A infernal sequência de demissões, pinimbas internas e trapalhadas diversas transformou as férias forçadas do Remo em verdadeiro suplício para seus torcedores. Desde que o clube se viu apeado das competições nacionais, ao ser eliminado do Campeonato Estadual, não houve uma semana de calmaria no Evandro Almeida.
Notícias ruins ganham as ruas diariamente. Não que as informações negativas sejam exclusividade do Remo, mas o fato é que o clube está completamente vulnerável a tanto desgaste.
No fim de semana, estourou a história da depredação de apartamentos pelos jogadores Lopes e Paulo Sérgio. Depois, veio a briga entre o coordenador do sub-17 Tindô e o diretor Francisco Rosas. Por fim, o anúncio da enxurrada de demissões de funcionários.
Em meio a isso, o presidente Sérgio Cabeça Braz repete o ritual de isolamento que parece ter se tornado sina nas hostes azulinas. Os ex-presidentes Raimundo Ribeiro e Amaro Klautau também findaram seus mandados na mais completa solidão, amargando as conseqüências dessa fragilidade política.
O problema é que, ao contrário dos antecessores, Cabeça está apenas começando – e já está sozinho. Assumiu o cargo em janeiro deste ano. É espantoso que, seis meses depois, tenha perdido seus principais colaboradores, a começar pelo vice-presidente, Rafael Levy.
É de conhecimento público a herança nefasta que a gestão passada deixou, mas diretorias eleitas têm a obrigação de conhecer em minúcias a real situação financeira do clube. Dívidas e pendências trabalhistas fazem parte da rotina do Remo há várias décadas. Quem se mete a assumir a gestão deve ter consciência dos problemas a serem enfrentados.
Espera-se que a decisão de expurgar em massa dezenas de funcionários não esteja atrelada a uma estratégia de fato consumado, tão exercitada pelo presidente anterior, visando justificar o desmanche de patrimônio. AK queria a todo custo vender o estádio Baenão e seu propósito só foi brecado pela ação do grupo presidido por Cabeça. A dúvida é: quem brecará agora os novos dirigentes caso queiram seguir a cartilha do ex-gestor?
Só mesmo no caótico mercado brasileiro da bola é possível um treinador não mais que mediano passar, no espaço de um ano, por cinco grandes clubes, todos campeões nacionais – Cruzeiro, Corinthians, Santos, Atlético-PR e São Paulo. Trata-se de Adilson Batista, que dirigiu o Paissandu há seis anos e que ostenta o apelido de “Professor Pardal”, pela mania de mexer tanto nos times até esbandalhá-los por completo.
O Tricolor do Morumbi é seu atual abrigo, talvez por pouco tempo, afinal Adilson permaneceu em média apenas três meses em seus últimos empregos. Parece mais do que óbvio que algo de muito esquisito acontece no futebol brasileiro.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 21)