Por Gerson Nogueira
Dois jogadores saídos diretamente do banco de reservas construíram a vitória do Remo sobre o Santa Cruz, ontem à noite, no estádio Evandro Almeida. Edilsinho e Val Barreto foram decisivos na mudança de postura que empurrou o time ao triunfo.
De um grupo confuso e tenso nos primeiros 45 minutos, a equipe se transformou depois que o meia começou a distribuir jogadas e encurtar a distância com o ataque. Para completar, o atacante – que substituiu Branco – pegou de jeito na bola e marcou o gol mais bonito do campeonato até agora.
Além disso, com a aproximação entre meio e ataque, o Remo criou um punhado de oportunidades e podia até disparar uma goleada, caso Fábio Paulista tivesse melhor pontaria.
Curiosamente, quando se mostrou contido, esperando as iniciativas do Santa Cruz, o Remo ficou sempre em desvantagem. Inverteu o status. Parecia o time pequeno enfrentando um oponente mais poderoso. Basicamente, não conseguia interromper o passe do adversário e isolava Branco e Fábio Paulista no ataque.
O Remo só não tomou gol nos primeiros minutos porque o Santa Cruz fazia tudo, menos agredir. O excesso de toques no meio-campo tornava o time lento, facilmente marcável e pouco efetivo para criar chances. Soares acertou um disparo na trave de Fabiano, mas o Remo na base da valentona também criou dois lances de perigo, com Josy e Paulista.
Depois do intervalo, Flávio Araújo modificou o time e a maneira de jogar. Manteve a boa linha de zagueiros – Henrique, Zé Antonio e Rech – mas percebeu o imenso buraco que havia no meio, onde Josy não estabelecia ligação com o ataque.
Edilsinho substituiu Josy e impôs dinamismo ao setor, acionando Berg pela esquerda e mostrando-se disponível para jogadas junto à área com Paulista e Val Barreto. Com isso, o Santa Cruz pela primeira vez no jogo teve que se preocupar com a cobertura defensiva.
Quando se deu conta, estava envolvido porque seus volantes Lê e Mael cansaram e os meias Soares não voltavam para ajudar. Com velocidade, Edilsinho e Barreto passaram a testar a zaga salinense e levaram ampla vantagem. O atacante dominou bola pelo lado esquerdo do ataque e girou para acertar um chute indefensável, no ângulo do gol de Evandro, aos 24 minutos.
Veio então o festival de gols perdidos por Paulista. Sozinho na área, errou dois arremates, depois mandou de chapa por cima da trave e, aos 40 minutos, invadiu a área driblando a zaga, mas o goleiro Evandro fez grande defesa evitando o gol.
O torcedor do Remo, que surpreendeu pela paciência com os passes errados do primeiro tempo, saiu satisfeito do Baenão – e não só pela vitória. Percebeu que Flávio Araújo está montando um time operário, de boa defesa e que marca muito, às vezes até exageradamente. Para quem sonha com o título estadual, não deixa de ser um bom começo.
———————————————————–
Saber perder é uma virtude
O bom goleiro Evandro tem todo o direito de dizer que o Remo é tecnicamente fraco. O problema é declarar isto depois de um jogo, principalmente nos 45 minutos finais, em que o seu Santa Cruz escapou de ser goleado pelo adversário supostamente inferior.
No ano passado, o mesmo Evandro fez declaração parecida depois de um empate entre o Cametá e o Remo, no primeiro turno do Parazão. A frase foi praticamente a mesma. No final, a conquista cametaense acabou por lhe dar razão. Vamos ver se, desta vez, sua afirmação se confirma outra vez.
Mais do que uma crítica, ficou a impressão de ressentimento profundo. Bons profissionais não podem se deixar dominar por esse tipo de sentimento menor.
———————————————————–
Técnica (e treino) para dominar o jogo
Alguém já disse que o joguinho de toques infalíveis do Barcelona é tão perfeito que às vezes fica até chato. Contra o Málaga, domingo passado, mais bonito que os gols da vitória, impressionou a sensacional combinação no centro do gramado. Cinco jogadores deram onze toques na bola em apenas oito segundos. De impressionar, pela precisão dos deslocamentos e a rapidez para girar em torno da bola. Quase um balé.
Por motivo diverso, mas plasticamente semelhante, recordei aquele célebre jogo entre Holanda e Argentina na Copa da Alemanha, em 1974. O lance mais simbólico do Carrossel Holandês: oito jogadores vestindo laranja cercando um solitário e indefeso argentino para tomar-lhe a bola.
Nos dois casos, técnica e treinamento de altíssimo nível para obter o mesmo objetivo: assumir a posse da bola. Os resultados são parecidos, embora o malabarismo do Barça seja incomparavelmente mais vistoso. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 15)