Todo mundo fala mal da defesa do Paissandu. Virou moda. É uma unanimidade. Qualquer conversa sobre futebol começa invariavelmente pela pergunta: “Será que ninguém dá jeito nessa zaga?”. É o mote para bons minutos de prosa, desancando o setor defensivo montado por Sérgio Cosme. Até quem desconhece as diferenças entre um beque de área e um líbero mete-se a dar pitacos sobre o assunto.
Os manuais de jornalismo nos ensinam a desconfiar sempre. De quase tudo. Por isso, aprendi a desprezar fórmulas prontas e opiniões formadas sobre as coisas. No caso específico da mal afamada retaguarda do Paissandu não há como negar que vem merecendo as críticas. Porém (sempre há um porém), não se pode atribuir esse mau rendimento exclusivamente aos zagueiros.
Em primeiro lugar, há falhas gritantes de posicionamento. Um exemplo: contra o Independente, em Tucuruí, Ari e Cristiano Laranjeira marcavam em linha e foi assim que permitiram o belíssimo gol de Ró. Diante do Cametá, na Curuzu, os erros pelos gols sofridos nos minutos finais têm que ser creditados também ao setor de meio-campo. Pressionados o tempo todo pelo trio Leandro Cearense, Wilson e Robinho, os zagueiros não conseguiam respirar e se atrapalhavam ao sair jogando. Dificuldades de jogo que costumam punir duramente um time.
No Re-Pa, Tinoco e Laranjeira não tinham cobertura adequada dos homens de marcação e quase sempre eram obrigados a sair para o combate direto aos meias do Remo. Pior que isso: ficavam confusos quanto a quem marcar, já que o adversário revezava o posicionamento dos armadores e alas. Curiosamente, esse quadro não foi observado pelo técnico. Em face disso, o Remo teve liberdade durante os 90 minutos para trocar bolas em frente à área e facilidade para invadir quando bem entendesse.
Curiosamente, depois da derrota, todos só atiravam pedras nos homens do miolo de área. Quase ninguém questionou a ausência de um sistema de sobra, como qualquer time peladeiro tem. Não se ouviu também nenhuma cobrança quanto à sobrecarga de Billy na proteção à zaga, preocupado que estava em cobrir e ajudar os experientes Vânderson e Sandro.
Mesmo na goleada sobre o Águia na última rodada, quando demonstrou firmeza na maior parte do tempo, a zaga não escapou de queixas pelos cochilos que deram origem aos gols de Ley e Roma. O esperneio voltou com intensidade diante da atuação contra o modesto Penarol, anteontem, pela Copa do Brasil, quando o setor repetiu sua terrível média de dois gols por partida.
Em Itacoatiara, a zaga teve o reforço do estreante Hebert. Pelo visto, mais um que chega para ser queimado pelas críticas. O fato é que, do jeito como o Paissandu se defende, inteiramente exposto na entrada da área, dificilmente algum zagueiro conseguirá tapar todos os buracos ali existentes. Existem deficiências de ordem individual, mas é injusto atribuir apenas aos zagueiros a responsabilidade pelas seguidas falhas.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 25)