Mídia colonizada glorifica Tio Sam

Por Altamiro Borges
A imprensa nativa parece uma sucursal rastaquera da mídia estadunidense. Ontem, as emissoras “privadas” de televisão deram um show na transmissão da posse de Barack Obama. Comentaristas embasbacados gastaram horas para endeusar a “democracia nos EUA”. Hoje, os principais jornalões deram total destaque para o ritual. O Globo utilizou quase toda a sua capa. “Obama prega igualdade para gays e imigrantes”, foi a sua manchete. Folha e Estadão repetiram a bajulação, num típico pensamento único imperial.
Bem diferente é a cobertura da mídia das posses dos presidentes latino-americanos, principalmente quando eles se opõem à política imperialista dos EUA na região e pregam a integração soberana do continente. No caso de Hugo Chávez, da Venezuela, ela nem sequer escondeu a torcida macabra pela sua morte. As posses de Cristina Kirchner (Argentina), Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador), entre outros, também mereceram coberturas “jornalísticas” negativas, depreciativas e até preconceituosas.
O comportamento servil da mídia nativa lembra uma frase de Chico Buarque, em outubro de 2010, durante o encontro de intelectuais e artistas em apoio a então candidata Dilma Rousseff. Na ocasião, ele ironizou os que “falam fino com Washington e falam grosso com a Bolívia e o Paraguai”. A imprensa brasileira segue exatamente este padrão de subserviência. E olha que os EUA nem estão com esta bola toda na atualidade. O império decadente afunda na crise econômica e se atola nas guerras em várias partes do mundo.
A regressão social nos EUA é algo impressionante – mas os “calunistas” preferem bajular a posse de Barack Obama. O país é hoje um dos mais desiguais e injustos do planeta. Um em cada sete estadunidenses depende de assistência do governo federal para comer. São cerca de 46,5 milhões de pessoas incluídas no programa “Food Stamps” (cupons de comida). Outros milhões não contam com qualquer tipo de assistência pública à saúde; outros foram despejados de suas casas e hoje residem em trailers.
Na bajulada “democracia ianque”, enquanto milhões vegetam na miséria e não acreditam mais na balela da “terra das oportunidades”, uma minoria residual – o 1% criticado pelo movimento Ocupe Wall Street – continua esbanjando fortunas. Em 2010, apesar da brutal crise que vitimou o país, estes ricaços voltaram a acumular riquezas. A participação na renda dos 1,6 milhão do topo da pirâmide subiu de 18% para 19,8%. Mesmo assim, a mídia colonizada faz festa para a posse de Barack Obama. Haja servilismo!

Jornalista condenado a pagar R$ 410 mil

Os mais de 30 processos judiciais movidos contra Lúcio Flávio Pinto desde os anos 1990 representam uma tentativa de inviabilizar a produção do jornal alternativo que denuncia fraudes e desmandos de empresários e grupos de poder locais.

Reconhecido no final do ano passado com o Prêmio Especial Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, entre as várias homenagens recebidas por seu trabalho nos últimos anos, o jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, que edita há 25 anos o Jornal Pessoal, foi novamente condenado pelo judiciário paraense. Desta vez, ele deverá pagar a quantia de R$ 410 mil (ou 600 salários mínimos) ao empresário Romulo Maiorana Júnior e à empresa Delta Publicidade S/A, de propriedade da família dele, também detentora de um dos maiores grupos de comunicação da Região Norte e Nordeste, as Organizações Romulo Maiorana.

A decisão da desembargadora Eliana Abufaiad, que negou o recurso interposto pelo jornalista no primeiro semestre de 2012, data de 21 de novembro de 2012, mas foi publicada apenas em 22 de janeiro com uma incorreção e, por causa disso, republicada nesta quarta-feira, dia 23. O jornalista vai recorrer da decisão, tentando levar o caso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas teme que a condenação seja confirmada.
Romulo Maiorana Júnior alega ter sofrido danos morais e materiais devido à publicação, em 2005, do artigo “O rei da quitanda”, no qual o jornalista abordava a origem e a conduta do empresário à frente de sua organização. Por causa desse texto, em 12 de janeiro do mesmo ano, Lúcio Flávio foi agredido fisicamente pelo irmão do empresário, Ronaldo Maiorana, junto com dois seguranças deste em um restaurante de Belém.
Depois da agressão, o jornalista também se tornou alvo de 15 processos judiciais, penais e cíveis, movidos pelos irmãos. Chegou a ser condenado em 2010 a pagar uma quantia de R$ 30 mil, mas recorreu da decisão do juiz Francisco das Chagas. A recente decisão da desembargadora Eliana Abufaiad, se confirmada, significará um duro golpe às atividades desempenhadas por ele, que não dispõe de recursos financeiros para arcar com as indenizações.
Lúcio Flávio Pinto, que já perdeu todas as vezes em que recorreu às condenações judiciais e vê nesses processos uma clara tentativa de impedimento à realização do seu trabalho junto à imprensa, lamenta o fato de juízes e o próprio Tribunal de Justiça do Pará não terem avaliado o mérito dos recursos por ele apresentados.
“Os tribunais se transformaram em instâncias finais. Não examinam nada, não existe mais o devido processo legal. E isso não acontece só comigo. São milhares de pessoas em todo o Brasil, todos os dias, que não têm direito ao devido processo legal. Em 95% dos casos julgados no país rejeitam-se os recursos. Não tem jeito”, afirma, novamente temeroso diante dessa situação por não acreditar que o STJ acolha um novo recurso. Ele também informa que há outra ação judicial em curso, ainda a ser julgada, na qual Romulo Júnior pede R$ 360 mil de indenização também por danos morais e materiais.
Perseguição judicial – Lúcio ficou ainda mais conhecido no início de 2012 quando foi alvo de uma condenação que mobilizou pessoas e organizações, nacionais e estrangeiras, que o obrigaria a indenizar a família do falecido empresário Cecílio do Rego Almeida. O crime teria sido chamar de “pirata fundiário” o homem que tentou fraudar e se apropriar ilegalmente de quase 5 milhões de hectares de terras públicas, na região paraense do Xingu, denúncia posteriormente comprovada pelo próprio Estado.
Por fazer uma radiografia minuciosa e crítica da região, o que o tornou um dos maiores especialistas em temas amazônicos, e reportar tentativas de fraudes aos cofres públicos, erros e desmandos do poder judiciário local, o jornalista foi alvo de exatos 33 processos desde 1992.
Já sofreu agressões físicas e verbais por causa de seus artigos, sem declinar o direito de veicular informações de interesse público, em seu jornal quinzenal reconhecido pela qualidade do conteúdo em detrimento de uma produção quase artesanal. (Com informações de Brenda Takeda)

