Coluna: A desconstrução do mito

O técnico de salário milionário que afundou o Atlético-MG, vice-lanterna do Campeonato Brasileiro, repentinamente já é apontado como a grande solução para os problemas do Flamengo, outro time ameaçadíssimo na tabela de classificação e igualmente às voltas com problemas de caixa. Vanderlei Luxemburgo, como se vê, continua um exímio negociante, contando com excelentes agentes de recolocação no mercado. E, por outro lado, o futebol brasileiro segue seu calvário de apostas erradas e planejamento zero.
Nem mesmo seus dois rotundos fracassos recentes (o anterior foi o Palmeiras, em 2009) parecem abalar a admiração que a cartolagem ainda nutre pela figura verborrágica e controvertida de Luxemburgo, cuja carreira entrou em parafuso desde que experimentou a passagem meteórica pelo Real Madri.
De treinador recordista em títulos nacionais e um incontestável especialista em torneio de pontos corridos, virou sinônimo de profissional caro e sem garantia de bons resultados. Até mesmo sua reconhecida competência para montar times ofensivos, de estilo vistoso, começa a ser questionada. Há detratores que falam, abertamente, em decadência.
Não chegaria a tanto. Talvez seja apenas um mau momento, situação que se abate também sobre Luiz Felipe Scolari, outro treinador de currículo vitorioso às voltas com dificuldades no Palmeiras. Luxemburgo construiu em torno de si um ambiente propício à superexposição que amplifica glórias, mas não perdoa tropeços.
A trajetória caótica no Atlético-MG foi exemplar na repetição de erros que marcam outras experiências do treinador. No Santos, deixou de valorizar os talentos que brotavam. Longe de ter suas habilidades reconhecidas, Neymar chegou a ganhar de Luxemburgo um apelido depreciativo (“Filé de Borboleta”). Pelo Palmeiras, passou como foguete, sem imprimir consistência à equipe.
No Galo, a situação agravou-se pelos maus resultados colecionados desde o começo, incompatíveis com os custos de sua badalada comissão técnica. Invenções como a do observador de arbitragem, função ocupada pelo polêmico ex-apitador Wagner Tardelli, foram vendidas pelo treinador como inovações. Na prática, apenas mais despesas a onerar a pesada folha salarial do clube.              
Da longa vivência no futebol, Luxemburgo assimilou boas idéias, como os auxiliares de fisiologia e preparadores por setores do time, mas nos últimos tempos tem sido contestado pela ausência cada vez maior do campo de treinamento. Delega a seus assistentes tarefas que deveriam ser assumidas pelo comandante da companhia. Sua presença seria quase que uma assinatura de grife, à margem dos gramados em dias de jogo. Preocupação excessiva com a imagem, sem investimento em ações práticas de orientação da equipe. Talvez esteja justamente aí a origem dos maus resultados recentes. 

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 1)

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