O que acabou continua

Por Janio de Freitas

Com a provável aposentadoria voluntária do ministro Celso de Mello já nos primeiros meses deste ano, a Ação Penal 470 volta a prometer muito mais suspense do que o esperado para sua etapa final. E com muito maior abertura para novidades do que admitiram, até aqui, os convictos de que “o julgamento está encerrado e nada mais se altera nele”.

No ano a decorrer ainda com a tramitação da 470, segundo prevê o procurador-geral Roberto Gurgel, o desejo de Celso de Mello resultaria em três votos novos entre os ministros do Supremo Tribunal Federal. O primeiro deles, com a revelação de suas tendências jurídicas, depende apenas de tornar-se público: o ministro Teori Zavascki já está empossado, embora ainda silencioso, no tribunal.

A vaga já existente, com a aposentadoria compulsória de Carlos Ayres Britto, permanece em razão de uma surpresa feita por Dilma Rousseff. Seu comentário de que a demora das substituições dá oportunidade à ação dos pedintes e lobistas de candidatos, como se deu antes da nomeação de Luiz Fux, insinuava o rápido preenchimento do lugar de Ayres Britto.

Aqui mesmo registrei a esperada presteza da nomeação, no entanto não confirmada sem nenhum motivo conhecido para isso. Mas não deverá tardar quando encerrado o recesso do Judiciário, em fevereiro, porque prejudica o funcionamento do tribunal.

Por fim, haveria a nomeação do substituto de Celso de Mello, se ele confirmar o desejo de encerrar a carreira iniciada com sua nomeação pelo então presidente Sarney, por indicação do consultor-geral da República à época, o jurista Saulo Ramos, do qual era assessor.

É notório que poucas votações, no julgamento da 470, deram-se sem caracterizar duas tendências muito nítidas no tribunal. Houve até empates, quando eram dez ministros, e decisões por diferença de um voto, quando eram nove. Bastará que um dos novos ministros, em certas questões, ou dois se mostrem juízes mais rígidos, na exigência de segurança das razões para o seu voto, e a corrente quase sempre derrotada pode tornar-se maioria. Possibilidade bastante para que Celso de Mello seja pressionado a desistir da sua manifesta vontade de aposentar-se em futuro próximo.

Mas nem a permanência de Celso de Mello, o produtor de socorros teóricos para muitas condenações, garante a inexistência de suspense e novidades. Três novos as tornam quase inevitáveis em vários quesitos, mas dois já as tornam prováveis.

MOITA

O que mais interessa na entrevista do procurador-geral, Roberto Gurgel, à Folha, é o motivo que o levou a querer dá-la. Ele já dissera que “o mensalão era muito maior” do que o julgado pelo STF. Também quase todo o restante foi, digamos, entrevista de reiterações. Mas o motivo indeclarado pode ser novo.

CRIMINAL

A Agência Nacional de Saúde (ANS) e o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar cometem um insulto a 48,7 milhões de brasileiros, ao designá-los como “beneficiários de planos de saúde”. Beneficiários são os planos, que recebem e têm lucros. Os 48,7 milhões pagam. São pagadores e nem se pode dizer que sejam clientes: pagam e, apesar fazê-lo, a tal agência, quando desperta de sua distração, suspende 225 planos de saúde por maus ou irrealizados atendimentos. São casos de estelionato judicialmente impune. Com a colaboração da ANS, ou os planos condenados não chegariam ao número absurdo de 225.

Cabra bom.

Roquinaldo, um exemplo de ascensão

Por Lucas Ferraz (da Folha de S. Paulo)

Se você comentar com Roquinaldo Ferreira o ineditismo de sua trajetória para os padrões brasileiros, ele vai concordar, embora relutante. Se você constatar então que ele é o primeiro brasileiro negro do andar de baixo a chegar tão longe na elite da academia americana, o professor ficará resignado, fará ponderações e, em seguida, explicará a modéstia: “Não quero dramatizar a minha vida”. Filho de um cabo da Marinha e de uma empregada doméstica, o mais velho de três irmãos criados em Ramos, bairro pobre da zona norte do Rio de Janeiro, Roquinaldo Ferreira, 45, é um dos mais destacados africanistas de sua geração. Colheu seus louros acadêmicos e intelectuais nos EUA, na África e na Europa.

