Por Gerson Nogueira
Deixemos de nhenhenhém e cornetagem irresponsável. Como é de conhecimento até do reino mineral, há quem espere ansiosamente o Re-Pa para sair à caça de culpados, de forma quase sempre passional e açodada. Calma, minha gente. É preciso ter em mente que o primeiro clássico do campeonato foi fixado há tempos na quarta rodada justamente para provocar o mínimo de danos aos dois rivais.
Um tropeço é sempre perdoável, até porque alguém tem que perder – ou isso não seria futebol. Melhor ainda: uma eventual derrota deve ser absorvida e utilizada para corrigir rumos, porém sem exageros ou santa inquisição. Depois da derrota frente ao Remo, o técnico Lecheva entrou na alça de mira de vários franco-atiradores.
Nada mais exagerado e injusto. O clássico foi decidido (olha o clichê aí, gente…) em detalhes, como ocorre desde o descobrimento do caminho das Índias. Até os 41 minutos o resultado era indefinido, qualquer um dos lados podia triunfar. O Paissandu desenvolvia um jogo mais agressivo, atacando por vezes até com cinco homens.
A derrota veio num descuido, normal pelo nível de exaustão dos jogadores em face das condições do gramado. O Remo aproveitou um contragolpe e matou o jogo. Podia ter feito isso antes até do gol de Iarley, quando Leandro Cearense bateu à esquerda da trave de Zé Carlos; assim como Rafael podia ter marcado quando a chance lhe sorriu. Enfim, situações previsíveis num embate que envolve emoção, raça, técnica e erro, obviamente.
Lecheva, que ousam crucificar, fez o que lhe cabia nas circunstâncias. Por mais que não se goste do trabalho dele, o Re-Pa não pode servir para fritura tão escancarada. Até a questionada substituição do volante Ricardo Capanema, um dos melhores em campo até o começo da etapa final, é justificada pelo cansaço físico do jogador, um dos que mais corriam em campo.
Ao substituir Capanema, Lecheva fez a opção clara e preferencial pelo ataque. E não lhe restava outro caminho. O Paissandu encaminhava-se para a derrota e era necessário fazer alguma coisa, de preferência agredindo o adversário, que se defendia bem. Hoje e sempre, a melhor arma para furar defesas fortes é lançar mão de um ataque mais forte ainda.
A estratégia mostrou-se parcialmente correta, pois o empate foi alcançado. A derrota veio em consequência da ousadia de buscar vencer, o que é pressuposto de qualquer profissional sério. De mais a mais, é preciso aceitar que o adversário foi mais competente nas finalizações e mais disciplinado na organização de jogo.
Os detratores de Lecheva esquecem que o Remo é um competidor tradicional, bem treinado e que merece respeito. E que nenhum confronto entre os dois rivais, a não ser quando ocorrem as raras goleadas, pode ser encarado como jogo fácil.
Lecheva foi peça-chave, decisiva mesmo, na conquista do acesso à Série B. Muitos esqueceram rapidamente a importância desse feito. Alerto sobre isso desde o final da temporada 2012. Era previsível que, diante do primeiro insucesso, os corneteiros iriam ressurgir, ávidos por sangue. Não respeitaram sequer os 100 dias protocolares de espera por resultados.
Cabe à diretoria, que executa um trabalho cuidadoso e organizado de montagem do elenco, ter a serenidade necessária para não permitir que os balões de ensaio prosperem, causando estragos internos desnecessários. Lá mais à frente pode-se até entender que Lecheva não serve, mas que ninguém use Re-Pa como desculpa. Seria, no mínimo, ingratidão.
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Torcedor precisa de conforto
Os sérios incidentes registrados no sábado à tarde, no entorno e dentro do Mangueirão, devem ser cuidadosamente analisados por quem de direito. Problemas com transportes, segurança, qualidade do gramado, organização do acesso ao estádio e até funcionamento de bares e lanchonetes se repetem há anos, sem solução. O Re-Pa só reacendeu a discussão.
Um dos pontos cruciais é a capacidade do estádio. Alguém precisa ter coragem de propor sua ampliação, sem receio de cobranças e patrulhamentos – que inevitavelmente irão ocorrer. O certo é que 42 mil lugares já não comportam o público normal de um grande jogo em Belém. Para uma das cidades mais futebolísticas do país, o estádio se tornou pequeno.
É claro, também, que cabe considerar custo e benefício dessa complementação, quanto ao aproveitamento do complexo em eventos de outra natureza. De cara, na condição de leigo em engenharia, os dois vãos sob os placares seriam áreas naturais de expansão de cadeiras ou arquibancadas. É a única maneira plausível de garantir mais conforto e comodidade ao maltratado (e heroico) torcedor paraense.
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Direto do blog
“Tentando olhar o jogo sem a paixão clubística, o Remo mereceu a vitória pela objetividade: entrou em campo com uma postura tática bastante definida: defender-se em bloco (às vezes com seus 11 jogadores no campo de defesa) e contra-atacar, e as jogadas foram executadas com rara felicidade nos dois gols e em pelo menos outras três outras oportunidades. O Pikachu terminou se apequenando diante da grande exibição do lateral esquerdo adversário. Paulista e Galhardo foram bem na flutuação entre a defesa e o ataque. O goleiro do Remo mostrou que tem muita qualidade. No mais, o Remo apresentou um conjunto muito forte, unido, que resultou na merecida vitória, afinal, o que vale é bola na rede. Quanto ao Papão, precisamos urgente da volta do Paulo Rafael no gol (para dar a segurança necessária à zaga), e um zagueiro consistente, como o Fábio Sanches. A ‘avenida Pikachu’ ficou à disposição pelo lado direito. Considero, porém, que o resultado num clássico é absolutamente normal e não deve atrapalhar a formação da equipe”.
De José Eiró, torcedor alviceleste, analisando os eventos de sábado.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 29)
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