Por Gerson Nogueira
Será que vai chover? É a pergunta que mais se ouve em Belém nessas horas nervosas que antecedem o Re-Pa tão aguardado – mais até que as tradicionais indagações sobre o placar do confronto. A preocupação é justificada, pois no ano passado um toró atrasou e estragou o segundo clássico do campeonato. Na ocasião, o Paissandu também tinha o time mais arrumado, mas o resultado final foi um frustrante 0 a 0. O campo pesado produziu um jogo feio e amarrado.
Desta vez, com times tecnicamente melhores, a perspectiva é de um grande jogo. A anunciada disposição de Flávio Araújo e Lecheva manter os sistemas que já vinham usando revela coerência, mas põe em relevo o setor mais estratégico do futebol: o meio-de-campo. Se o Paissandu faz bem em manter a escalação que atingiu seu melhor estágio de entrosamento contra o Águia, não se pode dizer o mesmo do Remo.
Lecheva tenta, compreensivelmente, repetir a impressionante atuação de domingo passado, quando os bicolores apresentaram um ajuste de meio-de-campo que nenhuma outra equipe mostrou na competição até agora. A bola foi tocada de pé em pé, quase sem erros. Graças a isso, o jogo fluiu e o Paissandu passou como um trator sobre o Águia. Parecia um time ajustado há muito tempo, embora fosse apenas a terceira apresentação da nova formação.
As atuações de Ricardo Capanema e Esdras, cuidando da marcação e eventualmente se lançando à frente, foram fundamentais para o equilíbrio do setor. Mais à frente, Gaibu e Eduardo Ramos abasteceram o ataque com passes e lançamentos de qualidade, deixando Rafael Oliveira e João Neto várias vezes em situação de finalização. E, com o meio arrumado, Pikachu também teve espaço e liberdade para se dedicar ao ataque.
Ao contrário do grande momento vivido pelo Paissandu na meia-cancha, o Remo sofre para ajustar o setor. Seus volantes, Nata e Endy, não funcionam como guardiões da defesa e nem fazem a distribuição de bola para os meias e atacantes. Pagam o alto preço do desentrosamento e sobrecarregam tanto a armação, entregue exclusivamente a Tiago Galhardo, quanto os três zagueiros, que é obrigada a rebater bolas a todo instante.
Com o buraco existente, o time abusa das ligações diretas e do jogo aéreo. Mesmo aos trancos e barrancos, a campanha é vitoriosa, mas será capaz de superar o principal adversário?
Tony, outro volante, tem sido improvisado na direita. E aí reside outro problema: a falta de conexão entre os alas e o ataque. No 3-5-2 clássico, alas desempenham papel decisivo na transição de jogo. Não tem sido assim no Remo atual. Berg, pela esquerda, até tenta, mas não executa bem a função.
Os dois lados têm diferenças claras no momento, capazes de pesar na balança durante o jogo. O Paissandu tem um meio-campo mais organizado e um ataque que reflete essa organização. O Remo tem uma defesa firme, mas sobrecarregada pelos volantes, e um ataque que podia render mais se a armação fosse bem feita. O embate de hoje colocará à prova essas duas realidades.
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Valtinho assume a base do Leão
O Remo anunciou ontem a contratação de Valter Lima para coordenar suas divisões de base. Tão importante quanto a escolha de um profissional do nível e da competência de Valtinho é a confirmação pública de interesse pela formação de atletas.
Profissionalizar a organização da base é um mandamento que muitos clubes alardeiam, mas poucos cumprem efetivamente. Mesmo com erros recentes na condução dos negócios envolvendo jovens atletas de sua propriedade, o Remo parece disposto a dar prioridade a um departamento que sempre justificou a própria denominação – amador.
Baluartes, pais e colaboradores sempre se encarregaram das divisões formadoras, com todos os méritos e problemas que esse tipo de situação acarreta. A base já revelou bons jogadores, desde os tempos gloriosos de Aderson e Mego, mas precisa se organizar para produzir craques e garimpar pedras a serem lapidadas.
Valter Lima tem traquejo e experiência para cuidar das várias divisões. No futebol profissional, mostrou qualidades. Montou o Remo, campeão brasileiro de 2005 (Série C), e o São Raimundo, campeão brasileiro da Série D em 2009. Com autonomia e apoio, pode fazer muito pelo clube. Terá Rogério Belém como colaborador e olheiro de novos talentos.
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Direto do blog:
“Incomodou ter visto na relação remista só 2 meias ofensivos e um lateral de ofício, mais uma vez. Gerônimo pode até ser uma surpresa na escalação, mas essa parece a mudança mais provável. É pouca variação. Isso indica, para mim, que o Remo, no máximo, vai de Gerônimo na vaga do Endy até aqui. De resto, a única outra dúvida é quem forma o ataque com o Paulista: Leandro Cearense ou Val Barreto? Ok, os outros laterais estão sem ritmo de jogo, clássico é clássico, blá-blá-blá… Mas o que parece é que Flávio Araújo não quer abrir mão dos volantes. O Nata parece ainda sem ritmo de jogo e faz falta a granel, além de errar muito passe. É candidato a cartão vermelho. Escalaria ou o Biro ou o Gerônimo para volante e poria Edilsinho pela direita para encostar mais no ataque. Mas nada disso que sugiro parece ter chance de acontecer e o Remo vai de novo a campo tomar sufoco no 1º tempo pra arrumar a casa, no 2º. Tomara que eu esteja enganado”.
Por João Lopes Jr., torcedor inquieto com os problemas da meiúca azulina.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste sábado, 26)
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