13011803No Brasil, onde seu nome não é tão difundido, ele sempre estudou em escolas públicas. Serviu-se de bolsas do governo para se graduar, fazer mestrado e doutorado, quando obteve o título de PhD em história, com ênfase na África Central, pela Universidade da Califórnia. Sem conseguir se estabelecer no país natal, Roquinaldo construiu uma bem-sucedida carreira no exterior. Professor da Universidade da Virgínia, nos EUA, é também professor-visitante da Universidade de Genebra.

Neste semestre, ele assume a Vasco da Gama Chair, espécie de cátedra nos departamentos de história e de estudos luso-brasileiros da Universidade Brown, uma das oito universidades da Ivy League, sigla conhecida pela excelência e pelo elitismo social (também integram o grupo Harvard, Yale, Princeton, Columbia, Dartmouth College, Cornell e Universidade da Pennsylvania).

Foram mais de 15 meses de processo seletivo –que incluiu avaliação de seus ensaios e artigos, de sua atitude em sala de aula e até de seu comportamento social. Ele ficará responsável por quatro disciplinas: história de Portugal moderno, história do Império Português e a relação com Brasil e África, o tráfico de escravos entre Brasil e África e Brasil Colonial. Apesar das reticências de Roquinaldo, é fato: nunca antes um acadêmico brasileiro que não tivesse suas origens na elite havia galgado degrau tão alto na Ivy League.

TRADIÇÃO

“Ele vem de uma tradição ampla. Ao contrário dos americanos que estudam a África, ele incorpora a história do império português e do Brasil no contexto africano, o que é muito diferente”, comenta o historiador Luiz Felipe de Alencastro, professor de História do Brasil na Universidade Sorbonne, na França. Alencastro assinou uma das 12 cartas de recomendação que a Universidade Brown recebeu de diferentes partes sobre o brasileiro. Em toda a sua trajetória intelectual, Roquinaldo sempre focou a questão da “transnacionalidade”. Esse é o cerne de sua atuação como africanista e, de certa forma, o que o ajudou a se destacar no meio acadêmico mundial.

O brasileiro é um defensor do que chama de “história atlântica”, narrativa conjunta das colônias portuguesas, o que une o Brasil e a África Negra. Ele mostra como a colonização portuguesa desaguou num sistema único de exploração colonial no Atlântico Sul, criando laços e relações em todos os tipos de atividades nos territórios americanos e africanos.

No final da década de 1990, Roquinaldo iniciou um trabalho sobre a escravidão em Angola realizando pesquisas nos arquivos do país. A empreitada continuou na década seguinte e foi complementada no Brasil e em Portugal. O mote da integração cultural está presente em seu primeiro livro, “Cross-Cultural Exchange in the Atlantic World: Angola and Brazil during the Era of the Slave Trade” (intercâmbio cultural no mundo atlântico: Angola e Brasil durante a era do comércio de escravos), publicado no ano passado nos EUA “”ainda não há edição brasileira.

SIMPÓSIO

Estive com Roquinaldo em meados de outubro em Providence, capital de Rhode Island, o menor dos 50 Estados americanos. Com pouco mais de 100 mil habitantes, a cidade de casas vitorianas e imponentes prédios históricos onde se situa a Universidade Brown é uma das mais antigas do país, fundada ainda durante a instalação das 13 colônias. O local foi um dos mais importantes centros industriais no século 19. Roquinaldo esteve na cidade para participar de um simpósio sobre estudos portugueses no contexto global –ao lado de colegas lusitanos, americanos e brasileiros.

“Tudo o que faço tem essa perspectiva transnacional, e isso quebra a receita tradicional do império português”, afirmou ele. “Essas relações transnacionais são algo que se faz pouco na academia.” O historiador acredita que sua ida para Brown reflete também a força geopolítica do Brasil, cujo interesse tem aumentado nas universidades americanas – seja como objeto de estudo ou pelo número de alunos e professores.

Para Brown, o significado da presença de Roquinaldo não será menor: a universidade, fundada por irmãos que estiveram envolvidos no comércio de escravos na costa leste americana no século 18, terá pela primeira vez em seus quadros um brasileiro negro, nascido em Salvador (o país e sua primeira capital concentram a maior população negra fora da África), lecionando e interpretando o tráfico de escravos entre terras atlânticas.

