidente que deve se preocupar em arrumar o meio-de-campo, onde a fragilidade maior está no baixo rendimento dos volantes e na solidão do meia Galhardo.
Enquanto tiver apenas com Endy e Nata ao seu lado, o camisa 10 pouco vai produzir. Seu crescimento e consequente utilidade para o time dependem de um parceiro qualificado para dialogar. Leandro Cearense talvez seja esse jogador. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)
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A armadilha dos três zagueiros
No futebol paraense, o 3-5-2 tem uma história de insucessos. A rigor, jamais funcionou bem no Brasil, talvez porque aqui os técnicos acabaram com o líbero e usam o esquema para retrancar ainda mais os times. Com três zagueiros, os times precisam ter alas de verdade e volantes com bom passe. Essa combinação, por ser rara, é também cada vez mais cara.
Sob o comando de Flávio Araújo, por força das circunstâncias, o Remo vem adotando o sistema, mostrando claros sinais de instabilidade. Nos três jogos disputados no Parazão, o time cedeu espaços em demasia, principalmente no começo das partidas. Custou a ajustar a marcação e teve problemas para reter a posse de bola. No entanto, venceu sempre e lidera o turno.
Há a convicção de que os alas não funcionam e que o meio-de-campo padece de marcadores em excesso e criadores de menos. A expectativa é para os próximos passos a serem dados pelo treinador. Caso tenha laterais em condições de jogo, manterá o 3-5-2 ou adotará o 4-4-2?
Com jogadores ainda à espera de uma chance, como Ramon e Jerônimo, e alguns lesionados, Valber e Jonathan, é provável que Araújo vislumbre outras formas de montar o time.
Por ora, tem prevalecido a versão mais conservadora do 3-5-2 à brasileira, que muitas vezes se transforma em 5-3-2. As vitórias acontecem, mas o jogo é desenvolvido meio aos trancos e barrancos.
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Direto do blog:
“Continuo com a mesma convicção. O PSC é favorito para o sábado. Tem mais elenco. O time do Remo mostrou limitações extremas. O futebol, porém, trabalha com a imponderabilidade da possibilidade. A probabilidade é toda do Papão”.
De Cássio de Andrade, azulino desconfiado.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 22)