Pensata: De morte e vida

Por Zuenir Ventura

Embora o tema apareça cada vez mais na mídia e esteja sempre presente na literatura — no Dicionário Universal de Citações, de Paulo Rónai, há 148 frases de escritores importantes falando de “morrer” e de “morte” — ele é meio tabu na nossa vida privada, mesmo sendo o mais previsível e inevitável de todos, porque é a única certeza que carregamos conosco.

Manuel Bandeira não quis lhe pronunciar o nome, chamando-a eufemisticamente em um poema de “a indesejada das gentes”.

Já o escritor russo Nicolai Gogol disse que “a vida perderia toda beleza se não houvesse a morte”. Será?

Não sei se é um dado da cultura nacional ou só familiar, mas desde pequeno aprendi que este é um assunto que não se deve comentar. É como se falar dela fosse uma forma de atraí-la.

“Não pensa bobagem, menino”, ouvi, quando pela primeira vez vi um caixão aberto com um corpo dentro e quis saber se aquilo poderia acontecer comigo um dia.

Até hoje a “indesejada” me assusta quando passa ameaçando um amigo ou quando atinge outro diretamente. Ou quando deixa claro todo o seu absurdo, como o que vivenciei dolorosamente esta semana, com uma irmã na UTI durante 65 dias lutando desesperada e inutilmente para sobreviver.

Enquanto isso, Walmor Chagas escolhia como opção a morte voluntária, desejada. De um lado, morrer sem querer, relutando; de outro, morrer por vontade própria, se matando. É esse o sentido transcendental da vida?

A fé religiosa nos ensina que o desfecho aqui na Terra não é o fim, mas o começo de uma nova etapa que vai se desenrolar no além.

Mas e quando ela, a fé, falha e em seu lugar surge a razão, como explicar todo esse mistério? A exemplo de Drummond, “do lado esquerdo carrego meus mortos./Por isso caminho um pouco de banda”.

Para os que ficam resta pouco: a catarse, a resignação, o consolo de que o sofrimento é pior do que a morte.

Assim pensava Rubem Braga, que preparou meticulosamente sua saída de cena; assim pensa muita gente, inclusive eu.

Tanto que tenho um pacto com um amigo (por motivos óbvios, parente não faz esse tipo de acerto), segundo o qual, o último a sair apaga a luz, ou seja, desliga os tubos do outro, se for preciso.

Para não dizer que estou muito mórbido, aí vai um belo sinal de vida. Recebi esta semana a mais bonitinha declaração de amor de Alice por telefone, com sua maneira original de dizer as coisas: “Vovô Zu, tô com falta de você.”

Aproveitando o tema: num país que já abateu a tiros quatro presidentes, louve-se a coragem de Barack Obama de enfrentar a turma barra pesada do bang-bang, isto é, a poderosa indústria da morte.

Tribuna do torcedor

Por João Lopes Jr.

Duvido que o Lecheva inicie o jogo de sábado com formação diferente da que pegou o Águia. Por mais que faça charminho e não divulgue logo a escalação, o time do Paysandu é aquele mesmo, salvo um problema de última hora, um imprevisto, um cartão (não sei como estão as coisas para o Paysandu). O Remo sim, tem muitas indefinições. Gostaria de ver o Endy, muito obediente taticamente, dessa vez, no banco. O time tem nele o jogador que flutua para preencher vazios e ajudar na marcação. Como time em começo de temporada é desentrosado, um cara como o Endy é, sem dúvida, importante. No entanto, a importância do Endy está também na falta do ala direito e de mais um meia-atacante e, num clássico, jogar recuado, é pedir para perder. Entendo a permanência do Tony como importante e arriscaria ainda a saída de Nata (faz muita falta!), para a entrada do garoto Biro ou de Gerônimo (se estiver em condição física) e um ala direito para equilibrar o meio. Poria
Edilsinho para jogar com Galhardo (na falta do ala) e ganhar velocidade, e mais o Leandro Cearense para compor o ataque com o Paulista, ou a volta do Branco. O Berg pode ser bom jogador, mas sem criação ainda não pôde dizer a que veio, ainda merece paciência.
Iniciaria assim o RE x PA: Fabiano; Henrique, Zé Antônio e Rech; Tony, Biro (Gerônimo), Walber (Edilsinho), Galhardo e Berg; Leandro Cearense e Paulista (Branco). O que me deixa mais chateado é ver um garoto como o Jhonnatan perder oportunidades por puro azar. Lembra da erisipela do ano passado? Com certeza o garoto seria titular dessa meiuca e muitos desses problemas de comunicação entre defesa e ataque não haveriam.