EXPOSIÇÃO

Tímido, esbelto, com não mais de 1,70 m, cabelo raspado a máquina e óculos de grau, o professor Roquinaldo Ferreira se incomodou ao passar três dias na companhia de um jornalista. Ele não gosta de exposição e não quer, como disse, se transformar em um intelectual com voz pública. Neste ano, ele deve continuar em uma espécie de “arranjo transatlântico”, como define sua relação com a família. Ele divide seu tempo entre os EUA (onde passa, com idas e vindas, sete meses por ano) e a cidade francesa de Ferney-Voltaire, a 30 minutos de carro do centro de Genebra, onde a mulher – uma americana que trabalha na ONU – vive com o filho de sete anos do casal.

Vai ao Brasil ao menos uma vez por ano. Entre 2004 e 2005, quando ele e a mulher moraram no Rio, o historiador queria dar aulas em alguma grande universidade brasileira. Foi reprovado no teste que fez para a Unicamp, não conseguiu outra vaga e a tentativa de retornar ao país se frustrou.

A família de Roquinaldo Ferreira se estabeleceu no Rio no final dos anos 60. O interesse pela leitura chegou a ele na Escola Municipal Berlim, que ainda funciona no mesmo endereço, no bairro de Ramos. Para compensar a falta de biblioteca, a professora levava livros de outros colégios. Na sexta série, caiu em suas mãos um exemplar de “Cem Anos de Solidão”, clássico do colombiano Gabriel García Márquez. “Ali tudo mudou. Aquelas imagens me levaram para um outro mundo”, recorda.

O realismo mágico e o gosto pela leitura o levaram à história. À universidade ele só pôde ingressar após obter uma bolsa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, agência do Ministério de Ciência e Tecnologia). Naquela altura sem o pai, que tinha morrido, estudar era um luxo para a família. “Minha ascensão tem muito a ver com a oportunidade com as bolsas”, conta.

Durante o mestrado na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a mesma onde havia se graduado, começou a atuar como pesquisador do Centro de Estudos Afro-Asiáticos, da Universidade Cândido Mendes, no Rio, experiência que considera fundamental para sua trajetória. “Me deu sofisticação cultural.” A pavimentação da carreira de africanista seguiu na Universidade da Califórnia, onde recebeu o título de doutor –novamente com bolsas do CNPq. “O ensino superior no Brasil não é meritocrático, mas pode ser um instrumento de mobilidade social”, conclui.

DE COSTA A COSTA

Da Costa Oeste à Leste, passando pelo sul e o Meio-Oeste, não importa se em pequenas, médias ou grandes universidades, há cada vez mais brasileiros estudando nos EUA, assim como no exterior de forma geral. O número de estudantes brasileiros utilizando bolsas do governo federal em países estrangeiros, como fez Roquinaldo, era no ano passado 566% maior do que em 1998, segundo números da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, ligada ao Ministério da Educação) e do CNPq. A maioria está nos EUA e França. O aumento do interesse das universidades americanas pelo Brasil se reflete também nas sucursais no Brasil: Harvard já tem seu escritório em São Paulo, e Columbia está abrindo o seu no Rio.

Além de temáticas cada vez mais distintas, há sobretudo mais dinheiro para os estudos brasileiros nos EUA. O empresário e filantropo brasileiro Jorge Paulo Lemann doou quantidades polpudas para diferentes instituições universitárias do país. A Fundação Lemann não divulga os valores, mas acadêmicos e diretores das universidades estimam as doações em mais de US$ 50 milhões.

PASSADO

Em seu novo cargo na Universidade Brown, Roquinaldo Ferreira deseja estreitar os laços com o Brasil e a atual produção acadêmica relacionada com a África. Para ele, a academia brasileira ainda não conseguiu explicar o nosso passado escravista. “As pessoas falam sobre escravos, mas é como se eles tivessem caído do céu. Como as pessoas se tornavam escravas?”, indaga.

Estávamos sentados em uma cafeteria Starbucks próxima ao campi de Brown. Roquinaldo esperava uma corretora para conhecer alguns imóveis na cidade. Perguntei o que ele via desse passado escravista na atual sociedade brasileira. “A desigualdade. A escravidão é pautada pela desigualdade. Esse é o principal reflexo, e não só no Brasil, mas em todos as sociedades escravistas das Américas. É transnacional”, resume.

