Coluna: A reinvenção do volante

Mano Menezes vem pontificando na televisão com entrevistas bem calibradas, com observações interessantes sobre o desenho da nova Seleção Brasileira. Ao contrário de Dunga e seu adjunto Jorginho, o novo comandante tem visão bem moderna do papel dos volantes em campo.

Para o técnico da Seleção na Copa da África do Sul, a missão era totalmente passiva, tanto que era entregue a dois jogadores (Gilberto Silva e Felipe Melo) de pouquíssima mobilidade, quase beques adiantados, que tinham como atributos mais visíveis a capacidade de marcação e a dureza no combate a adversários.

Mano pensa diferente – e isto deve ser saudado pelos adeptos do futebol bem jogado, de raízes puramente brasileiras. Tem sido convincente na defesa de volantes dinâmicos, que aprofundem jogadas e não se limitem a cobrir buracos na linha de zaga.

A opção por volantes do nível de Lucas, Jucilei, Ramires, Hernanes e Elias é um bom indicativo de sua crença na velocidade que o setor exige hoje. Quando alguém fala em meias de ligação, costumo lembrar que a transição já é feita pelos volantes. Se os jogadores de marcação da meia-cancha não tiverem bom passe, o time todo sofre as conseqüências.

Pelo que se observou de definição tática na recente Copa do Mundo, times que continuam a apostar em cabeças-de-área fixos e meramente marcadores correm o risco de serem atropelados pela modernidade. A Espanha campeã do mundo tinha Xabi Alonso e Capdevilla na função, mas ambos saíam o tempo inteiro para ajudar nas ações ofensivas, com qualidade e extremo desembaraço.

Quando os jogadores da linha recuada do meio-campo têm velocidade para pensar e sair jogando multiplicam seus préstimos, pois podem remendar falhas defensivas no miolo de zaga e também ajudar a cobrir o avanço dos laterais. Os mais hábeis reforçam o cerco ofensivo quando a situação permitir.

Essa estratégia, defendida por Mano, nem é tão revolucionária assim, pois vem sendo utilizada por todos os grandes times europeus há pelo menos cinco anos. Nem a fechadíssima Internazionale (então comandada por José Mourinho), última campeã do Velho Continente com a excepcional contribuição do argentino Cambiasso.

Por esse ponto de vista, não me surpreenderia se o Brasil do futuro esteja muito mais nos pés de seus volantes do que propriamente dos atacantes. Pela simples razão de que a geração de jogadores de apoio é hoje muito mais talentosa do que a dos dianteiros.    

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O Conselho Deliberativo do Remo transforma-se, a cada nova reunião convocada, em ente fantasmagórico. Como não investiga ou apura denúncias, nada delibera. É um caso perdido, na visão de antigos beneméritos. A presidência do Condel, instância máxima do clube, sujeita-se ao triste papel de avalista dos atos aloprados da atual diretoria.   

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 26) 

3 comentários em “Coluna: A reinvenção do volante

  1. Diga-se de pasagem, Luxa foi um dos precursores dessa prática no Brasil. Lembro-me bem daquele Corinthians multi-campeão do final da década de 90, com Vampeta chegando a frente e fazendo gols. Depois foi para o Cruzeiro e fez o mesmo com o polivalente Ricardinho. Quando chegou no Palmeiras, pediu a contratação do Léo LIma, e para a surpresa de todos, o mesmo foi parar na cabeça de área. Podem observar, todos os times do Luxa tem um volante que sai bastante pro jogo.

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    1. É verdade, amigo Maciel. Luxa foi um dos primeiros, mas Telê e o próprio Cilinho tentaram transformar os volantes em peças mais participativas.

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  2. Martin Francisco pode ser apontado, no Brasil, como criador ou introdutor do 4-2-4 onde volante (como o prprio nome sugere) destacava-se tanto quanto o meia de armação. INo Vila Nova (MG) Martin armava pela direita em razão da habilidade do jogador que possuia nessa posição. Depois, quase todos armaram pela esquerda. No 4-3-3, havia mais um homem defendendo e armando pela lateral (quase sempre pela esquerda). Depois os técnicos aglomeraqm a sua intermediaria. Ainda assim não conseguem segurar o emprego.

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