O passado é uma parada…

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Belém dos anos 60. Avenida Presidente Vargas, esquina com a Riachuelo. Ônibus de madeira montado sobre carroceria de caminhão. Provável destino: Bandeira Branca. E, já cedendo lugar, como transporte coletivo, ao lotação que vem à retaguarda, destino Souza. À direita, o Acapulco, entre uma Rural e outra, estacionadas. Cabe observar que a avenida era ainda uma via de mão dupla. (Dos arquivos do amigo cruzmaltino Elias Ribeiro Pinto) 

R$ 4,3 milhões de Mano são pura gorjeta

Do Blog do Paulinho

Muita gente ficou alarmada ao descobrir que a rescisão trabalhista do treinador Mano Menezes custou R$ 4,3 milhões à CBF, proporcionais ao salário de pouco mais de R$ 500 mil mensais que recebia da entidade. Dinheiro de gorjeta se comparado ao lucro obtido pelo próprio, associado à Andres Sanches e ao empresário Carlos Leite no exercício de suas funções na Seleção Brasileira.

Somente para convocar jogadores do Shakhtar Donetsk, segundo ótima fonte, o treinador teria recebido US$ 3 milhões, em acordo firmado na Inglaterra com o empresário Franck Henouda. E não foi apenas esse negócio realizado pelo grupo na CBF. Convocações comercializadas abertamente, que geraram receitas bilionárias em negociações posteriores e comissões evidentemente suntuosas ao grupo que coordenava os acontecimento.

Papão e São Francisco empatam na Curuzu

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Paissandu e São Francisco fizeram um embate movimentado, na manhã deste domingo, na Curuzu. Depois de vencer o primeiro tempo por 1 a 0 e manter vantagem de 2 a 1 até os instantes finais, o Paissandu cedeu o empate ao visitante, frustrando a grande torcida (9.839 pagantes) que compareceu à Curuzu, embora o resultado tenha refletido o que se viu em campo. Nos primeiros 45 minutos, o domínio do Papão foi quase total, desperdiçando seguidas chances, com João Neto, Gaibu e Rafael Oliveira, principalmente. Só nos primeiros 12 minutos, foram quatro boas oportunidades criadas pelos bicolores.

O São Francisco preocupava-se mais em defender e saía timidamente para o ataque. Aos 44 minutos, com a torcida já impaciente, surgiu o primeiro gol da partida. Após saída de bola com o goleiro Zé Carlos, Pikachu lançou para Gaibu e este passou para o estreante João Neto abrir o marcador, chutando fora do alcance do goleiro Jader.

No segundo tempo, a partida ganhou mais dinâmica. O São Francisco começou mostrando maior disposição ofensiva nos primeiros minutos, em busca do empate. Marcou um gol, com Ricardinho, mas a arbitragem assinalou impedimento. Ocorre que, logo aos 11 minutos, João Neto foi atingido dentro da área pelo zagueiro Thalys e Pikachu converteu a penalidade, assinalando 2 a 0 para o Paissandu. O time santareno continuou ameaçando e, aos 20 minutos, em chute forte de longa distância, o meia Caçula diminuiu. Logo na sequência, tentou novo arremate, mas o volante Esdras cortou e impediu o empate.

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Com o time aparentando cansaço, Lecheva trocou o estreante Eduardo Ramos, com atuação discreta, por Djalma e substituiu Rafael por Héliton, que depois iria desperdiçar duas boas situações de ataque. Empolgado com o gol de Caçula, o São Francisco foi à frente e continuou pressionando, em lances puxados por Ricardinho. Aos 28, o zagueiro Thalys, em tiro cruzado, quase empatou. Zé Carlos fez grande defesa. Caçula, um dos melhores em campo, seguia ameaçando em cobranças de falta e chutes de fora da área.

O Paissandu pouco criava em termos ofensivos, limitando-se aos avanços de Pikachu pela direita. Time mantinha-se mais recuado, explorando os contra-ataques e deixando o tempo passar, aparentemente satisfeito com a vitória parcial. Só que, já nos acréscimos, o zagueiro Tiago Costa perdeu bola para João Pedro, que aproveitou para decretar o empate, aos 48 minutos.

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Paissandu – Zé Carlos; Pikachu, Diego Bispo, Tiago Costa, Pablo, Vânderson, Esdras, Djalma (Eduardo Ramos), Gaibu (Billy); João Neto e Rafael (Héliton). Técnico: Lecheva. São Francisco: Jader; Levy (Sidvan), Aldair, Thalys e Jaquinha; Diego Carioca, Jefferson (João Pedro), Boquinha (Rodrigão) e Caçula; Ricardinho e Elielton. Técnico: Osvaldo Monte Alegre. Árbitro – Wasley do Couto. Cartões amarelos – Thiago Costa, Gaibu e Vânderson (PSC); Jader e Ricardinho (S. Francisco). Renda: 207.630,00. Público pagante: 9.839. Credenciados: 1.369; público total: 11.208.

Destaques do jogo: Caçula, Jader e Ricardinho, pelo São Francisco; Gaibu e Pikachu, pelo Paissandu. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola) 

Iarley é apresentado à Fiel

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O meia-atacante Iarley marcou presença na manhã deste domingo, na Curuzu, sendo apresentado e aplaudido pela torcida antes do jogo Paissandu x São Francisco. Ao lado de Iarley estavam os veteranos Quarentinha e Beto, jogadores que marcaram contra o Peñarol no célebre amistoso dos anos 1960. Iarley vestiu a camisa de número 7 e agradeceu ao presidente Vandick Lima pela oportunidade de voltar a defender o clube, dez anos depois de sua primeira passagem pela Curuzu. (Foto: MÁRIO QUADROS/Bola) 

PFC vence Cametá; Águia e Tuna empatam

O Cametá, atual campeão paraense, foi surpreendido em casa pelo Paragominas, na noite deste sábado e saiu derrotado por 1 a 0 do estádio Parque do Bacurau. O jogo valeu pela primeira rodada do Campeonato Estadual. A partida teve muitas chances de gol, mas os atacantes pareciam descalibrados, errando nas finalizações. O Paragominas mostrou-se mais determinado no segundo tempo e Aleilson marcou o gol da vitória, depois de passar por dois marcadores. Como na outra partida, Águia e Tuna empataram em 0 a 0, em Marabá, o PFC é temporariamente o líder do Parazão.

Pela segunda rodada do Parazão, o Cametá enfrenta o Águia no dia 16 (quarta-feira), às 20h30, no estádio Zinho Oliveira, em Marabá. O Paragominas, no mesmo dia, recebe o Paissandu na Arena Verde, em Paragominas, às 20h30.

Cametá: Labilá; Américo, Gilson, Guará e Souza; Wilson, Marcelo Pitbull, Marçal e Leandro Mineiro; Alex e Landu. Técnico: Cacaio. Paragominas: André Luis; Rondinelli, Rubran, Cristóvão e Gil Bretas; Dudu, Paulo de Tarsio, Bruno Maranhão e Ilaílson; Aleilson e Toniel Love. Técnico: Fran Costa. Local: Estádio Orfelino Martins Valente (Parque do Bacurau), em Cametá. Arbitragem: Cláudio Lima. Renda: R$ 23.370,00.  Público Pagante: 2.486. Não pagantes: 187; total: 2.683. (Com informações da Rádio Clube) 

Rivais têm ambições diferentes

Por Gerson Nogueira

Remo Flavio Araujo-Mario QuadrosA ansiedade do torcedor pelo começo do Campeonato Paraense é um bom sinal. Não se passaram nem dois meses sem bola rolando para um dos grandes – no caso, o Paissandu na Série C 2012 – e o povo, agoniado, quer ver futebol valendo ponto e título. Prenúncio de estádios com mais público do que nos dois últimos anos, garantindo arrecadações melhores. O grau de interesse da torcida funciona também como alerta. Para jogadores, técnicos e dirigentes. Principalmente da dupla Re-Pa, desde sempre a mais cobrada e cornetada. Ao contrário do carnaval passado, a galera não parece disposta a aceitar rendimento pífio por parte dos principais clubes do Estado.

O problema é ainda mais intrincado para o Remo, que há cinco anos batalha pela reconquista do título estadual e precisa desesperadamente garantir participação na Série D. Ano passado, é justo reconhecer, bateu na trave. A cinco minutos do apito final da decisão, o time de Flávio Lopes estava levantando o caneco. Derrotava o Cametá por 2 a 0, jogava melhor e a torcida fazia um carnaval dos diabos nas arquibancadas do Mangueirão. Bastaram, porém, duas cochiladas para que a maldição se corporificasse e o título acabou se encaminhando para a terra dos Romualdos. Além da queda, o coice. Sem vaga na Quarta Divisão, o clube se envolveu em negociata de bastidores com o próprio Cametá, que desistiu do torneio nacional em meio a protestos de sua torcida e brutal desgaste para o clube de Antonio Baena. Para piorar, meses depois, foi defenestrado da Série D tropeçando outra vez dentro do Mangueirão. Desta vez, o vacilo foi diante do Mixto, fechando negativamente a temporada. Por tudo isso, é imperioso que o time de Flávio Araújo comece bem o Parazão. Enfrenta logo na estreia um adversário direto na corrida particular pela Série D, o Santa Cruz de Cuiarana.

Os remistas se preparam desde dezembro, mas cortam um dobrando para entrosar um time que foi completamente reformulado. Do elenco de 2012 restou apenas o volante Jonathan. As principais novidades ficam por conta do goleiro Fabiano, dos zagueiros Carlinhos Rech e Mauro (recém-chegado), dos volantes Tragodara e Nata, dos meias Tiago Galhardo e Josy e dos atacantes Branco, Fábio Paulista e Leandro Cearense. A questão crucial é que, ao contrário dos demais competidores, o Remo não pode errar. E isto é sempre muito difícil de evitar em futebol.
PSC Lecheva-Mario QuadrosO Paissandu desfruta de situação mais cômoda em comparação com o histórico rival. O acesso à Série B mantém o time – mesmo modificado – em lua-de-mel com a torcida. A perspectiva de uma grande campanha na Segunda Divisão embala os sonhos da Fiel torcida, que tende a não dar tanta importância ao Estadual. Ocorre que a contratação de reforços de peso, como Iarley e Eduardo Ramos, projetam expectativas para resultados imediatos. Lecheva, um dos heróis do acesso, terá sua capacidade novamente colocada em xeque, como acontece com todo treinador caseiro.
No certame passado, o Paissandu fez campanha discretíssima, terminando em quinto lugar. Ficou ausente da decisão, nem brigou diretamente por nenhum turno. Ironicamente, foi o time que melhor aproveitou o torneio. Aperreado, lançou mão de bons valores das divisões de base. Foi a deixa para que Pikachu, Pablo, Neto, Bartola, Djalma e Tiago Costa mostrassem seu valor. Sob esse ponto de vista, a campanha pode ser considerada vitoriosa. Para 2013, sob os auspícios de nova direção, o torcedor deve se preparar para um projeto diferente, que vai priorizar obrigatoriamente nomes de fora, tendo como perspectiva a Segundona nacional.
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Interioranos com chances, de novo
Os interioranos deram as cartas em 2011 e 2012, com Independente Tucuruí e Cametá, respectivamente. Meio por acaso, meio pela fragilidade dos grandes da capital, mas é fato que o Parazão experimentou pela primeira vez, em dose dupla, a força do futebol emergente. Apoiados pelas prefeituras, Independente e Cametá levantaram um título que vários outros clubes do interior – Izabelense, Castanhal, Ananindeua, São Raimundo e o próprio Águia – já haviam chegado perto de levantar desde os anos 1980.
Apesar da presença do campeão Cametá, o campeonato deste ano tem como mais fortes representantes do bloco emergente o Santa Cruz de Cuiarana (Salinas) e o PFC de Paragominas. São times que dominaram as duas fases classificatórias e demonstram fôlego e estrutura para ir mais longe que os demais.
O Santa Cruz, que ostenta misteriosa fonte de recursos (não tem patrocinador conhecido), conta com o principal jogador do último Parazão, o meia-atacante Ratinho, que brilhou no Cametá. Não satisfeito, importou o atacante Valdir Papel, que nos áureos tempos rodou até pelo Vasco.
Com estádio próprio, o PFC baseia sua força no apoio da torcida, coisa rara entre os times emergentes. Seu principal jogador é Aleilson, revelado pelo Águia e que já passou pelo futebol carioca.
Curiosamente, o campeão Cametá é um dos que menos investiu. Contenta-se com remanescentes do time do ano passado, com destaque para o artilheiro Rafael Paty, que foi trazido por Cacaio.
O Águia de Marabá, cobrado pela torcida por ter sido superado por Independente e Cametá na busca do título estadual, entra com a obrigação de superar a participação de 2012. Apesar de ter decidido os dois turnos, contra Cametá e Remo, o time de João Galvão não teve a força necessária para ir mais longe. É outro que aposta na base da Série C, sem investimentos de vulto.
Único representante santareno, o São Francisco baseia sua força em jogadores da região tapajônica, trazendo novamente figuras como Jader e Perema, revelações da última temporada. Deve dar trabalho.
A Tuna, novamente comandada por Samuel Cândido, não tem maiores pretensões, mas se organiza para fazer uma campanha digna. De positivo, voltou a garimpar atletas regionais, prática que sempre lhe garantiu bons resultados no passado.
(Coluna publicada no Guia Parazão 2013, edição deste domingo, 13)